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CANALIZANDO NOSSAS FORÇAS - PARASHÁ PINCHAS 5773 (28 de junho de 2013)
"O Sr. James era um daqueles ingleses que levavam o futebol a sério. Torcedor fanático, ele estava acompanhando atentamente a participação da Inglaterra na Copa do Mundo. A Inglaterra havia chegado às quartas de final, e o Sr. James acreditava que o título viria naquele ano. O jogo começou, e ficava a cada instante mais tenso. Para o desespero do Sr. James, a Inglaterra tomou um gol no final do jogo, deixando a situação ainda mais difícil. O Sr. James não conseguia acreditar quando o juiz finalmente apitou o final do jogo, decretando mais uma vez a desclassificação da seleção inglesa. Não podia ser verdade, simplesmente não podia. Em um impulso descontrolado, o Sr. James se levantou e deu um chute tão violento na televisão que arrebentou a tela toda.
Algumas horas depois, quando o fervor já havia passado, ele percebeu a besteira que havia feito e ficou desesperado. Ele havia arrebentado sua única televisão! Em pânico, ligou para uma empresa autorizada que fazia manutenção de televisões, explicou o caso e solicitou a visita urgente de um técnico. Do outro lado da linha, o atendente explicou que a visita somente poderia acontecer dentro de três dias. Quando o Sr. James, indignado, perguntou o motivo de tanta demora, o atendente respondeu calmamente:
- O Sr. não foi o único que destruiu a sua televisão após o jogo. Estamos tão saturados de chamadas que temos trabalho agendado para todos os nossos técnicos nos próximos três dias..." (História Real)
A impulsividade pode ser uma característica muito negativa. Se não for canalizada, pode deixar consequências indesejáveis, que nem sempre podem ser consertadas depois.
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Na Parashá desta semana, Pinchás, a Torá traz o desfecho da história que começou no final da Parashá passada, quando Zimri, o líder da tribo de Shimon, fez um grande "Chilul Hashem", denegrindo o nome de D'us ao cometer uma grande imoralidade em público, de forma desafiadora, ignorando até mesmo a presença de Moshé Rabeinu. D'us mandou uma grande praga sobre o povo judeu, na qual 24 mil pessoas morreram. A praga somente parou quando Pinchás, neto de Aharon HaCohen, da tribo de Levi, se levantou contra a imoralidade de Zimri e o matou. E D'us recompensou Pinchás por seu ato heroico, como está escrito: "Portanto diga a ele que Eu lhe dei o Meu pacto de paz" (Bamidbar 25:12). Mas por que um ato tão violento como o de Pinchás foi recompensado justamente com um "pacto de paz"?
É interessante perceber que as duas tribos envolvidas neste acontecimento, Shimon e Levi, tem algo em comum, que vem desde os tempos do nosso patriarca Yaacov. Quando Diná, a filha de Yaacov, foi sequestrada e violada pelo príncipe Shechem, os filhos de Yaacov bolaram um plano para resgatá-la, convencendo o povo de Shechem a fazer Brit Milá com intenção de enfraquecê-los. Mas Shimon e Levi tinham outros planos, eles não queriam apenas enfraquecer o povo para resgatar Diná. No terceiro dia depois do Brit Milá, no qual as pessoas ficam mais debilitadas, eles mataram todos os habitantes da cidade, por considerarem todos coniventes com o sequestro e a violação de sua irmã Diná. Mesmo quando Yaacov demonstrou profunda irritação com o ato impulsivo dos dois filhos, que poderia ter causado um ataque dos povos vizinhos e a destruição de Yaacov e seus filhos, eles se defenderam, argumentando: "Nossa irmã deve ser tratada como uma prostituta?" (Bereshit 34,31).
Anos mais tarde, antes de seu falecimento, Yaacov deu Brachót (Bençãos) para todos os seus filhos. Mas Shimon e Levi foram duramente repreendidos por Yaacov, justamente por sua impulsividade. E, entre outras palavras, assim Yaacov disse para eles: "Eu vou separá-los em Yaacov e dispersá-los em Israel" (Bereshit 49:7). O entendimento mais simples destas palavras de Yaacov é que ele queria separar os irmãos Shimon e Levi para que eles não cometessem mais nenhum ato impulsivo de violência. Mas Rashi, comentarista da Torá, dá outra explicação para estas palavras de Yaacov. Ele explica que Yaacov estava determinando que as tribos de Shimon e Levi futuramente seriam escribas e professores de crianças, e se espalhariam por toda a terra de Israel, viajando de cidade em cidade e mantendo a transmissão ininterrupta da Torá.
Mas por que justamente as tribos de Shimon e Levi seriam os transmissores da Torá? A impulsividade deles não era algo negativo? E qual a relação destas palavras de Yaacov com o evento ocorrido entre Pinchás, da tribo de Levi, e Zimri, da tribo de Shimon? Por que desta vez eles estavam em lados opostos?
Explica o Rav Yaacov Kamenetzki que Yaacov percebeu em seus dois filhos, Shimon e Levi, uma qualidade que seus irmãos não tinham. Quando eles destruíram a cidade de Shechem, eles demonstraram estar dispostos a colocar suas próprias vidas em risco para defender a honra de sua irmã. Todos os filhos de Yaacov tinham visto o que havia ocorrido, mas apenas Shimon e Levi sentiram a dor de sua irmã como se fosse sua própria dor. E esta capacidade de sentir a dor do próximo foi o que os levou a esta impulsividade, este fervor sem limites, cuja única forma de acalmar os ânimos foi através da destruição de toda a cidade de Shechem. Yaacov percebeu que esta força impulsiva de Shimon e Levi poderia ser utilizada de maneira positiva, em benefício do povo judeu. Ele entendeu que somente alguém que naturalmente sente a dor do próximo como se fosse sua própria dor, a ponto de abrir mão de seu conforto em prol do próximo, poderia ser capaz de abrir mão de sua comodidade e viajar, de cidade em cidade, transmitindo a Torá ao povo judeu.
Mas então o que deu errado? Por que as tribos de Shimon e Levi se "reencontraram" na geração do deserto, porém em situações opostas? Explicam nossos sábios que a palavra "Midót", que significa "traços de caráter", também significa "medidas". Por que? Pois não existe nenhum traço de caráter que é totalmente bom ou totalmente ruim, depende de como ele é utilizado, para onde é canalizado. É como o sal, que não é bom nem ruim, depende da medida em que é utilizado. Por exemplo, muito sal estraga a comida, enquanto pouco sal deixa a comida sem gosto. O ideal é sal na medida certa, que ressalta o gosto dos alimentos. Assim também acontece com nossas características, todas devem ser canalizadas para poderem ser utilizadas na medida correta.
Apesar dos dois irmãos, Shimon e Levi, terem transmitido aos seus descendentes esta característica de impulsividade, as diferenças começaram a surgir após o primeiro exílio do povo judeu, quando Yaacov e seus filhos desceram ao Egito. Enquanto a tribo de Levi nunca abandonou o estudo da Torá, e justamente por isso nunca foi escravizada, a tribo de Shimon passou pelos horrores da pesada escravidão no Egito. O tempo em que se dedicou ao estudo da Torá permitiu que a tribo de Levi internalizasse esta característica de impulsividade e fervor explosivo e canalizasse para coisas positivas e construtivas. Já a tribo de Shimon, que não teve esta oportunidade espiritual, canalizou esta característica para o lado negativo. Zimri utilizou a impulsividade de forma negativa, para desafiar Moshé Rabeinu e D'us em um ato público de imoralidade. Já Pinchás utilizou sua impulsividade para fazer a vontade de D'us. Mesmo sendo através de um ato de violência, Pinchás reestabeleceu a paz entre o povo judeu e D'us, terminando com a terrível praga que dizimava o povo. E a recompensa que Pinchas recebeu de D'us, o "pacto de paz", demonstra o quanto sua atitude agradou a D'us. Por um lado era uma atitude impulsiva, mas por outro lado havia sido canalizada para fazer o que era correto e cumprir a vontade de D'us.
Fica desta Parashá um ensinamento importante para nossas vidas. Não existe nenhuma característica intrinsecamente boa ou mal, tudo depende de como vamos canalizá-la. É verdade que existem características com certa tendência positiva, como o altruísmo, e características com certa tendência negativa, como a impulsividade. Mas mesmo as piores características que D'us colocou dentro de nós podem ser utilizadas para servi-Lo, enquanto mesmo as melhores características, sem o direcionamento correto, podem ser desastrosas. D'us nos deu a Torá, o nosso "Manual de Instruções", para nos ensinar como utilizar todas as forças e potenciais contidos dentro de cada ser humano. Quanto mais nos aprofundarmos no conhecimento e no cumprimento da Torá, melhor utilizaremos as nossas forças e potenciais, chegando ao nível de que todos os nossos atos possam ser um grande "Kidush Hashem" (santificação do nome de D'us).
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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