quinta-feira, 4 de junho de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NASSÓ 5769

BS"D
DAQUI NADA SE LEVA – PARASHÁ NASSÓ 5769 (05 de junho de 2009)

O Sr. Waiss (nome fictício) era um judeu muito rico que, durante toda sua vida, doou parte de sua fortuna para sinagogas, centros de estudo de Torá e Tzedaká (caridade) aos pobres. Um pouco antes de falecer, ele relatou aos parentes e amigos que deixaria dois testamentos para serem lidos depois de sua morte, um antes do enterro e o outro depois.

Após algum tempo ele faleceu, e imediatamente o primeiro testamento foi aberto. Nele, o Sr. Waiss fazia um pedido estranho. Ele pedia para ser enterrado vestindo meias. Aquele pedido não era apenas estranho, era muito problemático, pois segundo a lei judaica ninguém pode ser enterrado vestindo nenhuma peça de roupa. Por outro lado os parentes não sabiam o que fazer, pois se tratava do último pedido de um morto, e talvez por este motivo ele pudesse ser atendido.

Após muitas discussões, o caso foi parar nos grandes rabinos, que após estudarem bem os dois lados da situação deram o veredicto: apesar de ser o último pedido do falecido, ele deveria ser enterrado de acordo com a lei judaica, isto é, sem as meias. E assim foi feito.

Após o enterro, os parentes abriram o segundo testamento, e assim estava escrito:

"Se agora vocês estão abrindo este segundo testamento, é porque meu corpo já foi enterrado. E apesar de eu ter pedido para ser enterrado com as meias, eu sei que vocês me enterraram sem as meias, afinal, eu havia consultado alguns rabinos sobre a lei judaica neste assunto e sabia que não é permitido enterrar uma pessoa vestindo qualquer peça de roupa, mesmo se este for seu último pedido. Então por que eu pedi para ser enterrado com as meias? Para ensinar a todos a lição mais importante de suas vidas: com todo o dinheiro que eu tive, incluindo carros, casas e indústrias, deste mundo eu estou saindo sem levar nem mesmo as minhas meias". (História Real)
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Na Parashá desta semana, Nassó, a Torá nos ensina sobre a obrigação de cada judeu doar uma pequena parte de suas possessões como presente para os Cohanim (sacerdotes), que se dedicavam apenas aos trabalhos do Mishkan (Templo Móvel) e, portanto, não tinham nenhuma fonte de renda. E assim diz o versículo "E as santidades de todo homem, dele serão; o que o homem der ao Cohen, dele será" (Bamidbar 5:10). Mas não se entende o final do versículo, pois se está escrito que o homem dará o presente ao Cohen, não é óbvio que será do Cohen? Explicam os nossos sábios que a palavra "dele" se refere à pessoa que está doando, e não ao Cohen. Mas então volta novamente a dificuldade de entender o versículo, pois se o homem doar para o Cohen, como pode ser que mesmo assim continuará sendo dele?

Investimos muitos esforços para construir fortunas neste mundo. Precisamos sempre mais, nunca o que temos é suficiente, nunca estamos satisfeitos com o que conquistamos. Nosso copo nunca está meio cheio, está sempre meio vazio. E para conseguir isso, muito vezes abrimos mão de estar com nossas famílias, de levar uma vida saudável, de nos dedicarmos ao nosso crescimento espiritual. Será que todos estes esforços para conseguir um pouco mais de dinheiro realmente valem a pena?

Há alguns anos atrás havia uma brincadeira que fazia muito sucesso na televisão, chamada "Cabine do Silvio Santos". Como funcionava? Uma pessoa entrava em uma cabine completamente à prova de som, e do lado de fora o Silvio Santos dava opções para a pessoa trocar objetos. Por exemplo ele perguntava: "Você troca este relógio por um ventilador?". Neste momento uma luz vermelha acendia na cabine e a pessoa, sem saber nada do que estava acontecendo do lado de fora, tinha que responder "Sim" ou "Não". Muitas vezes pessoas trocaram, na última rodada, um carro por uma lata de refrigerante. Por que? Pois não sabiam o que estavam fazendo, não sabiam o valor do que tinham na mão e pelo que estavam trocando. Esta brincadeira nos ensina que muitas vezes podemos estar fazendo o mesmo erro, quando trocamos os prazeres eternos do Mundo Vindouro por prazeres passageiros deste mundo.

Explicam os nossos sábios que, apesar de todos os nossos esforços no mundo material, quando chegar o momento de partir deste mundo, não levaremos nada, a não ser os nossos bons atos que fizemos enquanto estávamos vivos. Então por que não dedicamos nosso tempo para juntar bons atos e Mitzvót para nossa vida eterna? Pois nossa má-inclinação nos engana, nos dá a sensação de que tudo o que adquirimos no mundo material nos pertence de verdade. A nossa má-inclinação nos encobre a verdade de que na hora de ir embora seremos obrigados a deixar todas as possessões materiais, e o que nos acompanhará para toda a eternidade serão apenas nossos atos espirituais.

É por isso que o versículo termina dizendo que o presente doado para o Cohen continuará sendo do próprio doador, pois mesmo que o presente vá para o Cohen, os méritos para toda a eternidade ficam com o doador. Dinheiro pode ir e vir, pessoas ganham fortunas do dia para a noite, pessoas perdem bilhões de uma hora para outra. A única forma de garantir que o dinheiro ficará para sempre conosco é doando e fazendo bondades com ele. Neste momento de crise econômica, certamente o melhor investimento que podemos fazer com nosso dinheiro é dar Tzedaká.

Será que nós temos consciência de que realmente o mais importante são os atos espirituais do que nossas possessões materiais? Quando compramos um celular de última geração, não temos dó de gastar quatrocentos dólares, ao contrário, ficamos felizes, mas será que ficamos felizes em gastar quatrocentos dólares em um Tefilin? Ficamos contentes ao comprar por quarenta reais o livro do Harry Potter, mas será que ficamos tão contentes assim em gastar quarenta reais em um Sidur (livro de rezas)? Precisamos parar e refletir, para saber realmente em que nível estamos.

Da próxima vez em que dermos Tzedaká, devemos lembrar que não é quem recebe que deve nos agradecer, e sim nós é que devemos agradecer a ele. Pois quem recebe a Tzedaká recebe alguns reais, mais quem dá recebe vida eterna.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm