quinta-feira, 24 de outubro de 2019

HUMILDADE QUE SALVA - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT BERESHIT 5780

BS"D
Para dedicar uma edição do Shabat Shalom M@il, em comemoração de uma data festiva, no aniversário de falecimento de um parente, pela cura de um doente ou apenas por Chessed, favor entrar em contato através do e-mail efraimbirbojm@gmail.com.
   
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PARASHAT BERESHIT 5780:

São Paulo: 17h56                   Rio de Janeiro: 17h42 
Belo Horizonte: 17h41                  Jerusalém: 17h21
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HUMILDADE QUE SALVA - PARASHAT BERESHIT 5780 (25 de outubro de 2019)

 
"Certa vez um jovem judeu viajava em um navio. No meio da viagem, começou uma violenta tempestade. As imensas ondas que se formaram quase racharam o navio ao meio. Foi um grande milagre o navio ter conseguido chegar a uma praia segura, onde permaneceu até o fim da tempestade. Quando retomaram a viagem, avistaram os restos de uma embarcação que havia naufragado na tempestade. Chegando mais perto, o jovem percebeu que tratava-se justamente do navio no qual seu rabino, um grande sábio de Torá, estava viajando. O coração dele, abalado, encheu-se de dor. Porém, para a sua surpresa, quando ele desembarcou e dirigiu-se ao Beit Midrash (Centro de Estudos), viu o que parecia uma assombração: o seu rabino estava lá, tranquilamente sentado, ensinando Torá aos seus alunos.
 
- Rabino! - ele gritou, assustado - Como você escapou da tempestade? Eu vi com meus próprios olhos os restos da sua embarcação que naufragou!
 
- Um pedaço de madeira passou flutuando perto de mim quando o mar estava a ponto de me engolir - respondeu o sábio - Agarrei-me a ele e, com a ajuda de D'us, consegui nadar até a praia em segurança.
 
- Mas eu não entendo - questionou o aluno - como você não foi engolido pelas ondas gigantescas, que afundaram até navios? Como você conseguiu sobreviver se segurando em um pequeno pedaço de madeira?
 
- Você sabe porque eu sobrevivi? - respondeu o rabino, dando uma incrível lição de vida ao seu aluno - Pois eu abaixei a cabeça cada vez que vinha uma onda grande".
 
Não há nada melhor do que a humildade. Cuidado com o orgulho, pois na verdade nada é realmente nosso: a riqueza, beleza, força e inteligência não são méritos nossos. Tudo o que possuímos é um presente de D'us.

Nesta semana recomeçamos a leitura da Torá, com a Parashat Bereshit (literalmente "No princípio"), que descreve a criação do mundo e dos primeiros seres humanos, Adam Harishon e Chavá, e o nascimento dos seus dois filhos, Cain e Hevel. Infelizmente, logo após terem sido criados, Adam e Chavá fizeram uma grave transgressão e foram expulsos do Gan Éden (Paraíso). A decadência espiritual da humanidade se acentuou ainda mais, a ponto de logo ocorrer o primeiro assassinato da história, quando Cain, motivado pela inveja, levantou-se e matou seu irmão. Cain então foi julgado por D'us e provavelmente seria duramente castigado por seu crime hediondo. Porém, a Torá nos revela que, por algum motivo, D'us o perdoou e aplicou uma pena mais branda. Cain foi destinado a ser um nômade, vagando de cidade em cidade, sem nunca conseguir se estabelecer em nenhum lugar. Por que Cain foi poupado por D'us, mesmo tendo cometido um erro tão grave?
 
A resposta está em um interessante Midrash, que nos ensina que após o seu julgamento, Cain encontrou-se com seu pai. Adam então questionou qual havia sido o resultado do julgamento e Cain respondeu que ele havia feito Teshuvá (retorno aos caminhos corretos) e, por isso, havia sido absolvido. Adam ficou tão deslumbrado com a incrível força da Teshuvá que imediatamente levantou-se e fez um Cântico: "Mizmor Shir LeYom HaShabat" (Um cântico para o dia do Shabat) (Tehilim 92).
 
Porém, este Midrash levanta alguns questionamentos. Em primeiro lugar, qual é a conexão entre o Cântico do Shabat e a Teshuvá? Além disso, ao lermos este capítulo de Tehilim, percebemos que ele não fala absolutamente nada sobre o Shabat, e sim traz louvores a D'us. Finalmente, o livro Tomer Dvora, de autoria do Rav Moshe Cordovero zt"l (Israel, 1522 - 1570), nos ensina que quando uma pessoa comete um erro, mas se arrepende sinceramente, então D'us ama esta pessoa ainda mais do que amava antes do erro. Inclusive, muitos comentaristas explicam que a motivação do erro de Adam Harishon era justamente esta, de ir contra a vontade de D'us para depois fazer Teshuvá e se conectar ainda mais a Ele. Isto significa que Adam já conhecia plenamente a força da Teshuvá. Então como o Midrash afirma que, após ver Cain ser perdoado por causa da Teshuvá, Adam ficou deslumbrado? Qual foi a novidade que ele não sabia?
 
A resposta está em um incrível ensinamento do Talmud (Sanhedrin 97b): "Diz o Rav Eliezer: Se o povo judeu fizer Teshuvá, então eles serão redimidos. Se não fizerem Teshuvá, não serão redimidos". Porém, o Rav Yehoshua imediatamente questiona esta afirmação. Como pode a Redenção final ser condicional, se ela já foi garantida por D'us? O Talmud então responde que, caso o povo judeu não faça Teshuvá por vontade própria, então D'us colocará um rei com duros decretos, como Haman, e então o povo judeu fará Teshuvá. Isto significa que a Redenção Final do povo judeu somente ocorrerá  quando  os judeus fizerem Teshuvá. E caso não façam por vontade, então farão através dos sofrimentos que virão através de um rei tirano e cruel.
 
Mas será que é válida a Teshuvá apenas por causa dos sofrimentos? O Talmud (Iomá 86a) ensina que existem três tipos de Teshuvá: Teshuvá por amor, Teshuvá por temor e Teshuvá por causa dos sofrimentos. A Teshuvá por causa dos sofrimentos é a menos meritória, pois a pessoa somente se arrepende quando começa a sentir na pele os sofrimentos que vêm como consequência de seu erro. Porém, apesar disso, D'us é infinitamente misericordioso e também aceita este tipo de Teshuvá. E esta foi a grande novidade para Adam Harishon. Apesar dele conhecer o conceito espiritual da Teshuvá, ele ainda não conhecia a sua incrível força, a ponto de uma Teshuvá motivada apenas pelo medo do castigo também ser aceita por D'us, como foi o caso de Cain, que fez Teshuvá apenas no momento do seu julgamento, por medo do castigo que recairia sobre ele.
 
Explica o Rav Yaacov Kaniesvki zt"l (Ucrânia, 1899 - Israel, 1985), mais conhecido como Steipler, que na verdade o "Mizmor Shir LeYom HaShabat" não se refere ao nosso Shabat, e sim ao Mundo Vindouro, a época em que "tudo será Shabat" (descanso), por toda a eternidade. E foi ao Mundo Vindouro que Adam se referiu quando escutou que a Teshuvá de Cain havia sido aceita. Ele imediatamente entendeu que a Redenção Final do povo judeu estava garantida, pois mesmo se não fizessem Teshuvá por vontade própria, acabariam fazendo pela força dos sofrimentos que recairiam sobre eles. Por isto, ele fez um Cântico para o "Dia do Shabat", o Mundo Vindouro, que dependerá da Teshuvá, nem que seja por medo dos castigos.
 
Este tipo de Teshuvá tem menos méritos espirituais pois, imediatamente após a pessoa saber que foi perdoada e isentada do castigo, ela "anula" a parte principal da Teshuvá, que é justamente o arrependimento sincero por ter se rebelado contra a vontade de D'us e ter transgredido Suas leis. Aquele que faz Teshuvá por causa do medo do castigo não sente um arrependimento sincero pelo erro, apenas se importa com a consequência, isto é, o castigo que ela merece receber. Portanto, assim que o transgressor sabe que sua Teshuvá foi aceita e ele foi perdoado do castigo, então ele não se importa mais com a transgressão que cometeu e não se arrepende por ter se rebelado contra D'us. Mesmo sendo uma Teshuvá superficial, ainda assim D'us, em Sua infinita misericórdia, aceita, ainda que logo após o perdão o transgressor voltará à sua vida normal, sem nenhum tipo de remorso. É isto que nos ensina as palavras do versículo "E saiu Cain diante de D'us" (Bereshit 4:16). De acordo com o Midrash, imediatamente após ter sido perdoado por D'us, Cain "saiu", isto é, voltou atrás e "enganou D'us", se desconectando da Teshuvá, feliz por ter saído em paz do julgamento e dos castigos amargos, como se o sucesso tivesse sido fruto do seu esforço e inteligência, não da misericórdia Divina.
 
Porém, desta explicação surge uma grande pergunta: se a Teshuvá por causa do castigo não envolve um arrependimento sincero, então por que ela é aceita por D'us? Se a pessoa não se importa em ter se rebelado contra D'us e tê-Lo irritado, então é um ato interesseiro, é apenas uma tentativa de se esquivar das consequências dos maus atos, mas sem se importar com os maus atos realizados. É a isto que se refere o Talmud (Baba Kama 50a) ao afirmar: "Diz Rabi Chanina: "Todo aquele que diz que D'us 'deixa passar' (que Ele perdoa as transgressões mesmo sem arrependimento), então a sua vida 'será abandonada', conforme está escrito: 'A Rocha (D'us), Sua obra é perfeita, pois todos os Seus caminhos são de justiça' (Deuteronômio 32:4)". O conceito da Teshuvá é justamente a possibilidade de um arrependimento tão profundo e sincero que arranca o ato, como se a pessoa nunca o tivesse cometido. Então, onde está a justiça quando D'us recebe uma Teshuvá que não envolve nenhum tipo de arrependimento por parte do transgressor?
 
Explica o Steipler que a raiz de todas as transgressões, e o que mais nos afasta de D'us, é o orgulho. O orgulho é abominável aos olhos de D'us, conforme ensina o Talmud (Sotá 5a): "Quando D'us vê que uma pessoa é orgulhosa, Ele diz: 'Eu e ela não podemos morar juntos no mesmo mundo'". D'us abandona o orgulhoso e ele fica perdido, guiado apenas pelas vontades do seu coração. Porém, quando a pessoa está diante do julgamento por suas transgressões e sente na pele os terríveis castigos amargos que vão recair sobre ela, então o seu coração se quebra e a pessoa se transforma em uma nova criatura. Neste momento, sua visão em relação à transgressão e aos seus maus caminhos é completamente diferente. A submissão da pessoa, mesmo que momentânea, faz com que brilhe sobre ela uma luz espiritual. E, neste momento, ocorre um arrependimento sincero pela rebeldia contra D'us. Mesmo sendo uma Teshuvá momentânea, D'us é bondoso e aceita, apesar de saber que, imediatamente após a pessoa ser perdoada e escapar do castigo, ela voltará a ser orgulhosa.
 
Daqui aprendemos o quanto o orgulho destrói a nossa espiritualidade. E, ao contrário, o quanto a humildade pode nos salvar dos problemas, físicos e espirituais. D'us não ignora um coração quebrado e humilde. Saber abaixar a cabeça pode salvar vidas. E é, certamente, o caminho de preparação para a nossa Redenção Final.
 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

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