sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MISHPATIM 5769

BS"D

UTILIZANDO A CONSTRUÇÃO DA MANEIRA CORRETA - PARASHÁ MISHPATIM 5769 (20 de fevereiro de 2009)

"Um grupo de investidores encomendou a um famoso arquiteto o projeto de um grande edifício. O prédio foi construído visando o bem estar de cada família, e cada apartamento tinha ambientes grandes e largos, com quartos de dormir, sala, cozinha, banheiros com armários embutidos e todos os outros detalhes necessários para satisfazer os futuros moradores. O arquiteto investiu muito tempo no projeto para que nada faltasse e todas as necessidades dos futuros moradores fossem preenchidas. Mas quando o edifício já estava quase pronto e já era visto como um modelo de edifício residencial, os investidores mudaram de idéia e decidiram dar ao edifício uma nova utilização. Ao invés de utilizá-lo como um edifício residencial, eles decidiram que a construção deveria ser transformada em um hospital.

Obviamente que foram necessárias muitas modificações no edifício para adequá-lo à sua nova utilização. As paredes foram derrubadas, formando grandes ambientes. As cozinhas foram transformadas em leitos para os doentes. Os quartos de dormir foram transformados em salas de atendimento e cirurgia, e as salas se transformaram em enfermarias. Finalmente, após um grande esforço de adaptação, o hospital foi inaugurado. Porém, apesar de todo o investimento feito para adequar o edifício residencial às novas necessidades, aquele prédio estava longe de atingir as verdadeiras necessidades de um hospital. Faltavam detalhes básicos que obviamente teriam sido levados em consideração em um projeto inicial. O fato do edifício ter sido totalmente projetado para um uso residencial foi uma terrível barreira para que qualquer outro tipo de utilização fosse realmente satisfatória"

Nos ensina o livro "Lekach Tov" que o mundo e o ser humano foram criados especialmente para que as pessoas pudessem utilizar todas as ferramentas do mundo material para se conectarem com os mundos espirituais e se elevarem. E por mais que tentemos modificar a utilização original deste mundo, investindo todas as nossas forças na busca de prazeres materiais, nunca ficaremos satisfeitos com esta forma de utilização.
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A Parashá da semana passada, Itró, terminou com a entrega da Torá no Monte Sinai. E a Parashá desta semana, Mishpatim, começa trazendo diversas leis "Bein Adam Lehaveiro" (entre o homem e o seu semelhante), nos ensinando como devemos viver em sociedade de forma a construir um ambiente saudável. Mas algo nos chama a atenção nas primeiras palavras da Parashá. Por que está escrito "E estas são as leis", e não está escrito apenas "Estas são as leis"?

Explica Rashi, comentarista da Torá, que este "e" adicional foi colocado de forma a conectar a Parashá desta semana com a Parashá da semana passada. Da mesma forma que a Parashá passada falava sobre a entrega da Torá no Monte Sinai, também todas as leis sociais que estão contidas na Parashá desta semana também foram entregues por D'us no Monte Sinai. Rashi explica que a Torá está ressaltando a diferença entre as leis Divinas e as leis criadas pelos seres humanos. As leis humanistas são fundamentadas no senso comum das pessoas, e portanto são influenciadas pelo local, pela época e pelas condições de vida da sociedade onde as leis são elaboradas. Por não serem embasadas em nada fixo, muitas vezes vigoram por algum tempo e depois são descartadas. Portanto, muitas vezes falta base para estas leis e ocorrem muitas contradições. Um dos exemplos que atualmente mais nos salta aos olhos é o aborto. Há 100 anos o aborto era, em muitos países, punido com pena de morte. Atualmente a legalização do aborto ganha cada vez mais força em todo o mundo, apesar de cada vez mais a ciência provar que o feto já é uma vida e que aos 40 dias já tem até mesmo ondas cerebrais. O valor da vida humana mudou nestes últimos 100 anos? Será que é válido acabar com uma vida apenas porque a mulher grávida acha que ainda precisa investir mais na sua carreira antes de ter filhos? Com valores humanistas, a sociedade pode decidir o que é vida e o que não é.

Já a Torá não é assim, suas leis foram escritas por D'us, quem verdadeiramente sabe o que é uma vida e o que não é. O aborto há 100 anos era condenado pela Torá como uma atitude tão grave quanto o assassinato, pois aos 40 dias de vida a alma já entra no feto, e mesmo antes disso o feto já é um potencial de vida que não pode ser descartado, muito menos por motivos banais. Atualmente o valor de uma vida não mudou, e o aborto continua sendo considerado um assassinato. E mesmo que passem mais 1000 anos e que todas as condições mudem, o valor de uma vida nunca vai mudar aos olhos de D'us.

Outra grande diferença entre as leis humanistas e as leis da Torá é que os seres humanos tendem a defender sempre os seus direitos ao invés de se preocupar com os seus deveres. É muito comum ver grupos fazendo passeatas defendendo seus direitos. O grande problema é que quando todos têm apenas direitos, muitas vezes o direito de um grupo invade o direito do outro grupo. Quando um jornalista demanda seus direitos de liberdade de expressão, ele invade o direito das outras pessoas de manterem a sua vida particular. Quando um homossexual luta pelo direito de poder expressar seu homossexualismo em público, ele invade o direito de um pai que não quer expor seu filho pequeno à cena de dois homens se beijando em um parque público. Quando todos se preocupam apenas com os seus direitos, um tende a querer engolir os direitos dos outros. Quem está certo? Quem merece mais?

Já a visão da Torá é que o ser humano tem deveres, não direitos. Assim, quando cada um cumpre seu propósito e segue as regras impostas por D'us, ele garante os direitos dos outros e consequentemente os seus próprios direitos. O melhor exemplo disso é o que ocorre no trânsito, onde cada um cumpre seus deveres como motoristas, observando leis de trânsito tais como semáforos e mãos de direção, e com isso adquirem o direito de se locomoverem pela cidade com segurança e rapidez. Mas se cada carro tivesse o direito de fazer o que bem entendesse, certamente o trânsito seria um grande caos.

E não apenas que as leis da Torá não dependem da decisão de seres humanos, mas justamento o contrário ocorre, o ser humano foi embasado pelas leis da Torá, como está escrito "D'us olhou a Torá e criou o mundo". O Zohar (Cabalá) nos ensina que o ser humano tem 613 partes no seu corpo material (entre órgãos, ossos e juntas) e 613 partes na sua alma, justamente o mesmo número de Mitzvót da Torá. Fomos criados, tanto o nosso corpo quanto a nossa alma, de acordo com as Mitzvót. Nossa satisfação e nosso preenchimento está relacionado com o nosso cumprimento das Mitzvót.

É por isso que, apesar de muitas vezes pensarmos que viver de acordo com as Mitzvót da Torá é muito pesado e difícil, a verdade é justamente o contrário. Nunca o mundo viveu em uma abundância e uma tranquilidade sócio-econômica como neste século. E ao mesmo tempo nunca o ser humano foi tão infeliz e depressivo como agora. Moramos em apartamentos luxuosos, andamos em carros modernos e equipados, vivemos com conforto e comodidade, e mesmo assim a grande maioria das pessoas não se sente feliz. Por que? Pois não foi para isso que o mundo e o ser humano foram construídos, e por mais que possamos tentar buscar felicidade no preenchimento material, estaremos utilizando nossa construção original para outro propósito. Já em sociedades mais observantes de Mitzvót vemos que as pessoas que utilizam o mundo material apenas como um meio para se conectar ao espiritual estão muito mais satisfeitas e necessitam de muito menos para se sentirem bem e preenchidas.

Da mesma forma que um edifício residencial é construído para atender as necessidades de pessoas que utilizarão o edifício como moradia, e qualquer outro uso para o edifício será certamente longe do ideal, assim também ocorre com o nosso corpo e alma. Enquanto estivermos vivendo nosso vida voltada à conexão espiritual, estaremos nos preenchermos espiritualmente. Mas se tentarmos ser "espertinhos" e buscar viver uma vida apenas pelo preenchimento material, estaremos sujeitos a terminar como Curt Cobain, Heath Ledger e outros artistas famosos que, apesar de terem tudo, ao mesmo tempo nunca tiveram nada.

"Eu tento, eu tento e eu tento, mas eu não tenho satisfação..." (Mick Jager - Rolling Stones)

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm