sexta-feira, 30 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ EMOR 5770

BS"D
CONSULTORIA DE VIDA - PARASHÁ EMOR 5770 (30 de abril de 2010)
"Uma das maiores causas de acidentes aéreos é o choque dos aviões com pássaros durante o vôo. O perigo torna-se ainda maior nos momentos de pouso e decolagem, quando muitas vezes pássaros se chocam contra as turbinas e causam a queda da aeronave.
Pensando neste problema, cientistas do Canadá desenvolveram um canhão projetado especificamente para lançar frangos mortos contra aviões, simulando assim as colisões que podem ocorrer em velocidade de cruzeiro. Os testes possibilitam reconhecer quais são os pontos mais vulneráveis que necessitam algum tipo de reforço, gerando uma consequente melhoria da segurança nos vôos.
Engenheiros americanos ouviram falar do canhão e ficaram ansiosos para testá-lo no pára-brisas do ônibus espacial, que havia sido desenvolvido para resistir ao choque com os pássaros durante o lançamento do foguete. Os arranjos foram feitos e o canhão foi enviada para que os engenheiros americanos pudessem fazer os testes.
Porém, o resultado foi desastroso. Quando o canhão foi disparado e o pássaro colidiu com a nave, o pára-brisas se rompeu em centenas de pedaços, o painel de controle foi seriamente danificado, o banco do piloto rachou no meio e o pássaro se alojou na parede do fundo da cabine. O estrago foi tamanho que eles mal podiam acreditar nos resultados. Horrorizados e irritados, os cientistas imediatamente colocaram a culpa na invenção canadense. Enviaram ao Canadá os resultados desastrosos do experimento, juntamente com as fotos, e pediram aos cientistas explicações. Os engenheiros canadenses analisaram o teste e responderam com uma nota de apenas uma linha:
- Da próxima vez que vocês fizerem o teste, antes de acionar o canhão, descongelem o frango"
A Torá nos ensina o quanto é importante estarmos abertos às críticas. Muitas vezes alguém de fora consegue perceber falhas que nós não percebemos e, com simples idéias, podem ajudar a melhorar nossa vida.
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Nesta semana lemos a Parashá Emor que traz, entre outros assuntos, uma das Mitzvót que estamos cumprindo nestes dias: a Contagem do Omer. Assim diz o versículo: "E contem para vocês, desde o dia após o descanso, desde o dia em que vocês trouxerem o Omer (oferenda de cereais) que é erguido, sete semanas completas serão; até o final da sétima semana vocês devem contar, 50 dias...." (Vayikrá 23:15,16). A Torá nos comandou, a partir do segundo dia de Pessach, quando o sacrifício do Omer era oferecido no Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), a contarmos 49 dias de forma progressiva, até chegarmos ao 50º dia, que é a festa de Shavuot. Porém, se prestarmos atenção na linguagem do versículo, surge uma pergunta: por que a Torá diz "E contem para vocês" e não apenas "E contem"?
Quando o povo judeu saiu do Egito, as pessoas estavam em um nível muito baixo, no nível 49 de impureza espiritual. Os judeus, influenciados por uma sociedade completamente corrompida e imoral, também acabaram corrompendo seu caráter e não podiam receber a Torá neste nível tão baixo. Então D'us nos deu 49 dias até a entrega da Torá para que pudéssemos crescer um nível a cada dia. O povo judeu conseguiu, com um trabalho árduo, se purificar e estar apto a receber a Torá em um evento que mudou o curso da humanidade. Mas se estes 49 dias foram para o crescimento do povo judeu após a saída do Egito, por que a Torá nos deu uma Mitzvá de todos os anos também contar os 49 dias?
Quando comemoramos a Independência do Brasil no dia 7 de setembro, estamos apenas relembrando um evento histórico que aconteceu há centenas de anos, mas que em nada está relacionado com a nossa vida atualmente. Poderíamos pensar que as festas judaicas também são apenas recordações de eventos que ocorreram ao povo judeu durante nossa história. Mas explicam os nossos sábios que segundo o judaísmo nossa vida é um ciclo e, por isso, em cada uma das festas judaicas não estamos apenas relembrando, mas sim revivendo alguma influência espiritual que se repete nesta época do ano.
Explica o livro "Lekach Tov" que a expressão "para vocês" nos ensina que a Mitzvá da Contagem do Omer é algo que nos traz um benefício direto em nossas vidas. Mas qual o benefício há em contar os dias? Na realidade a Contagem do Omer não é simplesmente uma contagem de caráter quantitativo e sim uma contagem de caráter qualitativo, em relação a cada um dos atos que fazemos na vida. É uma oportunidade de se purificar e se elevar neste período de 7 semanas, adquirindo controle sobre os desejos e sobre os pensamentos mais voltados ao materialismo. Quando uma pessoa vende algo e recebe notas de alto valor, ele conta cada nota com muita atenção. Não apenas ele verifica a quantidade de dinheiro, mas ele examina cada uma delas para saber se são verdadeiras ou não. Assim deve ser a Contagem do Omer, não apenas devemos contar numericamente cada dia, mas devemos verificamos em cada dia da Contagem do Omer se os nossos atos são corretos ou não e quais são os pontos onde podemos melhorar.
Em Shavuot recebemos a Torá no Monte Sinai. E em cada ano a Torá é novamente entregue ao povo judeu, como uma chuva que está programada para o fim da época de cultivo do campo. Se o agricultor arou a terra e semeou neste período, a chuva vem para irrigar e trazer vida para este campo. Mas se o agricultor não tiver feito nada, a chuva vem de qualquer maneira, mas nenhum benefício dela pode ser sentido. O mesmo ocorre nestes 49 dias de preparação, pois se nos prepararmos, poderemos receber novamente a Torá em Shavuot, mas se ficarmos parados, certamente não estaremos melhorando em nada e a Torá não terá sobre nossa alma o efeito desejado.
Mas os dias da Contagem do Omer não são todos dias felizes para o povo judeu. Até o dia 33 da Contagem é um período de tristeza pela morte de 24 mil alunos do Rabi Akiva em uma terrível praga que ocorreu na época do Segundo Beit-Hamikdash. Qual foi a causa espiritual desta praga? Explica o Talmud que eles não respeitavam um ao outro como deveriam. Obviamente que o "não respeitar" dos alunos do Rabi Akiva não era falar grosserias um ao outro, era um erro muito sutil. Apesar de serem pessoas muito elevadas e o erro ter sido algo muito pequeno, como aqueles alunos seriam os transmissores da Torá para as futuras gerações, eles não estavam aptos a continuar a transmissão com esta característica não trabalhada. Mas o que houve de especial em Lag BaOmer, o dia 33 da contagem, dia em que os alunos pararam de morrer?
Nestes 49 dias de crescimento espiritual muitos judeus costumam seguir um "manual de crescimento" que está contido no Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas). Este livro traz, no último capítulo, 48 formas de crescer espiritualmente para adquirir a Torá. Em cada dia da Contagem do Omer as pessoas se esforçam para adquirir um dos níveis espirituais mencionados no Pirkei Avót e, no último dia, repassam todas as características. No dia 33 o trabalho de crescimento espiritual é "Ame as críticas". Foi neste dia, quando os alunos do Rabi Akiva trabalharam este nível espiritual de amar as críticas, que eles perceberam que não estavam se respeitando como deveriam e corrigiram seu erro.
O primeiro passo para melhorarmos em qualquer coisa em nossa vida é, antes de tudo, reconhecer onde há falhas. Mas a tendência natural do ser humano é achar que somos perfeitos, que sempre o erro está com os outros. Assumir que erramos causa uma baixa auto-estima. Para proteger nosso ego temos a capacidade de sempre justificar nossas atitudes, muitas vezes de maneira subconsciente. Sempre estamos certos e os outros estão sempre equivocados. Por isso as críticas são tão importantes, pois abrem nossos olhos e nosso coração, nos ajudam a enxergar os nossos defeitos. Saber receber críticas é um sinal de grandeza, é uma demonstração de vontade de crescer.
Este conceito pode ser observado mesmo nas empresas. Qual o papel de um consultor? Criticar o que está errado, identificar o que está deficiente e pode ser melhorado. Por que o dono da empresa paga, e caro, para escutar críticas? Pois ele sabe que quem está dentro da empresa perde a sensibilidade em muitas áreas e não enxerga mais os problemas. É necessário alguém de fora para perceber erros até mesmo infantis que são cometidos na empresa.
É isso o que nos ensina a Torá. Quem quer crescer de verdade deveria estar disposto a até mesmo pagar para escutar críticas. Todos cometem erros e isto não significa que não somos boas pessoas. Mas se queremos chegar ao nosso máximo potencial precisamos estar dispostos a colocar o nosso ego de lado e assumir para nós mesmos que ainda temos um longo caminho de crescimento pela frente.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm