sexta-feira, 8 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ EMOR 5769

BS"D

APAGANDO UMA ALMA DE OURO - PARASHÁ EMOR 5769 (08 de maio de 2009)

"O Rav Shlomo Zalman Oierbach morava em Israel. Quando tinha 15 anos, seus pais compraram uma casa que pertencia a um velhinho não religioso. Como a reforma da nova casa do velhinho ainda não estava pronta, ele pediu para passar o final de semana com eles. Disse que ficaria só no seu quarto e não atrapalharia nada. A mãe do Rav Shlomo Zalman aceitou, mas com a condição de que o velhinho não desrespeitasse o Shabat. Ele prontamente aceitou.

Chegando o Shabat, eles viram que o velhinho realmente ficava o tempo todo no quarto, tentando não atrapalhar, mas diversas vezes ele fez coisas que quebravam o Shabat. Desapontado, o Rav Shlomo Zalman foi conversar com ele. Quando explicou que tudo aquilo que ele estava fazendo era proibido no Shabat, o velhinho pediu desculpas e explicou que não sabia nada sobre as Mitzvót, por isso tinha errado. Então, olhando nos olhos do rapaz, o velhinho falou:

- Você deve estar pensando que eu nunca tive um momento de grande espiritualidade. Mas eu vou te contar uma história. Antes de vir para Israel, eu vivi muitos anos na Rússia. Quando eu ainda era muito jovem, estava no meio de um curso de agronomia quando o exército Russo me enviou para a frente de batalha. Eu passava o dia inteiro enfiado em um buraco na terra, atirando contra os inimigos e vendo muitos amigos morrendo. Os únicos momentos de tranqüilidade eram quando se declarava um cessar-fogo temporário para recolher os corpos dos soldados mortos no campo de batalha. Nestes momentos eu via alguns judeus religiosos lendo Salmos e percebia que aquilo trazia para eles um grande alívio, uma luz no meio de toda aquela escuridão. E cada vez eu ficava mais angustiado, pois nunca tivera oportunidade de estudar Torá, não sabia nem mesmo rezar. Durante um cessar-fogo, vendo tanta morte e destruição, eu entrei em desespero. Gritei para D'us e pedi para que Ele tivesse misericórdia de mim. Pedi para que Ele me tirasse daquele inferno, que me mandasse de volta para casa, e prometi que, se isso acontecesse, iria para uma Yeshivá estudar Torá.

- Alguns segundo se passaram – continuou o velhinho – e no meio daquele silêncio eu escutei o barulho de um tiro. Uma bala certeira, vinda de não sei onde, arrancou o meu dedo. Desmaiei de tanta dor e acordei já no hospital. Depois de alguns dias já estava recuperado e quiseram me enviar novamente para a frente de batalha, mas então eles perceberam que a bala havia arrancado o dedo usado para apertar o gatilho e me mandaram de volta para casa. Eu entendi o tamanho do milagre que D'us havia feito, eu podia sentir o amor Dele por mim naquele momento.

- Porém – o velhinho abaixou a voz, envergonhado, e continuou – quando eu voltei para casa, não sabia mais o que fazer. Por um lado havia a promessa que eu havia feito para D'us, mas por outro lado faltava apenas um semestre para terminar o curso de agronomia. Após longos dias de reflexão decidi que primeiro terminaria o curso e depois iria para a Yeshivá, afinal, a Yeshivá já havia me esperado por tantos anos, poderia me esperar um pouco mais. E assim eu fiz, após seis meses fui para lá, mas já sem o entusiasmo inicial. Tentei acompanhar os estudos, mas tive muitas dificuldades de adaptação. A força daquele milagre aberto já havia terminado, e após dois meses eu desisti. Depois disso, nunca mais tive nenhum contato com as Mitzvót e com D'us.

Os olhos do Rav Shlomo Zalman se enchiam de lágrimas quando ele contava esta história. Ele terminava dizendo que uma alma de ouro havia se apagado para sempre apenas por não ter aproveitado o momento correto. (História real)
-------------------------------------------------------
Nesta semana lemos na Parashá Emor muitas leis relacionadas com os Cohanim (sacerdotes), os responsáveis por todos os serviços do Templo Sagrado. Justamente por estarem sempre envolvidos com a santidade do Templo, a Torá exige dos Cohahim um comportamento exemplar, como está escrito: "Sejam sagrados para D'us e não profanem o nome de D'us" (Vayikrá 21:6). Mas o final deste versículo parece ter sido escrito desnecessariamente, pois se já está escrito "Sejam sagrados", não é óbvio que os Cohanim não devem profanar o nome de D'us?

Explica o livro "Lekach Tov" que a Torá está nos ensinando neste versículo um dos fundamentos mais importantes do nosso trabalho espiritual neste mundo. Se estivesse escrito apenas "Sejam sagrados", poderíamos pensar que se um Cohen não conseguisse ser uma pessoa sagrada, ele poderia pelo menos viver como uma pessoa mediana. Então a Torá nos revela algo impressionante: se o Cohen não se santifica, ele automaticamente estará profanando o nome de D'us. Isto porque no nosso trabalho espiritual não existe ser mediano. Em cada instante, ou estamos santificando o nome de D'us, ou estamos denegrindo-o

E esta não é uma lei espiritual que se aplica somente aos Cohanim, se aplica a cada um de nós. Aprendemos isso do Shemá Israel, que recitamos todos os dias de manhã e de noite: "E se você escutar as Minhas Mitzvót que Eu os comando hoje... e comerás e te saciarás. Mas se cuide para que seu coração não o corrompa, e você se desviará e servirá outros deuses e se curvará diante deles". Por que não há nenhuma transição intermediária entre o início, que trata de quando estamos seguindo o caminho de D'us, e o final, que fala de servir outros deuses?

Explicam os nossos sábios que o mundo espiritual é como uma escada rolante que desce. Ou nós estamos nos esforçando e subindo, ou automaticamente estamos descendo. Não existe ficar parado. Podemos aprender isso observando a própria natureza. Tudo no mundo tem um propósito, nada é por acaso. Por que D'us criou a força da gravidade? Se quisesse, Ele poderia nos manter flutuando sobre o chão. A força da gravidade nos ensina que matéria atrai matéria, e para afastar é necessário colocar energia constantemente. Por exemplo, para um foguete sair da atração gravitacional da Terra, precisa ter um motor potente que o impulsione para cima. Mas se por acaso o motor deixar de funcionar por alguns instantes, imediatamente o foguete começa a cair, atraído pelo material. O mesmo ocorre com a nossa espiritualidade. Temos uma parte material, o corpo, que constantemente está sendo puxado e atraído pelo materialismo, pelos prazeres imediatos. Mas também temos uma parte espiritual, nossa alma, o "motor" do nosso foguete. Quando "desligamos o motor", isto é, quando deixamos o corpo controlar e decidir nossas vidas, entramos em queda livre espiritual. Para crescer é preciso esforço, deixar a alma comandar, deixar ela impulsionar. Isso só é possível vivendo uma vida com valores espirituais.

Outra "marca" desta dualidade entre o material e o espiritual é a própria Terra de Israel. O ponto mais elevado espiritualmente do mundo, o Kodesh Hakodashim (Santo dos santos) fica em Jerusalém, Israel. O ponto geográfico mais baixo do planeta também se localiza em Israel, no Mar Morto, a 400 metros abaixo do nível do mar. Coincidência? Certamente que não. Israel representa um grande potencial de espiritualidade. Se a pessoa procura em Israel a espiritualidade, não há lugar mais propício para o crescimento. Mas se a pessoa procura em Israel o materialismo, encontra muitos problemas e dificuldades. Apesar de Israel ser uma potência mundial, com grandes avanços tecnológicos, sofre com vários problemas sociais. Em locais não religiosos há muito uso de drogas e um elevadíssimo nível de violência juvenil, um dos piores do mundo. Já nas cidades onde as pessoas estão conectadas com os ensinamentos da Torá, a situação é exatamente o contrário. A cidade de Bnei-Brak, por exemplo, não tem delegacia de polícia. As frutas são vendidas na rua, isto é, o vendedor deixa na rua as frutas com o preço marcado e uma caixinha onde o comprador coloca o dinheiro.

Portanto, a Torá nos ensina que nosso objetivo é sempre estar vivendo com santidade, aproveitando as oportunidades, não deixando o crescimento espiritual para depois. A promoção na empresa pode esperar, o carro novo pode esperar, a casa nova pode esperar. Mas a espiritualidade não espera. E se a deixarmos ir embora, talvez ela não volte nunca mais.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm