quinta-feira, 12 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5768


BS"D

INJEÇÃO COM CARINHO - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5768 (13 de junho de 2008)

"Juju ficou doente, estava com febre alta e não podia ir para a escola, e por isso os pais acharam melhor consultar um médico. Ele examinou a menina, diagnosticou a doença e indicou uma injeção, a única forma de curá-la. Os pais de Juju ficaram preocupados, pois sabiam que a injeção iria doer. Como convencer a filha a tomar a injeção sem fazer um grande escândalo na farmácia e sem dificultar a vida do aplicador?

Durante todo o caminho, os pais explicaram o que era uma injeção e para que servia. Contaram que a injeção era a única coisa que poderia curar a doença que ela tinha e explicaram que depois da injeção Juju ficaria boa e poderia brincar com os amiguinhos na escola. Confessaram que doeria um pouco, mas garantiram que logo a dor passaria e ficariam somente as coisas boas.

Antes de chegar na farmácia, pararam em uma loja de doces e a mãe de Juju comprou um grande pacote de chocolates. Deu para ela o pacote e falou:

- Se você não chorar nem fizer escândalos, o pacote será todo seu.

Chegando na farmácia, Juju já estava preparada para a injeção. Mesmo vendo a agulha, ela não teve medo, pois entendeu que seria bom para ela. O aplicador foi muito carinhoso, passou um pouquinho de algodão com álcool antes, fez algumas brincadeiras, e somente quando ela estava bem tranqüila ele aplicou a injeção. A picada doeu, mas vendo o pacote de chocolates e pensando que logo voltaria para a escola, ela se controlou e não chorou. Apesar de ficar um pouquinho dolorido, ela voltou feliz para casa, sabendo que logo ficaria boa. A picada havia passado, agora ficavam os deliciosos chocolates"

As críticas e repreensões que fazemos aos outros se assemelham a uma injeção. Mesmo que é para salvar, a injeção é aplicada com cuidado, com carinho, para não machucar. Assim deve ser feita uma crítica ou uma bronca.
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A Parashá desta semana, Behalotechá, termina com um ensinamento importante. Miriam e Aaron, irmãos de Moshé, não entenderam que ele estava em um nível profético muito mais elevado do que as outras pessoas e falaram mal de um ato que ele havia feito, que na verdade estava correto e havia sido aprovado por D'us. Miriam e Aaron foram informados por D'us que eles haviam feito uma grave transgressão: o Lashon Hará (maledicência). Mesmo que o comentário foi feito por amor, e mesmo que Moshé não se irritou com o comentário da irmã, ao contrário, ele ainda rezou por ela, foi considerado Lashon Hará. Isso nos ensina a gravidade do Lashon Hará, e muito mais se denegrimos alguém por raiva e deixamos a pessoa sobre quem falamos irritada ou triste.

A conseqüência do Lashon Hará foi que Miriam imediatamente ficou com Tzaráat (doença espiritual que acometia as pessoas que falavam Lashon Hará), cuja cura era, além do arrependimento, o isolamento por uma semana fora do acampamento. Porém, ficar fora do acampamento durante os 40 anos no deserto poderia significar ficar para trás, caso o povo judeu estivesse no meio de uma viagem, fazendo com que o castigo fosse ainda mais duro.

A Torá descreve que com Miriam foi diferente. Apesar do povo estar pronto para levantar o acampamento e seguir viagem no momento do castigo de Miriam, D'us avisou para que eles não viajassem até que Miriam terminasse seu período de isolamento. Por que? Pois Miriam estava recebendo a recompensa de um bom ato que ela havia feito há mais de 80 anos. Quando Moshé nasceu, Miriam era uma menina de apenas 5 anos. Para salvar a vida de Moshé, sua mãe colocou-o em uma cesta e jogou-o no rio, na esperança que D'us guiaria a cesta até alguém que tivesse misericórdia e salvasse seu filho. E assim aconteceu, a cesta chegou até onde Batia, a filha do faraó, estava se banhando, e ela teve misericórdia do bebê e salvou sua vida. Durante todo o tempo em que a cesta estava no rio, Miriam foi seguindo seu irmão, para ter certeza de que estava tudo bem, mesmo arriscando sua vida, pois se fosse descoberta protegendo um bebê judeu, contra as ordens do faraó, seria morta. Como recompensa por Miriam ter acompanhado Moshé, D'us fez com que o povo inteiro a acompanhasse, esperando a sua cura e viajando somente depois de sua volta. Mas surge uma pergunta: por mais de 80 anos D'us guardou a recompensa de Miriam por seu bom ato. Por que justamente agora, que ela estava recebendo um duro castigo, ela recebeu o pagamento de seu bom ato?

Daqui vemos que todos os castigos que D'us aplica aos seres humanos são por amor, não por raiva. Quando a Torá descreve que D'us está bravo, não é com raiva, e sim como um pai que quer apenas o melhor para o seu filho, e para isso algumas vezes precisa agir de forma um pouco mais enérgica. D'us guardou a recompensa de Miriam por 80 anos para dar a ela no momento do castigo, e assim minimizar a sua dor. Como um pai que, sabendo que o filho precisa tomar um remédio amargo, lhe dá uma bala para tirar o gosto ruim.

Muitas vezes vemos pessoas à nossa volta que fazem coisas erradas e nos incomodam. Nosso primeiro impulso é gritar, advertir, dar uma grande bronca e jogar na cara da pessoa seu erro. Mas não é assim que D'us se comporta conosco. Aprendemos de D'us que quando criticamos ou damos uma bronca em alguém, deve ser por amor ao próximo, para o bem do próximo, para que o próximo melhore em algo que está errando, e não por motivos egoístas. Quando a crítica é feita com carinho e de coração, a outra pessoa recebe e a crítica torna-se uma Mitzvá. Mas se a crítica é feita de forma ríspida e por egoísmo, isto é, para o nosso próprio bem e não para o bem do outro, a crítica machuca e deixa rancor, se tornando uma transgressão.

A crítica se compara a uma injeção. Por mais que aplicamos uma injeção para salvar a vida de outra pessoa, fazemos com cuidado, para doer o mínimo possível. A injeção não é simplesmente atirada como se fosse um dardo. É feito uma preparação psicológica antes, é feito um consolo depois da aplicação. Assim deve ser feita uma crítica ou uma bronca.

Quando sairmos deste mundo, todos vamos querer estar próximos de D'us. Mas o que significa estar próximo de D'us, se no mundo espiritual não há tempo nem espaço? No mundo material, a proximidade se mede através de distância física. Já no mundo espiritual a distância se mede pela semelhança. Quando duas coisas são iguais, elas se conectam espiritualmente, mas quando são diferentes, elas se afastam e se desconectam. Se queremos realmente nos tornar pessoas melhores e nos conectar com D'us por toda a eternidade, devemos aprender com Seus atos e nos comportar como Ele. Da mesma forma que Ele apenas dá broncas por amor e visando o nosso bem e não o bem Dele, assim devemos sempre criticar os outros por amor, e não por raiva ou egoísmo.

"Palavras que saem do coração entram no coração"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm