quinta-feira, 2 de julho de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT CHUKAT E BALAK 5769

BS"D
DE POUCO EM POUCO - PARASHIOT CHUKAT E BALAK 5769 (03 de julho de 2009)

"Salomão era o dono de um pequeno hotel. Ele estava contente, pois o hotel estava sempre cheio, muitas vezes havia fila de espera e os negócios iam muito bem. Certo dia chegou um homem estranho e sentou-se no sofá do lobby de entrada. Não era um dos hóspedes, e também não pediu um quarto, simplesmente sentou-se ali, calado, e permaneceu assim por todo o dia. Em um primeiro impulso Salomão quis expulsar o homem dali, mas acabou deixou-o ficar, afinal, que mal ele fazia em ficar sentado no lobby do hotel? No dia seguinte o mesmo se repetiu, e também no outro dia, até que o homem se tornou parte do local, vindo todos os dias e permanecendo ali sentado no sofá.

Com o passar do tempo a presença dele se tornou tão constante que as pessoas começaram a pensar que ele era um funcionário do hotel, e muitos começaram a dar o pagamento das diárias diretamente a ele, ao invés de pagar ao dono do hotel. Quando Salomão fechava as contas no final do mês não entendia o que estava acontecendo, pois apesar do hotel estar sempre lotado, cada vez recebia menos dinheiro. Não sabia o que fazer, e viu a situação do hotel ficando cada vez mais difícil, enquanto aquele homem estranho ficava a cada dia mais rico.

Após alguns meses, com muitas dívidas, Salomão se viu obrigado a vender o hotel por um preço muito baixo. E aquele homem estranho foi o primeiro que apareceu, com o dinheiro na mão, para comprar o hotel e se tornar o proprietário"

Assim funciona o nosso Yetzer Hará, ele chega como quem não quer nada, nos envolve e, quando percebemos, já perdemos tudo.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Chukat e Balak. A Parashá Chukat descreve a esmagadora vitória do povo judeu contra os Amalekitas e contra os Emoritas. A Parashá Balak nos conta sobre o rei de Moav, Balak, que temeu muito o povo judeu ao escutar sobre suas devastadoras vitórias nas batalhas contra seus inimigos. Como Balak sabia que a vitória na batalha não dependia da força física e sim da força espiritual, contratou Bilaam, um homem que tinha grandes poderes espirituais, para amaldiçoar o povo judeu. No caminho, por três vezes D'us tentou impedir a ida de Bilaam, mandando um anjo com uma espada para interromper o caminho de sua mula. Da primeira vez em que o anjo apareceu, a mula estava em um lugar largo e conseguiu desviar para o lado. Da segunda vez em que o anjo apareceu já era um lugar um pouco estreito, e quando a mula tentou desviar, prensou o pé de Bilaam contra a parede. Finalmente da terceira vez em que o anjo apareceu o lugar era tão estreito que a mula não teve para onde desviar e parou. Bilaam ficou muito irritado com o comportamento da mula e começou a golpeá-la, até que D'us abriu seus olhos e ele também enxergou o anjo empunhando uma espada, e entendeu porque a mula havia desviado tantas vezes.

Ensina o livro Lekach Tov que os três diferentes lugares onde o anjo apareceu têm um significado mais profundo. Eles representam as três formas como nosso Yetzer Hará (má inclinação) trabalha para nos desviar do caminho correto. Da primeira vez ele aparece como quem não quer nada, nos incitando a cometer uma transgressão, mas nos deixando ainda bastante espaço para desviar e voltar atrás. Se caímos na primeira armadilha e transgredimos, da segunda vez em que o Yetzer Hará nos incita a cometer o mesmo pecado já é mais difícil voltar atrás, não há tanto espaço para voltar. E se caímos pela segunda vez, da terceira vez que o Yetzer Hará nos empurra praticamente não há como voltar mais.

O Talmud nos ensina a mesma idéia: "Quando uma pessoa comete três vezes o mesmo pecado, ele se torna como se fosse permitido". O que isto significa? Que depois da terceira vez que a pessoa comete a mesma transgressão, ela perde a sensibilidade, e a transgressão já não pesa mais tanto. Por isso a chance da pessoa voltar se torna muito mais difícil. É o que vemos em casos de pessoas como mafiosos ou nazistas, que na primeira vez em que mataram alguém se sentiram mal com isso, mas depois de muitas mortes já não se importavam.

Temos que refletir muito sobre estas três formas através das quais o Yetzer Hará nos ataca, para assim conseguir vencê-lo. Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Uma transgressão traz outra transgressão", isto é, cada mau ato tem como consequência uma queda espiritual. E quando estamos espiritualmente mais baixos, estamos mais propensos a transgredir de novo. É um círculo vicioso, que vai ficando cada vez mais difícil de ser quebrado. O livro Messilat Yesharim (Caminho dos Justos) compara isso a um fio muito fino, que pode ser facilmente arrebentado. Mas se adicionarmos mais um fio e mais um fio, no final se torna uma corda tão grossa que não pode mais ser arrebentada.

Precisamos internalizar a idéia de que da primeira vez é mais fácil vencer o Yetzer, e que cada vez vai se tornando mais difícil. É muito importante colocar toda nossa força logo quando sentimos a primeira vontade de fazer algo errado, para não cair em situações cada vez mais difíceis.

"Uma escada se sobe em degraus. Se não quer subir a escada toda, não comece a subir o primeiro degrau"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm