sexta-feira, 2 de abril de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PESSACH II 5770

BS"D

PRIORIDADES CONFUSAS - PESSACH II 5770 (02 de abril de 2010)

"Há alguns anos um terrível atentado atingiu Jerusalém, deixando muitos mortos e feridos. O país inteiro ficou em estado de choque. Equipes de resgate, homens da Hatzalá (entidade de judeus religiosos que ajuda voluntariamente em acidentes e atentados) e membros do Chevra Kadisha (entidade judaica que cuida dos mortos) correram para o local do atentado. A televisão israelense cobriu todos os detalhes do atentado e transmitiu ao vivo, para todo o país, imagens que fizeram doer o coração de cada judeu.

Porém, toda a cobertura do atentado foi feito somente em metade da tela. Na outra metade estava sendo transmitida uma importante partida de futebol de um time israelense que jogava naquele momento..."

É incrível como o ser humano pode chegar a níveis inacreditáveis de insensibilidade. Como ensinam nossos sábios, o mundo material é como uma escada rolante que desce. Se não estamos subindo, automaticamente estamos descendo espiritualmente. (História Real)

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Nesta semana o Shabat coincide com a festa de Pessach, também conhecida como "Zman Cheruteinu" (o tempo da nossa liberdade). E é tão forte a liberdade que revivemos em Pessach que a Hagadá chega a afirmar que "se D'us não tivesse tirado nossos antepassados do Egito, nós, nossos filhos e os filhos dos nossos filhos ainda estaríamos subjugados ao Faraó no Egito". Mas é difícil entender esta afirmação da Hagadá. Mais de três mil anos já se passaram desde que o povo judeu foi libertado do Egito. Uma das bases do judaísmo é saber que D'us tem poderes ilimitados, que Ele tem controle sobre todo o universo e nada acontece sem o Seu comando. Mesmo que D'us não tivesse tirado o povo judeu naquele momento, poderia ter feito em qualquer outra oportunidade no decorrer da história!

A resposta desta pergunta pode ser encontrada nos 4 filhos descritos na Hagadá: o "Chacham" (sábio), o "Rashá" (malvado), o "Tam" (ingênuo) e o "Sheeinu iodeia lishol" (o que não sabe perguntar). Sobre estes 4 filhos temos algumas perguntas: Qual a explicação mais profunda desta passagem da Hagadá, que parece apenas algo para ser lido pelas crianças? Além disso, por que o primeiro filho é o "sábio" e não o "bondoso", já que o contrário de Rashá (malvado) é bondoso e não sábio? E finalmente, onde está o 5º filho?

Ensinam os nossos sábios que os 4 filhos da Hagadá representam o ciclo da assimilação do povo judeu. O povo judeu sempre esteve repleto de pessoas sábias, conectadas com a Torá e com as Mitzvót. Porém, durante nossa história sempre vieram gerações que, apesar de conhecerem a Torá e as Mitzvót, preferiram abandonar todos os ensinamentos que recebemos de D'us. A Hagadá chama o primeiro filho de "sábio" e não de "bondoso" para nos ensinar que o segundo filho também é um sábio. Mas ele utilizou sua sabedoria para o mal, ele se desviou do caminho por vontade e não por falta de conhecimento. Vem uma terceira geração que já é inocente, mantém uma identidade judaica mas praticamente não tem mais conhecimentos de Torá e Mitzvót. E finalmente vem uma quarta geração já completamente alienada, sem conhecimentos e sem identidade judaica. Onde está o 5º filho? Ele já está tão assimilado e afastado que não vem mais ao Seder de Pessach.

Foi isso o que aconteceu no Egito. Quando Yaacov foi obrigado a ir ao Egito por causa de uma grande fome que assolou o mundo, antes de tudo ele mandou um de seus filhos para estabelecer centros de estudo de Torá. Ele se preocupou com a espiritualidade dos seus descendentes. Por ser pai de Yossef, o vice-rei do Egito, Yaacov poderia ter vivido com luxo no palácio do Faraó, mas preferiu viver uma vida simples em uma cidade chamada Goshen, isolado dos egípcios, pois sabia que o povo judeu poderia ser muito influenciado pelos péssimos hábitos egípcios, que eram conhecidos pela idolatria e promiscuidade. Mas quando Yaacov e seus filhos morreram, o povo judeu quis se assimilar, mesmo sabendo dos riscos espirituais que corriam. Abandonaram seus bons costumes e começaram a viver o estilo de vida egípcio. Após poucas gerações o povo judeu estava completamente assimilado.

Para manter nosso livre arbítrio, D'us criou duas forças opostas, a pureza e a impureza espiritual. A decadência do povo judeu foi tão grande que, de 50 níveis de impureza possíveis, o povo judeu estava no nível 49. Apesar de D'us ter dito para Avraham que seus descendentes seriam escravos por 400 anos, após 210 anos D'us teve que tirar o povo judeu às pressas. A Matzá, a massa que não teve tempo de fermentar, representa que o povo judeu não poderia ter permanecido no Egito nem mesmo por mais um minuto. Se os judeus chegassem ao nível 50 de impureza espiritual perderiam o mérito para serem salvos, pois se tornariam egípcios e ficariam no Egito para sempre. A prova disso é que, apesar de todos os milagres que D'us fez no Egito diante de todo o povo judeu, apenas um quinto do povo saiu, o restante estava tão assimilado que preferiu ficar.

Ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens, que não há nenhuma novidade sob o sol, isto é, a história da humanidade se repete em ciclos. Se pararmos para refletir um pouco, as 4 gerações descritas na Hagadá também estão se repetindo conosco. Nossos bisavós eram pessoas que viviam de acordo com a Halachá (lei judaica), vivenciavam as festas judaicas e cumpriam as Mitzvót. Nossos avós, apesar de terem recebido uma boa educação judaica, acabaram abandonando a prática da maioria das Mitzvót durante um forte movimento de assimilação e "reforma" do judaísmo. Nossos pais já não tiveram tanto acesso aos conhecimentos judaicos, mas mantiveram sempre o ideal de ter uma família judia. Nossa geração, a juventude de hoje, já não tem muito interesse em nada. Não temos nenhum conhecimento, não temos mais nenhum ideal. O judaísmo, para a maioria dos jovens judeus, é coisa do passado, deveria estar no museu. Onde estarão os nossos filhos? Nossos filhos virão ao Seder de Pessach? Nossos filhos serão judeus? Seremos os responsáveis pelo povo judeu ficar escravo no Egito para sempre?

Uma outra forma de explicar onde está o 5º filho é entender que ele voltou a ser o 1º filho, o Chacham (sábio). É o que está acontecendo com jovens judeus em todo o mundo. Jovens que voltaram a se interessar pelo legado milenar, pela sabedoria da Torá que recebemos no monte Sinai, diretamente de D'us. Jovens que fazem parte de um crescente movimento de Teshuvá (retorno ao judaísmo). Jovens que querem garantir que seus filhos e seus netos estarão sentados com eles no Seder de Pessach, nas rezas de Rosh Hashaná e Yom Kipur e na mesa de Shabat. Jovens que escolheram lutar para manter a chama do judaísmo acesa.

Em Pessach comemoramos o nascimento do povo judeu. Que neste Pessach possamos começar a comemorar o renascimento do povo judeu. O futuro do judaísmo está em nossas mãos.

SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VE SAMEACH (Um Pessach Kasher e alegre)

Rav Efraim Birbojm