sexta-feira, 10 de junho de 2022

O QUE É REALMENTE NOSSO? - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ NASSÓ 5782

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PARASHÁ NASSÓ



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  • Funções de Guershon: carregar as coberturas e cortinas.
  • Funções de Merari: carregar os pilares, tábuas e bases.
  • Contagem de Kehat, Guershon e Merari.
  • Purificando o Acampamento.
  • Oferendas por transgressões que envolvem falsos juramentos.
  • Matanót Kehuná.
  • A Suspeita de Adultério (Sotá).
  • O Nazir.
  • A Brachá dos Cohanim.
  • A Oferenda dos Nessiim (Líderes).
  • As Oferendas de cada Tribo.
  • A Inauguração do Altar.
BS"D

O QUE É REALMENTE NOSSO? - PARASHÁ NASSÓ 5782 (10/Jun/22)


"Certo rei tinha um ministro judeu que, além de ser muito sábio, era extremamente competente e bem sucedido em tudo o que fazia. Aos poucos ele foi crescendo e enriquecendo. Como era de se esperar, os demais ministros o invejaram. Começaram a buscar maneiras de denegrir o ministro judeu perante o rei. Eles inventaram calúnias e tentaram convencer o rei de que o ministro estava roubando dinheiro do Tesouro Real. O rei, que era um homem astuto, não dava ouvidos aos rumores, pois conhecia bem o ministro judeu e confiava em sua honestidade.
 
- Vocês estão com inveja - zombava o rei, ignorando as calúnias dos ministros.
 
Mas os ministros invejosos não desistiram. Eles continuaram a importunar o rei, repetindo constantemente que o ministro o roubava. Por fim, o rei se rendeu e chamou o ministro judeu para esclarecimentos.
 
- Quanto dinheiro você tem? - questionou o rei.
 
- Um milhão de dólares - respondeu o ministro.
 
O rei desconfiou que ele possuía muito mais dinheiro do que havia declarado. Irritado, ordenou que trouxessem ao palácio toda a riqueza do ministro judeu. Quando conferiram, constataram que o ministro havia mentido e que o seu patrimônio era dez vezes maior do que ele havia declarado. O rei não perdoou a mentira. Se fosse dinheiro honesto, por que ele estaria escondendo? Os ministros pareciam estar certos em sua suspeita! O rei imediatamente mandou prender o ministro judeu, confiscou todo o seu dinheiro e marcou um julgamento para seu caso.
 
No dia do julgamento, trouxeram o ministro diante do rei, que questionou com indignação:
 
- Como ousou mentir assim para mim? Sua riqueza é dez vezes maior do que o valor que você declarou!
 
- Vossa Majestade, eu não menti, é tudo verdade – defendeu-se o ministro judeu - Eu anoto todo mês em um bloco especial o "Maaser", um décimo do meu salário, valor que eu costumo doar para Tzedaká. Quando Vossa Majestade questionou quanto dinheiro eu tenho, respondi baseado na quantia registrada no meu bloco de Tzedaká. Essa é a quantia que será sempre minha e que ninguém pode tirar de mim. Quanto ao resto do dinheiro, eu não posso garantir que estará sempre em minhas mãos. Por exemplo, neste momento Vossa Majestade confiscou todo o meu dinheiro, e agora, o que me restou dele? Somente a quantia que doei para Tzedaká, um mérito garantido para sempre.
 
O rei, maravilhado com a explicação do ministro judeu, conferiu o bloco de Tzedaká e verificou que a informação era verdadeira. Imediatamente ordenou que todo o seu dinheiro fosse devolvido e que ele fosse trazido de volta ao seu importante cargo."
 
Nossos bens materiais vêm e vão. Além disso, quando partirmos deste mundo, todos eles ficarão aqui. Somente levaremos os nossos bons atos. Por isso, é preciso ter claridade de onde estamos investindo o nosso tempo, em algo passageiro ou algo infinito.

Nesta semana lemos a Parashá Nassó (literalmente "Levantar, Contar"), que é a Parashá mais longa da Torá. Ela trata de assuntos importantes, como a contagem da Tribo de Levi, a "legião preferida de D'us", além de explicar as leis de uma mulher suspeita de adultério (Sotá), as leis do Nazir (alguém que fez um voto voluntário de se abster de beber vinho e derivados de uva, cortar o cabelo e se impurificar com os mortos) e as doações dos líderes de cada Tribo na inauguração do Mishkan. Antes de falar sobre a Sotá, a Parashá também fala sobre presentes que os Cohanim recebiam do resto do povo, como porções da produção agrícola, conforme está escrito "Toda Terumá de todas as coisas sagradas dos filhos de Israel que é trazida ao Cohen, será dele. As coisas sagradas de cada um pertencerão a ele; tudo o que um homem dá ao Cohen será dele." (Bamidbar 5:9,10).
 
Antes de tudo precisamos entender por que era necessário que o povo presenteasse os Cohanim. Os Cohanim eram responsáveis pela espiritualidade do povo judeu. Para que eles pudessem se ocupar única e exclusivamente com os serviços do Mishkan e com o bem estar espiritual do povo judeu, foi ordenado que o resto do povo desse a eles diversos tipos de presentes. Era uma parceria na qual todos saíam ganhando, pois enquanto os Cohanim cuidavam da espiritualidade do povo, o povo cuidava das necessidades materiais dos Cohanim.

Porém, estes versículos que falam das doações aos Cohanim nos chamam a atenção. Não é óbvio que o que damos para uma pessoa passa a ser dele? Então qual é a novidade que os versículos estão nos ensinando com as palavras "serão dele"? Além disso, por que dizer que as coisas sagradas, que serão doadas ao Cohen, ainda pertencem ao dono? Não é óbvio que algo que ainda não foi doado pertence ao dono original? E, finalmente, por que a proximidade do assunto das doações aos Cohanim com o assunto de Sotá, a mulher suspeita de adultério?
 
Em um entendimento mais simples, através das palavras "as coisas sagradas de cada um pertencerão a ele", a Torá está se referindo ao direito que uma pessoa tem de escolher para qual Cohen será encaminhada a porção separada de sua colheita. Enquanto a porção não for efetivamente entregue a um Cohen, ela ainda pertence ao seu dono original, mesmo que já tenho sido separada do resto da produção e contenha um nível de Kedushá, sendo permitida apenas ao consumo dos Cohanim.
 
De fato, o Ramban (Espanha, 1194 - Israel, 1270), explica que o versículo está ensinando que a Terumá, termo que geralmente se refere à porção que é separada das colheitas e dada aos Cohanim, se torna propriedade pessoal do Cohen somente depois que o fazendeiro a entrega para ele. Portanto, o Cohen não tem o direito de pegar a Terumá do proprietário à força, sem a sua permissão.
 
Segundo o Rav Moshe Feinstein zt"l (Lituânia, 1895 - EUA, 1986), estes versículos estão nos ensinando o quanto é fácil transgredir a proibição de roubo quando racionalizamos nossas atitudes. Um Cohen poderia justificar seu ato de pegar a Terumá à força, dizendo: "Esta porção já pertence aos Cohanim de qualquer maneira. Tudo o que estou fazendo é privar a pessoa do direito de escolher a quem ela dará a Terumá, e isso é irrelevante, quase insubstancial". Porém, a Torá vem nos ensinar que é proibido ao Cohen pegar a Terumá sem autorização, e vem enfatizar a verdadeira definição de roubo. Nós somos proibidos de pegar qualquer coisa que D'us não nos deu, independentemente de o roubo ser grande ou pequeno, ou se podemos encontrar alguma justificativa "moral".
 
Rashi traz outra abordagem para estes versículos. Se um judeu se comporta de forma mesquinha e, nesta "parceria" entre o povo e os Cohanim, ele não quer beneficiar o Cohen e guarda para si os sagrados presentes que deveria entregar a eles, então D'us o punirá por seu egoísmo. Ele terminará perdendo seus bens e ficará apenas com a pequena quantia que deveria ter sido doada aos Cohanim. Portanto, nesta interpretação, as palavras "será dele" se referem ao próprio dono, que ficará apenas com a pequena porção que seria dos Cohanim.
 
Esta mesma abordagem, que foca no egoísmo do dono do campo, também é trazida pelo Talmud (Berachót 63a), que explica a proximidade do assunto de doação aos Cohanim com o assunto de Sotá, a mulher suspeita de adultério. Quando uma mulher era advertida por seu marido para que não ficasse sozinha com certo homem, e mesmo assim ela se trancasse com este homem, de forma que testemunhas vissem os dois entrando no local, mas não vissem se realmente havia acontecido um ato de adultério, então esta mulher estava proibida ao marido até que provasse sua inocência. E como poderia provar, já que não havia testemunhas? Através de uma cerimônia, conduzida por um Cohen, na qual ela bebia as "águas amargas" que checavam se ela era culpada ou inocente. O Talmud ressalta que o homem que desprezou o Cohen e não lhe deu sua porção será castigado, pois D'us fará com que agora ele seja obrigado a procurar o Cohen e dependa do seu "serviço" para poder voltar a viver em paz com sua esposa suspeita de adultério.
 
O Talmud (Berachot 63a) também traz uma abordagem positiva e explica que os versículos estão nos dando uma garantia de que aquele que doa ao Cohen o que lhe é devido não sofrerá nenhuma perda. Pelo contrário, o que ele der ao Cohen em última instância "será dele", pois D'us o recompensará por sua generosidade. O Rav Zalman Sorotzkin zt"l (Lituânia, 1881 - Israel, 1966) explica que isso não se aplica apenas à doação de Terumá ao Cohen, mas é a maneira como devemos agir em relação ao nosso dinheiro em todas as situações. Da mesma forma que na história do ministro judeu o principal era o dinheiro que havia sido doado, devemos saber que somente o dinheiro que doamos para Tzedaká é o nosso real patrimônio, o resto não nos pertence e não está garantido.
 
Esta é a explicação das palavras: "tudo o que um homem dá ao Cohen será dele". O que a pessoa doa para o Cohen, cumprindo desta maneira uma Mitzvá, ficará com ele para sempre. Ninguém poderá pegar dele a Mitzvá, nosso verdadeiro tesouro. Portanto, no final das contas, o que é nosso de verdade não é o que recebemos, e sim o que doamos.
 

SHABAT SHALOM
 

R' Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
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