quinta-feira, 26 de junho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ KORACH 5768


BS"D

VERDADE, MAS SE FOR DO MEU JEITO - PARASHÁ KORACH 5768 (27 de junho de 2008)

"Pedrinho era uma criança com muita energia. Às vezes, energia demais. Na escola ele era impossível, e sua mãe vivia sendo chamada pela diretoria. Ele não era um bom aluno, e normalmente suas notas deixavam o pai de cabelo em pé.

Uma noite, a mãe de Pedrinho entrou no quarto dele para dar boa noite, e viu uma cena que a deixou boquiaberta: pedrinho, ajoelhado ao lado da cama, com a cabeça baixa, falava sozinho. Será que ele estava rezando? Será que finalmente Pedrinho tinha tomado jeito? A mãe, curiosa, chegou perto para escutar o que ele pedia. Escutou ele falando várias vezes baixinho:

- D'us, por favor, faça com que o rio Amazonas passe pela Bahia.

A mãe de Pedrinho ficou curiosa. Por que ele pedia para D'us algo tão estranho? Quando terminou de rezar, ele explicou:

- Sabe, mãe, hoje tivemos prova de Geografia, e foi isso o que eu escrevi na prova"

Muitas vezes preferimos encontrar justificativas para continuar na mentira ao invés de aceitar que estamos errados e começar a procurar a verdade.
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Alguém inteligente andaria no escuro, sabendo que há chance de cair em um grande abismo? Alguém em sã consciência comeria algo que existe probabilidade de ser venenoso? À primeira vista, parece que não. Porém, a Parashá desta semana, Korach, nos mostra que não é tão simples assim. Korach, primo de Moshé, movido pela inveja, tentou derrubar Moshé e Aharon de seus postos de líder e Cohen Gadol (Sumo Sacerdote), e para isso começou a incitar o povo com mentiras e calúnias. Um dos argumentos foi que Moshé havia escolhido Aharon, seu irmão, como Cohen Gadol, e havia enganado o povo dizendo que a escolha foi Divina. Korach, acompanhado de 250 pessoas que se deixaram convencer por ele, foram desafiar Moshé.

Em um primeiro momento, Moshé tentou dissuadir Korach e os outros rebeldes, tratando-os com respeito e falando em tom cordial. Mas vendo que nada funcionava, propôs uma prova para que D'us mesmo mostrasse quem era o escolhido. Todos os que se achavam no direito de ser Cohen Gadol deveriam trazer, no dia seguinte, uma oferenda de incenso para D'us. Moshé ressaltou que era proibido para uma pessoa trazer uma oferenda que D'us não havia ordenado, e o transgressor era punido com a morte. Somente a oferenda daquele que realmente havia sido escolhido por D'us seria aceita, e os outros morreriam. Todos os 250 homens aceitaram o desafio, trouxeram no dia seguinte suas oferendas de incenso, e todos morreram, consumidos por um fogo Divino. Mesmo assim o povo não ficou completamente convencido, e D'us teve que dar uma prova definitiva de que Aharon era o escolhido. Ele ordenou que o líder de cada tribo trouxesse um cajado, com o seu nome inscrito nele, e colocasse dentro do Mishkan (Templo Móvel), inclusive Aharon, que deveria trazer o cajado da tribo de Levi. No dia seguinte, o cajado de Aharon amanheceu com flores e frutas, mostrando para todo o povo que a escolha de Aharon era realmente Divina.

Mas destes acontecimentos surgem duas perguntas: os rebeldes sabiam que, no melhor dos casos, apenas um deles seria o escolhido, e os outros 249 morreriam imediatamente. É como brincar de roleta russa, mas com um revólver contendo 249 balas! Quem, em sã consciência, participaria deste tipo de "jogo"? Era praticamente um suicídio. Mas a Torá descreve que mesmo assim os 250 participaram e morreram. Além disso, por que D'us não fez a prova do cajado de Aharon antes da prova da oferenda, para quem sabe assim poupar a vida dos 250 rebeldes?

A pergunta que temos que sempre nos fazer é se vivemos nossas vidas de maneira racional, ou se constantemente tomamos decisões ilógicas. Por exemplo, todos conhecem os terríveis males do cigarro, tais como câncer no pulmão e enfisema pulmonar, mas mesmo assim vemos que o número de fumantes aumenta cada vez mais. Todos sabem que dirigir embriagado aumenta muito os riscos de graves acidentes, e mesmo assim 90% dos pacientes que chegam aos hospitais no sábado à noite, jovens que estão entre a vida e a morte, estavam completamente embriagados, saindo de uma festa ou uma danceteria. Todos sabem que a exposição constante à violência dos filmes e jogos aumenta a violência na vida real, mas mesmo assim vemos que a procura por filmes e jogos violentos continua cada vez maior. Como explicar tudo isso? Se não é lógico, por que tantas pessoas fazem coisas que colocam em risco o nosso bem mais precioso: a vida?

Ensinam os nossos sábios que o ser humano pode ignorar as verdades mais óbvias por causa dos seus desejos. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos patriarcas): "Três coisas tiram o homem do mundo: a inveja, o desejo e a honra". "Tirar do mundo" significa tirar a pessoa do seu racional, das decisões lógicas e pensadas. Por um pouco mais de prazer e de orgulho arriscamos nossas vidas dirigindo de forma arriscada, comendo alimentos que fazem mal à saúde e nos comportando como se não houvesse amanhã.

A pior catástrofe que pode acontecer ao ser humano é perder o controle de sua mente. E foi justamente o que aconteceu com Korach e seus 250 seguidores. Mesmo quando a lógica e a verdade estavam claras diante deles, eles escolheram o ilógico. Por inveja, por um pouco mais de honra, eles trocaram a vida pela morte certa. E eles estavam tão obstinados e obcecados que mesmo a prova do cajado não seria suficiente para despertá-los.

O pior não é apenas viver de maneira ilógica. É aceitar, ou pior, tentar justificar este tipo de atitude. Temos mecanismos de auto-justificação, muitas vezes inconscientes, que enganam a nós mesmos. Como ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão): "Todo o caminho da pessoa é reto aos seus olhos". Moldamos tudo para que estejamos sempre certos.

Será que escolhemos nossos caminhos de forma racional, ou deixamos a vida nos levar? Será que nos questionamos, ou vamos vivendo cada dia e tentando curtir ao máximo, sem pensar no futuro? Muitas pessoas preferem não se questionar, com medo de perder os prazeres da vida. Muitas vezes prazeres ilógicos, passageiros, que aproveitamos hoje sem saber se estaremos aqui amanhã.

"O pior cego é o que não quer ver"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm