sexta-feira, 20 de março de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT VAYAKEL E PEKUDEI 5769

BS"D

BOAS INTENÇÕES – PARASHIOT VAYAKEL E PEKUDEI 5769 (20 de março de 2009)

"O Sr. Carlos tem um amor especial pelos animais, e todos dizem que ele tem um dom para cuidar deles. Sempre os amigos telefonam pedindo seus sábios conselhos sobre os animais de estimação. Era tarde da noite quando o Sr. Carlos recebeu um telefonema do Sr. Samuel, um grande amigo que estava precisando de ajuda urgente. O Sr. Samuel havia comprado para seus filhos um aquário, para educá-los e ensiná-los a prestar atenção às necessidades dos outros. Mas os peixes, que haviam se tornado o centro das atenções na casa, começaram a morrer de uma hora para outra.

Sem demora o Sr. Carlos foi ver o que estava acontecendo. Checou o Ph da água e descobriu que estava muito baixo. Por algum motivo a água tinha ficado com uma acidez acima do normal e isto estava matando os peixes. Intrigado, começou a verificar todos os equipamentos do aquário, mas tudo parecia estar em ordem. A bombinha de ar estava funcionando, a iluminação estava adequada, a temperatura estava correta. A família do Sr. Samuel se reuniu em volta do aquário, apreensiva. O Sr. Carlos explicou que a água estava muito ácida, mas não conseguia entender o porquê. Então Israel, o filho caçula, começou a balançar a cabeça e falou:

- Será que foi a Soda limonada que eu dei para eles?" (História Real)

Queremos fazer o bem, queremos ajudar os outros, mas se não soubermos as consequências dos nossos atos, muitas vezes boas intenções podem resultar em consequências desastrosas.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Vayakel e Pekudei, terminando o segundo livro da Torá, Shemot. E estas duas Parashiot tratam da execução do Mishkan (Templo Móvel), de acordo com todos os detalhes que foram ensinados nas Parashiot passadas. A pessoa escolhida para a construção foi Betzalel, como está escrito: "E disse Moshé aos filhos de Israel: 'Vejam, chamou D'us pelo nome de Betzalel... E insuflou-o com o espírito de D'us, com sabedoria, com entendimento, com conhecimento e com todo o trabalho" (Shemot 35:31,32). Por que a Torá se alonga tanto, com tantos termos de sabedoria? Por que não está escrito apenas que D'us deu a Betzalel o conhecimento técnico das atividades para que ele pudesse construir o Mishkan?

Muitas vezes vemos pessoas fazendo bons atos, como por exemplo grandes doações para causas nobres, mas não temos como saber qual a verdadeira intenção delas. Muitas vezes atos que no início pareciam ser bons se revelam, com o passar do tempo, como atos egoístas e de auto-promoção. Mas apesar de pessoas de carne e osso poderem se enganar, o Criador do mundo não se engana, Ele verifica o coração de cada criatura no universo e sabe exatamente a intenção de cada um.

Explica o Rav Chaim Vologiner que o Mishkan tinha muitas partes, algumas mais sagradas, como o Kodesh Hakodashim (lugar onde ficava a Arca Sagrada, e onde apenas o Sumo Sacerdote podia entrar, uma única vez no ano, em Yom Kipur), e outras menos sagradas. Todo o povo judeu havia doado jóias e materiais nobres para a construção do Mishkan, e certamente todos queriam que sua doação fosse utilizada no Kodesh Hakodashim. Então como fazer a distribuição correta dos materiais? É por isso que a Torá se alonga e utiliza tantos termos de sabedoria, pois D'us não deu a Betzalel apenas o conhecimento técnico das atividades do Mishkan, Ele deu também a sabedoria de enxergar exatamente a intenção de cada um dos doadores, para assim poder decidir o uso adequado de cada material doado. O que havia sido entregue com um autêntico espírito doador era destinado às partes mais sagradas, enquanto os materiais doados com motivações egoístas, como a busca de honra, eram utilizados em partes menos sagradas do Mishkan.

Isso também se aplica em nossas vidas, em qualquer ato de caridade que fazemos. Muitas pessoas doam grande fortunas apenas em busca de honra e reconhecimento público, portanto com motivações completamente equivocadas. Apesar do ato ser válido, certamente tem um valor muito menor aos olhos de D'us. E isto não vale apenas para doações milionárias, mesmo pequenas doações no nosso dia-a-dia podem estar sendo feitas com motivações incorretas. Quando damos dinheiro na rua para um pobre, nossa intenção verdadeira é aliviar um pouco da dor que ele está sentindo, ou nossa intenção, mesmo que de maneira subconsciente, é aliviar a nossa própria dor? Será que aquele dinheiro não serve para nos sentirmos melhor com nossa própria consciência? Nos preocupamos realmente com o que o outro necessita?

Também apenas boas intenções não garantem que um ato será considerado bom. Ao contrário, muitas vezes queremos ajudar, mas se não conhecermos as regras da vida podemos cometer enganos terríveis com as melhores intenções do mundo. Um exemplo é o caso que comoveu o mundo há duas semanas, de Eluana Englano, uma moça italiana que passou 17 anos em coma após sofrer um acidente de carro. Seu pai lutou por 10 anos na justiça pelo direito de terminar com o sofrimento dela através da "morte assistida", mais conhecida como eutanásia. Há duas semanas o pai realizou seu desejo após a justiça italiana aprovar a eutanásia neste caso. Eluana morreu 3 dias após a suspensão total de sua alimentação,'levando o mundo inteiro a se questionar: Será que este foi realmente um ato de bondade? Sofrimento é motivo para tirar a vida de uma pessoa? Será que o pai realmente estava pensando no sofrimento da filha, ou o que mais lhe doía era o seu próprio sofrimento?

Casos como este dividem a opinião pública, pois envolvem muitos sentimentos. O que é eticamente o correto a se fazer? É justamente nestes momentos que a Torá nos dá a tranquilidade necessária para termos a certeza de que sempre estamos fazendo o que é correto, mesmo em momentos de sofrimento e dificuldade. D'us nos dá a vida, e somente Ele pode tirá-la. Quando uma pessoa está em um estado de coma vegetativo, sua validade para o mundo terminou? Uma vida é válida apenas quando a pessoa pode trabalhar, ir à praia ou ao cinema? O que está acontecendo com a alma desta pessoa enquanto ela está em coma? Será que este sofrimento que ela está passando não pode ter bons frutos para a eternidade? Infelizmente o mundo não sabe a resposta para estas perguntas, e mesmo assim cada vez mais vem sendo permitido este ato de "bondade" que, segundo o judaísmo, é um assassinato a sangue frio encoberto por uma "roupa" mais suave chamada eutanásia.

Explica o Rav Yerucham que os nossos bons atos são comparados a uma vela. O ato se assemelha ao pavio enquanto a boa intenção se assemelha ao óleo. O potencial de iluminação está no óleo, mas sem um ato correto este potencial não se transforma em luz. Um bom ato sem uma boa intenção é como uma vela que permanece apagada. E apenas boas intenções, sem estarem acompanhadas de um bom ato, são como um combustível sem controle que, ao invés de iluminar, pode causar um grande incêndio.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm