sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ TERUMÁ 5769

BS"D

QUEM SOU EU? - PARASHÁ TERUMÁ 5769 (27 de fevereiro de 2009)

"Yankele morava na cidade de Varsóvia. Apesar de ser uma boa pessoa, ele era muito tolo. Às vezes chegava a passar dos limites, como no dia em que decidiu ir, pela primeira vez, a uma casa de banho. Enquanto ele se preparava, começou a refletir e um grande temor tomou conta dos seus pensamentos. Ele lembrou que quando todos estão de roupa é fácil saber quem é quem, mas em uma casa de banho, quando todos estão nus, como fazer para reconhecer as pessoas? Ficou com medo de se perder no meio dos outros e não saber mais quem ele era. Após pensar muito, chegou a uma brilhante solução: amarraria um barbante vermelho no dedo do pé. Assim, mesmo sem roupa, poderia saber quem ele era.

Mas a idéia se transformou em um desastre. No meio do banho, sem que o Yankele percebesse, o barbante caiu e ficou preso no dedo de uma outra pessoa. Quando Yankele olhou para o pé e descobriu que o barbante não estava mais ali, ficou desesperado,. Procurou pelo chão da casa de banho até que finalmente viu o barbante vermelho no dedo do outro homem. Foi até ele e perguntou:

- Eu sei quem é você, Yankele. Mas por favor me ajude, quem sou eu?"

Será que sabemos quem nós somos de verdade? Somos apenas um corpo ou somos mais do que isso?
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Na Parashá desta semana, Terumá, D'us começou a instruir Moshé sobre a construção do Mishkan, o Templo Móvel que acompanhou o povo judeu durante todos os anos no deserto e que foi substituído, muitos anos depois, pelo Beit Hamikdash (Templo Sagrado). A Torá descreve cada pequeno detalhe do Mishkan e dos utensílios que eram utilizados no serviço espiritual, tais como o Aron Hakodesh (Arca sagrada), a Menorá e o Mizbeach (altar onde eram oferecidos os sacrifícios). Mas, se atualmente o Mishkan já nem existe mais, por que a Torá se alongou tanto nestes detalhes?

Muitas vezes lemos a Torá como se fosse um simples livro de histórias que nos transmite alguns ensinamentos morais. Mas isso é um grande erro, a Torá é chamada "Torat Chaim" (Instruções de Vida) justamente porque em cada versículo e em cada palavra estão contidos muitos ensinamentos de como viver da maneira correta. Um exemplo é o início desta Parashá, que começa descrevendo os detalhes do Aron Hakodesh. Ele era feito com madeira de acácia e era totalmente coberto de ouro, por dentro e por fora. Para que servia o Aron Hakodesh? O versículo nos ensina: "E você deve colocar na Arca Sagrada as Tábuas do Testemunho (as 2 tábuas contendo os 10 Mandamentos) que Eu darei para vocês" (Shemot 25:16), isto é, o Aron Hakodesh era o local onde a Torá deveria ser guardada. Logo depois a Parashá começa a descrever os detalhes da tampa do Aron Hakodesh, que continha dois Kerubins (anjos) de ouro, e sobre a tampa está escrito "...e você deve colocar a tampa sobre a Arca Sagrada por cima, e na Arca Sagrada você deve colocar as Tábuas do Testemunho que Eu darei para vocês" (Shemot 25:21). Mas se já havia sido dito que o Aron Hakodesh tinha como função receber as Tábuas do Testemunho, por que a Torá precisou repetir isso poucos versículos depois?

Explica Rashi que não há nada na Torá escrito desnecessariamente. A repetição do versículo vem nos ensinar uma lei importante: é proibido colocar a tampa sobre o Aron Hakodesh sem que as Tábuas estejam dentro dele. Por que? A Torá está ressaltando que apesar do Aron Hakodesh ser feito de madeira nobre e estar completamente coberto de ouro, ele não tem nenhum valor intrínseco. O verdadeiro valor do Aron Hakodesh é como o utensílio onde os Mandamentos de D'us devem ser guardados. Sem as Tábuas, o Aron perde completamente o seu valor.

Este ensinamento não se aplica apenas para o Aron Hakodesh, se aplica para as nossas vidas. Atualmente as pessoas gostam de se sentir livres, gostam de se vestir como têm vontade. No carnaval é um grande orgulho ter um belo corpo e poder expô-lo no meio da avenida, sob os olhares de milhares de pessoas. Quem se preocupa em cobrir o corpo com roupas recatadas? A Tzniut (recato), uma das bases do judaísmo, aparentemente se tornou obsoleto. Mas é justamente o contrário, nada é tão moderno e atual quanto a Tzniut.

Qual é a lógica por trás da Tzniut? A mesma lógica do ensinamento do Aron Hakodesh. Temos um corpo e fazemos de tudo para mantê-lo bonito e jovem. Pessoas gastam cada vez mais dinheiro em cirurgias plásticas rejuvenescedoras, e muitas vezes se expões a grandes riscos para diminuir algumas gordurinhas. E o que era exclusividade feminina invade também a ala masculina através dos "metrosexuais", isto é, homens cuja vaidade os faz passar horas por semana em cabeleireiros, manicures e massagistas. Vivemos em uma época que somos escravos da estética, e as modelos das passarelas definem os parâmetros de beleza. Mas surge uma grande pergunta: quem somos nós de verdade? Somos apenas este corpo de carne e osso, que um dia voltará ao pó? Pois nada é certo na vida, a única coisa que podemos garantir com certeza é que um dia a vida chegará ao fim. E depois? Quanto vale a pena investir em algo que, mais cedo ou mais tarde, perderá seu esplendor?

O judaísmo nos ensina que não somos um corpo. Uma pessoa sem um braço não se torna menos pessoa. Nosso verdadeiro "eu" é a nossa alma, infinita, parte do Criador do mundo. O corpo não tem valor intrínseco, é apenas um utensílio onde foi colocada a nossa alma para que possamos cumprir nosso papel no mundo. Portanto não há erro maior do que dar mais importância para o corpo do que para a alma. Investimos horas na academia e no salão de beleza, mas quanto tempo investimos na nossa alma infinita?

É justamente este o ponto da Tzniut. Quando a Torá nos ensina sobre o recato, é um lembrete constante do que é o principal e o que é o secundário. Tzniut não é abandonar a vaidade nem o cuidado com o corpo, pois a Torá exige que cuidemos do nosso corpo e da nossa saúde. Mas viver como escravos da estética nos leva a pensar que nós somos apenas um corpo, limitando nosso potencial infinito. Muitas pessoas gostariam de ser admiradas por seu verdadeiro potencial, mas, influenciadas pela sociedade, acabam vendendo para o mundo apenas o seu visual.

Cobrir o corpo com roupas recatadas é mais do que cumprir uma Mitzvá da Torá. É gritar para o mundo, e para nós mesmos, que valemos muito mais do que um corpo finito. Valemos uma alma infinita.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm