sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ DEVARIM E TISHÁ BE AV 5774

BS"D

AS PALAVRAS E O SILÊNCIO - PARASHÁ DEVARIM E TISHÁ BE AV 5774 (01 de agosto de 2014)


"Certa vez, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho. O adivinho, assustado, exclamou que aquele sonho significava uma grande desgraça, pois cada dente caído representava o sofrimento pela perda de um parente. O sultão ficou enfurecido, achando uma grande insolência daquele adivinho. Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem chicotadas. Não contente com o que havia escutado, o sultão ordenou que fosse trazido outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

- Magnífico sonho, senhor. É o sinal de que uma grande felicidade está reservada para você. O sonho significa que você terá uma vida muito longa, mais longa do que todos os seus parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro a este adivinho. Quando o adivinho saía do palácio, um dos guardas do sultão lhe disse, admirado:

- Não é possível! A interpretação que você fez foi exatamente a mesma do seu colega. Por que ao primeiro adivinho ele deu cem chicotadas, e a você ele deu cem moedas de ouro?

- Aprenda uma lição importante - respondeu o adivinho. Na vida não importa apenas o que dizemos, mas também como dizemos..."

Um dos grandes desafios do ser humano é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

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Nesta semana começamos o último livro da Torá, Devarim, também chamado de "Mishnê Torá" (repetição da Torá), pois o livro inteiro traz o discurso de despedida de Moshé antes de sua morte, no qual ele relembrou os principais acontecimentos dos 40 anos do povo judeu no deserto. E na Parashá da semana, Devarim, Moshé relembrou um dos momentos mais trágicos do povo judeu. No primeiro ano após a saída do Egito, o povo judeu já se aproximava de Israel e finalmente poderia entrar na terra sagrada que havia sido prometida a eles por D'us desde a época dos nossos patriarcas, Avraham, Yitzchak e Yaacov. Mas o povo, ao invés de confiar na palavra de D'us, decidiu enviar espiões para verificar se a terra era realmente boa. Dos 12 espiões enviados, 10 voltaram falando mal da terra e convenceram o povo de que era impossível conquistá-la. O povo chorou durante toda aquela noite, deixando D'us irritado com a falta de confiança. Conforme nos ensina o Talmud (Taanit 29a), D'us disse para o povo: "Vocês choraram sem motivo. Portanto, Eu fixarei esta noite como uma noite de choro para as futuras gerações". Esta noite era Tishá Be Av (dia 9 do mês judaico de Av), um dos dias mais tristes do ano, data na qual as palavras de D'us se cumpriram e várias tragédias atingiram o povo judeu em diferentes gerações, como a destruição dos nossos dois Templos Sagrados e a expulsão dos judeus da Espanha e de Portugal em 1492.

O erro dos espiões custou caro ao povo judeu. Toda aquela geração, cerca de 600 mil homens, recebeu o duro decreto de não entrar na Terra de Israel. O povo judeu teve que permanecer 40 anos no deserto, até que toda aquela geração morresse e uma nova geração pudesse entrar em Israel. Rashi (França, 1040 - 1105) nos conta que o castigo dos espiões foi ainda mais duro. Eles sofreram uma morte terrível e estranha: suas línguas se alongaram e chegaram até os seus umbigos, e vermes saíam de suas línguas e entraram em seus umbigos. Rashi explica que esta morte foi "Midá Keneged Midá" (medida por medida), pois o erro deles havia sido o mau uso da língua. Mas como a língua chegar até o umbigo refletia o erro cometido pelos espiões?

Tishá Be Av é um dia de luto nacional do povo judeu. Quando uma pessoa está enlutada, ela fica em silêncio. Inclusive, de acordo com a Halachá (Lei judaica), é proibido começar uma conversa com alguém que está enlutado. Devemos permanecer em silêncio na presença de um enlutado, deixando para ele a opção de vir conversar caso tenha vontade. Tishá Be Av também é um dia de silêncio, pois a fala teve uma participação muito grande no erro dos espiões e, consequentemente, na destruição dos dois Templos Sagrados. O silêncio de Tishá Be Av é parte do conserto do erro cuja raiz foi o mau uso da fala. Nossos sábios ressaltam a importância do silêncio: "Todos os meus dias eu cresci entre os sábios e não encontrei nada melhor para o corpo do que o silêncio" (Pirkei Avót 1:17). Mas por que a Mishná do Pirkei Avót descreve que o silêncio é bom especificamente ao corpo?

Há outro ensinamento interessante no Talmud em relação ao silêncio. O Talmud (Meguilá 18a) afirma: "Se a palavra vale uma moeda, o silêncio vale duas moedas". Mas o que o Talmud está acrescentado ao que já foi ensinado na Mishná de Pirkei Avót? Além disso, por que Talmud utiliza esta proporção de que o silêncio vale o dobro do que as palavras? Isto não contradiz o ensinamento do Pirkei Avót, que aparentemente descreve que os benefícios do silêncio são muitas vezes maiores do que os benefícios da fala?

Há ainda um questionamento sobre o poder da fala que está relacionado com a criação do ser humano, como está descrito: "E Ele (D'us) soprou em suas narinas a alma da vida, e o homem se tornou uma alma viva" (Bereshit 2:7). Unkelos, o sábio que traduziu a Torá para o aramaico, traduz "alma viva" como "alma falante", ressaltando que o poder da fala é o que diferencia o ser humano de todas as outras criaturas. Porém, várias fontes da Torá mencionam pessoas que tinham a capacidade de entender a língua dos animais. Isto significa que todas as criaturas também têm a capacidade de se comunicar. Portanto, o que é tão único e especial no poder da fala do ser humano?

Responde o Rav Yohanan Zweig que há duas fontes de onde se origina a fala do ser humano. A fala pode ser uma verbalização de um pensamento intelectual, ou uma reação visceral, instintiva, que reflete nossos desejos físicos e emoções. Todas as formas de vida têm a capacidade de transmitir suas necessidades e expressar seus desejos físicos através de sons, mas o ser humano é a única criatura capaz de conceber ideias e articular estes pensamentos através da fala.

Estas duas formas de expressão do ser humano estão constantemente em conflito entre si. É a mente do ser humano que controla sua fala, ou é o seu corpo? Esta luta fica mais evidente naqueles momentos em que o ser humano tem o impulso de reagir verbalmente, mas sua mente diz que antes de falar é necessário considerar as consequências de suas palavras. Portanto, o silêncio é um sinal de controle, em especial quando relacionado à forma de fala visceral e instintiva, quando o silêncio é um reflexo do controle do impulso físico. Quando a Mishná do Pirkei Avót diz que "não há nada melhor para o corpo do que o silêncio", está exaltando justamente este silêncio, que indica o controle dos impulsos físicos do corpo.

Frequentemente a fala é utilizada no lugar de ações físicas, sendo um dos principais exemplos disso o "Lashon Hará" (fala difamatória). Uma das provas de que a fala muitas vezes substitui os atos físicos está em uma das maldições trazidas na Torá: "Maldito aquele que golpeia seu companheiro secretamente" (Devarim 27:24). Rashi explica que esta maldição se refere àquele que faz Lashon Hará de seu companheiro. Apesar de o Lashon Hará ter uma natureza apenas verbal, acaba se tornando um canal sofisticado através do qual o difamador pode golpear sua vítima. E como o Lashon Hará reflete a falta de controle da pessoa sobre o seu corpo, o castigo que ela recebia era a Tzaráat, uma doença que atacava o transgressor com manchas no corpo.

Foi exatamente esta a mensagem que D'us quis transmitir com a forma através da qual os espiões morreram. Quando queremos expressar uma reação instintiva, utilizamos a palavra "viceral", cuja raiz é "víceras", os nossos órgãos internos mais moles, em especial aqueles contidos na cavidade abdominal. A língua dos espiões chegando até o umbigo e os vermes saindo da boca e entrando no umbigo são uma alusão à forma de fala pelas quais eles eram culpados: a fala que sai do estômago, não da cabeça.

O Talmud (Sanhedrin 39a) descreve o ser humano como sendo uma fusão de duas entidades: a mente e o corpo. Uma pessoa cujo corpo reage de uma maneira espontânea, sem limites, é considerada como se tivesse apenas uma única entidade, pois nestas circunstâncias a mente não traz muito benefício para ela. Mas se a mente da pessoa consegue controlar seu corpo, então este é um indivíduo verdadeiramente composto pelas duas entidades. É este o ensinamento transmitido pela Mishná quando exalta o silêncio. "A palavra vale uma moeda" se refere a uma pessoa cujo corpo controla sua fala e, portanto, é como se fosse uma única entidade, enquanto "o silêncio vale duas moedas" se refere ao silêncio que reflete o domínio da mente sobre o corpo, como se fossem duas entidades.

Na próxima 2a feira de noite (4 de agosto) será Tishá Be Av. É um dia de tristeza, mas também é um dia de muita reflexão. Que erros estamos cometendo que nos fazem continuar neste exílio tão longo e sofrido? Quais são as transgressões que nos fazem ter que sofrer acusações antissemitas de todas as partes do mundo, simplesmente quando tentamos nos defender de ataques terroristas? Certamente, se fizermos uma análise verdadeira e autocrítica, perceberemos como o Lashon Hará é parte integrante de nossas vidas. Não estudamos o suficiente para conhecer todas as leis relacionadas com a fala, não nos esforçamos o suficiente para controlar nosso instinto quando temos vontade de falar algo proibido, e infelizmente não nos preocupamos com as consequências, físicas e espirituais, do mau uso da nossa fala.

Que neste Tishá Be Av possamos despertar e consertar nossos erros, em especial o Lashon Hará, para que neste ano seja, se D'us quiser, o nosso último Tishá Be Av de choro e tristeza.

"Uma pessoa sábia reflete antes de falar; uma pessoa tola fala, e então reflete sobre aquilo que disse"

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

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