quinta-feira, 16 de julho de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHIOT MATOT E MASSEI 5769

BS"D

ACERTANDO O JULGAMENTO - PARASHIOT MATOT e MASSEI 5769 (17 de julho de 2009)

"Certa vez duas pessoas vieram ao Beit Din (Tribunal Rabínico) dizendo que tinham algo muito grave para testemunhar. Eles haviam passado em pleno Yom Kipur pela casa do Rav Bunim MiParshischa, um Tzadik (Justo) muito grande, e haviam visto ele comendo bolo e tomando um copo de café. E todos na cidade sabiam que ele não estava doente, a única situação na qual ele teria permissão de comer em Yom Kipur.

Os juízes do Beit Din ficaram chocados com a informação, e começaram a pensar no que fazer diante de uma acusação tão grave. Mas por conhecerem a reputação daquele homem tão santo, decidiram investigar bem o caso antes de tomar qualquer atitude.

Após algumas investigações eles descobriram que a nora do Rav Bunim havia dado a luz na véspera de Yom Kipur. O Rav Bunim, seguindo a lei judaica, informou que era proibido para ela jejuar, e portanto ela deveria comer e beber em Yom Kipur, mas ela se recusava. Após muita insistência, ela aceitou comer com a condição de que o próprio Rav Bunim trouxesse a comida (e como é proibido alguém alimentar outra pessoa em Yom Kipur a não ser que a outra pessoa tenha alguma isenção de acordo com a lei judaica, isto provaria que ela realmente podia comer). Ele aceitou prontamente, foi até a cozinha e trouxe um prato com bolo e um copo de café. Neste exato momento passaram as duas testemunhas e viram o Rav Bunim, em pleno Yom Kipur, tranquilamente carregando comida e bebida. Assim eles concluíram, de maneira precipitada, que ele estava preparando-se para sentar e desfrutar de um belo lanchinho em pleno Yom Kipur"

Todas as vezes que julgamos as pessoas para o bem não estamos apenas cumprindo um mandamento da Torá, estamos acertando o nosso julgamento.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Matot e Massei. Na Parashá Matot o povo judeu, por ordem de D'us, fez uma guerra de vingança contra o povo de Midian, que havia se aliado ao povo de Moav para tentar destruir o povo judeu. Esta guerra foi diferente, pois não houve proposta de paz nem aviso sobre o ataque, como ocorreu em todas as guerras anteriores, mostrando que D'us estava muito irritado com os Midianim. Por que esta guerra em especial foi diferente das outras? E por que a Torá não menciona nada sobre uma vingança contra o povo de Moav, que foram os primeiros a atacar o povo judeu?

Explica Rashi, comentarista da Torá, que existe uma diferença muito grande entre as motivações de Moav e de Midian quando eles resolveram entrar na guerra contra os judeus. O povo de Moav estava com muito medo, pois tinha acabado de ver a vitória esmagadora dos judeus contra outros povos e sabia que seria o próximo a ser atacado. Portanto a motivação deles era totalmente justificável, pois era por autodefesa. Já o povo de Midian não estava sendo ameaçado, e entrou na guerra sem nenhum motivo, apenas pelo ódio gratuito que sentiam pelo povo judeu. Então D'us ordenou contra eles uma guerra de vingança, para nos ensinar o quanto Ele despreza este sentimento chamado ódio gratuito.

Para entender a gravidade do ódio gratuito, a Torá nos ensina algo surpreendente. O primeiro Beit-Hamikdash (Templo Sagrado) foi destruído por causa de idolatria, derramamento de sangue e relações ilícitas, três transgressões terríveis, mas depois de 70 anos foi reconstruído. O segundo Beit-Hamikdash foi destruído por causa do ódio gratuito que havia entre as pessoas, aparentemente algo não tão grave, mas até hoje, mais de 2.000 anos depois, ainda não foi reconstruído. Qual a explicação? Quando a transgressão que fazemos é algo externo, como idolatria ou assassinato, é fácil perceber o erro e corrigir. Mas se o erro é algo interno, como o ódio gratuito, mesmo sendo algo muito grave aos olhos de D'us, não nos damos conta de sua gravidade e continuamos caindo no mesmo erro outra vez e outra vez.

Estamos nas 3 semanas de luto do povo judeu, período conhecido como "Bein Hametzarim", entre os dias 17 de Tamuz e 9 de Av, o dia da destruição dos dois Beit-Hamikdash. Por que temos que nos enlutar por algo que aconteceu há mais de 2.000 anos? Explicam os nossos sábios que cada geração em que o Beit-Hamikdash não foi reconstruído é como se esta geração o tivesse destruído. Por que o da primeira vez o Beit-Hamikdash foi reconstruído tão rápido? Pois as pessoas entenderam a gravidade de seus atos e fizeram Teshuvá (retorno aos caminhos corretos). Portanto, se tivéssemos consertado o erro de ódio gratuito, o Beit-Hamikdash já teria sido reconstruído. Como continuamos insistindo no mesmo erro, mesmo que o Beit-Hamikdash tivesse sido reconstruído, teria sido novamente destruído nos nossos dias.

Um dos principais motivos do ódio gratuito é não julgar as pessoas para o bem. Na maioria das vezes somos precipitados, rotulamos as pessoas pelos atos exteriores delas sem nunca ter conversado nem conhecido a pessoa de forma mais profunda. Somos sempre precipitados, achamos que o primeiro ponto de vista é sempre o correto, e somos teimosos em não querer mudar nossas opiniões. Com isso muitas vezes sentimos ódio por pessoas que, se conhecêssemos bem, teríamos sido grandes amigos. Pessoas que se matam em estádios de futebol poderiam ter saído juntos do estádio para tomar uma cerveja e bater um papo. Vizinhos se odeiam por causa de pequenos mal-entendidos que, se tivessem sido verificados, teriam economizado muita dor de cabeça. Mesmo muitos casamentos teriam melhor êxito se o marido e a esposa soubessem entender e julgar o outro para o bem.

O antídoto para o ódio gratuito é ir para o outro extremo, o amor gratuito, isto é, amar as pessoas sem esperar nada em troca. Amar as pessoas por serem seres humanos, por terem sido criadas à imagem e semelhança de D'us. Quando nós chegamos atrasados a um encontro esperamos que todos entendam que foi o trânsito ou outro imprevisto, mas quando os outros chegam atrasados, imediatamente imaginamos que foi por descaso.Temos que tentar não tomar decisões precipitadas, e da mesma forma que esperamos que os outros sempre nos julguem para o bem, assim devemos sempre dar ao outro o benefício da dúvida. Somente assim estaremos consertando o mundo e aproximando a vinda do Mashiach, quando finalmente teremos de volta o nosso Beit-Hamikdash reconstruído.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm