quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ SHOFTIM 5772

BS"D

PREPARANDO-SE PARA A GUERRA - PARASHÁ SHOFTIM 5772 (24 de agosto de 2012)

"O Rav Israel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, viveu em Radin, na Polônia, um local onde o inverno era extremamente rigoroso. Quando ele tinha cerca de 94 anos, o Yetzer Hará (Má inclinação) tentava de tudo para convencê-lo a não sair da cama de manhã, para fazê-lo perder a reza na sinagoga. Algumas vezes o Yetzer dizia para ele: "Chafetz Chaim, agora é inverno, está muito frio lá fora, fique mais um pouco na cama quentinha". Outras vezes o Yetzer Hará tentava outro argumento: "Chafetz Chaim, você já é um homem muito velho, você precisa descansar mais um pouco". E havia oportunidades em que o Yetzer Hará dizia para ele: "Chafetz Chaim, está cedo demais, você não precisa rezar agora, deixe para rezar mais tarde".

Como o Chafetz Chaim conseguia vencer seu Yetzer Hará? Respondendo para ele: "Yetzer Hará, não seja um hipócrita. Você foi criado junto com o mundo, isto é, você já está velho. E mesmo sendo bem mais velho do que eu, você já está de pé desde a madrugada, no frio, trabalhando. Então por que eu, que sou muito mais jovem do que você, deveria continuar deitado, ao invés de fazer o meu trabalho espiritual?"

O Chafetz Chaim nos ensina que para vencer o Yetzer Hará, temos que saber lutar contra todas as estratégias que ele utiliza para tentar nos derrubar. Ele tenta nos enganar com argumentos simples. Por isso, precisamos estar sempre alertas para saber contra-argumentar cada um deles.

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Na Parashá desta semana, Shoftim, a Torá nos descreve vários aspectos da conduta do povo judeu nas guerras. Moshé começa ressaltando a importância de cada soldado judeu não sentir medo, mesmo nas situações de aparente desvantagem numérica, enfatizando que D'us lutaria junto com o povo. Um "Cohen (sacerdote) de guerra" era especialmente nomeado para as batalhas, e um de seus trabalhos era encorajar os soldados antes da guerra. E assim ele falava aos soldados: "Escute, Israel, vocês se aproximam hoje da batalha contra seus inimigos. Não deixe que seu coração se acovarde, não tenha medo, não sinta pânico, e não se quebre diante deles" (Devarim 20:3). É interessante perceber que o Cohen repetia algumas vezes a mensagem "não sintam medo", mas utilizando diferentes linguagens.

Mas esta necessidade repetitiva de encorajamentos é aparentemente incoerente com um ensinamento do Talmud (Sotá 44b), que diz que apenas os mais Tzadikim (Justos) do povo iam para a guerra, e qualquer transgressão, mesmo as mais leves, desqualificava a pessoa para ser um soldado do povo judeu. Se estamos falando de um exército composto por soldados espiritualmente tão elevados, certamente eram pessoas com muita Emuná (fé). É entendível que eles se amedrontassem, por causa da pressão, quando sentissem a guerra se aproximando. Mas após um primeiro encorajamento, os soldados já deveriam voltar ao seu nível original de Emuná. Então por que o Cohen repetia tantas vezes o conceito de não ter medo, e com tantas linguagens diferentes?

Explica o Rav Eliahu Dessler que uma pessoa com medo não se concentra na luta e contagia seus companheiros, desmotivando todos à sua volta. Por isso, quando um povo saía para lutar contra outro, utilizava quatro tipos de "truques" para apavorar o inimigo. A primeira artimanha era fazer muito ruído batendo objetos uns contra os outros, dando a impressão de que um exército gigantesco se aproximava. Então eles faziam seus cavalos relincharem, dando a impressão de que o exército inimigo era muito bem equipado. Depois disso gritavam com toda força, produzindo um ruído ensurdecedor, que era escutado a dezenas de quilômetros. E finalmente, eles tocavam trombetas, produzindo um som que por si só já amedrontava aqueles que escutavam.

É por isso que o Cohen utilizava quatro expressões diferentes de encorajamento, uma para cada estratégia de guerra utilizada pelo exército inimigo. "Não deixe que seu coração se acovarde" por causa do relincho dos cavalos, "não tenha medo" por causa do barulho dos objetos, "não sinta pânico" por causa do toque das trombetas, e "não se quebre diante deles" por causa dos gritos dos soldados. Mas por que não era suficiente apenas um único encorajamento? Se os inimigos utilizassem apenas uma única estratégia para amedrontar, como o relincho dos cavalos, o encorajamento do Cohen seria suficiente para fazer voltar a Emuná do povo judeu. A partir daí, mesmo que fizessem mais cem vezes seus cavalos relincharem, isto não traria mais medo. Mas quando eles mudavam e utilizavam uma nova estratégia, voltava o perigo de o medo surgir, e por isso era necessário um novo encorajamento. Portanto, para cada uma das quatro táticas de desencorajar o exército inimigo, era necessário um tipo diferente de incentivo do Cohen.

Este conceito trazido na nossa Parashá, apesar de ter sido ensinado há mais de 3.000 anos, também pode ser utilizado para nossas vidas. Qualquer general sabe que um dos pré-requisitos para vencer uma guerra é conhecer bem o inimigo. Quanto mais conhecemos o exército inimigo, suas armas e suas formas de ataque, melhor podemos nos preparar para enfrentá-lo e derrotá-lo. Mas se vamos para a frente de batalha despreparados, podemos ser pegos de surpresa, com menos possibilidade de reação. Este conceito vale para as guerras físicas, mas também pode e deve ser utilizado na nossa guerra espiritual contra o nosso maior inimigo: o Yetzer Hará (Má inclinação). Para derrotá-lo, é preciso conhecê-lo.

O Yetzer nos ataca utilizando o mesmo princípio que os exércitos utilizavam antigamente: a renovação das formas de ataque. Se ele lutasse sempre da mesma maneira, poderíamos facilmente aprender como derrotá-lo. Mas quando pensamos que já o derrotamos, ele se levanta e novamente nos ataca, mas desta vez com outras armas. Portanto, esta é a grande dificuldade de lutar contra o Yetzer: ele muda constantemente a forma de nos atacar. Por isto precisamos estar sempre alertas contra este temível inimigo. Contra ele não existe descanso nem trégua.

Este conceito aprendemos de Yaacov Avinu. A Torá nos conta que ele lutou com o Yetzer Hará e, após a luta, perguntou seu nome, pois no nome está contida a essência de qualquer criatura. Yaacov esperava entender a essência do Yetzer Hará para poder ensinar aos seus descendentes a fórmula para vencê-lo. Mas o Yetzer respondeu: "Para que você pergunta meu nome?" (Bereshit 32:30). É como se o Yetzer estivesse dizendo: "Não adianta eu falar meu nome, pois minha principal força é não ter uma essência fixa. Eu posso mudar a todo instante, para atacar as pessoas onde elas menos esperam".

Um ser humano, ao ser derrotado em uma luta, ainda tenta se levantar novamente. Mas se após duas ou três tentativas ele continua sendo derrotado, ele desiste. Porém, o Yetzer Hará não é assim. Ele pode ser derrotado centenas de vezes, mas sempre voltará, e cada vez com uma nova tática de guerra. Então como vencer um inimigo assim tão poderoso, versado em todos os tipos de batalha e que surge cada vez com um ataque diferente? D'us nos ensinou a receita ao afirmar: "Eu criei o Yetzer Hará, e criei também o antídoto contra ele: a Torá". O que isto significa?

Em países onde as guerras são frequentes, os soldados estão constantemente sob intenso treinamento militar, pois é necessário estar preparado para qualquer situação que possa surgir durante a guerra. O soldado não pode aprender a atirar ou a montar sua arma durante a guerra, pois quando o inimigo está diante dele, vindo para matar, cada segundo é precioso. O soldado precisa treinar muito para aprender as várias técnicas de luta e estar preparado para todas as possibilidades de ataque inimigo. Quanto mais preparado e treinado o exército estiver, maiores as chances de vitória.

Assim também é na nossa guerra espiritual contra o Yetzer Hará. Ensina o Talmud (Makót 23b), em nome do Rabi Chanania ben Akashia: "D'us queria dar méritos para o povo judeu, por isso Ele multiplicou a Torá e as Mitzvót". Temos muitas Mitzvót na Torá, e é isso que mantém o povo judeu vivo há tanto tempo. Elas são o nosso treinamento militar, para nos deixar prontos para os ataques do Yetzer Hará. As Mitzvót cobrem todas as áreas da vida: no "Bein Adam La Makom" (entre o homem e D'us), no "Bein Adam Le Haveiró" (entre o homem e seu semelhante) e no "Bein Adam Le Atzmó" (o homem consigo mesmo).

Diz o ditado popular que quanto mais difícil é o treinamento, mais fácil é a batalha. Seguir as Mitzvót da Torá não é algo fácil, mas nos prepara para vencer as dificuldades e testes da vida. Quando seguimos o "Manual de instruções", nos preparamos para qualquer tipo de surpresa, aprendemos a lidar com as mais diferentes situações. Uma pessoa que cumpre as Mitzvót aprende a ter autocontrole, facilitando muito o sucesso no seu casamento, na educação dos seus filhos e no relacionamento com as pessoas em geral. A pessoa se torna mais paciente e tolerante, aprende a ver a vida de uma maneira positiva e a julgar as pessoas para o bem. Portanto, vive de maneira mais harmoniosa. Por isso, a lição que fica para nossas vidas é a importância de se preparar bastante no treinamento, pois no momento da guerra pode ser tarde demais.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ REÊ 5772


BS"D

AMOR ENTRE DOIS OPOSTOS - PARASHÁ REÊ 5772 (17 de agosto de 2012)

“Cláudia e Ricardo se conheceram em uma festa e foi amor à primeira vista. Logo decidiram que queriam se casar. Porém, o problema é que eles vinham de mundos muito diferentes. Cláudia vinha de família rica, era uma mulher refinada, que gostava de restaurantes caros, óperas, literatura e arte. Já Ricardo era uma pessoa de origem mais “grosseira”. Gostava de ficar jogado no sofá, bebendo cerveja e assistindo futebol. Sua leitura preferida eram os gibis. Adorava um “prato feito” de arroz, feijão e ovo no bar da esquina.

Eles acharam que o amor venceria as dificuldades, mas com o tempo a convivência começou a se tornar difícil. Sentindo o clima pesado, Ricardo quis fazer algo para deixar sua esposa feliz e convidou-a para jantar fora. Claudia se animou, vestiu sua melhor roupa, colocou suas joias e caprichou na maquiagem. Quase desmaiou quando chegaram ao “Bar do Lobão”. Ela tentou agradar o marido e comer algo, mas ao morder o sanduiche, percebeu que seria impossível engolir. Correu ao banheiro para cuspir a comida e quase desmaiou ao ver tantas baratas no chão imundo. Cláudia também tentou fazer sua parte para melhorar a situação e levou Ricardo para conhecer uma ópera. Mas ainda no primeiro ato, Cláudia começou a escutar um barulho estranho. Olhou para o lado e viu que Ricardo dormia profundamente e roncava alto, incomodando as pessoas ao redor.

O casamento ia de mal a pior e a ideia de um divórcio parecia inevitável. Foi então que um amigo de Cláudia indicou um terapeuta de casais, famoso por fazer verdadeiros milagres. Cláudia foi para a primeira consulta. O terapeuta escutou atentamente todos os problemas relatados por ela e disse:

- Não vamos nem pensar em divórcio. Vocês se gostam, nasceram para ficar juntos. Precisamos fazer este casamento dar certo. Uma solução seria você descer para o mundo dele, tentando se acostumar com a comida de boteco e com os programas mais simples. Mas esta solução não seria boa, pois você abriria mão de sua identidade. Você já aprendeu a apreciar as coisas boas e finas, não há como apagar. Além disso, imagine o que aconteceria quando você voltasse para sua casa, para visitar seu pai na mansão em que ele mora. Você não saberia mais se comportar de uma maneira fina e seria uma grande vergonha.

- Portanto - continuou o terapeuta – a solução perfeita é fazer justamente o contrário. Você deve ensinar seu marido a ser uma pessoa fina. Ele deve aprender a apreciar uma boa comida, a gostar de uma boa música, a encontrar dentro dele a sua parte mais nobre. Ele não vai perder nada, só ganhar. Assim, vocês podem construir o casamento com harmonia, um ajudando o outro a cada vez refinar mais os sentidos.”

Este é o paralelo entre as duas partes que compõem o ser humano: o corpo material e a alma espiritual. Cada um deles está voltado à sua essência, criando um grande conflito de interesses. Como não podemos negar nenhum dos dois, como fazer para este “casamento” dar certo? Ensinando o corpo, mesmo quando ele busca prazeres do mundo material, a fazer isto de maneira mais elevada, canalizando para o espiritual.

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Nesta semana lemos a Parashá Reê, na qual Moshé nos relembra dos dois caminhos que temos na vida: o caminho da Brachá (benção) e o caminho da Klalá (maldição). O caminho da Brachá, quando escutamos os ensinamentos de D’us, Quem nos criou e nos conhece nos mínimos detalhes; e o caminho da Klalá, quando achamos que somos sábios o suficiente para decidir sozinhos o nosso caminho.

No livro de Devarim, pelo fato de Moshé estar preparando o povo para a entrada na terra de Israel, diversas vezes ele adverte os judeus a não se comportem como os povos idólatras que viviam lá. Um dos ensinamentos da Parashá é a proibição de um costume relacionado ao luto, como está escrito: “Vocês são filhos de D’us, não façam cortes em vocês, nem rasgue o cabelo entre seus olhos por causa de um morto” (Devarim 14:1). Esta era a prática dos povos idólatras, que causavam ferimentos e cortes em seu próprio corpo em momentos de desespero, como após a perda de um ente querido, e a Torá nos adverte a não seguir este abominável costume.

Porém, quando observamos os costumes judaicos de luto, percebemos uma aparente contradição. Há uma Mitzvá trazida pelo Shulchan Aruch (Código de leis judaico) que diz: “Alguém cujo parente faleceu deve rasgar suas roupas por ele” (Yorê Deá, 340:1). Esta Mitzvá se aplica aos parentes mais próximos, que estão obrigados a se enlutar pelo falecido. E assim a Torá descreve que Yaacov se comportou ao escutar sobre a morte de seu filho Yossef, rasgando suas roupas em sinal de luto. Portanto, como pode ser que causar um ferimento no corpo é uma grande transgressão, enquanto rasgar a roupa, que também parece um ato de desespero, é uma Mitzvá? Qual o significado de rasgar as roupas em sinal de luto?

Explica o Rav Yonathan Guefen que para responder estas perguntas, antes precisamos entender o verdadeiro significado das roupas. Quando D’us criou Adam e Chavá (Adão e Eva) no Gan Éden, Ele os criou sem roupas, e mesmo assim a Torá nos conta que eles não sentiam vergonha. Porém, após terem transgredido ao comer o fruto que D’us havia proibido, a Torá conta que eles perceberam que estavam nus e, como não tinham roupas para cobrir a sua vergonha, imediatamente se cobriram com folhas. Mas o que mudou? Se eles já estavam nus antes, por que somente depois do pecado sentiram vergonha?

Para que possamos cumprir nossa missão neste mundo, D’us colocou no ser humano duas partes opostas: um corpo físico, que se conecta com o material, com os desejos e prazeres imediatos; e uma alma espiritual, que quer se elevar e atingir seu potencial. Desde o início da criação, o ser humano entendeu que não era apropriado que a sua essência ficasse completamente revelada e exposta. Por isso havia a necessidade de algum tipo de “cobertura” ou vestimenta. Como antes do pecado Adam se identificava como sendo uma alma espiritual, seu corpo tinha a única função de ser uma “vestimenta” para a alma, por isso não havia nenhuma necessidade de roupas para o corpo, que era algo secundário. Mas depois que Adam pecou, ele caiu do seu elevado nível espiritual e passou a se identificar mais com seu corpo. A partir do momento em que seu corpo tornou-se o principal, ele sentiu vergonha por não estar coberto e precisou de roupas também para o seu corpo. É interessante perceber que a palavra em hebraico para roupa é “Begued”, e vem da mesma raiz de “Beguidá”, que significa “traição”. A roupa é como se fosse um atestado de que o ser humano traiu a sua essência verdadeira, que é o seu lado espiritual.

No erro de Adam Harishon, não apenas ele caiu espiritualmente, mas toda a humanidade caiu junto com ele. Todos os seus descendentes já nasceram em um nível espiritual inferior, no qual o foco principal era o corpo. Por isso, quando o corpo de um morto é enterrado e sua presença física não é mais percebida pelos nossos 5 sentidos, é comum que as pessoas pensem que toda a sua essência terminou para sempre. Por isso, em desespero, mutilam seu próprio corpo. A palavra “Kever”, que em hebraico significa “túmulo”, contém as mesmas letras da palavra “Rekev”, que significa apodrecer. Para muitos, a morte é o fim de tudo. Quando a pessoa faz cortes no seu corpo, demonstra sua crença de que o falecido deixou de existir completamente. Isto é uma grave proibição da Torá, pois é uma afirmação de que a pessoa não entendeu o propósito da vida neste mundo material.

De acordo com o judaísmo, isto é um grande erro. As letras da palavra “Kever” também formam a palavra “Boker”, que significa “amanhecer”. A morte é apenas a perda do corpo físico, mas a alma continua existindo. Por isso somos comandados a rasgar nossa roupa após a perda de um parente, para lembrar neste momento de dor e sofrimento que a essência da pessoa que amamos não deixou de existir. Somente seu corpo, que era uma vestimenta para sua alma, se perdeu, mas sua alma continua intacta.

As leis de luto no judaísmo não nos ensinam apenas como devemos nos comportar em relação à morte, mas também nos ensina como ter a perspectiva correta durante a vida. Em relação à morte, nós aprendemos que o falecimento não é o fim da existência da pessoa. Nós temos a certeza de que o falecido continua vivo, apenas foi para um plano de existência superior. E em relação à vida, devemos lembrar que a alma é a nossa verdadeira identidade, enquanto o corpo é um utensílio temporário, cujo único propósito é proporcionar bem estar à alma e ajuda-la a cumprir seu trabalho neste mundo.

Mas isto não quer dizer que devemos ir para o extremo de abandonar e negligenciar as necessidades do nosso corpo. Temos uma obrigação da Torá de cuidar da nossa saúde e do nosso bem estar físico. A diferença do enfoque judaico é que, apesar de precisarmos fornecer ao corpo suas necessidades físicas básicas, isto não deve ser feito como um fim e sim como um meio. A pessoa deve cuidar de seu corpo para que possa ter força e saúde para utilizar em seus esforços de crescimento espiritual.

Parece fácil na teoria, mas sabemos que na prática não é tão simples assim. Com a queda das gerações, a tendência é cada vez mais nos conectarmos com o nosso corpo e seguirmos atrás dos nossos desejos materiais. Quando uma pessoa se sente mal, ela não diz “Meu corpo não se sente bem”, e sim “Eu não me sinto bem”, demonstrando que naturalmente focamos no nosso corpo como sendo a nossa essência. A necessidade de não se expor, de não permanecer descoberto, algo que era intuitivo desde Adam Harishon, não é mais importante atualmente. Isto pode ser facilmente observado na banalização da pornografia e na valorização das pessoas pelo seu corpo e não pelas suas características interiores. O recato nas roupas e no comportamento, mais conhecido como “Tsniut”, tornou-se um habito do passado. Aqueles que desejam ser recatados são vistos como pessoas antiquadas, pois o moderno é mostrar o corpo sem vergonha. Quanto mais ousado, mais moderno.

A consequência é que vemos cada vez mais o cumprimento das palavras do começo da Parashá, sobre os dois caminhos, a Brachá e a Klalá. O nome da Parashá, Reê, significa “Veja”, pois os caminhos da Brachá e da Klalá ficam cada vez mais evidentes e fáceis de serem enxergados. A falta de recato, o foco no corpo e o abandono dos conceitos espirituais da Torá levam à perda de outros valores, que são os pilares de uma vida harmônica, como a fidelidade e a família. Os casamentos estão cada vez mais descartáveis e os relacionamentos cada vez mais superficiais. As pessoas buscam apenas o prazer momentâneo e enjoam muito rápido, desejando passar para o próximo prazer. Os valores vão se moldando de acordo com os desejos e necessidades momentâneos, enquanto a falta de Brachá fica cada vez mais evidente no mundo.

A solução é reforçar o reconhecimento racional da importância primária da nossa alma e não esquecer que, da mesma maneira que as roupas que usamos são temporárias e perecíveis, assim também é o nosso corpo. A única maneira do casamento entre o corpo e a alma realmente funcionar, nos possibilitando ver Brachá em nossas vidas, é ensinar nossa alma a puxar para cima nosso corpo, de maneira que ele se eleve e busque, dentro do mundo material, os verdadeiros prazeres espirituais.

SHABAT SHALOM

R’ Efraim Birbojm