Nesta semana lemos a Parashá Vayechi (literalmente "E viveu"), a última Parashá do Sefer Bereshit. Após Yossef ter se revelado aos seus irmãos, ele convidou toda a família para que viessem morar no Egito, onde poderiam ser alimentados com fartura mesmo nos anos de fome que ainda estavam por vir, conforme Yossef havia profetizado em sua interpretação do sonho do Faraó. E assim aconteceu, toda a família de Yossef veio ao Egito e Yaacov passou os últimos 17 anos de sua vida lá. O assunto principal desta Parashá são as Brachót que Yaacov deu a cada um de seus filhos. Quando ele sentiu que a morte se aproximava, mandou chamar todos os filhos e deu a cada um deles uma Brachá especial, de acordo com o propósito de cada um. Estas Brachót tiveram um profundo impacto na nossa história, já que os filhos de Yaacov foram os responsáveis pela formação das 12 Tribos do povo judeu. Além disso, Yaacov também deu uma Brachá coletiva para todos os filhos juntos. Todos nós gostamos de receber Brachót. Alguns passam horas em uma fila para receber uma Brachá dos grandes rabinos da geração, pedindo sustento, saúde, sucesso ou Shalom Bait. Mas qual é exatamente o poder de uma Brachá? É algo real ou apenas algo "psicológico"? O fato de alguém nos desejar algo bom tem alguma relação real com a possibilidade disso realmente acontecer? Além disso, se alguém "normal", que não são os grandes rabinos da geração, nos dá uma Brachá, será que também tem alguma validade? A resposta está em um interessante ensinamento da nossa Parashá. Antes das Brachót para os outros filhos, Yaacov chamou seu filho preferido, Yossef, e deu uma Brachá para os dois filhos dele, Efraim e Menashe. E ele ordenou que esta Brachá se tornasse a "Brachá modelo" para as futuras gerações, como está escrito: "E ele (Yaakov) os abençoou naquele dia, dizendo: "Através de você, Israel abençoará (seus filhos), dizendo: 'Que D'us faça você como Efraim e como Menashe'". (Bereshit 48:20). Desde então, todo Shabat de noite damos uma Brachá aos nossos filhos e pedimos a D'us que os torne como Efraim e Menashe. Esse ensinamento levanta uma questão óbvia: por que pedir a D'us que faça nossos filhos justamente como Efraim e Menashe, e não qualquer outra grande personalidade da Torá, como Avraham, Yossef, Moshé ou Aharon HaCohen? Que qualidades especiais eles representam, e que desejamos ver em nossos filhos? Além disso, por que esta é a "Brachá modelo" da Torá, que deve ser transmitida de geração em geração? O maior desejo de todos os pais em relação aos seus filhos é que, além do sucesso pessoal, eles se respeitem e vivam em paz, tendo um bom relacionamento. A dor mais aguda que pode atingir um pai é ver seus filhos brigarem e não se tratando com respeito e dignidade. Mesmo que os filhos alcancem o sucesso por seus próprios méritos, a alegria cheia de orgulho dos pais é ofuscada caso os irmãos não tenham um bom relacionamento entre si. A maior alegria que um pai pode experimentar é ver os filhos cuidando e ajudando uns aos outros. Mesmo que os filhos não sejam pessoas de sucesso, se eles se amam e cuidam um do outro, isso é o que realmente importa para os pais. A união da família representa o paraíso, enquanto a discórdia familiar representa o inferno. Sabemos que Yossef e seus irmãos tiveram muitos problemas entre si. Prejudicado pela inveja, o relacionamento deles chegou ao nível de ódio. Os irmãos não se conformavam com o fato de Yossef ser o filho preferido de Yaacov e ter certos privilégios, como a atenção especial do pai e somente ele ter recebido uma roupa de tecido fino. Mas Efraim e Menashe também tinham motivos para entrar em um nível de competição que poderia levar ao ódio, mas conseguiram superar. Embora Menashe fosse o irmão mais velho, foi Efraim que recebeu a Brachá mais louvável de Yaacov. Vemos inclusive no versículo trazido anteriormente que Yaacov mencionou o nome de Efraim, o filho mais novo, antes do nome de Menashe. Não há, no entanto, nenhuma indicação de qualquer desavença e sentimento de inveja entre os dois, diferente do que havia acontecido entre Yossef e seus irmãos. Efraim e Menashe chegaram ao nível de respeito mútuo, apesar de não compartilharem o mesmo nível de grandeza e liderança. Não é uma grande conquista se dar bem com alguém que está no mesmo nível que você, mas amar e respeitar um irmão que é melhor que você, em uma área na qual você também valoriza muito, é o verdadeiro teste de união familiar. A palavra "Brachá" está relacionada com a palavra "Breicha", que significa "fonte de água", como um manancial ou uma piscina. Sempre iniciamos uma Brachá observando que D'us é "Baruch", isto é, que Ele é a Fonte de tudo. Portanto, sempre que damos uma Brachá a alguém, desejamos que esta pessoa esteja conectada à Fonte Suprema, de onde se originam todas as coisas boas: o Todo Poderoso. O filósofo canadense Marshall McLuhan, um famoso educador, ficou eternizado através de uma famosa frase que ele costumava repetir: "O meio é a mensagem". O que significa esta expressão? Normalmente, quando uma mensagem é transmitida, focamos apenas no próprio conteúdo dela, mas o meio através do qual a mensagem chega até nós é, na maioria das vezes, irrelevante. Porém, Marshall McLuhan ensina que o meio é um elemento importante da comunicação, e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão. Aplicando esta ideia ao conceito espiritual das Brachót, podemos dizer que o ato de abençoar o outro é a própria Brachá. Ao dar Brachá a outra pessoa, nós fazemos a Brachá acontecer. Por que? Os bons votos que estamos dando ao outro criam a união, que é tão crucial para que as Brachót ocorram. Quando D'us vê Seus filhos se comportando com união, cuidando uns dos outros, a "torneira espiritual" é aberta e as Brachót descem ao mundo, como ensinam nossos sábios: "Disse o Rabi Shimon ben Chalafta: 'D'us não encontrou um utensílio que contenha tanta Brachá para o povo judeu como a paz'" (Mishná Oktsin 3:12). Onde há paz, há Brachá. Porém, ao contrário, quando demonstramos desunião, a "torneira espiritual" é fechada. É justamente por isso que a Brachá de Efraim e Menashe é a "Brachá modelo" da Torá, pois eles representam a união e o respeito mútuo, a verdadeira fonte das Brachót. Isto significa que as Brachót não são apenas para os grandes rabinos da geração. É verdade que nossos grandes sábios têm muitos méritos e suas Brachót têm um alcance muito maior, já que eles estão muito mais próximos de D'us, a Fonte de todas as Brachót. Porém, devemos sempre dar Brachót para as pessoas, desejando a elas coisas boas. Maior ainda é a Brachá que devemos dar a alguém com quem estamos tendo algum tipo de problema de relacionamento. Se vencermos nosso mau instinto e conseguirmos dar a esta pessoa uma Brachá, desejando a ela o melhor, veremos as Brachót voltando em nossa direção, pois após abrirmos as "torneiras espirituais", o mundo inteiro acaba tendo benefício das Brachót que tivemos o mérito de trazer ao mundo. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |