Nesta semana o Shabat coincide com o Chol HaMoed (dias intermediários) da Festa de Sucót e, portanto, a leitura semanal é substituída por uma leitura especial referente à Festa de Sucót. E, no próximo domingo de noite, começamos um novo Chag, chamado Shemini Atseret, que se inicia imediatamente após a fim de Sucót. Há uma lição muito importante em relação à Festa de Sucót que devemos aprender para levar para o nosso ano inteiro. Os dois símbolos principais de Sucót são a Sucá, a cabana temporária que transformamos em nossa moradia durante os sete dias da Festa, e os Arbaat HaMinim, as quatro espécies agrícolas. Sabemos que uma das Halachót importantes destes dois símbolos é que eles devem ser embelezados, isto é, nossa Sucá deve ser bonita e enfeitada e os nossos Arbaat HaMinim devem ser os mais "perfeitos" possíveis, isto é, sem manchas ou deformidades. É muito comum nos depararmos, nas lojas que vendem os Arbaat HaMinim, com pessoas olhando os Arbaat HaMinim com muito cuidado, como se fossem joias raras, em busca de qualquer pequeno defeito. Por que nos esforçamos tanto para embelezar estas Mitzvót? Não é suficiente apenas cumprir os requisitos básicos? A resposta está em um importante ensinamento do Talmud (Shabat 133b) em relação ao versículo: "Este é o meu D'us e eu O glorificarei (anvehu)" (Shemot 15:2). Os nossos sábios interpretaram a palavra "anvehu", que literalmente significa "O glorificarei", e a relacionam com a palavra "noi", que significa "beleza". De acordo com esta opinião do Talmud, devemos embelezar as Mitzvót diante de D'us. Quando a pessoa for cumprir uma Mitzvá, é apropriado que a realize da maneira mais bela possível. Devemos fazer uma bela Sucá, adquirir um belo Lulav, um belo Shofar, belos Tsitsiot, um belo pergaminho para o Sefer Torá, etc. Porém, o que nos chama a atenção é uma segunda opinião trazida pelo Talmud. Aba Shaul diz que a palavra "anvehu" deve ser entendida como se fossem duas palavras: "ani vaHu", que significa literalmente "eu e Ele (D'us)". Aba Shaul está nos ensinando que devemos nos assemelhar a D'us: assim como Ele é piedoso e misericordioso, também devemos ser piedosos e misericordiosos. O ensinamento de Aba Shaul já é, por si só, extremamente importante. Porém, a justaposição entre a primeira opinião do Talmud e a opinião de Aba Shaul nos traz uma lição ainda mais profunda e importante. Sabemos que temos duas áreas em nosso Serviço espiritual: "Bein Adam LaMakom" (entre a pessoa e D'us) e "Bein Adam Lehaveiro" (entre a pessoa e seu companheiro). Algumas pessoas são extremamente minuciosas no cumprimento das Mitzvót Bein Adam LaMakom, investindo muitas vezes bastante dinheiro para cumprir as Mitzvót da maneira mais bela possível, sem economizar. É incrível o valor que elas estão dispostas a pagar para conseguir Arbaat HaMinim realmente bonitos e absolutamente sem nenhum defeito, de acordo com todos os critérios e detalhes da Halachá. Essas pessoas saem da loja com um enorme sorriso no rosto, carregando seus Arbaat HaMinim como se fossem troféus. Porém, quando estas mesmas pessoas chegam nas Mitzvót Bein Adam Lehaveiro, em especial na Mitzvá de Tzedaká, elas "fecham suas mãos". Mesmo quando ajudam os pobres e necessitados, fazem sem alegria e já não estão mais tão interessadas em "investir" tanto dinheiro assim no cumprimento da Mitzvá. Por isso o ensinamento de Aba Shaul é tão precioso. Da mesma forma que caprichamos tanto nas Mitzvót Bein Adam LaMakom, assim também devemos ser caprichosos nas Mitzvót Bein Adam Lehaveiro. Da mesma forma que D'us é bondoso e misericordioso, também devemos ser bondosos e misericordiosos, precisamos sentir a dor dos pobres, ter mais empatia. As pessoas muitas vezes deixam de ajudar um necessitado, pensando: "Ele é forte e saudável, que vá procurar um emprego. Eu me esforço tanto para ganhar meu dinheiro, por que ele também não pode se esforçar?". Esquecemos que, em primeiro lugar, quem manda nosso sustento é D'us, e não o nosso esforço. Em segundo lugar, será que essa pessoa necessitada teve as mesmas condições que nós tivemos? Será que ela viveu em uma casa bem estruturada, tendo a estrutura psicológica necessária para ser uma pessoa de sucesso? Será que recebeu incentivos? Será que ela teve as condições necessárias para estudar e crescer na vida? Em relação às Festas de Sucót e Shemini Atseret, há um incrível ensinamento sobre a empatia. Sucót e Shemini Atseret estão muito conectadas com o conceito das chuvas na Terra de Israel. Sucót é a época do ano em que o mundo é julgado em relação à quantidade de chuvas que cairá durante o ano. Segurar os Arbaat HaMinim também têm um simbolismo especial referente à água. O Etrog é um fruto cítrico que necessita de muita água para o seu desenvolvimento. Os Lulavim crescem em vales muito bem irrigados. Os Hadassim e as Aravót também sempre crescem perto de mananciais de água. Quando fazemos os "Naanuim", isto é, movimentamos os Arbaat HaMinim nas 6 direções, estamos fazendo uma declaração para D'us, Quem sustenta o mundo inteiro, que da mesma maneira que as quatro espécies não podem viver sem água, assim também o mundo não pode viver sem água. De acordo com a Halachá, começamos a louvar a D'us pelas chuvas justamente na manhã da Festa de Shemini Atseret, na reza de Mussaf, quando as palavras "Mashiv Haruch Umorid Hagheshem" (Quem faz soprar o vento e faz cair a chuva) são pronunciadas na segunda Berachá da Amidá, justamente a Berachá na qual louvamos D'us pelo Seu poder e controle sobre o mundo, em especial sobre a vida e a morte. Porém, nossos sábios ensinam que não começamos imediatamente a pedir pelas chuvas, isso só ocorre a partir do sétimo dia do mês de Cheshvan*, quinze dias após o final da Festa de Sucót. Por que demoramos tanto para pedir as chuvas, já que as primeiras chuvas em Eretz Israel potencialmente começam a cair a partir do terceiro dia de Cheshvan? Por que já não pedimos as chuvas em Shemini Atseret mesmo, junto com o acréscimo dos louvores que fazemos a D'us? A pergunta fica ainda mais difícil de acordo com os versículos da Torá que afirmam que a Terra de Israel é completamente dependente das chuvas, como está escrito: "Pois a terra que você vai possuir não é como a terra do Egito... onde você semeou e que você regou como uma horta. A terra que vocês vão possuir é uma terra de montanhas e vales, que absorve a água das chuvas do céu, uma terra que Hashem, seu D'us, cuida" (Devarim 11:10,11). Portanto, se dependemos tanto das chuvas, por que demoramos tanto para começar a rezar por ela? Explica o Talmud (Taanit 10a), em nome de Raban Gamliel, que aguardamos 15 dias para iniciar o pedido das chuvas pois era o tempo necessário para que as pessoas que viviam nos lugares mais distantes de Jerusalém conseguissem chegar em suas casas após o fim da Festa. Como era uma Mitzvá da Torá todos os homens comparecerem no Beit Hamikdash durante os "Shalosh Regalim" (Pessach, Shavuót e Sucót), então Raban Gamliel se preocupava que as pessoas chegassem em casa antes do início das chuvas, mesmo aqueles que viviam mais longe de Jerusalém. As estradas eram de terra e, caso chovesse, muito poderiam ficar com suas carroças atoladas, sozinhos e desamparados no meio do caminho. Raban Gamliel tinha empatia. Mesmo que todo povo judeu precisava das chuvas, isso não poderia ser às custas do sofrimento dos outros, mesmo sendo uma minoria. O ensinamento de Aba Shaul não é para deixarmos de embelezar as nossas Mitzvót, ao contrário, devemos embelezá-las, mas em especial aquelas que podem ajudar a dar vida e felicidade a outras pessoas, e que normalmente desprezamos. Aba Shaul nos ensina a termos mais empatia e a sentirmos mais a dor do próximo como se fosse nossa própria dor. Talvez a pessoa que construiu uma linda Sucá e comprou belíssimos Arbaat HaMinim pense que assim já cumpriu o requisito de "Este é o meu D'us e eu O glorificarei". O que Aba Shaul veio nos ensinar é que mesmo assim a Mitzvá ainda não está completa, e só estará completa de verdade quando também aumentarmos a Tzedaká e o cuidado com os necessitados, nos assemelhando, desta maneira, a D'us. SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH R' Efraim Birbojm * Essa lei se aplica somente em Israel. Fora de Israel, o pedido de chuvas começa nos dias 4 ou 5 de dezembro |