sexta-feira, 9 de setembro de 2011

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ KI TETSE 5771

BS"D

 

FRIO ESPIRITUAL - PARASHÁ KI TETSE 5771 (09 de setembro de 2011)

 

Em uma madrugada, o Rabino Israel Salanter passou pela casa do sapateiro da cidade e percebeu que ainda havia uma luz acesa. O sapateiro estava sentado, concentrado, fazendo o seu trabalho sob a luz oscilante de uma vela que estava prestes a se extinguir.

 

- Por que você ainda está trabalhando? - perguntou o Rabino Israel Salanter- Está muito tarde! E, além disso, a sua vela em breve se extinguirá e você não poderá terminar o que você está fazendo.

 

- Isto não é problema - respondeu o sapateiro, com simplicidade - Todo o tempo que a vela estiver acesa, ainda é possível trabalhar e consertar.

 

O Rabino Israel se impressionou profundamente com estas palavras, e utilizou-as para seu trabalho espiritual. Se a pessoa deve trabalhar pelas suas necessidades físicas todo o tempo que a vela estiver acesa, muito mais a pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento espiritual todo o tempo em que a alma, a "vela de D'us", ainda estiver brilhando dentro dela.

 

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No final da Parashá desta semana, Ki Tetse, a Torá nos comanda a nunca esquecer todo o mal que o povo de Amalek nos fez. Os traços negativos de Amalek são tão fortes que a Torá nos comanda inclusive a apagar qualquer memória deste povo no mundo. Eles nos atacaram pelas costas na saída do Egito, de uma maneira covarde, como está escrito: "Lembre o que Amalek te fez em teu caminho de saída do Egito. Quando eles te encontraram no caminho, e eles atacaram aqueles que se retardavam, todos os que estavam fracos atrás, quando você estava cansado e exausto, e eles não temeram a D'us" (Devarim 25:17,18).

 

Mas o versículo aparentemente não explica o que Amalek fez de tão grave que precisa ser apagado. Muitos foram os povos que nos perseguiram e nos atacaram de maneira covarde durante nossa história. Por exemplo, os egípcios nos maltrataram, atiraram nossos bebês no rio Nilo, nos escravizaram, e mesmo assim a Torá não nos comanda a apagar sua lembrança do mundo. O que torna o ataque de Amalek tão grave? E qual a essência deste povo que, segundo a Torá, é tão negativo que precisa ser apagado completamente para que o mundo possa chegar ao seu objetivo?

 

Explica o Rav Chaim Shmulevitz que Amalek não é apenas mais um povo contra o qual o povo judeu lutou. Na realidade, todo o mal do mundo e o lado sombrio do ser humano estão enraizados em Amalek. E a essência do mal se encontra justamente no versículo do ataque de Amalek, mais precisamente nas palavras "te encontraram no caminho". A linguagem utilizada na Torá para "encontraram", "Karechá", vem da linguagem "Kar", que significa "frio'. A essência de Amalek é esfriar o ser humano. O que isto significa?

 

Para entender, antes precisamos observar as particularidades da luta do povo judeu contra Amalek. Diferente de todas as outras guerras descritas na Torá, na qual os povos lutaram contra o povo judeu para defender seus territórios, Amalek nunca foi ameaçado. Eles viajaram centenas de quilômetros no deserto apenas para nos atacar, com um ódio gratuito. Rashi, famoso comentarista da Torá, explica o motivo verdadeiro do ataque com uma parábola. Imagine que há uma banheira com água fervendo, com uma temperatura tão alta que ninguém se atreve a entrar nela. Vem então um estúpido e, apesar de saber que vai se queimar, se atira na banheira com o único intuito de esfriar a água e permitir que outras pessoas entrem nela.

 

Quando o povo judeu foi retirado por D'us do Egito, com milagres abertos que esmagaram o até então invencível exército egípcio, todos os povos do mundo temeram. Ninguém ficou apático diante daquela fenomenal demonstração de força, onde as leis da natureza foram quebradas. A única exceção foi Amalek. Não apenas eles não temeram a D'us, mas também saíram para guerrear contra o povo judeu. Eles não tinham visto os milagres? Eles não sabiam que seriam facilmente derrotados? Então por que assim mesmo atacaram?

 

O ser humano se diferencia de todo o resto da criação, pois é a única criatura em todo o universo que tem a possibilidade de mudar e melhorar as condições espirituais nas quais foi criado. Mesmo os anjos não têm esta característica, pois apesar de terem sido criados em um elevado nível espiritual, eles não pode mais crescer e melhorar em nada. Qual é a maneira de conseguir este crescimento? Prestando atenção, refletindo. Quando a pessoa reflete e presta atenção nas coisas que ocorrem à sua volta, ele pode se elevar espiritualmente a cada instante.

 

Mas se o ser humano tem este potencial de crescimento, por que não vemos todas as pessoas crescendo espiritualmente? Pois lutamos constantemente contra a apatia e a acomodação, dois terríveis obstáculos para o nosso crescimento. Pessoas apáticas não despertam e não aprendem a tomar decisões corretas nas questões mais importantes da vida. E esta é a essência espiritual de Amalek, que pode ser encontrada em todos os seres humanos: a apatia e a falta de reflexão, mesmo diante das maiores revelações de D'us. Amalek também escutou os milagres de D'us, mas por sua apatia não despertou. Além disso, eles quiseram também contaminar os outros povos com este sentimento. Por isso viajaram centenas de quilômetros para nos atacar, apenas para esfriar o fogo do povo judeu, o fogo da reflexão e do despertar, que estava começando a se espalhar por todos os povos.

 

A luta contra Amalek é uma batalha para todas as gerações. Infelizmente nos nossos dias sentimos mais do que nunca a terrível influência espiritual negativa da apatia. Acordamos, trabalhamos, comemos, dormimos. Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta. Vivemos para o próximo final de semana, para as próximas férias, para a nossa aposentadoria. E como vivemos o nosso cotidiano, os detalhes do nosso dia a dia? Como reagimos aos acontecimentos no mundo? Assistimos aos Tsunamis, terremotos, vulcões e tragédias sentados na poltrona, diante da televisão, como se estivéssemos assistindo a um filme de ficção científica, como se tudo aquilo não estivesse realmente acontecendo. Não paramos para refletir, para tentar entender a mensagem que está por trás de tudo o que ocorre. As forças da natureza são apenas uma capa que oculta a mão de D'us. Precisamos aprender a escutar as mensagens. E a única maneira é através da reflexão, prestar atenção às coisas que ocorrem no mundo e em nossas vidas. Nada é um acaso, nada segue regras naturais, pois tudo tem um motivo, qualquer manifestação física tem uma causa espiritual.

 

A grandeza do ser humano está no fato de podermos mudar nossas vidas em apenas um instante. Um momento de claridade pode mudar nossa eternidade. Como nos ensina um dos maiores líderes do nosso povo na época do Talmud, Rebi HaNassi: "Há aqueles que adquirem sua eternidade em um único instante". Amalek tentou nos esfriar, mas podemos reacender a chama a qualquer momento.

 

Estamos no mês de Elul, o último mês do ano, a reta final antes do nosso julgamento de Rosh Hashaná. Espiritualmente são dias propícios para tomar decisões, receber sobre si responsabilidade sobre nossos atos, fazer planos para o próximo ano. Estaremos em Rosh Hashaná pedindo a D'us mais um ano de vida, mas que planos mostraremos para Ele? Por que valerá a pena D'us investir em nós por mais um ano?

 

Nunca é tarde para começar. Enquanto a vela que temos dentro de nós estiver acesa, ainda há tempo. E cada vela que se reacende, ilumina e aquece um pouquinho mais o mundo inteiro, ajudando a acabar definitivamente com o frio espiritual de Amalek.

 

"Sheticatev Vetechatem Bessefer Chaim Tovim" (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida).

 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

 

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HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE SHABAT:
São Paulo: 17h40  Rio de Janeiro: 17h25  Belo Horizonte: 17h31  Jerusalém: 18h14

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.

 

Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L, de quem eu me orgulho pela coragem de saber assumir os erros e a disposição para consertá-los, com grande amor pela Torá e pelo Chessed. Que possa ter um merecido descanso eterno.

 

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Para inscrever ou retirar nomes da lista, para indicar nomes de pessoas doentes ou Leilui Nishmat (elevação da alma), e para comentar, dar sugestões, fazer críticas ou perguntas sobre o E-mail de Shabat,favor mandar um E-mail para ravefraimbirbojm@gmail.com

 

(Observação: para Refua Shlema deve ser enviado o nome da mãe, mas para Leilui Nishmat deve ser enviado o nome do pai).


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ SHOFTIM 5771

BS”D


MEDO DE QUE? - PARASHÁ SHOFTIM 5771 (02 de setembro de 2011)


“Há muitos anos o americano Allen Funt criou uma brincadeira que até hoje diverte milhares de pessoas no mundo inteiro: o “Candid Camera” (Câmera Escondida). A brincadeira consistia em esconder uma câmera e submeter pessoas comuns, que passavam pela rua, a difíceis testes, sem que soubessem que suas reações estavam sendo filmadas. Eram utilizados os mais criativos artifícios para amedrontar ou irritar as pessoas, e atores contracenavam com o desavisado pedestre. Depois que a pessoa passava pelo teste, em geral após um terrível susto ou uma explosão de irritação, o ator abraçava a “vítima”, apontava a câmera escondida e dizia “Smile, you are on Candid Camera” (Sorria, você participou do “Câmera Escondida”).


No dia 3 de fevereiro de 1969, Allen Funt estava no vôo 7 da Easter Airlines, que partiu de New Jersey com destino a Miami. O vôo transcorria tranquilo até que, uma hora após a decolagem, sequestradores foram até a cabine, renderam os pilotos e tomaram controle do avião. Pelo microfone da cabine eles anunciaram aos passageiros o sequestro e avisaram que o avião estava sendo desviado e que aterrissaria em Cuba.


No entanto, apesar da gravidade da situação, na qual os sequestradores poderiam facilmente derrubar o avião ou matar alguns passageiros para pressionar as autoridades a cumprir suas exigências, as pessoas não se sobressaltaram e não entraram em pânico. Por que? Ao verem que Allen Funt estava no vôo e conhecendo sua habilidade de “pregar peças” nas pessoas, todos pensaram que não era um seqüestro real e sim apenas mais uma piada do “Candid Camera”. Por isso todos se mantiveram tranquilos, e alguns até mesmo riram e aplaudiram, deixando os sequestradores sem entenderam a reação dos passageiros.


Provavelmente deve ter sido o único avião sequestrado na história cujos passageiros não sentiram medo. Todos tinham certeza que era uma grande brincadeira organizada por Allen Funt. Quem realmente sentiu medo foi o próprio Allen Funt, o único que sabia que o sequestro era real.


Apesar da maioria dos casos de sequestro terminar com mortos e feridos, este terminou com um final feliz. As autoridades de Cuba conseguiram resgatar com vida os passageiros do avião. Todos os envolvidos na operação de salvamento ressaltaram que o sucesso foi devido, principalmente, à reação calma dos passageiros” (História Real)

Em nossas vidas também passamos por muitos momentos de dificuldade. Certamente as consequências serão muito melhores se conseguirmos manter a calma nestes momentos difíceis.


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Na Parashá desta semana, Shoftim, a Torá nos ensina sobre algumas das particularidades das guerras de conquista da Terra de Israel. Entre vários outros detalhes, a Torá lista as pessoas que estavam isentas de ir para a frente de batalha: todo aquele que tinha construído uma casa e ainda não a havia inaugurado, todo aquele que tinha plantado um vinhedo e ainda não o havia redimido, todo aquele que tinha noivado e ainda não havia casado, e todo aquele que estava com medo. O ponto em comum entre todas estas isenções é que, pelos motivos citados acima, as pessoas estariam com outras preocupações na cabeça e, portanto, não se focariam na guerra. Esta desatenção poderia facilmente “contagiar” os outros soldados, causando uma reação em cadeia negativa e um consequente enfraquecimento do exército.


Mas de todos os motivos de isenção, a maior preocupação era certamente com a pessoa que tinha medo, pois esta poderia facilmente espalhar pânico entre os soldados e “derreter o coração” dos outros combatentes. E assim o Cohen (sacerdote), instantes antes de ir para os combates, advertia os soldados sobre o medo: “Quando você sair para a guerra contra seu inimigo, e você ver o cavalo e a charrete, um povo maior do que o seu, não os tema, pois D’us, Quem te tirou do Egito, está com você” (Devarim 20:1). Nos ensina o Rabi Akiva que, se a pessoa sentisse medo mesmo depois de escutar esta garantia do Cohen de que D’us os protegeria, ele perdia seus méritos espirituais e não era merecedor de que D’us fizesse para ele nenhum milagre. Por isso ele não poderia acompanhar os outros combatentes.


Mas este conceito da Torá é difícil de ser entendido. O medo é um sentimento natural do ser humano. Tememos tudo o que é incerto ou o que é uma ameaça à nossa integridade física ou psicológica. Principalmente tememos a morte quando passamos por situações de risco. Como a Torá esperava que as pessoas não tivessem medo durante a guerra, principalmente quando elas viam que estavam prestes a lutar contra um povo bem equipado e com vantagem numérica?


A pergunta fica ainda mais difícil ao estudarmos um dos ensinamentos de Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens: “Bem afortunado é aquele que tem medo sempre” (Mishlei - Provérbios 28:14). Se o medo é algo tão negativo, por que Shlomo Hamelech ensina que é feliz quem tem medo sempre? E mesmo se o medo fosse algo positivo, como uma pessoa poderia viver constantemente com medo? Mesmo durante os bons momentos ela deveria sentir medo?


A resposta é que temos uma visão equivocada do que significa medo. Associamos sempre o medo a um sentimento negativo, que nos paralisa e nos desnorteia. Achamos que o único medo que existe é aquele que sentimos ao assistir um filme de terror ou de suspense. Mas a verdade é que existem dois tipos de medo, completamente diferentes. Um medo é realmente negativo, pois nos paralisa e nos afasta do nosso propósito, mas o outro tipo de medo é positivo, pois nos dá a motivação necessária para crescer espiritualmente e chegar ao topo. Explica o Talmud (Brachót 60a) que assim podemos explicar a contradição entre os versículos da Torá e de Mishlei, pois eles estão falando sobre dois tipos de medo diferentes. A Torá fala do medo negativo, que deve ser banido, enquanto Shlomo Hamelech fala do medo positivo, que deve ser cultivado sempre.


O medo negativo, que a Torá adverte e até mesmo isenta a pessoa de ir para a guerra, é consequência da falta de Emuná (fé). Ele nos atinge quando esquecemos de que há Alguém que sabe tudo, controla tudo e faz tudo pelo nosso próprio bem. Portanto, quanto mais a pessoa está afastada de D’us, maior o medo e a insegurança que sente nos momentos de dificuldade e perigo.


Já o medo positivo e desejável, ao contrário, é uma consequência do verdadeiro amor e temor a D’us. Quando fazemos qualquer ato neste mundo, influenciamos nossa eternidade. Quando fazemos bons atos, como respeitar ou ajudar ao próximo, estamos nos comportando como D’us, cuja essência é a bondade ilimitada e, consequentemente, nos aproximamos um pouco mais Dele. Mas quando fazemos atos de maldade, como prejudicar, roubar ou ofender outras pessoas, estamos nos comportando ao contrário de D’us e, consequentemente, nos afastamos um pouco mais Dele.


A pessoa que realmente ama e teme a D’us coloca em seu coração a vontade de se conectar cada vez mais com Ele. Por isso, aquele que sabe que cada Mitzvá o aproximará um pouco mais de D’us por toda a eternidade, não quer perder nenhuma oportunidade. Mesmo durante os bons momentos, a pessoa tem medo de perder alguma chance de fazer algum bom ato ou ajudar alguém. É este o motivo pelo qual vemos pessoas que dedicam suas vidas a ajudar aos outros, pensando sempre em como suprir as necessidades de seu semelhante. É impressionante a quantidade de “Guemachim” (instituições de caridade) que existem em Israel, preocupadas desde doar comida aos necessitados até suprir as menores necessidades das pessoas, ajudando proativamente em qualquer tipo de dificuldade.


Portanto, o medo que é resultado do amor e temor a D’us é algo muito positivo, pois nos incentiva a crescer e a melhorar cada vez mais. Devemos constantemente trabalhar em nosso coração a vontade de fazer o bem e o medo de perder oportunidades de crescimento. Já o medo que é resultado de uma falta de Emuná deve ser eliminado, pois é um medo que nos paralisa, nos prejudica e nos faz perder oportunidades. Mas afinal, há como melhorar nossa Emuná? Há como chegar ao nível de não sofrer ou sentir medo em situações de grande stress e dificuldade?


Por que uma pessoa que participa de um programa de “Câmera Escondida” tem reações tão fortes de medo ou de raiva ao serem expostos a um perigo ou a uma situação de stress? Pois ela não sabe que está sendo filmada e que tudo aquilo é apenas uma ilusão criada pelo diretor do programa para ver como a pessoa reage. Se uma pessoa fosse avisada com antecedência de que, ao virar a esquina, aconteceria alguma situação difícil, mas que na verdade era tudo uma “armação” para que a pessoa aparecesse em uma câmera escondida, ela não ficaria tranqüila e até mesmo se divertiria?


Esta é a maneira de como devemos viver nossas vidas para melhorar a nossa Emuná. Devemos colocar em nossos corações a certeza de que D’us não apenas acompanha tudo o que ocorre, mas é Ele quem cria todas as situações pelas quais passamos, e tudo apenas para o nosso bem. Muitas vezes Ele nos testa, mas para nos fazer o bem, pois a cada teste que vencemos nos elevamos espiritualmente e nos conectamos um pouco mais a Ele. Portanto, cada dificuldade é uma oportunidade de crescimento. Vivendo com a certeza de que tudo o que acontece faz parte dos planos de D’us, podemos vencer nossas dificuldades com facilidade, sem medo ou sofrimento.


Portanto, toda vez que estivermos passando por uma dificuldade, ao invés de reclamar ou desanimar, devemos olhar para cima e sorrir, pois estamos sendo filmados.


“SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM” (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).


SHABAT SHALOM


R’ Efraim Birbojm