sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL PARASHÁ VAIESHEV E CHÁNUKA 5770

BS"D

QUEM ESTÁ NO COMANDO - PARASHÁ VAIESHEV E CHÁNUKA 5770 (11 de dezembro de 2009)

"Durante os 3.000 anos de história do povo judeu, a cidade de Jerusalém já foi destruída e arrasada nove vezes. Pelos bizantinos, pelos muçulmanos e por outros povos, e até mesmo por um terremoto. O Beit-Hamikdash (Templo Sagrado) já foi completamente destruído duas vezes. Mas o Muro Ocidental do Templo, conhecido como Muro das Lamentações, nunca caiu, cumprindo uma profecia que já se mantém há mais de 2 mil anos, quando D'us afirmou que nunca partiria do Muro Ocidental. Mas será que ninguém nunca tentou derrubar este muro?

Um dos exemplos de pessoas que tentaram, em vão, derrubar o Muro das Lamentações, ocorreu na época da destruição do Segundo Beit-Hamikdash. Descreve o Talmud (Torá Oral) que o imperador romano Vespasiano queria destruir o Templo até as suas fundações, e para isso dividiu seus quatro muros entre 4 generais, para que cada um destruísse completamente a sua parte e não restasse nada. O setor onde estava o Muro Ocidental do Beit-Hamikdash foi entregue nas mãos de um general chamado Pangar.

Todos os generais romanos cumpriram exatamente o que lhes foi ordenado por Vespasiano e destruíram completamente seus setores, não deixando nada de pé. Somente Pangar não cumpriu as ordens do imperador, pois destruiu todo o seu setor mas manteve o Muro ocidental intacto. Ele então foi chamado para explicar porque não havia cumprido as ordens, e disse:

- Fiz isso pela glória do Império Romano. Se eu tivesse destruído o Muro ocidental, ninguém jamais saberia da nossa grandeza e de tudo o que nós destruímos aqui.

Pangar viu no imenso Muro ocidental do Beit-Hamikdash a possibilidade de deixar um marco na história, um monumento de auto-glorificação romana. Mal ele sabia que, ao invés de cumprir a sua vontade de ressaltar a grandeza de Roma, ele estava contribuindo para manter de pé a profecia de D'us, provando ao mundo que D'us tem total controle sobre tudo o que acontece, mesmo os menores detalhes".

A vontade de D'us sempre se cumpre. Mas um sinal da Sua grandeza é que Ele consegue isso utilizando o próprio livre-arbítrio das pessoas, sem precisar constantemente se revelar através de milagres abertos.
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Neste Shabat começamos a comemorar a festa de Chánuka, acendendo, no final da tarde de Sexta-feira (antes do início do Shabat), a primeira vela da Chanukiá. Em Chánuka revivemos os milagres que aconteceram com nossos antepassados durante a dominação grega, quando tentaram nos destruir, primeiro através da assimilação, impondo a cultura helenista, e depois através da ameaça física. Qual a relação entre a festa de Chánuka e a Parashá desta semana, Vaieshev?

A Parashá Vaieshev relata a história de Yaacov e seus filhos. Yossef era o filho predileto de Yaacov, o que causava muita inveja nos seus irmãos. Este sentimento negativo aumentou ainda mais por causa de dois sonhos que Yossef teve, nos quais ele estava no centro e seus irmãos se curvavam diante dele. Os irmãos pensavam que estes sonhos eram um sinal de que Yossef tinha se tornado um rebelde e que tentaria roubar a primogenitura, o que aumentou ainda mais o ódio contra ele.

Certo dia, quando os irmãos de Yossef haviam saído para pastorear, Yaacov pediu para que Yossef fosse verificar se estava tudo bem com eles. Quando os irmãos viram Yossef vindo de longe, começaram a tramar contra ele. Pensaram inicialmente em matá-lo, atirar seu corpo em um poço e dizer ao pai que ele havia sido devorado por um animal feroz, e assim concluíram seu plano: "E então veremos o que será dos seus sonhos" (Bereshit 37:20). O que significam estas palavras?

A explicação mais simples desta expressão é que os irmãos estavam fazendo uma piada sobre os sonhos de Yossef, e disseram com desdém que, se o matassem, certamente os sonhos nunca se cumpririam. Mas o Midrash (parte da Torá Oral) traz uma explicação muito mais profunda. Na verdade quem falou "E então veremos o que será dos seus sonhos" foi D'us, em resposta ao plano dos irmãos de Yossef. É como se Ele estivesse dizendo: "Vocês estão planejando matá-lo, mas Eu digo que ele vai sobreviver e seus sonhos vão se concretizar. Vamos ver qual plano vai prevalecer, o Meu ou o de vocês".

E o desenrolar da história de Yossef nos mostra que a vontade de D'us prevaleceu sem que Ele precisasse fazer nenhum milagre aberto. Reuven, um dos irmãos, teve misericórdia e bolou um plano para salvar Yossef. Sugeriu aos irmãos jogar Yossef em um poço ao invés de matá-lo, com a intenção de voltar para salvar Yossef depois que os outros irmãos tivessem ido embora. Os irmãos concordaram em não derramar sangue a atiraram Yossef em um poço. E novamente a mão de D'us entrou ocultamente para mudar a história. Enquanto Reuven esteve ausente por alguns momentos, os outros irmãos tiraram Yossef do poço e o venderam como escravo a uma caravana que passava no deserto. Ele foi levado ao Egito e, após alguns altos e baixos, se tornou o vice-rei, o segundo homem mais poderoso do mundo, abaixo apenas do faraó. Muitos anos depois os sonhos de Yossef e a vontade de D'us se cumpriram. Durante uma terrível seca, seus irmãos tiveram que ir ao Egito em busca de comida, e sem saber que o vice-rei do Egito era seu desaparecido irmão Yossef, se curvaram diante dele, cumprindo assim o que havia sido decretado.

Várias vezes na história do povo judeu estas palavras do Midrash se repetiram. Apesar de D'us ter nos prometido que nunca seríamos destruídos, muitos povos se levantaram para tentar nos aniquilar, como está escrito na Hagadá de Pessach: "E não somente um se levantou contra nós para nos exterminar, mas ao contrário, em cada geração e geração se levantam contra nós para nos exterminar". E como continuamos vivos até hoje? A Hagadá continua e diz "E D'us nos salva das mãos deles". Somos como uma ovelha no meio de 70 lobos, e se não fosse D'us, que nos protege como um valente pastor, não estaríamos mais aqui hoje.

Esta é a essência da festa de Chánuka. Os gregos, em sua época de esplendor, quando eram parte do maior império do mundo, se levantaram para destruir o povo judeu, achando que através do uso da força física podiam decidir o futuro da humanidade. D'us nos salvou através de um grande milagre, a batalha de muitos contra poucos, de fortes contra fracos, do maior império da época contra um pequeno grupo de corajosos combatentes judeus. Saímos vitoriosos na batalha física e na batalha espiritual. Sobrevivemos à tentativa de extermínio e da tentativa de helenização do povo judeu. É como se D'us novamente dissesse, desta vez para os gregos: "Vamos ver qual plano vai prevalecer, o Meu ou o de vocês".

E o que aprendemos disso para nossas vidas? Em geral é desta maneira que o ser humano vive, achando que estamos no controle de tudo. Chegamos a desafiar a D'us, querendo muitas vezes ser mais espertos e sábios do que Ele. Nos recusamos a escutar Suas palavras e os Seus ensinamentos. Ele nos ensinou como viver, Ele nos entregou a Torá, justamente um Manual de Instruções de Vida, para nos ensinar como tirar o melhor proveito da nossa passagem neste mundo temporário, mas muitas vezes preferimos viver de acordo com o que pensamos ou o que achamos melhor. Não aprendemos com a história, que se repete e mostra que é D'us quem está no controle de tudo, e todos aqueles que O desafiaram já não existem mais.

Que as luzes de Chánuka iluminem não apenas as nossas casas, mas principalmente os nossos corações, e nos dêem claridade para tomarmos as decisões corretas na vida.

"A Mentch Tracht un G-ut Lacht" (O homem pensa e D'us dá risada – Ditado Ydishe)

SHABAT SHALOM e CHÁNUKA SAMEACH

Rav Efraim Birbojm