Nesta semana lemos a Parashá Ekev (literalmente "Se"), que continua com os discursos finais de Moshé, tentando preparar o povo, espiritualmente e psicologicamente, para a tão esperada entrada na Terra de Israel. Moshé advertiu o povo a não ter contato com os povos idólatras da Terra de Israel, ressaltando a importância de destruir todos os tipos de idolatria, para que não recebessem nenhum tipo de influência espiritual negativa. A Parashá começa com Moshé relembrando a recompensa que recebemos quando cumprimos a vontade de D'us, que inclui todos os tipos de Brachót e proteção contra sofrimentos e dificuldades. Entre as Brachót condicionais prometidas por D'us está a vitória na guerra contra os nossos inimigos. Quando Moshé mencionou o assunto das guerras de conquista da Terra de Israel, ele quis fortalecer a Emuná do povo judeu, e tinha um forte motivo para isso. Logo após terem recebido a Torá no Monte Sinai, o povo judeu deveria ter entrado imediatamente na Terra de Israel, uma terra com muita santidade, onde poderiam cumprir a Torá em sua totalidade. Porém, um dos piores erros do povo judeu foi ter enviado espiões para olhar a Terra de Israel, não como uma missão estratégica, e sim por falta de Emuná, por não terem confiado em D'us, apesar de Ele ter garantido que a Terra de Israel era boa e que eles conseguiriam conquista-la. A consequência foi que 10 espiões voltaram falando mal da Terra de Israel, argumentando que seria impossível conquistá-la, pois os habitantes eram muito fortes e as cidades muito fortificadas. O povo teve medo e chorou, novamente demonstrando sua falta de confiança em D'us, e aquela geração recebeu o terrível decreto de nunca mais entrar na Terra de Israel. Quase 40 anos depois, Moshé teve medo que o mesmo sentimento de medo e apreensão se repetiria. Por isso ele sentiu a necessidade de dar um reforço na Emuná do povo, como está escrito: "E você vai falar no seu coração: 'Estas nações são mais numerosas que nós, como é que que poderei conquistá-las?'. Não as tema, lembre-se do que Hashem, teu D'us, fez com o Faraó e com todo o Egito" (Devarim 7:17-18). Porém, destas palavras de Moshé surge uma pergunta. Por que Moshé não deu seu reforço de Emuná simplesmente dizendo que D'us poderia fazer milagres e os ajudaria na conquista da Terra de Israel? Por que foi necessário mencionar o que havia acontecido na saída do Egito? Para responder este questionamento, antes de tudo precisamos entender qual é o principal motivo das nossas preocupações. A preocupação normalmente é resultado do medo que temos de situações com as quais não saberemos lidar. É o medo do desconhecido, dos problemas que não estamos acostumados a resolver. Temos a tendência de querer ficar na nossa zona de conforto, e qualquer desafio que nos obriga a sair da zona de conforto nos preocupa. Pessoas chegam a ficar sem dormir antes de uma entrevista de emprego, quando estão endividadas ou preocupadas com o casamento dos filhos. Então qual é a solução para as nossas preocupações e medos? Moshé nos ensinou que a solução para as preocupações é a Emuná, a confiança em D'us. Se a preocupação é o medo de não conseguir resolver uma situação nova, então a solução é lembrarmos como D'us já nos ajudou em situações similares no passado, e desta maneira será mais fácil lidar com os problemas atuais. Foi justamente isso que Moshé quis despertar no coração do povo judeu ao sugerir que, caso novamente surgisse o medo do desconhecido no coração deles e eles começassem a questionar se seriam capazes de derrotar as nações que viviam na Terra de Israel, eles deveriam se lembrar das experiências passadas, da forma como D'us os havia ajudado em situações semelhantes de dificuldade, como ocorreu quando estavam escravizados no Egito, imersos em sofrimentos. Nunca um escravo havia conseguido fugir do Egito. Os judeus já estavam há mais de 200 anos, sem nenhuma perspectiva de conseguir sua tão sonhada liberdade. E quando ninguém esperava, D'us veio, com Mão forte e Braço estendido, com milagres e com sinais, e os retirou do Egito, no meio do dia, diante dos olhos dos egípcios que nada podiam fazer. O mesmo D'us que havia feito tantos milagres aos olhos de todo o povo certamente poderia fazer novamente milagres na conquista da Terra de Israel, então não havia nada a temer. Explica o Rav Zelig Pliskin que este ensinamento de Moshé não foi apenas para a geração do deserto, mas uma regra que podemos utilizar em todos os momentos da vida nos quais estivermos passando por dificuldades. Sempre que surgirem preocupações, imediatamente devemos parar e lembrar tudo o que D'us já fez por nós no passado, de como Ele nos ajudou a lidar com as dificuldades e a superar desafios que pareciam instransponíveis. Desta maneira garantiremos que nosso coração ficará tranquilo, livre de preocupações. Sempre que estivermos preocupados com o futuro, devemos perguntar a nós mesmos: "De que forma D'us já me mostrou no passado que Ele pode me ajudar a superar uma situação como essa?". Podemos utilizar esta regra, de lembrar dos sucessos do passado, em todas as áreas da vida. Por exemplo, ao nos depararmos com dificuldades financeiras, devemos nos lembrar de como já ficamos preocupados no passado com assuntos financeiros e, no final das contas, conseguimos lidar com eles. Ao ficar com medo de não ir bem em um teste ou em uma entrevista de emprego, devemos nos lembrar de como já nos sentimos assim no passado e, apesar das preocupações, conseguimos ter sucesso. Sempre que tememos novas situações, devemos nos lembrar de outras novas situações com as quais já ficamos preocupados, mas que, no final, conseguimos lidar bem com elas. Toda preocupação é, em última instância, uma demonstração de falta de Emuná. Para superar esta falha, devemos lembrar de duas coisas. Em primeiro lugar, D'us é Onipotente e, portanto, pode nos ajudar a vencer qualquer obstáculo, mesmo aqueles que parecem intransponíveis. Foi D'us que criou todas as leis da natureza e Ele pode, sempre que desejar, quebrar estas leis, como já fez diversas vezes na história. Além disso, precisamos lembrar que a grande maioria das coisas que tanto tememos nunca acontecem. Criamos temores em nossas cabeças e corações, mas que, na prática, acabam nunca se concretizando. Por exemplo, quando uma pessoa vai a um lugar novo, já começa a se preocupar e se questionar: "E se eu não encontrar o lugar?", "E se eu não conseguir encontrar vaga para estacionar?", "E se eu não souber voltar?". Na prática, a pessoa acaba encontrando facilmente um lugar para estacionar ao lado do lugar onde precisava ir e volta tranquilamente para casa. Quantas preocupações desnecessárias, que nunca se materializaram! O correto seria tomar as precauções necessárias, como utilizar um aplicativo de orientação e identificar estacionamentos na região, mas sempre com a tranquilidade de saber que, na realidade, não é o "waze" que nos guia, e sim D'us. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |