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DIFICULDADE OU OPORTUNIDADE? - PARASHÁ TOLDOT 5770 (20 de novembro de 2009)
"Certa indústria de calçados decidiu ampliar seus negócios e desenvolveu um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Antes de iniciar as exportações, mandou dois de seus consultores a pontos diferentes do país para que observassem o potencial daquele futuro mercado. Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou o seguinte fax para a direção da empresa:
"Chefe, cancele a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".
Sem saber deste fax, o segundo consultor mandou à direção da empresa o seguinte comentário:
"Chefe, triplique a produção, pois aqui ninguém usa sapatos ainda".
A diferença do vitorioso é que ele foca na resolução do problema e não apenas no problema, e sabe que os desafios e dificuldades que aparecem na vida são, na verdade, potenciais de crescimento.
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A Parashá desta semana, Toldot, nos conta que Yitzchak e Rivka não conseguiam ter filhos, pois Rivka era estéril. Mas quando eles rezaram, um pedindo pelo outro, Rivka milagrosamente engravidou. Desta gravidez nasceram dois filhos, Yaacov e Essav. Yaacov desenvolveu o gosto pelo estudo e pela espiritualidade, se tornando um homem íntegro e correto. Já Essav desenvolveu o gosto pela caça e pelos desejos materiais, se tornando uma pessoa de atos completamente corrompidos.
Quando a Torá descreve a gravidez de Rivka, menciona que os bebês se mexiam muito, como está dito "E os filhos se agitaram dentro dela" (Bereshit 25:22). Mas para que a Torá precisa ressaltar que os bebês se movimentavam no ventre de Rivka, como se fosse algo especial, se isso é algo normal que acontece com todas as mulheres grávidas?
Explica Rashi, comentarista da Torá, que não era uma agitação normal. Todas as vezes que Rivka passava na frente da casa de estudos de Torá de Shem e Ever, filhos de Noach (Noé), Yaacov lutava para sair, e todas as vezes que ela passava em frente a um local de idolatria, Essav lutava para sair. Porém, estas palavras de Rashi, baseadas em um Midrash (parte da Torá Oral), precisam ser melhor entendidas. Elas aparentemente significam que Yaacov já tinha uma pré-disposição para o bem enquanto Essav já tinham uma pré-disposição para o mal, antes mesmo do nascimento. Mas isso seria uma contradição com um dos fundamentos básicos do judaísmo, de que todo ser humano é totalmente livre em suas escolhas. O próprio Talmud (Torá Oral) ressalta que a saúde, a força e a inteligência de uma pessoa já estão decretadas no momento de sua concepção, mas que a tendência dele ser um Tzadik (justo) ou um Rashá (malvado) está em suas mãos, isto é, depende de sua escolha.
A mesma contradição é encontrada nas leis escritas pelo famoso sábio Rambam (Maimônides), que em uma Halachá (lei) escreve que o ser humano já nasce com traços de personalidade pré-definidos, e em outra Halachá enfatiza que a natureza de uma pessoa não causa que ele seja justo ou mal, misericordioso ou cruel, sábio ou tolo, generoso ou avarento, ao contrário, a escolha está completamente em suas próprias mãos. Como o ser humano pode ser livre para escolher que caminho quer seguir se, no ventre de sua mãe, sua personalidade já está definida, como aparentemente ocorreu com Yaacov e Essav?
Explica o rabino Zev Leff que o ser humano é composto de várias características, e estas características são influenciadas por muitos fatores, inclusive o esforço e as decisões tomadas pela própria pessoa. Por isso, os traços naturais de uma pessoa não são inerentemente bons ou ruins, eles são neutros. Uma pessoa mais inclinada a se irritar com facilidade, por exemplo, não tem necessariamente um traço de caráter ruim, pois há situações onde a irritação pode ser utilizada de forma positiva, como no caso de uma pessoa que luta contra injustiças. Porém, a pessoa com esta inclinação precisa tomar cuidado para não se tornar um descontrolado. Por outro lado, uma pessoa mais inclinada a ser pacata também não é necessariamente um traço de caráter bom, pois há situações onde ser calmo é extremamente positivo, mas há situações onde se manter pacato é uma característica negativa, como por exemplo quando algo precisa ser feito com urgência.
Isso se aplica a todas as nossas características, pois todas as tendências e traços naturais podem ser direcionados para o lado positivo ou para o lado negativo. Portanto, embora muitas características sejam pré-determinadas mesmo antes do nosso nascimento, seu uso e controle estão totalmente nas nossas mãos. Nossa livre escolha está no fato de podermos utilizar estas características para o bem ou para o mal, e se quisermos podemos inclusive anular certas características.
Mas mesmo assim ainda fica difícil entender sobre a nossa livre escolha. Por mais que todas as nossas características sejam neutras, é óbvio que aquele que tem a característica de ficar facilmente nervoso tem mais chances de desenvolver uma má conduta, pois são mais freqüentes as situações onde a irritação é utilizada de maneira negativa do que situações onde ela é utilizada de maneira positiva. Ao contrário, alguém que é naturalmente tranqüilo tem mais chances de ter uma boa conduta, pois são mais freqüentes as situações onde a calma é algo positivo do que situações onde a calma é algo negativo. Portanto, aparentemente há certa injustiça, pois uma pessoa que nasceu com tendência de ser irritada tem uma desvantagem quando comparada com aquela que nasceu com a tendência de ser calma. Onde está a justiça de D'us?
Para responder esta pergunta, precisamos esclarecer três pontos. Primeiro, somos compostos de centenas de traços de caráter. Embora uma pessoa possa ter nascido com certa característica que é predominantemente negativa, certamente ela possui outras características que são predominantemente positivas. Em segundo lugar, D'us leva em consideração as características de cada pessoa quando Ele determina as situações e os testes que cada um necessita vencer. E em terceiro lugar, D'us, em Seu julgamento perfeito, utiliza diferentes pesos de acordo com as características de cada pessoa. Por exemplo, se uma pessoa naturalmente nervosa se descontrola, ela é julgada de uma maneira muito menos rigorosa do que se uma pessoa calma se descontrola. E ao contrário, se uma pessoa nervosa consegue se manter controlada, ela recebe uma recompensa muito maior do que aquela que é naturalmente calma.
Portanto, o que Rashi está nos ensinando não é que Yaacov e Essav já tinham suas personalidades definidas ainda no ventre. Eles já tinham certas características que os direcionavam, Yaacov para o lado espiritual e Essav para o lado material. Mas eles tinham a livre escolha de como utilizar estas características. Se Essav tivesse utilizado sua tendência da maneira correta, ele teria cumprido sua missão de elevar o mundo material até chegar na perfeição. Ao contrário, se Yaacov tivesse se desviado, ele teria distorcido e corrompido os valores e conceitos espirituais. A tendência de Essav para se conectar com o mundo material e para o uso da força poderia ter sido utilizada para destruir e erradicar do mundo a idolatria, mas ele preferiu utilizar seu potencial para servi-la e espalhá-la pelo mundo, se corrompendo.
Desta Parashá aprendemos algo muito importante: D'us nos dá exatamente as ferramentas que necessitamos para o nosso trabalho espiritual. Muitas vezes reclamamos de nossas características, nos comparamos com outras pessoas e gostaríamos de ser como elas. Isto é um grande erro, pois cada um tem o seu propósito no mundo, e somente ele pode preencher este propósito, justamente com as características que D'us nos deu. Algumas são mais fáceis de ser bem utilizadas, outras necessitam ser canalizadas, algumas precisam até mesmo ser anuladas. As dificuldades são justamente o que nos dá os maiores méritos. Com trabalho, com esforço, com a vontade de fazer o que é correto, podemos nos elevar e ajudar o mundo inteiro a chegar na perfeição.
"Se a vida te oferece um limão, aprenda a fazer com ele uma deliciosa limonada"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm