sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SHANÁ TOVÁ 5770


BS"D


Mais um ano está terminando. Mais um ciclo de Parashiot da semana se encerra. Mais um ano em que D'us me ajudou e me deu forças para enviar todas as semanas o Shabat Shalom Mail. Fica a saudade do ano que passou, mas a certeza de que o próximo ano será ainda melhor.

David Hamelech (Rei David) diz nos Salmos: "O que eu poderei dar para D'us em troca de todas as bondades que Ele faz comigo?". É com este sentimento de retribuição que todas as semanas eu escrevo o Shabat Shalom Mail. É uma forma de agradecer a D'us por ter me dado a oportunidade de fazer Teshuvá e voltar aos caminhos da Torá, dos quais eu estive tão distante. Sinto-me na obrigação de dividir com as pessoas o presente que D'us me deu, de poder conhecer a profundidade dos conhecimentos da Torá e entender o quanto eles podem mudar nossas vidas.

Espero estar contribuindo para que cada um de vocês, ao ler os E-mails de Shabat todas as semanas, possam parar para refletir um pouco o quanto podemos ser grandes, o quanto temos de potencial adormecido dentro de nós, quanta bondade podemos fazer para melhorar o mundo. É muito fácil criticar a situação e colocar a culpa nos outros, o difícil é fazer a nossa parte. É isso o que o judaísmo nos ensina, a olhar para nós mesmos e melhorar o que precisa ser melhorado.

Agradeço de coração a todos os que me apóiam e me incentivam, pessoalmente ou por e-mail. O meu maior incentivo é saber que muitos estão, aos poucos, voltando aos caminhos da Torá. Cada um no seu ritmo, cada um respeitando seus limites, estamos todos voltando aos caminhos de onde nunca deveríamos ter saído. Um caminho que nos leva a uma vida mais espiritual, que nos torna pessoas melhores, mais regradas e mais tranqüilas. Que no ano de 5770 possamos ter somente boas notícias. Notícias de vitórias, de curas, de paz. Notícias de reconciliação, de amor, de alegrias. Notícias de nascimentos e de casamentos. E que finalmente seja o ano da vinda do Mashiach.

SHANÁ TOVÁ UMETUKÁ.

Com muito carinho,

Rav Efraim Birbojm

SHABAT SHALOM MAIL - ROSH HASHANÁ 5770

BS"D
QUEM CUIDA DA NOSSA VIDA? – ROSH HASHANÁ 5770 (18 de setembro de 2009)
O ano de 1912 foi muito marcante para a família Braun (nome fictício). Eles viviam na Lituânia e seguiam as leis da Torá. Mas o aumento do anti-semitismo e da violência contra os judeus na Europa, especialmente na Lituânia, levaram o Sr. Braun a repensar seus planos de vida.
O Sr. Braun tinha parentes nos Estados Unidos, e havia escutado que ali os judeus tinham liberdade de cumprir a religião. Decidiu vender tudo o que tinha e recomeçar a vida do outro lado do oceano, em uma terra de novas oportunidades. Organizou-se para a longa viagem, que seria composta de três etapas. A primeira etapa seria percorrida de carruagem até uma cidade vizinha, onde havia uma estação de trem. De lá tomariam o trem até a Inglaterra, e na Inglaterra embarcariam em um navio rumo à nova e promissora vida nos Estados Unidos.
No dia da viagem havia uma grande expectativa em todos da família. Como seria a vida nos Estados Unidos? Como seriam seus vizinhos? Como fariam novas amizades? Colocaram as bagagens na carruagem logo cedo para não correrem o risco de atrasar. Após algumas horas de viagem, finalmente chegaram à estação de trem. A estação deveria estar completamente lotada, pois apenas um trem por dia partia dali para a Inglaterra. Mas para a surpresa da família Braun, a estação estava completamente vazia, com um silêncio assustador. Viram um funcionário da companhia de trens e perguntaram sobre o trem para a Inglaterra. Para total desespero do Sr. Braun, o funcionário respondeu:
- Desculpe-me, senhor, mas o trem estava um pouco adiantado. Pensamos que todos os passageiros já haviam embarcado e a saída foi liberada com alguns minutos de antecedência. Ele saiu há menos de 5 minutos.
O Sr. Braun ficou desconsolado. Sem o trem não conseguiriam chegar até o navio a tempo de embarcar. Estava tudo perdido! Todos os planos haviam ido por água abaixo. Sentou-se no chão, levantou seus olhos para o céu e gritou:
- D'us, eu estou apenas tentando fazer a Sua vontade, indo para um lugar onde eu posso cumprir o judaísmo sem dificuldades. Por que Você fez isso comigo?
Dez dias depois o Sr. Braun estava na sinagoga recitando o "Bircat Hagomel". Esta Brachá é feita por alguém que passou por um grande risco de morte e acabou se salvando. Por que ele fez esta Brachá? Pois o navio que partiu da Inglaterra em direção aos Estados Unidos, e no qual a família Braun deveria ter viajado, se chamava "Titanic"... (História real)
Dizem os nossos sábios: "Muitos são os planos no coração do ser humano, mas é a vontade de D'us que sempre se cumpre". Fazemos muitos planos com a intenção de que as nossas vontades se cumpram, mas nos esquecemos que existe Alguém que realmente está no controle de tudo, buscando sempre nosso bem.
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Neste ano, o primeiro dia de Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, coincide com o Shabat. Espiritualmente, em Rosh Hashaná revivemos o dia em que o primeiro ser humano, Adam Harishon (Adão), foi criado, julgado por seu erro de não escutar a ordem de D'us, e finalmente perdoado após se arrepender de maneira sincera. Ensinam os nossos sábios que Rosh Hashaná é um dos dias mais importantes do ano, pois neste dia somos julgados e é decretado tudo o que acontecerá no próximo ano: quanto receberemos de dinheiro, como será nossa saúde, quais serão os sofrimentos pelos quais teremos que passar durante o próximo ano, quais serão as nossas alegrias, entre outros.
Mas será que realmente entendemos a importância de Rosh Hashaná? Por mais que possamos entender racionalmente, é difícil colocar este sentimento no nosso coração. Por que? Um dos principais motivos é que a tradução de Rosh Hashaná, "Ano Novo", nos faz associar esta festa tão sagrada com outro evento: o Réveillon. Estes dois eventos, apesar de terem em comum a comemoração da mudança do ano, são opostos em relação aos seus propósitos e suas conseqüências diretas em nossas vidas.
No Réveillon é comum as pessoas pensarem em mudanças para o próximo ano. Todos querem ser pessoas melhores, começar aquele regime que há tanto tempo estávamos adiando, nos esforçar mais para termos mais sucesso profissional. Mas qual é a essência do Réveillon? Comer, beber, e se divertir, esperando os fogos de artifício que iluminam o céu na meia noite, e depois festejar até o sol nascer. No dia seguinte todos acordam de ressaca, e o que mudou nas nossas vidas? Nada. Não nos tornamos pessoas melhores, não temos força para nos empenhar mais no trabalho, nem mesmo aquele regime prometido se concretiza. Por que? Pois todo o nosso esforço no Réveillon foi colocado no ato de se focar em si mesmo, no nosso egoísmo. Buscar as coisas que mais nos dão prazer imediato. No colocar, mais uma vez, no centro do universo.
No extremo oposto está Rosh Hashaná, um dos dias do ano em que estamos mais conectados com a nossa espiritualidade e nosso contato com o Criador do mundo se fortalece. O principal trabalho espiritual de Rosh Hashaná é anular o nosso "eu" e fazer de D'us o nosso Melech (Rei). O que significa na prática fazer de D'us o nosso Melech?
Explica o Rav Guedaliahu Shor, em seu livro "Or Guedaliahu" que uma das maneiras é tentando anular as nossas vontades diante das vontades de D'us. Fazer o que Ele nos pediu, ao invés de seguir o que nosso corpo manda. Deixar de ser escravo dos nossos desejos e vontades, que nos levaram a se rebelar durante todo o ano contra D'us, que nos levaram a cometer atos dos quais nos envergonhamos depois. Com isso nossas decisões para o próximo ano viram compromissos sérios, nos ajudando a mudar de verdade.
Outra maneira de fazermos de D'us o Rei em nossas vidas, segundo o Rav Guedaliahu Shor, é colocando no coração que Ele é o motivo de todos os motivos, isto é, tudo o que ocorre no mundo é, em última instância, a vontade de D'us. Mas este não é um trabalho fácil. Explica o Rav Ezriel Tauber, em seu livro "Os dias estão chegando", que a vinda do Mashiach será precedida por muitos sinais, sendo que a maioria deles já está se cumprindo nos nossos dias. E um dos sinais é que a geração que precederá a vinda do Mashiach terá a face de um cachorro. O que isto significa?
Quando golpeamos um cachorro com um bastão, ele ataca o bastão, pois não consegue entender que existe alguém segurando e movimentando o bastão. Ele só enxerga o bastão, não enxerga que há alguém por trás. Assim também nos comportamos, esquecemos que existe Alguém por trás de tudo. Reclamamos das coisas que acontecem, colocamos a culpa no chefe que gritou conosco, no colega de trabalho que nos prejudicou, no motorista que atrasou. Esquecemos que Alguém controla tudo, e foi pela vontade Dele que tudo aquilo ocorreu. Não existe acaso. Portanto, se algo "amargo" aconteceu em nossas vidas, algum tipo de sofrimento, então é porque Ele quer nos despertar para algo que estamos fazendo de errado na vida. Rosh Hashaná nos ajuda a mudar nossa forma de ver a vida.
Rosh Hashaná é o dia propício para endireitar o nosso caminho, repensar os nossos atos, planejar o nosso futuro. Fazemos decisões sérias de mudar e de melhorar quando estamos diante de D'us para pedir mais um ano de vida. Pois se não estivermos realmente comprometidos a mudar, a crescer, a preencher o nosso potencial verdadeiro, então mais um ano de vida para que?
"Nem mesmo D'us pode afundar este navio" (Frase do engenheiro que projetou o Titanic, antes da sua primeira e única viagem)
SHABAT SHALOM e SHANÁ TOVÁ
KTIVÁ VECHATIMÁ TOVÁ (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS PARA O BEM)
Rav Efraim Birbojm