quinta-feira, 1 de agosto de 2013

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ REÊ 5773

BS"D

ESFORÇO DEMAIS NÃO COMPENSA - PARASHÁ REÊ 5773 (02 de agosto de 2013)

"Quando Fernando viu o vendedor ambulante passando pela praça central da pequena cidade onde ele morava, ficou curioso. O que será que ele trazia naquele enorme barril? Ele viu então que uma fila de pessoas se formou, e cada um trazia utensílios de vidro na mão. Aquele vendedor trazia azeite puro, e passava de cidade em cidade com seu barril, vendendo azeite para os moradores.

Fernando começou a prestar atenção em tudo o que aquele vendedor fazia. O comprador se aproximava, posicionava seu utensílio sob o barril, e o vendedor abria uma pequena torneira, vertendo azeite e enchendo o recipiente do comprador. E assim ele fazia para cada um dos clientes que estavam na fila.

Fernando se achava uma pessoa muito sábia e, por isso, ficou inconformado com a falta de tino comercial daquele vendedor ambulante. Ele se aproximou do vendedor e perguntou:

- Meu amigo, estou vendo que você não conhece nada sobre negócios. Você não quer uma ajudinha para dobrar seu lucro?

O vendedor se empolgou. Será que aquele homem lhe daria alguma ideia genial? Então Fernando abriu um grande sorriso e falou:

- É muito simples. É só você colocar mais uma torneira no seu barril. Assim, sua produção dobrará..."

Parece uma grande piada, mas ensina o Chafetz Chaim que assim se comporta aquele que pensa que dobrar seu esforço no trabalho, mesmo às custas de seu tempo fixo para se dedicar à espiritualidade, lhe renderá realmente algum lucro.

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Uma das Mitzvót mais importantes dentro do judaísmo é a Emuná (fé), saber que tudo está nas mãos de D'us e que a vontade Dele sempre prevalece, como dizemos todos os dias na reza da manhã: "Muitos são os pensamentos no coração do ser humano, mas a vontade de D'us sempre se cumpre". Isto significa que muito do que ocorre em nossas vidas já está definido nos mundos espirituais. O próprio Talmud (Torá Oral) afirma que se uma pessoa será rica ou pobre já está decretado desde o momento do seu nascimento. Mas se é assim, então podemos cruzar os braços e não fazer mais nada? Se nosso sustento já está decretado espiritualmente, então não é preciso nenhum tipo de esforço para obtê-lo?

A resposta está na Parashá desta semana, Reê. Quando a Torá ensina as leis sobre a libertação de um escravo após 6 anos de trabalho, termina com as seguintes palavras: "E que D'us te abençoe em todas as coisas que você fizer" (Devarim 15:18). Ensina o Midrash Sifri (Torá Oral) que daqui aprendemos que D'us nos abençoa "nas coisas que você fizer", isto é, se a pessoa não fizer nada, então não receberá nenhuma Brachá (benção) de D'us. As Brachót são como a chuva que cai do céu. Se a pessoa preparou utensílios para armazenar a água, ela poderá aproveitá-la depois. Mas se a pessoa não fez nenhum preparativo, a chuva cai e se perde, e a pessoa não consegue ter nenhum proveito. Portanto, a Brachá é de D'us, mas o nosso esforço é necessário, pois com ele criamos os utensílios que guardarão as Brachót.

Há um paralelo muito forte entre as instalações hidráulicas de um edifício e as Brachót de Hashem. Quando um edifício é construído, uma das principais preocupações do engenheiro deve ser com a caixa d'água, para que todos os moradores possam ter suas torneiras abastecidas sempre que necessitarem. Mas não é suficiente apenas construir um grande reservatório de água. Se não forem construídas tubulações, nas especificações e dimensionamentos corretos, esta água não consegue chegar às residências. No caso das tubulações estarem incorretas ou ausentes, mesmo que a caixa d'água esteja completamente cheia, os moradores não conseguirão utilizar nem mesmo uma gota de água.

Da mesma forma, sabemos que tudo depende de D'us, e Ele poderia nos mandar qualquer bondade mesmo sem nenhum tipo de esforço de nossa parte, pois Ele é como uma grande caixa d'água, cheio de Brachót para nos mandar. Mas a vontade de D'us é que o ser humano se esforce e, através de seus atos, construa uma "tubulação espiritual" pela qual fluirá todas as Brachót enviadas por Ele, a Fonte de toda a bondade. Através do seu esforço, o ser humano pode se conectar com seu Criador. Quando um agricultor precisa plantar para receber seu sustento, ele levanta seus olhos ao céu e pede a D'us que seu esforço não seja em vão. Quando um empresário trabalha, ele eleva seus olhos a D'us e pede para que seus investimentos sejam bons.

Explica o Rav Yossef Chaim Zonenfeld que daqui aprendemos um importante fundamento. Apesar da Emuná ser um dos principais fundamentos no nosso relacionamento com o Criador, não podemos nos esquecer de que é necessário fazer a nossa parte, nos esforçar para que o sustento e todas as outras Brachót de D'us possam chegar até nós.

Mas a verdade é que o perigo está do outro lado: o esforço que vai além da necessidade. Antes de fazer qualquer atitude em relação ao seu sustento, a pessoa deve colocar no coração que nenhum esforço servirá para aumentar suas entradas, nem mesmo um centavo a mais do que já estava espiritualmente decretado. Como nas instalações hidráulicas, as tubulações não produzem água, apenas trazem a água que já estava armazenada na caixa d'água. Se esquecermos disso, corremos o terrível perigo de cometer a idolatria de "minha força e o esforço dos meus braços trouxeram esta riqueza".

Este aprendizado, de que D'us nos manda tudo o que precisamos e que qualquer esforço a mais é desnecessário e até mesmo negativo, recebemos dos nossos antepassados. O povo judeu aprendeu esta lição durante os 40 anos em que receberam o Man, a comida que caía do céu para alimentá-los todos os dias. Todo aquele que pegava um pouco mais de Man do que era necessário, para guardar para o dia seguinte, percebia que o que havia sido guardado apodrecia. Todo aquele que saía no Shabat para procurar Man se esforçava, mas não encontrava nada. Isto ensinou ao povo judeu que tudo o que precisamos vem de D'us, e que devemos fazer nosso esforço para receber. Porém, não é qualquer esforço, e sim apenas o esforço da maneira correta, conforme Ele nos pediu.

E o que é o esforço correto? Isto é muito particular, cada pessoa deve fazer seus cálculos de acordo com a sua Emuná, do quanto ele coloca no coração que tudo vem de D'us, independentemente do seu esforço. Mas há situações claras em que o esforço é certamente indesejado por D'us, é como uma tubulação feita com o material ou o dimensionamento incorreto. Ensina o Chazon Ish que o esforço serve apenas para despertar a misericórdia Divina, mas que a Tefilá (reza) faz isto de uma maneira muito mais eficiente. Portanto, aquele que perde uma reza para ganhar um pouco mais de dinheiro certamente está investindo suas forças da maneira incorreta. Também aquele que troca seus horário fixos de estudo da Torá em busca de sustento certamente não está abrindo o canal correto de conexão com D'us através do seu esforço.

D'us pode e quer nos mandar uma infinidade de Brachót, mas Ele quer que façamos a nossa parte. Mas da mesma forma que a tubulação da caixa d'água não pode ser feita com qualquer material, assim também devemos saber que para construir nossa "tubulação espiritual" não serve qualquer tipo de esforço. Viemos para este mundo para crescer espiritualmente e, portanto, desprezar nossos momentos de crescimento para tentar ganhar mais dinheiro é certamente um péssimo investimento. Somente quando elevarmos nossos olhos para D'us e confiarmos Nele de todo o coração é que conseguirem receber todas as Brachót que Ele guarda para nós. Pois mais do que nós queremos receber as Brachót, Ele quer nos mandar.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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quarta-feira, 31 de julho de 2013

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ EKEV 5773


BS"D


OS HERÓIS SURGEM NAS GUERRAS - PARASHÁ EKEV 5773 (26 de julho de 2013)

"Eram tempos de paz, as pessoas viviam tranquilamente em um reino distante. Michel, um fiel servidor do rei, cumpria suas obrigações com entusiasmo, na esperança que o rei notasse sua dedicação e o promovesse. Com o passar dos anos, ele realmente foi sendo promovido dentro do palácio real, até que, em sua velhice, chegou ao almejado cargo de ministro. Relembrou como havia sido difícil e trabalhoso alcançar aquele cargo de confiança do rei.

Alguns anos se passaram e aquele reino iniciou uma terrível guerra com o reino vizinho. David, um jovem cavaleiro do rei, demonstrou bravura em todas as lutas, constantemente arriscando sua própria vida para proteger a vida do rei. A cada demonstração de fidelidade e bravura ele crescia aos olhos do rei.  Ele foi sendo rapidamente promovido e, em poucos meses, já havia chegado ao cargo de ministro, mesmo sendo ainda tão jovem.

Quando Michel viu a ascensão meteórica de David, ficou muito irritado. Por que para ele havia sido necessário tantos anos de esforço para ser promovido, enquanto para aquele jovem havia sido suficiente alguns poucos meses? A inveja o consumiu quando a guerra terminou e o rei ofereceu um grande banquete em honra daqueles que, durante as batalhas, haviam arriscado sua vida por ele. David era um dos principais participantes do banquete, recebendo muitas honras, enquanto Michel nem mesmo foi chamado. Inconformado, Michel foi cobrar do rei explicações. O rei, percebendo o desapontamento de Michel, explicou com calma:

- Michel, não fique chateado, o David não é melhor do que você. Mas você precisa entender que demonstrar fidelidade ao rei em tempos de paz, onde não há dificuldades nem perigos, é muito mais fácil do que demonstrar fidelidade em uma época de guerras e dificuldades como a que passamos agora. É por isso que, mesmo em tão pouco tempo, David conseguiu demonstrar a mesma lealdade que você precisou de tantos anos para demonstrar"

Explica o Chafetz Chaim que podemos demonstrar nossa lealdade a D'us quando tudo está indo bem e tranquilo, e assim podemos ir crescendo, pouco a pouco, no nosso nível espiritual. Mas se quando nós passamos por dificuldades e mesmo assim persistimos e vencemos, nosso crescimento é muito mais rápido e intenso, como ensinam nossos sábios "De acordo com a dificuldade, assim é a recompensa" (Pirkei Avót 5:26).

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Na Parashá desta semana, Ekev, Moshé nos relembra de todas as recompensas que receberemos de D'us se andarmos nos caminhos corretos, e garante que não precisamos temer nossos inimigos, pois se nos comportarmos da maneira que D'us nos ensinou, Ele estará sempre nos protegendo. Além disso, também está na Parashá o segundo parágrafo do Shemá Israel. Nestes versículos somos instruídos a constantemente contemplar e internalizar a Torá e seus ensinamentos, como está escrito: "E vocês devem colocar estas palavras em seus corações..." (Devarim 11:8).

Há um interessante ensinamento do Talmud (Kidushin 30b) sobre este versículo. A palavra "samtem", que significa "vocês devem colocar", também pode ser lida como "sam tam", que significa "elixir puro", isto é, a Torá é a cura ideal para o nosso Yetzer Hará (má inclinação). O Talmud nos traz a analogia de um pai que, para educar seu filho, percebe a necessidade de lhe dar uma forte pancada, que causa no filho uma ferida. O pai então instrui seu filho a colocar uma compressa sobre a ferida e diz: "Filho, todo o momento em que a compressa estiver sobre a ferida, você pode comer e beber o que quiser, e você pode se banhar com água quente ou fria, sem precisar se preocupar com a infecção do seu machucado. Mas, se você tirar a compressa, sua saúde estará em risco". Da mesma maneira, D'us nos ensina: "Meu filho, Eu criei o Yetzer Hará, e Eu criei a Torá como um antídoto contra ele". Todo momento em que estivermos ocupados com o estudo e o cumprimento da Torá, D'us nos protege e nos ajuda a controlar nosso maior inimigo, o Yetser Hará. Mas se abandonarmos a Torá, então ficaremos nas mãos do nosso Yetser Hará.

Porém, deste ensinamento do Talmud surge uma grande dúvida. Nossos sábios ensinam que D'us criou a Torá para que possamos seguir Seus ensinamentos, ganhando assim méritos para toda a eternidade, e Ele criou o Yetzer Hará como um obstáculo que o ser humano precisa superar. Mas isto parece contraditório com o ensinamento do Talmud. A palavra "antídoto", em hebraico "tavlin", também significa "condimento, especiaria". O condimento não é o mais importante da comida, é apenas algo para melhorar o gosto do prato principal. Aparentemente o que o Talmud está nos ensinando é que o Yetser Hará é a criação principal, enquanto a Torá, embora muito necessária, é apenas uma criação secundária, um condimento. Também a analogia utilizada pelo Talmud reforça este entendimento. O castigo que o filho recebeu, que seria o nosso Yetser Hará, é parte fundamental da sua educação, enquanto a compressa serve apenas como prevenção ou como antídoto para que a pancada não tenha consequências negativas. Como entender esta contradição? A Torá é a criação principal ou, como aparentemente ensina o Talmud, é apenas secundária, uma "especiaria" para melhorar o gosto natural do Yetser Hará?

Além disso, o Talmud continua e explica que o Yetser Hará ameaça dominar a pessoa todos os dias e matá-la. Se esta é uma força tão ameaçadora, por que realmente foi necessário que D'us tenha criado o Yetser Hará? Existe algum benefício em estarmos submetidos a esta "luta" tão pesada diariamente?

Responde o Rav Yohanan Zweig que D'us criou o ser humano com um gigantesco potencial de realização. Mas o peso de saber sua enorme capacidade, juntamente com o medo de não conseguir viver de acordo com o seu potencial, faz com que o ser humano tente fugir de suas responsabilidades, correndo o risco de se autodestruir. Para fugir deste peso, a tendência natural do ser humano é viver de maneira a bloquear a consciência do seu potencial, ou tentar convencer a si mesmo de que suas expectativas em relação ao seu próprio potencial são infundadas. É por isso que vemos atualmente tantas pessoas depressivas ou que se sentem fracassadas, apesar de nunca terem tentado atingir seu verdadeiro potencial. Vivemos muitas vezes adormecidos, sem conhecer nossa verdadeira força, apenas por ser mais fácil e cômodo. Como fugir desta inércia, que não nos deixa crescer e conhecer nosso verdadeiro potencial?

Imagine um corredor que, ao participar de uma importante competição, percebe que no meio do caminho foram colocadas barreiras. Ele tem duas opções: desistir da corrida e voltar para casa como um fracassado, ou tentar saltar para vencer. E apesar de nunca ter imaginado que conseguiria, ele descobre que além de correr ele também consegue saltar. O que nos faz despertar para o nosso potencial é justamente o nosso Yetser Hará. As dificuldades e obstáculos nos mostram qual é o nosso verdadeiro valor. Por outro lado, se esta consciência do nosso potencial fosse deixada sem controle, o peso dela nos destruiria. Para isto D'us nos entregou a Torá, a ferramenta que nos ajuda a atualizar e desenvolver nosso verdadeiro potencial.

É este o conceito que o Talmud está nos ensinando. Não há dúvidas de que a Torá é a principal criação de D'us, mas sem a consciência que o Yetser Hará nos dá, todo o potencial da Torá não seria devidamente utilizado. Por isso o Talmud considera como se o Yetser Hará fosse a criação principal, pois sem as devidas aspirações, sem os desafios da vida, o potencial do ser humano seria completamente desperdiçado. Reclamamos das dificuldades da vida, mas não percebemos que são justamente as dificuldades que nos tornam mais fortes. Ao lidar com uma tentação e vencer, a pessoa se eleva, se torna mais forte e capaz. Com pequenos ganhos diários, com pequenas conquistas, vamos trilhando nosso caminho de sucesso espiritual.

Explica o Rav Isroel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que aquele que se conecta aos valores espirituais da Torá em momentos de tranquilidade, isto é, em momentos em que não há tantas forças contrárias, apesar de mostrar sua fidelidade a D'us, apenas demonstra ser uma pessoa comum. Mas aquele que consegue se conectar aos valores espirituais mesmo em tempos de "guerra" demonstram, de maneira muito mais clara, seu heroísmo. É esta a oportunidade que temos em nossa geração. Estamos em meio a uma verdadeira guerra, na qual os valores corretos estão cada vez mais distorcidos, a busca pelo bem se tornou uma exceção. Quando um taxista devolve uma bolsa de dinheiro esquecida em seu carro, vira capa de todos os jornais. Mas não é óbvio que ele deveria devolver algo que não lhe pertence? Como atualmente os bons atos são tão raros, eles chamam a atenção quando ocorrem.

Esta é a nossa grande chance de mostrarmos o nosso heroísmo, de se levantar e dar um basta a tanta injustiça. É o momento de mostrar que, apesar das dificuldades, podemos viver de acordo com os valores corretos. Não há vencedores na vida que não precisaram superar seus obstáculos e suas limitações. Os verdadeiros heróis surgem em momentos de guerra e de dificuldades, e não nos momentos de paz.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm