sexta-feira, 17 de outubro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - SUCÓT II 5769

BS"D

PENSANDO NO PRÓXIMO - SUCÓT II 5769 (17 de outubro de 2008)

"O Rebbe Mordechai de Neschiz vivia em total pobreza. Durante todo o ano ele economizava o máximo que podia, centavo por centavo, para conseguir comprar um Etrog (uma das 4 espécies) em Sucót. Uma vez, pouco antes de Sucót, o Rebbe Mordechai viajou para a cidade de Brod, para comprar um Etrog com o dinheiro que havia sofridamente economizado. Enquanto ele andava na rua, viu um outro judeu sentado na calçada, chorando baixinho, as lágrimas correndo pelo rosto. Rebbe Mordechai ficou penalizado com o sofrimento daquele pobre homem e perguntou porque ele estava chorando. O homem, soluçando, respondeu:

- Rebbe, meu cavalo era minha única fonte de sustento, e hoje ele morreu. Não tenho mais como sustentar minha família. Não sei o que vou fazer da minha vida!

Sem nenhuma hesitação, o Rebbe pegou a carteira onde estava o dinheiro economizado, colocou na mão do homem e ordenou:

- Vá imediatamente comprar um novo cavalo para você.

O Rebbe então voltou para casa. Quando ele entrou na sala, sua esposa notou um brilho especial no seu rosto, e perguntou se havia acontecido algo. Ele balançou afirmativamente a cabeça, abriu um sorriso e falou:

- Neste Sucót, enquanto todo o povo judeu estiver fazendo a Brachá (bênção) sobre seus Etroguim, eu estarei fazendo a Brachá sobre um cavalo..."

Existiram, e ainda existem, muito judeus que abrem mão de suas coisas mais preciosas pelo bem do próximo. Isso se chama "Achavat Israel" (amar de verdade o próximo).
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Este Shabat coincide com a festa de Sucót. Em Sucót revivemos a experiência de que D'us cuida, de forma particular, de todas as nossas necessidades. Isso é ressaltado pela Mitzvá de habitar em uma Sucá, uma simples cabana de paredes e teto frágeis, pois da mesma forma que D'us cuidou de nós durante os 40 anos no deserto, assim Ele continua cuidando de cada detalhe em nossas vidas. Nossa proteção não vem das paredes e tetos fortificados, e sim diretamente de D'us.

Mas em Sucót, além da Mitzvá de construir a Sucá, há ainda a Mitzvá de unir os Arba Minim (4 espécies) e balançá-los juntos: Etróg, que é um tipo de fruta cítrica; Lulav, que é uma folha de tamareira; Adass, que são folhas de Mirta; e Aravá, que são folhas de chorão. O Etróg tem gosto e tem cheiro, o Lulav tem gosto mas não tem cheiro, o Adass tem cheiro mas não tem gosto e a Aravá não tem gosto nem cheiro. Qual a conexão dos Arba Minim com a idéia da proteção Divina particular que revivemos em Sucót?

Sucót é a época de reconhecer as coisas boas que temos na vida, tais como saúde, família, amigos, etc. Mas ensina o livro Chovót Halevavót (Deveres do coração) que o maior obstáculo na apreciação de todas as coisas boas que temos são os problemas e os momentos de dificuldade. Por melhor que possam ser nossas vidas, todos temos dificuldades, e mesmo que alguém possa chegar à 99% de uma vida perfeita, aquele 1% que falta estará lá para incomodar, para distrair nossa atenção. Como conquistar esta parte que falta da nossa alegria? Explica o rabino Israel Miller que a Mitzvá dos Arba Minim nos ajuda a trabalhar com a parte que falta na nossa vida.

Quando olhamos para o Etróg, vemos uma criação completa, com cheiro e com gosto, que pode ser utilizado para fazer uma geléia, para perfumar o ar ou como rodelas no chá. É o tipo de criação que esperaríamos do Onipotente Criador do mundo. Mas quando olhamos para o Lulav, que tem gosto mas não tem cheiro, nos perguntamos: porque D'us não colocou também aroma nesta espécie, fazendo a Sua criação perfeita? O mesmo ocorre quando examinamos o Adass, que tem cheiro mas não tem gosto. E finalmente, quando olhamos as Aravót, que não tem cheiro nem gosto, nos questionamos por que D'us investiu energia para criar algo assim? Que desperdício!

A Mitzvá dos Arba Minim vem nos mostrar que esta visão negativa é um erro. Não há desperdício no Plano Divino, tudo tem o seu propósito. Se falta cheiro nas Aravót, é porque o cheiro não é algo que ela necessita para seu papel espiritual no mundo. A festa de Sucót é chamada de "Zman Simchateinu" (Tempo da nossa alegria), pois com os ensinamentos de suas duas Mitzvót, a Sucá e os Arba Minim, podemos chegar na alegria verdadeira: a alegria de saber reconhecer tudo o que já temos, e de saber que o que ainda não temos é porque agora não é necessário para que possamos chegar no nosso máximo potencial espiritual.

Outro ensinamento importante dos Arba Minim é que, da mesma forma que a Mitzvá dos Arba Minim só se cumpre quando as quatro espécies tão diferentes entre si estão juntas, o propósito do mundo também só se completará quando todos os diferentes tipos de pessoas se unirem, um ajudando ao outro. O mundo foi criado para que as pessoas interagissem entre si, como peças de uma máquina, e se apenas uma das peças não funciona direito, toda a máquina está perdida. D'us não criou o mundo para que cada um viva sua vida de forma independente, e sim para que um possa ajudar ao outro. Os Arba Minim nos ajudam a ver o mundo de forma mais global e mais completa.

Ensina o livro Tomer Dvora que a Mitzvá de "Veahavta Lereecha Kamocha" (Ame ao seu próximo como a si mesmo) não é apenas algo hipotético, é uma realidade, e quando fazemos algo ao próximo, no fundo estamos fazendo algo para nós mesmos, pois dentro de cada pessoa temos um pouco de nós mesmos, do nosso propósito. Somente um ajudando ao outro alcançaremos finalmente a linha de chegada.

SHABAT SHALOM e CHAG SAMEACH

Rav Efraim Birbojm