| Nesta semana lemos a Parashat Vaieshev (literalmente "E se estabeleceu"), que começa a descrever com detalhes a descendência de Yaacov, em especial a história de seu filho preferido, Yossef. Justamente por ser o filho preferido, Yossef despertou a inveja de seus irmãos, que começaram a odiá-lo. Certa vez Yaacov pediu para que Yossef procurasse seus irmãos, que estavam pastoreando. Ao ver Yossef vindo, os irmãos tramaram matá-lo, por enxergá-lo como uma ameaça à estabilidade da família. Por sugestão de Reuven, eles mudaram de ideia e decidiram jogá-lo em um poço. Finalmente, o venderam como escravo para uma caravana que se dirigia ao Egito. Na continuação, o versículo diz algo surpreendente: "E Reuven voltou ao poço, e eis que Yossef não estava no poço! Então ele rasgou suas roupas" (Bereshit 37:29). Mas se durante todo o episódio Reuven estava junto com seus irmãos, e inclusive foi dele a ideia de jogar Yossef no poço, com intenção de salvá-lo mais tarde, como ele não sabia que Yossef não estava mais no poço? Onde ele estava quando Yossef foi vendido aos comerciantes? Rashi explica que realmente Reuven não estava presente naquele momento, e traz dois motivos. O primeiro é que os irmãos se revezavam para cuidar do pai. Naquele dia era a vez de Reuven e, por isso, ele havia voltado para casa. Já de acordo com a segunda explicação, Reuven não estava presente pois estava isolado dos irmãos, vestindo roupas de saco e jejuando, em arrependimento pelo episódio de ter mudado a cama de seu pai de tenda, que foi descrito na Parashá Vaishlach (Bereshit 35:22). A cama de Yaacov ficava fixa na tenda de Rachel. Quando Rachel faleceu, Reuven tinha certeza que Yaacov moveria sua cama para a tenda de sua mãe, Lea. Porém, Yaacov tinha outros planos e mudou sua cama para a tenda de Bilá, a serva de Rachel. Reuven considerou aquela atitude do pai humilhante demais para sua mãe suportar. Em um momento de zelo e ímpeto, ele moveu por conta própria a cama do pai para a tenda de Lea, algo grave, uma interferência nos assuntos íntimos dele. Entretanto, se fizermos as contas, descobriremos que o erro de Reuven havia acontecido há muitos anos, pouco depois da morte de Rachel. Ela faleceu quando Yossef tinha aproximadamente oito anos. Se Yossef agora tinha dezessete anos, o erro de Reuven havia acontecido há quase dez anos! Por que Reuven decidiu que precisava fazer Teshuvá naquele momento, tanto tempo depois? O que o motivou? Explica o Rav Yssocher Frand shlita que todos nós estamos sujeitos aos interesses pessoais, chamados "Neguiót". Não enxergamos as situações de forma reta e objetiva, pois estamos sempre influenciados pelos desejos e vontades. Os irmãos odiavam Yossef pensando que tinham motivos justificáveis, mas na prática o odiavam pois sentiam inveja. A inveja distorce a perspectiva de uma pessoa, como ensinam os nossos sábios "Rabi Elazar HaKapar dizia: a inveja, o desejo e a honra tiram a pessoa do mundo" (Avót 4:22). A pessoa deixa de enxergar a realidade, pois está tão obcecada com seu ciúme que perde a capacidade de ver os fatos claramente. Porém, diferente dos seus irmãos, Reuven ficou com "um pé atrás" em relação à trama de matar Yossef. Justamente por ser o primogênito, ele pensou: "Se algo acontecer a Yossef, meu pai me responsabilizará". Esse medo acabou despertando-o e freando sua inveja. Assim, ele foi capaz de enxergar os fatos como realmente eram. Ele reconheceu que Yossef não era um perverso que estava tramando roubar a primogenitura. Yossef era um Tzadik, uma pessoa pura. Reuven percebeu como as Neguiót de seus irmãos, por causa da inveja, distorceram completamente a visão deles, impedindo-os de enxergar a verdade. De repente, Reuven teve uma claridade súbita e pensou: "Assim como a inveja afeta a perspectiva deles e não os deixa ver a situação da forma correta, também quando eu protestei contra meu pai, aquilo veio de um sentimento de ciúme pela minha mãe. Agora percebo que meu ciúme e minha preocupação com a honra da minha mãe distorceram minha perspectiva e me levaram a agir de forma imprópria e a fazer algo que não era correto". Naquele momento, Reuven compreendeu profundamente o quanto a inveja e as emoções associadas afetam a visão que a pessoa tem da realidade. Assim como seus irmãos estavam completamente errados em relação à Yossef, ele entendeu que também estava completamente errado em relação à atitude do pai. Essa percepção levou Reuven à Teshuvá completa naquele momento, pois foi quando ele realmente percebeu que havia errado. Esse despertar, que nos permite enxergar nossos erros e corrigi-los, se conecta com a nossa próxima parada no Calendário judaico: a Festa de Chanuka, que começaremos a reviver na noite do próximo domingo (14/dez/25). Em Chanuka revivemos dois grandes milagres que aconteceram aos nossos antepassados. Um milagre foi a improvável vitória militar contra os gregos, o maior império da época. O outro milagre foi o único pote de azeite puro encontrado no Beit Hamikdash, suficiente para manter a Menorá acesa por apenas um único dia, ter durado milagrosamente oito dias. Porém, se havia azeite para um dia, e ele durou oito dias, significa que foram apenas sete dias de milagre. Então por que comemoramos oito dias? Explicam os nossos sábios que após tantos anos de dominação dos gregos e decretos cada vez mais pesados, proibindo o estudo de Torá e a prática das Mitzvót, foi um grande milagre os judeus não terem desistido. Este é o milagre que comemoramos no primeiro dia de Chanuka. O que os fez os judeus despertarem e se rebelarem contra os gregos, não aceitando mais suas imposições e decretos? Tudo começou em Modiin, a cidade onde vivia Matityahu, o Cohen Gadol. O rei dos gregos, Antiochos, decretou que todas as cidades judaicas deveriam montar altares gregos para que os judeus sacrificassem porcos. Um oficial do rei percorria cidade por cidade, exigindo o cumprimento da lei. Quando chegou a Modiin, Matityahu, o líder espiritual da cidade, foi intimado, por ser um homem respeitado. Foi prometido a ele ouro, uma posição de autoridade e o título de "amigo do rei" caso obedecesse. Matityahu respondeu com firmeza: "Eu e meus filhos jamais abandonaremos a Torá nem ofereceremos sacrifícios aos seus ídolos!". Na cidade havia um judeu helenista, rico, influente e ambicioso, que queria ganhar o favor dos gregos. Ele correu para o altar montado pelos gregos e, diante de toda a cidade, agarrou o porco para oferecê-lo como sacrifício. Ele disse: "Se Matityahu não quer cumprir a ordem do rei, eu o farei". Para os que estavam presentes foi um grande choque ver um judeu subir ao altar com um porco. Matityahu foi tomado por um zelo ardente. Ele gritou: "Assim, não! Não em nossa cidade!". Ele correu para o altar e ali mesmo matou o judeu helenista e o oficial grego. Além disso, ele também destruiu o altar idólatra. Matityahu então se voltou para o povo e proclamou: "Quem for zeloso por D'us e quer proteger a sagrada Torá, venho comigo!". Foi um chamado que ecoou por toda a Terra de Israel. Ele fugiu imediatamente para as montanhas, levando consigo seus cinco filhos: Yehuda, Shimon, Yonatan, Elazar e Yochanan. Eles formaram o primeiro grupo de guerrilha, que iniciaria a revolta dos Macabim. Por que tudo começou? Não foi o decreto dos gregos, nem a proibição das Mitzvót e nem o ataque ao Templo Sagrado. Foi o momento em que um judeu se dispôs a sacrificar um porco para agradar os inimigos. Foi a sensação de responsabilidade, a obrigação de despertar seus irmãos, que os fez levantar e lutar. Aquela batalha contra os gregos foi vencida, mas a guerra contra o comodismo, a assimilação e o abandono da Torá continua. Devemos fazer como Reuven, isto é, despertar através da reflexão, para que D'us não tenha que nos despertar através dos sofrimentos, como aconteceu através da dominação grega. Que Chanuka possa nos ajudar a despertar, primeiro a nós mesmos, e nos inspire a despertarmos também os nossos irmãos. SHABAT SHALOM E CHANUKA SAMEACH R' Efraim Birbojm |