sexta-feira, 25 de julho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MATOT 5768


BS"D

O DONO DA CASA ESCOLHE QUEM ENTRA - PARASHÁ MATOT 5768 (25 de julho de 2008)

Um jovem rapaz estava com problemas. Ele tinha muitos pensamentos impuros, e não havia como evitá-los, por mais que ele tentasse impedi-los de entrar em sua cabeça. Preocupado e sem saber como resolver, ele foi se aconselhar com seu rabino. O rabino escutou atentamente e indicou que ele fosse falar com um grande rabino que vivia em uma cidade vizinha.

O jovem partiu imediatamente, e após uma longa e cansativa viagem, chegou na casa do grande rabino. Já era de noite, e ele estava muito cansado. Notou que havia gente em casa, pois viu luzes acesas, mas estranhou que, apesar de suas insistentes batidas na porta, ninguém abriu. Continuou batendo por muito tempo até que, exausto, desistiu e dormiu ali mesmo, sentado na porta de entrada.

Logo de manhã cedo o rabino veio até a porta, acordou o rapaz e convidou-o a entrar e tomar um café-da-manhã. O rapaz agradeceu, mas perguntou porque o rabino não havia aberto a porta de noite, já que ele havia insistido e batido tantas vezes. O rabino deu-lhe um tapinha carinhoso nas costas e explicou:

- Você veio se aconselhar comigo sobre seus maus pensamentos, acreditando ser impossível evitar que eles entrem na sua cabeça. Então eu quis te ensinar uma lição, para que você nunca mais se esqueça: quando você é realmente o dono da casa, você escolhe quem entra e quem não entra, independente de quanto ele insista. O mesmo acontece com sua cabeça. Você precisa trabalhar seu auto-controle até que você se torne o dono dela, e então poderá facilmente escolher o que entra e o que fica de fora.
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A Parashá desta semana, Matot, começa nos ensinando sobre as leis referentes às promessas e juramentos que uma pessoa pode voluntariamente fazer, para se proibir de algo que é permitido (por exemplo, a pessoa promete que por 30 dias não comerá maças), ou para se obrigar a fazer algo que não era obrigada (por exemplo, a pessoa promete dar um donativo para a sinagoga). Mas a Torá ressalta que a pessoa deve ser muito cuidadosa ao fazer uma promessa, pois não cumpri-la é muito grave. E uma das leis que a Parashá ensina é que se uma menina de até doze anos e meio e que ainda vive sob os cuidados do pai faz uma promessa, o pai deve aprovar esta promessa, e caso não aprove, ele tem o poder de cancelá-la, como está dito no versículo "Mas e se impedir seu pai no dia em que escutou, todas as promessas e abstinências a que ela se obrigou não se afirmarão, e D'us a perdoará, pois seu pai a impediu" (Bamidbar 30:6). Mas há uma dificuldade neste versículo, pois a que se refere "e D'us a perdoará"? A menina fez alguma transgressão?

Explica Rashi, comentarista da Torá, que o versículo se refere a uma menina que fez uma promessa e a quebrou, mas no momento em que ela a quebrou, a promessa já havia sido revogada pelo pai, sem o conhecimento da filha. Quando a filha quebrou a promessa, ela ainda pensava que a promessa era válida, e por isso precisa ser perdoada por D'us. Mas a pergunta continua, pois se a promessa já havia sido revogada pelo pai, na prática ela não transgrediu nada. Então por que ela precisa ser perdoada?

A resposta desta pergunta é um importante fundamento no judaísmo: não apenas os maus atos são considerados uma transgressão, mas também os maus pensamentos. E isso é uma grande "novidade" para muitos, pois a maioria das pessoas acha que não há nenhum problema em ter maus pensamentos. Por exemplo, o que há de mal se um homem casado deseja em seus pensamentos uma outra mulher? Afinal, ele não fez nada de errado!

Em primeiro lugar, o que olhamos e o que pensamos nos influencia muito mais do que nós imaginamos. Explica o rabino Isroel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que o caráter do ser humano é construído através do que ele vê e o que ele escuta. O que isto significa? Que apesar de cada ser humano ter sua própria natureza e suas inclinações naturais, o principal fator na sua formação são os sentidos, principalmente a visão e a audição, e através deles nós absorvemos tudo o que está ao nosso redor. Portanto, más influências levam a maus pensamentos, e maus pensamentos levam a maus atos. Devemos cortar o problema pela raiz, pois nenhuma traição ocorre sem antes passar por dezenas ou centenas de pensamentos impuros.

Em segundo lugar, um ato que a pessoa não sente a gravidade é muito pior, pois ela não se arrepende. Quando uma pessoa comete um ato de traição, ela se sente culpada, ela sente o peso do seu mau ato, e está propensa a se arrepender e a não voltar a pecar. Mas apesar dos maus pensamentos também serem uma transgressão, como nos ensina o versículo "Não siga atrás do seu coração e atrás dos seus olhos", a maioria das pessoas não entende que é um erro e não se arrepende, tornando a transgressão em pensamento muito mais grave do que o ato.

Mas os pensamentos são algo tão natural, será que é possível controlá-los? A resposta é sim, pois a Torá não foi entregue aos anjos, e sim a seres humanos, e portanto tudo o que está contido nela está ao nosso alcance. Então qual a fórmula para chegar ao controle dos pensamentos? O início do controle dos pensamentos está no controle dos nossos sentidos, o controle do que queremos que seja absorvido. Colhemos o que plantamos, isto é, nosso pensamento é fruto do que nos permitimos ver e ouvir. Pois se um poço for enchido com água, ele fornecerá água. Mas se um poço for enchido com lixo, ele fornecerá apenas lixo.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm