quinta-feira, 21 de maio de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ BAMIDBAR 5769

BS"D

O VERDADEIRO VENCEDOR - PARASHÁ BAMIDBAR 5769 (22 de maio de 2009)

Quando chegam as Olimpíadas, o mundo inteiro pára, por quase um mês, para acompanhar as emocionantes competições. Mas talvez um dos espetáculos mais bonitos do planeta passa despercebido da grande maioria das pessoas. Depois das Olimpíadas são realizadas as Paraolimpíadas, isto é, Olimpíadas especiais para pessoas portadoras de deficiências físicas, estes sim verdadeiros vencedores, que conseguiram superar suas limitações e dar a volta por cima.

E algo incrível aconteceu há alguns anos, nas Paraolimpíadas de Seattle, quando nove participantes, todos com algum tipo de deficiência, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não em disparada por causa de suas limitações, mas com vontade de dar o melhor de si e terminar a corrida em primeiro lugar.

Todos corriam e se esforçavam até que, de repente, um rapaz tropeçou, caiu e começou a chorar. Em qualquer corrida, os outros competidores ficariam felizes, afinal, era um concorrente a menos. Mas não naquela corrida. Quando os outros oito competidores ouviram o choro daquele rapaz, diminuíram o passo e olharam para trás. Então algo incrível aconteceu: todos eles pararam e voltaram para ajudar o garoto. Uma das moças, com Síndrome de Dawn, ajoelhou-se, deu um beijo no rapaz e disse: "Pronto, agora vai sarar". E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou, e os aplausos duraram muitos minutos.

Durante as Olimpíadas, muitos competidores alcançam a glória com suas vitórias fantásticas, mas após algum tempo ninguém se lembra mais quem foi o campeão, muito menos quem foi o segundo colocado. Mas incrivelmente as pessoas que estavam ali em Seattle, naquele dia, nunca mais se esqueceram daquela corrida. Por que? Pois, lá no fundo, nós sabemos que o que importa na vida não é ganhar sozinho. O que importa de verdade é ajudar os outros, para que possamos vencer todos juntos. Naquela corrida não houve apenas um vencedor, todos foram vencedores. Não venceram apenas uma corrida, venceram um dos maiores desafios do ser humano: superar seu egoísmo e sua inveja.
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Nesta semana começamos o quarto livro da Torá, Bamidbar, que descreve muitos detalhes das viagens do povo judeu durante os 40 anos no deserto. E a Parashá Bamidbar trata, entre outros assuntos, da posição de cada uma das tribos durante as viagens. A Torá nos descreve algo interessante sobre o posicionamento do povo judeu: "Cada homem, sob sua bandeira, de acordo com a insígnia da casa de seus pais" (Bamidbar 2,2). A idéia de bandeiras nos faz lembrar das torcidas de futebol ou do desfile dos países na abertura das Olimpíadas. Mas certamente não foi esta a motivação com a qual os judeus carregavam bandeiras, pois ninguém no deserto estava torcendo para nenhuma equipe. Afinal, qual o motivo de cada tribo ter uma bandeira?

Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que no momento em que D'us se revelou ao povo judeu no Monte Sinai, 220 mil anjos desceram para presenciar a entrega da Torá, todos organizados em grupos, e cada grupo identificado por uma bandeira. Os judeus, que neste momento haviam chegado a elevados níveis de profecia, puderam ver esta cena espiritual maravilhosa e imediatamente desejaram também que, durante as viagens pelo deserto, suas tribos estivessem identificadas por bandeiras. D'us escutou os pedidos e viu que o povo judeu realmente desejava viajar com bandeiras, e por isso atendeu ao pedido deles. Imediatamente ordenou a Moshé que atribuísse para cada tribo uma bandeira. Moshé escutou as ordens de D'us, mas por dentro ele sofreu e teve medo.

Deste Midrash ficam algumas perguntas. O que significa que os anjos se dividiam em grupos sob bandeiras? O que há de tão especial nisso, que fez com que o povo judeu também desejasse viajar com bandeiras? E finalmente, se viajar com bandeiras era algo positivo, e D'us pessoalmente havia concordado, por que Moshé teve medo e até mesmo sofreu por causa disso?

Explica o livro "Lekach Tov" que existe uma grande diferença entre os anjos e os seres humanos. Os anjos são seres espirituais, e por isso entre eles não existe inveja, ódio nem competição. Quando um anjo vê uma qualidade em outro anjo, ele não o inveja, ao contrário, ele o elogia e louva sua boa qualidade. É por isso que os anjos conseguem viver em uma grande união e trabalhar em grupo, afinados como uma sinfonia, como dizemos todos os dias durante a reza da manhã: "... todos (os anjos) recebem sobre si o jugo dos Céus um do outro, e dão permissão um ao outro...". Esta união verdadeira e completa dos anjos é representada por grupos que andam unidos sob uma mesma bandeira, sem competição nem desavenças. E foi essa união que o povo judeu viu e desejou atingir.

Então por que Moshé teve tanto medo? Pois para os seres humanos, que são essencialmente materiais, inveja e competição são sentimentos normais, tornando a união entre as pessoas uma meta difícil de ser atingida. Moshé achou que a divisão das tribos sob bandeiras seria mais um motivo de divisão e disputas dentro do povo judeu.

Mas a Parashá nos mostra que aconteceu exatamente o oposto do que Moshé esperava. Ninguém reclamou do posicionamento das tribos. Os que viajavam atrás não invejaram os que viajavam na frente. Os judeus da tribo de Reuven, que eram descendentes do filho primogênito de Yaacov, não reclamaram quando D'us escolheu a tribo de Yehudá para liderar o povo judeu. Todos caminhavam juntos, unidos pelo mesmo propósito. Como isso foi possível?

Quando o povo judeu teve a visão celestial de todos os anjos unidos sob bandeiras, sem competição e sem ódio, desejaram do fundo do coração chegar naquele nível. Daqui ensinam nossos sábios um grande fundamento para nossas vidas: D'us leva a pessoa pelo caminho que ela deseja seguir. Quando queremos algo de verdade, ao ponto de estarmos dispostos a abrir mão das nossas comodidades para conseguir algo, D'us nos ajuda, e mesmo o que parecia impossível se torna realidade.

Imagine uma pessoa que está cortando uma maça com a mão direita e, por acidente, faz um corte na sua mão esquerda. Se víssemos esta pessoa, tomada de fúria, pegando a faca com a mão esquerda e fazendo um corte na mão direita como vingança, o que pensaríamos dele? Que é um maluco completo! Explica o Rav Moshe Cordovero, um grande cabalista que viveu há cerca de 450 anos, que quando nos vingamos dos outros estamos fazendo exatamente a mesma coisa. Ele explica que o grande motivo de haver no mundo tanto ódio, inveja e concorrência é por que fomos enganados desde crianças na nossa forma de ver o mundo. Fomos ensinados na escola que cada um está no mundo por si só e, portanto, temos que nos esforçar para crescer, mesmo que seja necessário derrubar quem está em volta. E com esta cabeça crescemos e entramos em um mercado de trabalho onde imperam as leis da selva, de matar ou morrer. Capitalismo selvagem, o vale tudo para se dar bem na vida. Mas o Rav Moshe Cordovero ensina que isto é um grande erro, pois na verdade dentro de cada um está contida a alma das outras pessoas. Ninguém está sozinho, um pouco de cada um está dentro de nós, e um pouco de nós está em cada pessoa do mundo. Quando fazemos mal a alguém, no fundo estamos fazendo mal a nós mesmos, estamos prejudicando a nossa parte que está dentro da outra pessoa. Quando deixamos de ajudar alguém necessitado, somos nós mesmos que estamos sofrendo. Quando maltratamos alguém, é como se tivéssemos ferindo nossa própria mão.

Por isso, a única maneira de vencer a inveja e a competição é mudando o nosso foco, enxergando que não estamos neste mundo correndo sozinhos, e somente seremos vencedores quando chegarmos ao nosso objetivo todos juntos. Pois vencer uma competição é bom, mas vencer na vida é muito melhor.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm