quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O PODER DAS PALAVRAS - PARASHAT DEVARIM E TISHÁ BE AV 5779

BS"D
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PARASHAT DEVARIM E TISHÁ BE AV 5779:

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O PODER DAS PALAVRAS - PARASHAT DEVARIM E TISHÁ BE AV 5779 (09 de agosto de 2019)

 
"O Rav Isser Zalman Meltzer zt"l (Bielorússia, 1870 - Israel,1953) era um famoso Rosh Yeshivá. Certa vez, no meio de uma de suas aulas de Talmud, um dos alunos fez uma pergunta. O Rav parou por alguns instantes, pensativo. Finalmente, disse que a pergunta era tão boa que ele não tinha resposta e precisaria mudar toda a forma de explicar o assunto. O rapaz que fez a pergunta ficou orgulhoso. Porém, no final da aula, um dos rabinos da Yeshivá, que também estava presente, se aproximou do Rav Isser Zalman e questionou:
 
- Rav, me desculpe, mas naquela pergunta há uma enorme falha de lógica! Não havia absolutamente nenhuma necessidade de mudar a sua explicação!
 
- Eu sei - respondeu o Rav Isser Zalman, com um sorriso - Eu também percebi o erro. Mas quando o rapaz perguntou, eu estranhei muito, pois conheço este rapaz há muitos anos e ele nunca havia perguntado nada durante a aula. Imaginei que algo o estava pressionando a perguntar hoje. Vi então pela janela que havia um homem de pé, do lado de fora, escutando atentamente a aula. Eu nunca tinha visto aquele homem. Então eu conectei as duas informações e entendi o que estava acontecendo. Aquele rapaz provavelmente está prestes a noivar e seu futuro sogro veio até a Yeshivá para ver se ele era um bom aluno. Ao vê-lo na janela, o rapaz se sentiu pressionado e, querendo mostrar que era um bom aluno, tomou coragem e fez a pergunta.
 
- Mas o que eu poderia fazer? - concluiu o Rav Isser Zalman - Se eu o tivesse corrigido, ele teria se sentido envergonhado, seu futuro sogro teria achado que ele não era um bom aluno e possivelmente o noivado não teria acontecido. Porém, seria uma pena, pois é um excelente rapaz, de caráter incrível. Por isso, eu preferi elogiar a pergunta e mudar a forma como eu estava explicando o Talmud".
 
Enquanto algumas pessoas utilizam suas palavras para humilhar, ofender e destruir vidas, outros utilizam suas palavras para construir e trazer vida para o mundo.

Nesta semana começamos o último livro da Torá, Devarim. E a Parashat desta semana, Devarim (literalmente "Palavras") traz as palavras finais de Moshé ao povo judeu, antes de sua morte e a entrada do povo na Terra de Israel. As palavras de Moshé eram uma repreensão pelos erros cometidos pelo povo durante os 40 anos em que permaneceram no deserto. Moshé queria despertar o povo para que eles aprendessem com os erros do passado e não voltassem a cometê-los quando se deparassem com futuros testes e desafios.
 
Esta responsabilidade de aprender com os erros do passado também recai sobre nós e está relacionado com a próxima data importante no calendário judaico: Tishá Be Av, o nono dia do mês de Av, que começa no próximo Motsei Shabat (10 de agosto). Neste dia, muitas tragédias aconteceram ao povo judeu, sendo a mais marcante delas a destruição dos nossos dois Templos Sagrados. Nossos sábios explicam que toda geração que não reconstruiu o Beit Hamikdash (Templo) é considerada como se o tivesse destruído. Isto significa que, se aprendermos com os erros do passado e conseguirmos consertar estes erros, teremos o mérito de reconstruir o nosso Templo Sagrado. Mas, afinal, que erros precisamos consertar? Por que o Beit Hamikdash foi destruído?
 
O Talmud (Guitin 55b) nos ensina que "Por causa de Kamtza e Bar Kamtza foi destruída Jerusalém (e o Templo Sagrado)". O Talmud conta que um homem quis dar uma festa. Ele era amigo de Kamtza, mas era inimigo de Bar Kamtza. Seu empregado, por engano, entregou o convite a Bar Kamtza. Quando o dono da festa viu que seu inimigo estava na festa, quis expulsá-lo. Bar Kamtza estava disposto a pagar todos os gastos da festa para não ser humilhado, mas o dono não aceitou e, diante de todos os convidados, expulsou-o de forma vergonhosa. Bar Kamtza saiu revoltado, pois todos assistiram sua humilhação pública e não fizeram nada. Como vingança, ele delatou os judeus ao imperador de Roma como sendo rebeldes. A prova era que mesmo se o imperador enviasse um animal como Korban (sacrifício) para ser oferecido no Beit Hamikdash, os judeus não o ofereceriam. Para que seu plano desse certo, Bar Kamtza causou, durante o caminho para Jerusalém, um pequeno machucado no animal enviado pelo imperador. De acordo com uma opinião o machucado era na pálpebra, enquanto outra opinião sustenta que o machucado era no lábio. De acordo a Halachá, estes pequenos machucados eram considerados um "Mum" (defeito) que tornava o animal impróprio para ser oferecido, mas de acordo com as leis dos idólatras, estes pequenos machucados não impossibilitavam o animal de ser oferecido aos seus deuses. Os sábios judeus, diante daquela situação de perigo, chegaram a pensar em oferecer o animal defeituoso ou matar o Bar Kamtza para que ele não voltasse com o animal para Roma, mas desistiram destas ideias. No final, Bar Kamtza voltou ao imperador que, furioso, enviou um general para iniciar a destruição.
 
Escutamos muitas vezes esta famosa história, porém não prestamos atenção aos detalhes dela. Por exemplo, está escrito que por causa de Kamtza e Bar Kamtza Jerusalém foi destruída. Entendemos que Bar Kamtza foi responsabilizado, mas por que Kamtza também foi considerado culpado? Ele nem mesmo foi na festa!
 
Além disso, por que um pequeno machucado na boca e no olho de um animal é considerado defeito de acordo com a Lei judaica, impossibilitando seu oferecimento, mas de acordo com os idólatras isto não é um defeito?
 
Finalmente, os sábios pensaram em várias maneiras de como evitar problemas com o imperador, inclusive matar Bar Kamtza. Mas por que não pensaram na ideia mais óbvia, que era mandar um grupo de sábios ao imperador para mostrar que, de acordo com a Halachá, era proibido oferecer um animal com aqueles pequenos defeitos e, portanto, não era um ato de desrespeito ao imperador? Será que os romanos não entenderiam?
 
Explica o Rav Shlomo Levenstein que a palavra "Bar", em hebraico, significa "filho". De acordo com esta explicação, Kamtza era o pai de Bar Kamtza. Por isso, Kamtza também foi responsabilizado, pois se ele estivesse presente na festa, certamente seu filho não teria sido humilhado em público.
 
Porém, Kamtza não foi à festa pois não recebeu o convite. Então por que ele foi responsabilizado? Qual foi o seu erro? O Talmud afirma que o dono da festa era amigo de Kamtza. Então, mesmo sem convite, ele deveria ter ido. Kamtza deveria ter entendido que não havia recebido o convite por algum problema técnico, como realmente aconteceu. Ele deveria ter imaginado que seu convite havia sido extraviado, mas que certamente seu amigo queria sua presença na festa. Então por que ele não foi? Por uma característica chamada "Tzarut Ain", que literalmente é traduzido como "olho estreito", mas que significa ser mesquinho. Como Kamtza não havia recebido seu convite das mãos de um mordomo carregando uma bandeja de prata, ele não foi na festa.
 
De acordo com a Torá, o "Tzarut Ain" é um enorme defeito. E não era apenas Kamtza tropeçou neste erro, naquela época muitas pessoas se comportavam de forma mesquinha. Por exemplo, as pessoas que estavam na festa não fizeram nada para diminuir a humilhação de Bar Kamtza. Cada um estava preocupado com seus próprios problemas e interesses. Por isso, para o povo judeu, um pequeno machucado no olho de um animal é considerado um "Mum" (defeito), pois um judeu deve se afastar do "Tsarut Ain".
 
Os romanos, ao contrário, criaram o culto ao corpo. O importante não eram os traços de caráter, e sim os atributos físicos. Aqueles que eram fortes na luta ou sabiam correr eram glorificados. Hoje temos o mesmo fenômeno, observado na "idolatria" dos jogadores de futebol, cantores e atores. O importante não é o caráter, é ser bonito, alto e forte. Por isso, para os romanos, o machucado no olho não significava nada. Ser mesquinho era normal e aceitável.
 
Também a Torá é muito rigorosa com o uso da nossa boca. D'us nos deu o dom da fala para que pudéssemos nos tornar sócios na Criação do mundo. Quando usamos a fala para estudar Torá, para incentivar e elogiar uma pessoa ou para consolar alguém triste, estamos cumprindo o nosso propósito e construindo mundos espirituais. Para o judaísmo, importa muito se a pessoa tem uma "boa boca". Por isso, até mesmo um pequeno machucado no lábio de um animal é considerado um "Mum" (defeito).
 
Porém, para os romanos, não havia preocupação nem cuidado com a boca. As pessoas, até hoje, pouco se importam de falar informações que podem denegrir e manchar a honra dos outros. Programas de televisão e revistas se especializam em fofocas. As pessoas até pagam por este tipo de informação. Por isso, para os romanos, o machucado na boca não significava nada. Falar mal dos outros e humilhar era normal e aceitável.
 
Se os sábios judeus fossem dizer ao imperador que o machucado na boca e no olho deixavam os nossos animais impróprios, isto significaria transmitir que vivemos com mais valores do que eles, o que seria uma ofensa. Ao invés de ser uma justificativa, seria uma prova da rebeldia dos judeus e, portanto, não era uma possibilidade.
 
Se queremos ter o nosso Beit HaMikdash de volta, devemos cuidar do nosso olho e da nossa boca. São ferramentas preciosas que D'us nos deu, e que podemos utilizá-las para construir. Cada vez que uma pessoa impede sua boca de pronunciar Lashon Hará (maledicência), ela deposita um tijolo na construção do nosso Beit Hamikdash. Cada vez que a pessoa sente empatia pelos outros e olha as situações de forma positiva, ela contribui para o fim dos sofrimentos do povo judeu. O olho e a boca, quando "machucados" são um "Mum" (defeito), mas o olho e a boca "consertados" podem ser a chave para a construção de um mundo melhor.
 

SHABAT SHALOM E TZOM KAL (UM JEJUM LEVE)

R' Efraim Birbojm

Este E-mail é dedicado à Refua Shlema (pronta recuperação) de: Chana bat Rachel, Pessach ben Sima, Rachel bat Luna, Eliahu ben Esther, Moshe ben Feigue, Laila bat Sara, Eliezer ben Shoshana, Mache bat Beile Guice, Feiga Bassi Bat Ania, Mara bat Chana Mirel, Dina bat Celde, Celde bat Lea.
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Ben Tzion (Benjamin) ben Shie Z"L e Frade (Fany) bat Efraim Z"L, que lutaram toda a vida para manter acesa a luz do judaísmo, principalmente na comunidade judaica de Santos. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L. Que possa ter um merecido descanso eterno.
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