quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIEHI 5769

BS"D

APENAS UM PEQUENO FURO - PARASHÁ VAIEHI 5769 (09 de janeiro de 2009)

"Havia um homem muito rico, dono de um castelo com vários andares. Certo dia chegou um visitante, um homem estranho e sombrio. Ele ofereceu comprar o castelo inteiro por R$ 500,00. O dono do castelo riu com a proposta, com a certeza de que aquele homem era um grande tolo. Querendo se divertir às custas dele, o dono do castelo falou que por aquela quantia poderia vender um metro quadrado do jardim. O homem estranho aceitou, mas exigiu que a venda fosse oficializada através de um contrato. O dono do castelo riu da ingenuidade daquele tolo, afinal, o que ele faria com um metro quadrado de jardim? A venda foi feita e formalizada em um contrato.

No dia seguinte, o homem estranho chegou cedo e deixou uma caixa no seu pedaço de jardim. Da caixa começou a exalar um cheiro terrível, que incomodou o dono do castelo. Imediatamente ele foi exigir que o homem retirasse aquela caixa de sua propriedade, mas o homem mostrou o contrato de venda e informou que, já que aquele metro quadrado era sua propriedade, podia fazer o que quisesse. O dono tentou recomprar aquele metro quadrado, ofereceu até dez vezes mais, porém o homem não quis conversa.

O cheiro ficou tão forte que o dono do castelo e sua família tiveram que se mudar para o segundo andar. Com o passar dos dias também o segundo andar ficou inabitável e eles tiveram que se mudar para o terceiro andar. E assim foi até que finalmente o dono e sua família tiveram que abandonar o castelo. No final, aquele homem sombrio ficou com todo o castelo, por causa da venda de um mísero metro quadrado de jardim. O dono então entendeu que na verdade o homem estranho não tinha nada de tolo, era muito esperto. O tolo, o tempo todo, havia sido ele mesmo"

Assim também é o nosso Yetzer Hará (má-inclinação). Ele sabe que não é fácil nos convencer a fazer grandes transgressões. Então tudo o que ele nos pede é apenas uma pequena abertura, e quando nos damos conta, perdemos tudo...
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Na Parashá desta semana, Vaiehi, Yaacov reuniu todos os seus filhos para abençoá-los antes de sua morte. Yaacov também fez com que Yossef jurasse que não o enterraria no Egito, e sim na Mearat Hamachpelá, na terra de Israel, junto com Avraham e Itzchak. Ele insistiu para que Yossef jurasse pois sabia que o faraó se sentiria insultado por Yaacov ser enterrado em Israel, após toda a generosa hospitalidade que os egípcios haviam oferecido. Ser enterrado em Israel significava que, apesar de morarem no Egito, eles não se consideravam egípcios, e portanto sabia que o faraó não permitiria facilmente.

E realmente foi o que aconteceu, o faraó se irritou quando Yossef informou que queria enterrar Yaacov em Israel, e não quis permitir. Quando Yossef viu que não conseguiria convencê-lo com nenhum argumento, contou ao faraó que não tinha escolha pois havia feito um juramento ao seu pai. O Midrash (parte da Torá Oral) conta que o faraó ainda insistiu para Yossef juntar sábios judeus e cancelar o juramento (o que, segundo a lei judaica, é permitido em certos casos). Yossef disse ao faraó que se cancelasse este juramento, também acabaria cancelando um outro juramento que havia feito alguns anos antes, no qual se comprometera a não revelar um grande segredo do faraó. Ao escutar estas palavras o faraó finalmente permitiu que Yaacov fosse enterrado em Israel. Mas deste Midrash surgem duas grandes perguntas: de que juramento Yossef estava falando? E além disso, como Yossef se dirigiu ao faraó, o homem mais poderoso do Egito, com tamanha prepotência, chantageando-o e ameaçando revelar seus segredos caso não aceitasse seu pedido?

Quando o faraó quis colocar Yossef na posição de vice-rei, muitos egípcios foram contra, pois ele era apenas um escravo. O faraó então mostrou que Yossef vinha de uma linhagem nobre e, como ele, sabia falar 70 idiomas, como exigia a lei egípcia para que um homem se tornasse governante. Porém, durante o teste ao qual Yossef foi submetido, o faraó descobriu que Yossef falava um idioma a mais do que ele, o Lashon Hakodesh (língua com a qual D'us escreveu a Torá e criou o mundo). O faraó, envergonhado e com medo que o povo egípcio descobrisse que o deus deles era limitado, fez Yossef jurar que nunca revelaria isso para ninguém.

Nos ensina o livro Messilat Yesharim (Caminho dos justos) que o Yetzer Hará, nosso mal instinto, é profissional em todos os tipos de guerra e sabe exatamente como lutar conosco. Ele sabe que batendo de frente não consegue nos enganar e nos fazer cometer transgressões graves. Então sua tática é ir abrindo pequenas brechas. Ele é como um cachorro, diante de uma porta bem fechada não pode fazer nada, mas uma pequena fresta é suficiente para que consiga empurrar a porta até entrar. Portanto, Yossef não estava sendo prepotente nem estava chantageando o faraó, ele estava apenas ensinando uma lei espiritual. Enquanto ele nunca havia cancelado nenhum juramento, é como se a porta estivesse fechada. Mas a partir do momento em que ele abrisse uma brecha, cancelando um juramento, seria muito mais fácil chegar a cancelar outros juramentos também.

Vimos esta lei se aplicando durante toda a história do povo judeu. Muitos consideram o judaísmo como sendo "extremista" por conter muitas leis. Porém, são justamente estas leis que mantém o judaísmo vivo por mais de 3.000 anos. Se olharmos nosso passado, perceberemos que todos os movimentos de assimilação do povo judeu começaram com pequenas mudanças. No mais recente, Moshe Mendelsohn, criador do Reformismo, queria apenas "tirar o peso" do judaísmo. Qual foi a consequência das "pequenas" mudanças que ele implantou, sob o lema de "seja um bom judeu em casa, mas um bom alemão na rua"? Seu neto, Félix Mendelsohn, compositor da Marcha Nupcial, não era mais judeu.

Esta lei espiritual também se aplica na vida de cada um de nós. Nenhuma transgressão começa maior do que pequenos delitos. Grandes desvios começaram com pequenas atitudes erradas. Muitas vezes damos pouco valor para pequenos maus atos que cometemos, mas podem ser a abertura para o Yetzer Hará. É como se abríssemos um buraco em uma garrafa, por mais insignificante que pareça, se não for consertado, mais cedo ou mais tarde toda a água se esvaziará. Portanto temos que prestar atenção mesmo às menores transgressões, pois no final serão os detalhes que terão feito toda a diferença.

Shabat Shalom

Rav Efraim Birbojm