sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ MIKETZ E CHÁNUKA II 5769

BS"D

BUSCANDO O CULPADO PELOS SOFRIMENTOS – PARASHÁ MIKETZ E CHÁNUKA II 5769

"Durante a reunião anual dos alces, o tema principal era a preocupação com os crescentes ataques de leões. Eles estavam buscando uma solução, pois em campo aberto o alce corre muito mais do que o leão. Porém, dentro das florestas eram facilmente alcançados, pois os galhos das árvores se enroscavam nos seus chifres, fazendo com que virassem presas fáceis.

Surgiu então uma idéia: destruir todas as florestas da região. Assim, somente restariam campos abertos e os alces sempre levariam vantagem. A idéia foi prontamente aceita pela maioria e muito festejada. No meio de toda a comemoração levantou-se um alce idoso e falou:

- Vocês são muito jovens, não conhecem a natureza e por isso não percebem o quanto essa idéia é tola. Quando terminarem de destruir a primeira floresta e partirem para a segunda, a primeira começará a crescer de novo. Quando forem destruir a terceira, a primeira já estará praticamente restabelecida, e assim por diante. Todo o trabalho executado será em vão.

Esta intervenção gerou uma grande bagunça, todos os alces começaram a gritar e a falar ao mesmo tempo. Novamente o alce idoso pediu a palavra:

- Eu não vim apenas trazer um problema, eu vim trazer a solução. Ao invés de cortar as florestas que nos atrapalham, porque não cortamos a fonte de todo o problema: os nossos próprios chifres?"

Buscamos sempre os culpados por todos os nossos problemas, ao invés de procurar a fonte de todas as dificuldades no lugar correto: em nós mesmos. Se prestarmos atenção, a grande maioria dos buracos onde caímos foram cavados por nós mesmos.
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Na véspera deste Shabat acenderemos a sexta vela de Chánuka. Ao acender as velas estamos revivendo o milagre que ocorreu durante o domínio grego, na época do Segundo Beit Hamikdash (Templo Sagrado). Os gregos, a maior potência militar da época, haviam conquistado Jerusalém e impurificado o Beit-Hamikdash. Quando os judeus reconquistaram Jerusalém e o Templo em uma heróica e milagrosa batalha, foram reacender a Menorá, mas havia sobrado apenas um pote de óleo puro. Um milagre aconteceu e o óleo durou por oito dias, tempo suficiente para que fosse produzido mais óleo puro. A Parashá desta semana, Miketz, sempre coincide com a festa de Chánuka. Qual a conexão entre as duas? E por que mencionamos e revivemos tanto o milagre do óleo, enquanto o milagre da batalha não é tão mencionado?

Na Parashá Miketz, Yossef foi elevado a vice-rei do Egito após interpretar os sonhos do faraó. Após sua ascensão ao trono, passaram-se sete anos de muita abundância no Egito e logo depois uma grande fome assolou o mundo inteiro. Yossef, que havia visto nos sonhos do faraó um prenúncio desta seca após os anos de abundância, armazenou uma grande quantidade de comida, suficiente para alimentar todo o povo durante os anos de escassez. A seca atingiu também a terra de Israel, obrigando os irmãos de Yossef a descem ao Egito em busca de comida. Yossef logo reconheceu seus irmãos, mas eles não o reconheceram, pois no momento em que eles o venderam como escravo, 22 anos antes, Yossef era apenas um jovem de 17 anos. Yossef fez seus irmãos passarem por vários testes e os tratou de forma dura, para ter certeza de que estavam arrependidos por terem-no vendido como escravo.

Mas algo nos chama a atenção sobre o comportamento dos irmãos no momento em que passavam pelos testes e sofrimentos. Eles poderiam ter colocado a culpa dos sofrimentos no malvado vice-rei do Egito, que os tratava muito mal sem nenhum motivo. Eles poderiam achar que era tudo uma grande coincidência, um grande azar. Eles poderiam ter reclamado e se queixado contra D'us. Mas em nenhum momento eles reclamaram de D'us ou acharam que D'us estava sendo injusto, nem procuraram em quem colocar a culpa. Durante todos os testes e sofrimentos, a primeira atitude que eles tiveram foi refletir e tentar entender qual era o erro que eles poderiam ter cometido que havia causado, como consequência, aqueles sofrimentos, como está escrito: "E então um disse para o outro: 'Pois nós somos culpados pelo que passou com nosso irmão, pois vimos o seu terrível sofrimento quando ele nos implorou por sua vida, e nós não demos ouvidos. É por isso que este sofrimento recaiu sobre nós' " (Bereshit 42:21). Os irmãos de Yossef eram Tzadikim (justos), sabiam que não existia acaso, sabiam que por trás de cada sofrimento está a mão perfeita e justa de D'us. Por isso imediatamente procuraram o motivo pelo qual estavam sendo punidos, para poderem se arrepender e consertar o erro.

Este fundamento foi o que também salvou a vida dos judeus durante a dominação grega. Quando os gregos invadiram Jerusalém e conquistaram o Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), os judeus poderiam ter se resignado a reclamar de D'us ou colocar a culpa nos tiranos gregos que enfernizavam suas vidas. Mas eles não fizeram isso, eles pararam para refletir e tentar entender o porquê daqueles sofrimentos. Se D'us havia ordenado a construção do Beit-Hamikdash, por que havia permitido que os gregos o conquistassem e o impurificassem? Eles entenderam que certamente não estavam fazendo o serviço do Beit-Hamikdash da maneira correta, algo estava faltando. Refletiram e viram que, apesar de realizarem todo o serviço, o faziam com preguiça e desânimo, como se fosse um grande peso. D'us então os puniu, Midá Kenegued Midá (medida por medida), fazendo com que fossem proibidos de realizar qualquer serviço no Beit-Hamikdash.

O povo judeu entendeu o recado de D'us, fizeram Teshuvá (retornaram aos caminhos corretos) e decidiram arriscar suas vidas para ter de volta o Beit-Hamikdash. Quando venceram a batalha e expulsaram os gregos, os judeus estavam espiritualmente impuros por terem entrado em contato com mortos, e por isso teriam que esperar 7 dias para poderem produzir óleo em um estado de pureza. Mesmo que a Halachá (lei judaica) permitia que um óleo impuro fosse utilizado, já que a maioria do povo judeu estava em um estado de impureza, mesmo assim os judeu decidiram fazer mais do que lhes era exigido. Quando os judeus mostraram para D'us que estavam realmente arrependidos e que voltariam a fazer o serviço do Beit-Hamikdash com alegria, Ele fez a Sua parte, mantendo acesa a Menorá por 8 dias consecutivos, até que um novo óleo puro pôde ser produzido.

O milagre do óleo não foi somente para manter a Menorá acesa, foi uma forma de D'us nos mostrar que Ele havia nos perdoado. Apesar do milagre da batalha ter sido muito grande, o milagre do óleo ocorre até hoje, isto é, o milagre de, apesar de muitas vezes apenas fazermos Teshuvá por causa dos sofrimentos que recebemos, mesmo assim D'us nos recebe de volta de braços abertos.

Nossos sábios explicam que estamos vivendo na geração que precede a vinda do Mashiach. Ensina o Rav Tauber, em seu livro "Os dias estão chegando", que o Talmud traz 15 sinais para identificar a época da vinda do Mashiach, e que a maioria dos sinais estão se cumprindo nos nossos dias. Um dos sinais é que a face desta geração será igual à face de um cachorro. O que isto significa? Quando batemos em um cachorro com um bastão, ele imediatamente ataca o bastão, porque não consegue entender que existe alguém por trás que está comandando o bastão. Ele vê o bastão como o motivo de seu sofrimento e o ataca. Exatamente assim se comporta a nossa geração. Quando passamos por sofrimentos e dificuldades, a primeira coisa que fazemos é procurar os culpados ou achar que tudo foi um acaso, um azar. Os culpados são os palestinos, é o Hamas, é o presidente do Irã. As tragédias naturais, como as chuvas em Santa Catarina, que mataram mais de 100 pessoas e deixaram milhares de desabrigados, são apenas desequilíbrios na natureza. Esquecemos que D'us está por trás de tudo isso, nos chamando a atenção, nos despertando.

Nos ensina Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens: "Não há Tzadik no mundo que faz o bem e não erra". Todos cometemos erros, todos caímos de vez em quando. D'us, por amos aos Seus filhos, nos manda avisos quando erramos. Podemos reviver todos os dias da nossa vida o milagre do óleo, sabendo escutar os sinais que D'us nos manda para podermos consertar nosso atos, ou podemos escolher viver como os gregos, achando que todos os sofrimentos e dificuldades são apenas uma grande coincidência.

"Se eu não tivesse caído, não teria me levantado. Se eu não tivesse sentado na escuridão, não teria trazido sobre mim a luz" (Midrash Tehilim)

SHABAT SHALOM E CHÁNUKA SAMEACH

Rav Efraim Birbojm