Nesta semana lemos a Parashá Tetzavê (literalmente "Ordene"), que traz dois assuntos principais: a preparação do azeite que seria utilizado para o acendimento diário da Menorá e a descrição das roupas esplendorosas que o Cohen Gadol utilizava em seu Serviço no Beit Hamikdash, como o "Choshen", um peitoral feito com lã, ouro e pedras preciosas, o "Tsits", uma tiara de ouro que continha o nome de D'us, e o "Meil", uma túnica de lã azul celeste com pequenos sinos de ouro e romãs de lã colorida. Assim começa a nossa Parashá: "Você (Moshé) deve ordenar a Israel que lhe tragam azeite de oliva puro, prensado à mão, para iluminação, para acender a Menorá constantemente" (Shemot 27:20). Daquele dia em diante, a Menorá de sete braços colocada no Mishkan se tornaria um símbolo para o povo judeu. Mas este utensílio do Mishkan, a Menorá, desperta alguns questionamentos. Em primeiro lugar, se a Menorá era um elemento essencial dentro do Mishkan, e deveria ser continuamente acesa, certamente sua existência deve carregar uma forte mensagem para as futuras gerações. Qual é esta mensagem? Além disso, sabemos que existem muitos tipos de combustível que podem ser utilizados para acender um fogo. Por que a D'us escolheu justamente o azeite de oliva? E, finalmente, por que o azeite da Menorá precisava ser tão puro, enquanto o azeite utilizado em outros serviços não tinha esta rigorosidade? Explica o Rav Noach Weinberg zt"l (EUA, 1930 - Israel, 2009) que as características do azeite trazem vários ensinamentos para as nossas vidas. Em primeiro lugar, a Torá comandou que as azeitonas fossem esmagadas manualmente, para que delas fosse extraído um líquido puro que poderia ser utilizado como combustível. Similarmente, a essência do povo judeu é pura. Porém, há um Yetser Hará, nosso mau instinto, que nos envolve como uma casca e nos impede de servirmos D'us da maneira correta. Uma vez que esta casca exterior é removida, através da pressão externa, a nossa verdadeira natureza espiritual de Kedushá volta a brilhar. Fomos expulsos de praticamente todos os países da Europa. Fomos perseguidos, torturados e massacrados durante toda a nossa história. Mesmo em nossa casa, a terra de Israel, somos atacados de forma covarde, com atentados terroristas e ataques com misseis apontados para alvos civis. Porém, são justamente todas estas dificuldades que nos trazem de volta aos caminhos de espiritualidade. O povo judeu purifica seus corações e retornam a D'us. Além disso, o azeite, quando colocado junto com outros líquidos, como a água, não se mistura nem desaparece, mas mantém sua essência. Isto é algo muito simbólico do povo judeu. Podemos estar dispersos, espalhados nos quatro cantos do mundo, mas continuamos sendo um povo único e especial. Mesmo quando estamos imersos em uma cultura estrangeira, conservamos nossas qualidades essenciais, às vezes apenas em pequenos detalhes, mas sempre perceptíveis. É o que ocorreu na própria formação do povo judeu no exílio egípcio, quando, apesar da assimilação, mantivemos nossos nomes, nossa língua e nossas vestimentas. Há também outro detalhe do azeite que traz consigo um precioso ensinamento para nossas vidas. Para o azeite utilizado na Menorá, apenas a primeira gota poderia ser utilizada. A extração desta gota, um azeite extra virgem, era feita através de um pilão manual. Depois disso, a azeitona era colocada em uma grande prensa e o restante do seu azeite era extraído. Este segundo azeite já não poderia mais ser utilizado para o acendimento da Menorá, mas poderia ser utilizado em outros Serviços do Mishkan, como o Korban de Minchá, que consistia em uma oferenda de farinha e azeite. O que isto nos ensina? Normalmente um judeu que cumpre as Mitzvót da Torá é extremamente cuidadoso para que sua família consuma apenas alimentos que são Kasher e procura os melhores "Hechsherim" (certificados de Kashrut). Porém, esta mesma pessoa acaba não se preocupando tanto se a "comida para o intelecto" que entra em sua casa, através das mídias, computadores e celulares, também é Kasher. É isso o que a Torá está nos ensinando, pois a Menorá, que representa o nosso intelecto, só pode ser alimentada com o azeite mais puro e refinado, sendo muito superior ao azeite usado no Korban de Minchá. Portanto, devemos filtrar todas as informações que entram em nossas casas, principalmente as que são acessadas pelos nossos filhos, para que possamos garantir que, quando eles crescerem, possam ter a pureza e o brilho da Menorá. Há um último ensinamento interessante relacionado à luz da Menorá. Diz Shlomo Hamelech, o mais sábio de todos os homens: "Ner Mitzvá VeTorá Or" (A Mitzvá é uma vela e a Torá é luz) (Mishlei 6:23). Mas o que significa esta comparação, que a Mitzvá é como uma vela, mas que a Torá é como uma luz? Muitas vezes, quando temos a oportunidade de cumprir uma Mitzvá, nos veem à cabeça todas as razões pelas quais seria difícil cumpri-la: o tempo envolvido, os custos, a falta de vontade de se esforçar, entre outras. Mas Shlomo Hamelech está nos dizendo que a oportunidade de fazer uma Mitzvá é como a chama de uma vela. Pode-se usá-la para acender uma vela após a outra, e mesmo assim a chama original permanece intacta, sem perder nada. Da mesma maneira, nunca perdemos nada cumprindo uma Mitzvá, e seus méritos ficam guardados para sempre. Quando nos esforçamos para fazer um ato de bondade e doamos um pouco de nós mesmos, D'us não coloca obstáculos em nosso caminho. Ele nos guia para que um bom ato possa nos levar a outro bom ato, como ensinam nossos sábios: "Uma Mitzvá traz outra Mitzvá" (Pirkei Avót 4:2). A sabedoria da nossa Torá é o guia de moralidade que nos foi ordenado ensinar ao mundo todo, como disse o profeta "E as nações caminharão sob a tua luz" (Yeshayahu 60:3). Como uma luz, a Torá ilumina o caminho certo para o povo judeu. Sem ela, nossas vidas permanecem obscurecidas. No entanto, não é suficiente nos iluminarmos com a luz da Torá apenas em nossas próprias casas. Temos a importante missão, que herdamos de Avraham Avinu, de espalhar a luz da Torá para todos os lugares. Quando ajudamos os outros, dedicando nosso tempo e nosso esforço, não perdemos nada, pois a luz da Torá nunca diminui, não importa quantas pessoas se beneficiem dela. Ensina o Talmud (Sotá 21a) que da mesma forma que uma vela não protege uma pessoa com sua luz de forma permanente, mas apenas temporariamente, somente enquanto a vela está acesa em sua mão, também uma Mitzvá protege espiritualmente uma pessoa apenas temporariamente, ou seja, enquanto a pessoa está cumprindo a Mitzvá. Mas a Torá é comparada como uma luz, isto é, sua proteção é permanente e constante, mesmo quando a pessoa não está estudando. A Menorá é nosso símbolo como um povo e um sinal da nossa missão. Enquanto nós, como o azeite, mantivermos nossas qualidades especiais, sem nos assimilarmos, teremos a capacidade de cumprir as Mitzvót e seremos uma luz para as nações, conforme D'us nos ordenou: "para acender a Menorá constantemente". É o nosso desafio diário. Em uma época de tanta escuridão espiritual, com a Torá podemos ser uma grande luz na vida das pessoas à nossa volta. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |