Nesta semana lemos a Parashá Ki Tetsê (literalmente "Quando você sair"), que traz muitas Mitzvót na área de "Bein Adam Lehaveiro" (entre a pessoa e seu companheiro), nos ensinando que a perfeição somente pode ser alcançada quando conseguirmos atingir um equilíbrio também nesta área. Por exemplo, a Parashá nos ensina a ajudarmos a levantar um animal caído, a devolver objetos perdidos, a deixarmos partes do campo para que os pobres possam vir recolher e a consideração pelas viúvas e órfãos. Um dos assuntos iniciais da Parashá é extremamente atual e importante. A Torá nos instrui como lidarmos apropriadamente com um "Ben Sorer Umore", um filho rebelde, que não escuta seus pais e se afunda em vícios. De acordo com a Torá, caso uma criança se enquadrasse em todos os critérios exigidos para ser rotulada como "Ben Sorer Umore", ela precisaria ser executada, como está escrito: "Quando uma pessoa tiver um filho rebelde, que não escuta a voz do seu pai e a voz da sua mãe. Eles o disciplinam, mas ele não escuta... E dirão (os pais) aos anciãos da cidade: "Este nosso filho rebelde não escuta nossas vozes. Ele é um glutão e um beberrão. E o apedrejarão todos os habitantes da sua cidade" (Devarim 21:18-21). O Talmud (Sanhedrin 71a) afirma que, devido aos muitos requisitos necessários, a ocorrência de um "Ben Sorer Umore" é impossível. Surge então uma grande pergunta: por que a Torá precisou nos ensinar esta Mitzá, se ela nunca será aplicada na prática? Responde o Talmud que, apesar de nunca ter havido um caso na prática, o tema do "Ben Sorer Umore" foi registrado na Torá para estudarmos e recebermos recompensa. Mesmo que nunca tenha havido um filho rebelde, podemos aprender muito sobre como criar filhos ao estudar de forma cuidadosa a descrição da Torá sobre o filho rebelde. Ao estudarmos os fatores que levaram os pais a criarem um filho tão problemático, a ponto de ser uma bondade matá-lo enquanto ele ainda é inocente e não cometeu os crimes hediondos para os quais estava se encaminhando, podemos aprender a fazer o oposto com nossos próprios filhos. Explica o Rav Zev Leff que, antes de tudo, deve estar claro para nós que não existem regras infalíveis de educação, que se apliquem a todas as crianças em todos os momentos. O Midrash diz que é mais fácil criar oliveiras na Galiléia, onde o solo e o clima não são propícios ao cultivo de oliveiras, do que criar um filho na Terra de Israel, mesmo que a Terra de Israel seja propícia para uma educação adequada, visto que a própria atmosfera ajuda a injetar na pessoa sabedoria e santidade. As crianças não são objetos que podem ser modelados de acordo com a nossa vontade, mas sim seres humanos, que têm sua livre escolha e podem rejeitar, se assim escolherem, até mesmo a melhor educação. O máximo que um pai pode fazer é colocar as palavras da Torá no coração da criança, através de ensinamentos e exemplos pessoais, para que, quando o coração da criança se abrir, a Torá encontrada nela penetre em seu coração. Há seis pontos importantes que podemos aprender das leis do "Ben Sorer Umore" e aplicar na educação dos nossos filhos. O primeiro ponto é que a lei do filho rebelde é aplicável apenas durante os três primeiros meses após completar 13 anos, ou seja, no início da idade adulta. Isso aponta para a importância de uma base adequada na educação das crianças, a raiz e o fundamento de sua vida futura, como ensinam nossos sábios: "Aquele que estuda a Torá quando criança, a que pode ser comparado? A uma tinta escrita em um papel novo" (Avót 4:25). Assim como a tinta é prontamente absorvida pelo papel novo, a Torá que a pessoa aprendeu quando jovem se transforma em parte de sua essência. Devemos colocar uma criança no caminho correto antes que ela escolha o caminho errado por conta própria. O início adequado é crucial, pois forma as raízes. Qualquer defeito na raiz se manifestará de forma muito mais marcante no crescimento futuro. Raízes fortes, no entanto, garantem uma planta saudável. Um segundo ponto é que a Torá descreve o filho rebelde como alguém que não dá ouvidos à voz ("kol") de seu pai e de sua mãe. O Rav Yehuda Loew zt"l (Polônia, 1525 - República Checa, 1609), mais conhecido como Maharal de Praga, aponta que a linguagem "kol" denota tanto uma voz quanto um ruído, isto é, não necessariamente se trata de um som compreensível. Isso significa que o filho rebelde ouve seus pais quando suas palavras fazem sentido para ele, mas quando as diretrizes apresentadas pelos pais não são compreendidas, ele as ignora. Isso nos ensina que uma criança deve ser ensinada a confiar nas instruções de seus pais, entendendo o desejo e a capacidade deles em guiá-la no caminho adequado, mesmo quando ela não compreende a sabedoria por trás das instruções. Embora um pai deva tentar explicar à criança as razões de suas orientações, a criança deve ser ensinada que, no final, quer ela entenda ou não, ela deve aceitar a autoridade de seus pais. Um terceiro ponto é que o Talmud aprende com a frase "não escuta nossas vozes" que, para ser considerado um filho rebelde, ambos os pais devem ter vozes semelhantes. A orientação de ambos os pais deve refletir os mesmos valores e eles devem ser consistentes em suas instruções. Se os pais não falam com uma só voz, então o filho não pode ser considerado rebelde, já que a culpa por seu mau comportamento não é só dele, também é dos pais. Um quarto ponto é que os pais devem apontar para o filho e dizer: "este nosso filho". Se os pais são cegos e, portanto, incapazes de apontá-lo, o filho não pode ser considerado um filho rebelde. A exigência de que os pais sejam capazes de enxergar sugere a necessidade de os pais verem cada filho como um indivíduo, com dons e necessidades singulares, que devem ser educados de acordo com sua personalidade única e individual. Se os pais não enxergam a individualidade da criança e a educam de acordo com uma fórmula predeterminada, a criança também não pode ser totalmente culpada pelos seus desvios de conduta. Um quinto ponto é que, de acordo com o Talmud, para ser classificado como filho rebelde, a criança deve roubar dinheiro de seus pais para comer e beber como um glutão e beberrão. Essa conduta mostra uma visão distorcida. O glutão e beberrão faz dos prazeres deste mundo seu único objetivo, em vez de ver este mundo como um lugar de preparação para a vida espiritual eterna. A Torá não diz que ele consumiu comidas que não eram kasher. Isto quer dizer que não é suficiente ensinar a uma criança que ela só pode comer comida kasher. Ela também deve entender os motivos das Mitzvót, para que não se torne um judeu que apenas cumpre as Mitzvót de forma mecânica, sem entendimento e sem emoção. Além disso, a criança deve aprender noções de limite, pois devemos saber nos controlar mesmo dentro do que é permitido. Finalmente, o sexto ponto é que, de acordo com o Talmud, o filho rebelde deve ser morto agora pois, caso continue no mesmo caminho, acabará se tornando um ladrão e assassino. Ele é morto pelo seu próprio benefício, para que morra inocente e não culpado, e não perca sua parte no Mundo Vindouro. Com isso aprendemos a lição mais importante na educação dos nossos filhos. Um pai deve se concentrar na alma de seu filho e em seu status eterno ainda mais intensamente do que em seu bem-estar físico. Que pai pensaria em expor seu filho a uma chance mínima de contrair uma doença séria? Muito mais um pai deve proteger seu filho de um ambiente que pode exercer influências espirituais negativas. Se nos preocupamos com a capacidade de nossos filhos de garantirem seu sustento físico, muito mais devemos nos preocupar com seu sustento espiritual eterno. Não há maior mérito para o Dia do Juízo do que ter criado um filho adequadamente. O Zohar nos ensina que quando um indivíduo aparece perante a Corte Celestial, após 120 anos, D'us pergunta se ele educou seus filhos adequadamente. Se a resposta for afirmativa, D'us se recusa a aceitar qualquer outro testemunho contra ele, pois o mérito de guiar seus filhos adequadamente ofusca todo o resto. Que possamos aprender as lições profundas contidas na discussão da Torá sobre o "Ben Sorer Umore", para que tenhamos o mérito de criar nossos filhos totalmente conectados com os bons caminhos da Torá e das Mitzvót. Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |