sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIEHI 5770

BS"D

BILHETE PREMIADO - PARASHÁ VAIEHI 5770 (01 de janeiro de 2010)

"Entre as retrospectivas do ano de 2009, uma notícia interessante chamou a atenção do mundo. Em maio, uma estudante da Austrália, preocupada com a difícil situação financeira dos seus pai, revirou suas gavetas até encontrar um antigo bilhete de loteria que ela tinha guardado havia 10 meses mas ainda não tinha conferido o resultado. Na esperança de talvez receber algum dinheiro que pudesse ajudar os pais, ela levou o bilhete à casa lotérica e quase teve um ataque. O funcionário da casa lotérica informou que ela havia acertado sozinha uma loteria acumulada e receberia um prêmio de 13 milhões de dólares australianos (cerca de 20 milhões de reais).

A casa lotérica vinha há vários meses fazendo uma campanha para encontrar o dono do bilhete premiado. As pessoas estavam intrigadas com o misterioso vencedor que não aparecia para receber seu prêmio. Será que a pessoa não sabia que havia se tornado milionária do dia para a noite?

O mais interessante é que a estudante encontrou o bilhete depois de 10 meses, e segundo as regras da loteria australiana Lotterywest, os contemplado tem o prazo máximo de 12 meses para retirar o prêmio, e depois disso o bilhete expirara e o prêmio volta a ser sorteado. Mais 2 meses e ela teria perdido seus 20 milhões de reais.

A estudante mora na cidade costeira de Perth. Ela havia recebido o bilhete em 22 de julho de 2008, como um presente de seu pai. Ela conta que no dia em que levou o bilhete à casa lotérica, havia acordado preocupada com as finanças da família. Disse ainda que alguma coisa a levou a procurar e checar o bilhete, com a intuição de que poderia talvez ajudar seus pais. Ela esperava um prêmio secundário, algumas centenas de dólares, mas nunca um prêmio de milhões. A estudante, de pouco mais de 20 anos, pediu para que seu nome não fosse divulgado.

- Eu vou me lembrar e cuidar das pessoas próximas, e devo dar alguma coisa para pesquisas e para a caridade - disse a estudante - É legal ter essa quantia para realizar meus sonhos e os sonhos das pessoas ao meu redor"

A estudante australiana foi, por 10 meses, uma milionária sem saber. Assim somos todos nós, milionários que não nos damos conta. E não apenas por 10 meses, mas por uma vida inteira.

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A Parashá desta semana, Vaiehi, encerra o primeiro livro da Torá, Bereshit, que vai desde a criação do universo até as fundações espirituais do povo judeu, através dos nossos patriarcas Avraham, Ytzchak e Yaacov, pilares do nosso povo. E a Parashá termina justamente com a morte de Yaacov, o patriarca que representa a luta contra o nosso mal instinto em um mundo material cheio de dificuldades.

Antes de morrer, Yaacov queria dar uma Brachá (Benção) a todos os seus filhos, mas em especial a Yossef, cujos filhos, Efraim e Menashé, foram elevados ao nível de filhos de Yaacov e se tornaram parte das 12 tribos de Israel. A primogenitura e o direito a uma porção dupla foi passada de Reuven para Yossef. Quando Yaacov adoeceu e sentiu que a morte se aproximava, Yossef foi avisado e imediatamente veio ao seu encontro, acompanhado dos seus dois filhos. Yaacov primeiro conversou com Yossef e, ao ver Efraim e Menashé, fez uma pergunta aparentemente estranha, como está escrito "E então Israel (Yaacov) viu os dois filhos de Yossef e disse: 'Quem são eles?' " (Bereshit 48:8). Por que Yaacov perguntou "quem são eles?" se havia passado seus últimos 17 anos no Egito estudando Torá com seus netos Efraim e Menashé todos os dias?

A explicação mais simples é que Yaacov já estava quase completamente cego, mas conseguia ainda enxergar a silhueta das pessoas. Quando Yossef chegou e foi anunciado, Yaacov percebeu que havia duas pessoas que o acompanhavam, e por isso perguntou quem eram eles.

Mas existe uma explicação mais profunda. Durante os 22 anos que Yossef estava no Egito, Yaacov ficou enlutado, inconsolável com a suposta morte do seu filho preferido. E durante estes 22 anos a Torá nos ensina que Yaacov perdeu completamente a sua profecia. Por que? Pois D'us está presente onde a alegria está presente, mas onde há tristeza a presença de D'us se afasta.

Explica o famoso comentarista Or HaChaim que Yaacov certamente sabia que eram os seus netos que estavam entrando junto com seu filho Yossef. Então por que ele perguntou quem eram eles? Pois Yaacov estava prestes a dar uma Brachá especial para seu filho e seus netos, e neste momento quis aumentar sua alegria para que a força da presença de D'us aumentasse. Quando ele perguntou quem eram eles, Yaacov queria justamente escutar o que Yossef respondeu: "Estes são meus filhos, que D'us me deu aqui". Efraim e Menashé eram dois jovens com grandes virtudes morais, um grande presente de D'us para Yossef. E Yaacov sabia que não há maior alegria do que quando conseguimos enxergar os presentes que nós recebemos de D'us. Era isso o que Yaacov queria, despertar dentro de si mesmo e dentro de Yossef a alegria de reconhecer o que D'us havia dado de bom para eles.

Será que nós conseguimos sentir esta alegria de reconhecer o que temos de bom? No último dia do ano não-judaico foi feito um sorteio especial da loteria com um prêmio de mais de 140 milhões de reais. Muitas pessoas passaram a semana sonhando acordadas, imaginando o que fariam com um prêmio destes. Um apartamento novo, o carro do ano, um iate, uma casa de campo, quem sabe até mesmo um helicóptero. Em resumo, uma vida nova, cercada de luxo. Mas vamos imaginar que o ganhador tivesse sido um cego. Talvez ele não aproveitaria tanto o prêmio, pois não veria a casa nova nem o carro novo. Certamente ele estaria disposto a dar metade do prêmio, 70 milhões, para ter sua visão de volta. Talvez até mais. Ficaria contente em ficar com 10 milhões se pudesse enxergar. Se o ganhador estivesse preso a uma cadeira de rodas também certamente daria grande parte do seu prêmio milionário para voltar a andar. Por que? Pois a visão, a audição, os movimentos do nosso corpo valem mais do que um grande prêmio de loteria.

Todos os dias nós acordamos, abrimos os nossos olhos, nos levantamos sem a ajuda de ninguém e caminhamos. Nos sentimos como ganhadores da loteria? Não, pois estamos acostumados a tudo isso, não damos mais valor. Explica o Rav Noach Waiberg ZT"L que cada ser humano que pode enxergar, que pode andar, que desperta para mais um dia de vida, é como se estivesse recebendo um enorme prêmio de loteria. A felicidade que sentiríamos seria imensa se cada um de nós conseguisse reconhecer e internalizar tudo o que temos de bom. Pois assim nos ensina o Pirkei Avót: "Quem é o rico? Aquele que está contente com o que tem". Somos milionários, talvez bilionários. Quanto pagaríamos por nosso corpo que funciona perfeitamente? Quanto pagaríamos por nossos filhos? Quanto pagaríamos por nossa família? Não há dinheiro que pague nenhuma destas coisas.

Por isso, ao invés de reclamar tanto, ao invés de olhar as coisas ruins, temos que focar em todas as coisas boas que temos, em todas as oportunidades que D'us nos dá. Perdeu o emprego? Agradeça que tem saúde para procurar outro trabalho. Perdeu a saúde? Agradeça que tem uma família para cuidar de você. Não encontra a outra metade? Agradeça os amigos que te apóiam e estão ao teu lado. Olhe o lado positivo, veja quantas coisas maravilhosas cada um de nós tem na vida. Alegria não é um estado de espírito passageiro. Alegria é quando mudamos o foco, quando aprendemos a perceber o quanto são pequenos os problemas comparados com tudo o que temos de bom na vida.

Que possamos enxergar o prêmio de loteria que recebemos todos os dias, para que possamos nos sentir milionários e felizes de verdade.

"Não diga para D'us que você tem um grande problema. Diga para seu problema que você tem um grande D'us"

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm