Nesta semana lemos a Parashá Miketz (literalmente "Ao final de"), que continua descrevendo a saga de Yossef. Após ter sido falsamente acusado e jogado na prisão, ele conheceu o padeiro-chefe e o copeiro-chefe, pessoas que serviam pessoalmente o Faraó. Eles tiveram sonhos e Yossef os interpretou de forma precisa. No início da nossa Parashá foi a vez do próprio Faraó ter um sonho enigmático, que tirou a sua paz. Então Yossef foi lembrado pelo copeiro-chefe, e esta foi a "escada" para Yossef sair da prisão e se tornar o vice-rei do Egito. Quando tudo parecia perdido, D'us salvou Yossef em um piscar de olhos, da prisão para a liberdade, da escuridão para a luz. Esta Parashá sempre é lida na época da Festa de Chanuka, quando revivemos a vitória militar dos judeus diante dos gregos, o maior império da época. Era também uma época de muita escuridão, quando tudo parecia perdido, mas novamente D'us fez o improvável acontecer. Este grande milagre é mencionado no texto do "Al HaNissim", acrescentado à nossa Amidá durante todos os dias de Chanuka. A vitória extraordinária e notável é descrita assim: "Os fortes foram entregues nas mãos dos fracos, os muitos nas mãos dos poucos". Isso descreve bem o tamanho do milagre, da quebra das leis da natureza, pois o normal é os muitos vencerem os poucos e os fortes vencerem os fracos. Em Chanuka, apesar de todas as condições serem desfavoráveis, o oposto aconteceu. A continuação do texto, no entanto, não parece estar tão logicamente conectada ao milagre da vitória: "os impuros nas mãos dos puros, os perversos nas mãos dos justos, e os transgressores nas mãos dos que se ocupam com a Sua Torá". Por que isso seria um milagre? O que os Anshei Knesset HaGuedolá, que fixaram esta Tefilá, estão nos transmitindo? Todos os dias dizemos no Shemá Israel: "Não siga seus corações e seus olhos, atrás dos quais vocês se desviam" (Bamidbar 15:39). A Torá não está falando apenas sobre o cuidado com os olhos, para não olharmos coisas proibidas. A Torá também está nos transmitindo que o mundo material nos ilude, nos faz esquecer que há espiritualidade por trás dos acontecimentos, que há a Mão de D'us em cada detalhe. Os nossos olhos nos enganam, nos fazem acreditar que a vida é apenas o que enxergamos, sem perceber o que há por trás. Explica o Rav Yssocher Frand que os nossos sábios estavam explicando que a derrota dos "fortes nas mãos dos fracos" e dos "muitos nas mãos dos poucos" não foram acontecimentos sem uma motivação espiritual. A vitória dos poucos e fracos somente foi alcançada pelo fato de "os transgressores nas mãos dos que se ocupam com a Sua Torá". Quando há pessoas sentadas e estudando Torá, o exército que está na batalha pode ser vitorioso. O exército judaico nunca vence por força, poder, inteligência, estratégia superior ou armas de alta tecnologia. O fator determinante é que os transgressores são entregues àqueles que se ocupam com a Torá. Esta é a chave para toda vitória militar do povo judeu. A vitória sempre foi única e exclusivamente por causa daqueles que se dedicam ao estudo. Isso está na nossa Torá. Quando Yaacov entrou antes de Essav para receber a Brachá de primogenitura, ele colocou sobre seus braços a pele de um animal, caso Ytzchak, que já estava cego, o apalpasse, o que realmente aconteceu. Ytzchak ficou confuso e disse: "A voz é a voz de Yaakov, mas as mãos são as mãos de Essav" (Bereshit 27:22). Há um entendimento mais profundo nestas palavras. As mãos, isto é, a força na guerra, foi dada a Essav e seus descendentes. Já a voz, isto é, a força da Tefilá e do estudo da Torá, foi dada a Yaacov e seus descendentes. Por que as duas informações foram transmitidas juntas? Para nos ensinar que, se os estudantes se engajarem no estudo de Torá com suas vozes, então os judeus serão intocáveis, mas caso contrário, estarão vulneráveis diante da força militar dos seus inimigos. Assim começou a história militar judaica. A primeira batalha na qual o povo judeu se envolveu ao chegar à Terra de Israel foi a contra a cidade de Yerichó. Na noite anterior à batalha, um anjo de D'us apareceu a Yehoshua, disfarçado como um general que vinha com uma espada desembainhada. Uma famosa passagem do Talmud (Meguila 3a) descreve o diálogo entre os dois. O anjo acusou Yehoshua de ter negligenciado duas importantes Mitzvót. Uma foi que, por causa dos preparativos para a guerra, ele havia deixado de oferecer o Korban Tamid da tarde. Além disso, naquela noite, em sua preocupação com o ataque, Yehoshua havia negligenciado seu estudo de Torá. Yehoshua perguntou por qual das duas transgressões o anjo havia sido enviado para repreendê-lo, e o anjo respondeu que era pela transgressão de ter negligenciado o estudo da Torá. Imediatamente Yehoshua se arrependeu de seu erro e passou aquela noite toda em um profundo estudo de Torá. O Rav Eliyahu Lopian zt"l (Polônia, 1876 - Israel, 1970) comenta que o anjo aparentemente veio com o disfarce errado. Se ele estava vindo criticar a falta de constância no estudo da Torá, deveria ter aparecido como um Rosh Yeshivá. Generais não criticam a falta de estudo de Torá. Então por que o anjo veio como um general? A resposta é que a mensagem do general era: "Eu quero lutar com sucesso esta batalha. Mas, para que eu seja bem-sucedido, preciso que as 'tropas espirituais' estejam estudando. Se vocês não estiverem estudando, não há maneira de termos sucesso no campo de batalha". E, realmente, as muralhas de Yerichó caíram de forma milagrosa. Em outro exemplo, houve uma batalha em que Sancheriv, rei da Assíria, sitiou Jerusalém. Todos judeus pensaram que era uma causa perdida, pois não tinham força militar para impedir a invasão dos poderosos assírios. Porém, no meio da noite, algo milagroso aconteceu. Sem a necessidade de o povo judeu levantar uma única espada, todo o exército de Sancheriv foi dizimado por um anjo de D'us. Ao amanhecer, o povo judeu percebeu que todos do acampamento militar dos assírios estavam mortos. Mas o que causou este milagre tão grande? O Talmud (Sanhedrin 94b) explica que havia algo único naquela geração, a geração do rei Chizkiyahu. O rei havia colocado uma espada na entrada do Beit Midrash e proclamado: "Quem não se ocupar com a Torá será perfurado pela espada. Ou estuda, ou enfrenta a espada". Eles investigaram de Dan, ao norte, até Beer Sheva, ao sul, e não encontraram um único judeu que era ignorante em Torá. Verificaram desde Guivat a Antipras e não encontraram nenhum menino, menina, homem ou mulher que não fossem bem versados nas complexas leis de pureza ritual. Isso demonstra que quando os judeus estão firmes no estudo da Torá, não precisam nem mesmo lutar as batalhas físicas. Os que se ocupam com a Torá são os que fazem a vitória acontecer. Esse foi o milagre de Chanuká, essa foi a luta de Yehoshua em Yerichó, essa foi a luta do rei Chizkiyahu contra Sencheriv. E essa tem sido a história de todas as vitórias militares judaicas desde tempos imemoriais. Estamos novamente no meio de uma terrível guerra, com centenas de mortos e feridos. Estamos diante de inimigos cruéis, tanto nos métodos para matar, torturar e humilhar os judeus, quanto na disseminação de "fake-news" com o intuito de transformar os judeus em vilões, causando uma terrível onda global de antissemitismo. O exército tem dado a vida para proteger o povo judeu, mas não podemos esquecer que a vitória final está no poder do nosso estudo de Torá. Muitos pensam: "Mas se pessoas estiverem estudando Torá, isso vai enfraquecer o nosso exército!". A lógica parece verdadeira, mas se levarmos em conta apenas o mundo material. Na história de Yankele, o judeu da Romênia, o acendimento da Chanukiá parecia ser o motivo da morte de todo o grupo, mas tornou-se a causa de sua salvação. Assim também nas nossas guerras, quanto mais judeus estiverem se dedicando ao estudo da Torá, maior a possibilidade de vencermos. Queremos a paz, queremos nossos irmãos sequestrados de volta. Nesta guerra, cada judeu pode ajudar. Mesmo nas férias, devemos fixar tempos de estudo de Torá. Que Chanuka possa nos inspirar a dedicarmos mais tempo à nossa espiritualidade. Somente assim venceremos as guerras e alcançaremos a tão sonhada paz. SHABAT SHALOM E CHANUKA SAMEACH R' Efraim Birbojm |