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TENHO TUDO O QUE EU NECESSITO – PARASHÁ BAMIDBAR E SHAVUÓT 5770 (14 de maio de 2010)
Certa vez um homem veio a um grande sábio conhecido como Maguid de Mezeritch com uma grande questão. Ele queria entender por que o Talmud diz que uma pessoa deve abençoar a D'us por algo ruim que aconteceu da mesma forma que ele O abençoa quando acontece algo bom. É entendível agradecer por uma bondade, mas agradecer por um sofrimento?
O Maguid escutou atentamente a pergunta e sabia a resposta. Mas ele achou que seu aluno, um grande Tzadik (Justo) chamado Rebe Zuchia, poderia responder de uma maneira ainda melhor. Ele então pediu que aquele senhor se encaminhasse ao seu aluno e fizesse a mesma perguntasse a ele. O homem fez exatamente o que o rabino o havia instruído.
Quando ele chegou na casa do Rebe Zuchia, foi recebido pelo Tzadik com muita alegria e foi convidado a entrar. Lá dentro, o homem percebeu o quão pobre era família do Rebe Zuchia. A casa era muito simples, praticamente não havia móveis. As prateleiras estavam vazias, não tinha quase nada para comer. Percebeu também que o próprio Rebe Zuchia tinha uma saúde frágil e era um homem sofrido. No entanto o Rebe Zushia estava sempre feliz e com um sorriso no rosto. O homem, surpreso com as condições nas quais o rabino vivia, comentou:
- Eu fui ao Maguid de Mezeritch para lhe perguntar como é possível que D'us tenha nos ordenado a abençoá-Lo quando ocorre algo ruim da mesma forma que abençoamos quando ocorre algo bom. Ele me disse que só você pode me ajudar neste assunto.
O Rebe Zushia escutou atentamente e disse:
- Fico triste por você ter perdido seu tempo, pois acho que houve aqui uma grande confusão. A sua questão é realmente muito interessante, mas não entendo por que o Maguid de Mezerich enviou você para mim. Certamente eu nunca poderia dar a resposta, pois eu nunca tive nenhum sofrimento na vida"
Algumas pessoas conseguem chegar ao nível de enxergar que todas as coisas que ocorrem na nossa vida são para o nosso bem. São as pessoas verdadeiramente ricas, que sabem aproveitar tudo o que já conseguiram, ao invés de viver sonhando com o que ainda não conquistaram.
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Na próxima terça-feira (18/05), após o pôr-do-sol, começamos a comemorar a festa de Shavuót, finalizando a contagem de 7 semanas completas a partir do segundo dia de Pessach. Shavuót também é conhecida com Zman Matan Torateinu (o Tempo da entrega da nossa Torá), pois no dia 6 de Sivan, 50 dias depois de Pessach, o povo judeu recebeu a Torá no Monte Sinai. A cada ano a mesma influência espiritual se repete, isto é, novamente recebemos a Torá em Shavuót. Em geral, a Parashá da semana que precede a festa de Shavuót é a Parashá desta semana, Bamidbar. Qual a relação entre esta Parashá e a entrega da Torá no Monte Sinai?
Ensinam os nossos sábios que existem três elementos que estão associados com o recebimento e o estudo da Torá. O primeiro elemento é a água, e diversas vezes a Torá é comparada com a água. Por exemplo, da mesma forma que a água desce dos lugares mais altos para os lugares mais baixos, assim também a Torá escapa dos orgulhosos, que estão no "alto", e se acumula nas pessoas humildes. Como nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Quem é o sábio? Aquele que aprende com todas as pessoas". Se a pessoa é humilde, sabe que de todos pode aprender algo e assim cresce espiritualmente. Mas se a pessoa é orgulhosa, acha que sabe mais do que todos e que ninguém tem nada para lhe oferecer, então perde oportunidades valiosas de aprender e crescer espiritualmente.
O segundo elemento com o qual a Torá está associada é o fogo. Quando estamos na escuridão, sem saber para onde ir, o fogo ilumina e nos mostra o caminho pelo qual devemos seguir. Assim também é a Torá, o nosso "Manual de Instruções", que clareia nossa vida neste mundo cheio de incertezas e nos ensina por que caminhos andar. Além disso, quando o fogo é utilizado da maneira correta, ele ilumina e aquece, mas se utilizado da forma incorreta, ele queima e destrói. Da mesma maneira, o estudo da Torá deve ser voltado para que a pessoa se torne alguém melhor, para que se torne um exemplo de boa conduta para os outros. Mas se a pessoa se dedica ao estudo da Torá e seus atos são feios, o nome de D'us é denegrido e isso causa destruição, pois incentiva as pessoas a se afastarem da espiritualidade.
Finalmente o terceiro elemento nossos sábios aprendem do primeiro versículo desta Parashá: "E falou D'us com Moshé no deserto do Sinai" (Bamidbar 1:1). O terceiro elemento que se associa com a Torá é o deserto. Por que D'us escolheu justamente o deserto para a entrega da Torá?
O deserto é um local inóspito. A falta de água e de alimentos torna a vida ali completamente impossível. Mas foi justamente neste local que D'us escolheu levar o povo judeu quando os tirou do Egito, pois no deserto o povo judeu recebeu uma grande lição de Emuná (fé). Eles recebiam seu sustento através do Man (Maná), uma porção de comida que caia diariamente do céu, exatamente na quantidade que cada família necessitava. Durante os 40 anos no deserto nunca faltou Man, sempre as pessoas tinham a quantidade de alimento necessário. O Man, além de possuir o gosto que a pessoa desejasse, continha todos os elementos necessários para manter a saúde das pessoas. O Man caía diretamente na porta de cada família, sem que houvesse a necessidade de investir horas de trabalho por dia para trazer o alimento para casa.
A grande lição do Man no deserto foi de que as pessoas aprenderam que não precisam mais do que aquilo que elas recebem de D'us e que qualquer esforço a mais é tolice. As pessoas conseguiram entender que o que elas tinham era todo o necessário para que pudessem cumprir o seu trabalho espiritual neste mundo. Por isso, quem quer adquirir os conhecimentos de Torá deve viver como se comesse Man, isto é, deve se esforçar para conseguir seu sustento, mas sabendo que esforços a mais no mundo material não trazem mais sucesso, pois o sucesso depende de D'us e não do nosso esforço. Devemos ter nosso trabalho, devemos buscar o nosso sustento, mas se isto toma todo o nosso tempo e não sobra nada para dedicar ao estudo da Torá, é um sinal de que estamos nos esforçando mais do que precisamos. Isso é o que ocorre principalmente quando não estamos contentes com o que temos, e por isso precisamos sempre de mais e mais, mesmo às custas do nosso tempo de crescimento espiritual.
Ensinam os nossos sábios que quando a alma de uma pessoa que falece sai deste mundo e chega nos mundos espirituais, são feitas para ela 3 perguntas: Se ela trabalhou com honestidade, se ela esperou em cada instante pela salvação e se ela fixou tempos de estudo de Torá. D'us não vai nos questionar quantas horas por dia estudamos Torá, pois muito precisam trabalhar para conseguir o seu sustento e não podem dedicar todo o dia ao estudo. Porém, D'us quer saber se fizemos da nossa Torá a preocupação principal de nossas vidas ou se era apenas algo secundário. D'us vai querer saber se, quando chega o final do dia, continuamos na nossa loja para ganhar um pouco mais de dinheiro ou se fomos para a nossa aula de Torá na sinagoga.
Que possamos nos preparar como a água, o fogo e o deserto para podermos novamente neste ano receber a Torá em nossas vidas.
SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH
Rav Efraim Birbojm