sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIERÁ 5770

BS"D
UM BOM ATO MUDA TUDO - PARASHÁ VAIERÁ 5770 (06 de novembro de 2009)
"Quando o Sr. Schainberger foi morar em Israel, ele ainda era um jovem rapaz religioso que queria tentar construir sua vida na terra sagrada do povo judeu. Era um período conturbado, de muitas guerras com os inimigos árabes, e mesmo que ele já havia passado da idade de servir o exército, teve que servir por um tempo em uma unidade especial. Por alguns meses ele foi escalado como guarda noturno de uma cidade que fazia fronteira com os árabes. Revezava o trabalho de vigilância com outros jovens rapazes que também tinham ido morar em Israel.
Quando a festa de Pessach começou a se aproximar, todos os soldados começaram a se preocupar. Apenas o jovem Schainberger era religioso, mas todos queriam fazer o Seder de Pessach com suas famílias. Um dos turnos ia das 8 da noite até as 3 da manhã, e o próximo turno era das 3 da manhã em diante. Quem pegasse o primeiro turno ficaria sem o Seder de Pessach. Como ninguém se voluntariou para trabalhar naquele horário, os oficiais decidiram que iriam fazer um sorteio.
Durante vários dias o jovem Schainberger rezou muito para que ele não fosse sorteado naquele turno. Chegou o decisivo dia e, para o seu alívio, ele foi sorteado para o segundo turno. Ele ficou muito feliz, mas quando olhou o rosto do soldado que havia sido sorteado para o primeiro turno, viu que ele estava arrasado. O jovem Schainberger começou a refletir e chegou à conclusão de que mesmo se ele chegasse em casa às 3 da manhã, faria de qualquer maneira o Seder de Pessach de acordo com a lei judaica, mas aquele outro soldado, que não era religioso, certamente iria direto para a cama sem cumprir a Mitzvá. Então, sem pensar duas vezes, ofereceu trocar o turno com o outro soldado, que aceitou com grande alegria. O jovem Schainberger percebeu uma lágrima escorrendo nos olhos daquele jovem soldado.
Mais de 20 anos se passaram e o Sr. Schainberger já era um arquiteto que buscava divulgar seu nome pelo país. A situação não estava fácil, ele não tinha muitos clientes e precisava de um empurrão na sua carreira. Foi então que ele escutou que o governo de Israel estava pretendendo reformar a área em volta do Muro das Lamentações e havia lançado um concurso para escolher o arquiteto que faria o projeto. O Sr. Schainberger entendeu que aquele poderia ser o empurrão que ele tanto procurava e foi imediatamente se inscrever. Esforçou-se muito, conseguiu fazer um belo projeto e foi sendo aprovado durante todas as fases eliminatórias. No final, ficou apenas o Sr. Schainberger e outro arquiteto. Uma comissão faria o julgamento de qual seria a proposta vencedora.
Quando chegou o dia da decisão, o Sr. Schainberger estava muito nervoso. O futuro dele dependia do seu sucesso naquele dia. Cada membro da comissão expunha sua opinião e dava seu voto. A votação seguia empatada, até que chegou a vez do último jurado da comissão votar. Uma pesada tensão estava no ar. Olhando bem os dois trabalhos, ele decidiu dar a vitória ao Sr. Schainberger, que comemorou muito com seus amigos e familiares. Quando os ânimos se acalmaram, o último jurado chamou o Sr. Schainberger de lado e falou:
- Você se lembra que certa vez você trocou de lugar com um soldado, para dar-lhe a oportunidade de fazer o Seder de Pessach?
O Sr. Schainberger ficou branco. Quem poderia saber disso? Nem ele mesmo se lembrava direito daquela história, já havia passado tanto anos! Então o homem sorriu para ele e disse:
- Eu sou aquele soldado. Por muitos anos eu guardei uma dívida de gratidão por você. Hoje eu paguei a bondade que você me fez há tantos anos" (História Real)
Ensinam os nossos sábios que um dos pilares do mundo é o Chessed (bondade) que fazemos com o próximo. E não sabemos onde podem recair os méritos espirituais de cada ato de bondade que fazemos.
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No final da Parashá passada, D'us comandou para Avraham Avinu a Mitzvá de fazer um pacto com Ele, o Brit-Milá. Avraham escutou a ordem de D'us e fez em si mesmo o Brit-Milá com a idade de 99 anos. E a Parashá desta semana, Vaierá, começa justamente no terceiro dia depois do Brit-Milá, o dia em que a pessoa está mais debilitada e dolorida. Avraham, apesar das dores que estava sentindo, sentou-se na porta de sua casa para que nenhum viajante passasse sem ser notado. D'us, vendo o sofrimento de Avraham por não receber visitantes em casa, mandou 3 anjos disfarçados de beduínos. Imediatamente Avraham correu para acolhê-los e alimentá-los.
Se prestarmos atenção nos versículos iniciais da Parashá, percebemos uma pequena contradição. No momento em que os anjos chegam, assim diz o versículo: "E (Avraham) levantou seus olhos e viu, e eis que 3 pessoas estavam parados sobre ele" (Bereshit 18:2). Alguns versículos depois está escrito "... e colocou (a comida) diante deles, e ele (Avraham) estava parado sobre eles sob a árvore, e eles comeram" (Bereshit 18:8). Por que no começo está escrito que os anjos estavam sobre Avraham, mas no final está escrito que Avraham estava sobre os anjos?
Às vezes, ao elogiar uma pessoa, cometemos um erro sem perceber. Quando vemos alguém fazendo uma boa ação, dizemos "Ele é um anjo". Mas aprendemos da nossa Parashá que dizer que somos anjos é limitar o nosso potencial, pois podemos ser ainda mais elevados espiritualmente do que os anjos. Quando Avraham recebeu os anjos em sua tenda, a Torá descreve que eles estavam sobre Avraham, isto é, em um nível mais elevado do que ele. Mas depois que Avraham fez Chessed, se esforçando para receber convidados e cuidar deles, a Torá diz que Avraham estava sobre eles, isto é, chegou a um nível mais elevado do que os anjos. Mas como é possível um ser humano, uma criatura de carne e osso, se tornar mais elevada do que um anjo, uma criatura espiritual criada para cumprir a vontade do Criador?
Existe uma grande diferença entre os anjos e os seres humanos. Os anjos têm um elevado nível espiritual, mas eles não fazem o bem porque escolheram, eles não têm livre escolha. Eles já foram criados neste nível elevado, e não têm nenhum mérito por isso. Já o ser humano tem livre escolha, e precisa se esforçar para fazer o que é correto e bom, e com isso ele se eleva em um nível ainda maior do que os anjos. Para fazermos o bem é necessário vencer nossa má inclinação, e por isso cada bondade que fazemos equivale a um grande mérito.
Como Avraham conseguiu, com seu ato de "Achnassat Orchim" (receber convidados), se elevar mais do que os anjos? O Avraham não fez apenas Chessed, ele teve Achavat Chessed (amor pelo Chessed). Ele estava doente e, portanto, isento da Mitzvá. Mais do que isso, D'us fez o dia ficar mais quente para que nenhum viajante passasse e Avraham pudesse descansar. Ele poderia ter ficado deitado na cama, poderia pensar "Hoje estou passando mal, os outros que cuidem dos viajantes do deserto". Mas Avraham não pensou assim, ele não conseguia ficar deitado sabendo que alguém no deserto poderia estar precisando de um prato de comida, de um copo d'água ou de uma sombra para descansar. A dor do Brit-Milá era grande, mas a dor de não fazer Chessed era ainda maior.
Existem vários níveis de Chessed. Podemos dar alguns trocados diretamente na mão de um pobre. Podemos doar de forma que o pobre não saiba que fomos nós que doamos, para que ele não se envergonhe. Melhor ainda se nós também não soubermos para quem estamos doando, assim não cobramos nenhum agradecimento do pobre. Mas qual é o maior nível de Chessed que podemos fazer a outro ser humano? Uma dica está na continuação da Parashá. A Torá descreve o nascimento de Ytzchak, filho de Avraham. Aos dois anos ele foi desmamado, como está escrito "A criança cresceu e foi desmamada. Avraham fez uma grande festa no dia em que Ytzchak foi desmamado" (Bereshit 21:8). A palavra "desmamar", em Lashon Hakodesh (língua sagrada na qual a Torá foi escrita) é "Lehigamel", que tem a mesma raiz das palavras "Gamal" (camelo) e "Gmilut Chassadim" (fazer bondades). Explicam nossos sábios que palavras que contém a mesma raiz, mesmo que tenham significados completamente diferentes, estão de alguma maneira conectadas entre si. Qual a conexão entre desmamar, fazer bondades e o camelo?
Quando Adam Harishon deu o nome aos animais, ele incluiu no nome a essência de cada um deles. Qual a essência do camelo? Damos para ele uma grande quantidade de água antes de começar uma viagem para que ele aguente a viagem toda sem precisar tomar mais água. A mesma idéia encontramos quando se desmama uma criança, isto é, damos para ela leite materno o tempo suficiente para que ela possa se tornar uma criança forte e possa começar a se alimentar de outras coisas. Portanto a essência da raiz "Gamel" é ajudar ao outro de forma que ele não necessite mais de nossa ajuda. Daqui entendemos que a verdadeira bondade (Gmilut Chassadim) que podemos fazer a outro ser humano é dar para ele a oportunidade de conseguir seu sustento sozinho, de maneira honrosa, sem precisa voltar para pedir esmola novamente. Isto significa que o maior nível de Chessed que podemos fazer com alguém faminto não é dar-lhe um peixe, e sim dar-lhe uma vara, um anzol e ensiná-lo a pescar. Pois para o ser humano é algo muito humilhante ter que pedir esmola, e a melhor ajuda é dar uma oportunidade para que ele possa trabalhar e conquistar seu próprio sustento.
E da maneira que nos comportamos com os outros, D'us se comporta conosco, como ensinam os nossos sábios "Aquele que faz bondades recebe bondades". Portanto, se queremos que D'us escute as nossas rezas e nos ajude, antes de tudo precisamos escutar as pessoas necessitadas e ajudá-las.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm