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QUEM QUER SOFRIMENTOS? - PARASHÁ TOLDOT 5769 (28 de novembro de 2008)
Havia um homem que vivia com constantes sofrimentos. Ele e sua família tinham muitas doenças, sofriam com a falta de dinheiro e passavam por outras dificuldades. Um dia ele decidiu visitar o Rav Shalom Shrabi, um grande sábio, para perguntar como entender o comportamento de D'us e o que ele poderia fazer para que as coisas melhorassem e os sofrimentos diminuíssem. Após uma longa e cansativa viagem a pé, ele chegou na casa do rabino e foi recebido pela rabanit (esposa do rabino), que o convidou a entrar, sentar em um confortável sofá e aguardar o rabino, que estava resolvendo outro problema. O homem estava tão cansado por causa da viagem que caiu em um sono profundo. Começou a sonhar e se viu em uma grande estrada, completamente deserta, onde não se escutava nenhum ruído. De repente escutou um barulho vindo de longe. Uma carruagem cheia de anjos brancos passou em alta velocidade e logo desapareceu no horizonte. Mais alguns minutos e novamente o silêncio foi quebrado pelo barulho de uma carruagem cheia de anjos escuros, de aparência atemorizante, que também logo sumiu no horizonte.
Curioso, ele apertou o passo para saber onde terminava a estrada. Finalmente chegou em uma praça, onde ele viu as carruagens estacionadas. No centro da praça havia uma balança gigantesca, e os anjos desciam das carruagens e se dirigiam à balança. O homem viu que em cada anjo havia uma pequena placa. Nos anjos brancos estavam escritas várias Mitzvót, como por exemplo estudo da Torá, Tefilá (reza) e honrar os pais. Já nos anjos escuros estavam escritas várias transgressões, tais como Lashon Hará (falar mal dos outros), roubo e inveja. O homem entendeu que ali era o Tribunal Celestial, e alguém estava sendo julgado. Cada Mitzvá que a pessoa tinha feito na vida havia criado um anjo branco e cada transgressão havia criado um anjo escuro. Quando o homem se aproximou da balança, viu que era o seu próprio julgamento.
O homem observou que todos os anjos brancos se encaminharam para um lado da balança enquanto os anjos escuros se encaminharam para o outro lado. Notou, para seu desespero, que a balança pendia para o lado dos anjos escuros e começou a tremer de medo. Procurou outros anjos brancos, mas não havia mais nenhum. Ele estava perdido...
De repente, chegou uma terceira carruagem, com anjos gigantescos, que haviam sido criados com os sofrimentos que o homem havia passado na vida. Para cada anjo de sofrimento que se apresentava, eram retirados alguns anjos escuros. Mas para a infelicidade do homem a balança ainda pendia para o lado das transgressões. No desespero, ele deu um grito amargo: "Me mandem mais alguns sofrimentos, me mandem mais alguns sofrimentos!!"
O homem acordou gritando e aos poucos entendeu que tudo havia sido um sonho. Levantou-se e preparou-se para sair, mas a esposa do rabino perguntou:
- Ei, você não tinha que perguntar algo para o rabino?
- Tinha - disse o homem sorrindo - mas agora não preciso mais. D'us já me respondeu... (História Real)
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A Parashá desta semana, Toldot, continua nos contando um pouco mais sobre Itzchak, uma pessoa reta em todos os seus atos e com uma impressionante claridade do seu propósito no mundo. Onde podemos enxergar a grandeza dele? No episódio da Akeidá, no qual D'us testou Avraham pedindo para que ele sacrificasse seu filho. Aparentemente Itzchak não sabia que seria sacrificado e somente por isso aceitou ir junto com seu pai. Mas a Torá nos ensina diferente, pois está escrito "E Avraham pegou a lenha para a oferenda e colocou sobre as costas de Itzchak, seu filho. Ele pegou em suas mãos o fogo e a faca, e os dois subiram juntos... E então Itzchak falou para Avraham seu pai... 'Aqui está o fogo e a madeira, mas onde está a ovelha para o sacrifício?'. E Avraham respondeu: 'D'us escolherá para Ele a ovelha para o sacrifício, meu filho'. E os dois subiram juntos" (Bereshit 22:6-8). Por que a Torá precisou repetir "E os dois subiram juntos"? Para nos ensinar que mesmo após Itzchak entender que ele seria o sacrifício, ele continuou subindo com Avraham, e com o mesmo entusiasmo de antes. Apesar do sacrifício não ter efetivamente ocorrido, D'us considerou como se Itzchak realmente tivesse dado a vida por Ele.
Mas a Parashá ensina algo difícil de ser entendido. Itzchak, este grande Tzadik (Justo) que estava disposto a dar sua vida por D'us, ficou cego, como está escrito "E foi, quando Itzchak envelheceu, seus olhos se escureceram..." (Bereshit 27:1). Isso ocorreu quando Itzchak tinha 123 anos, e como ele viveu até os 180 anos, vemos que ele passou mais de 50 anos imerso em total escuridão. Por que D'us causou tanto sofrimento para Itzchak? E mais do que isso, se D'us é bondoso, por que pessoas boas sofrem?
Temos uma visão completamente equivocada dos sofrimentos. Quando sofremos, sentimos que D'us nos abandonou e nos deixou de lado. Mas é justamente o contrário, os sofrimentos são um grande presente de D'us, que recebemos somente pelos méritos de Itzchak. Segundo o Midrash (parte da Torá Oral), as pessoas não recebiam sofrimentos, e foi justamente Itzchak quem pediu para que D'us nos mandasse sofrimentos. D'us concordou e começou por Itzchak mesmo, deixando-o cego. Mas por que Itzchak queria sofrimentos no mundo?
Explica o Chafetz Chaim que existe uma grande diferença entre os castigos aplicado pelos seres humanos e os castigos aplicado por D'us. Os castigos aplicados pelos seres humanos são apenas um meio de colocar medo na pessoa. Aquele que castiga espera que o transgressor aprenda a lição e não volte a errar novamente no futuro. Já os castigos Divinos, além de ajudarem as pessoas a não voltar a transgredir mais, também limpam, através dos sofrimentos, os erros cometidos.
Não existe Tzadik no mundo que faz o bem e não peca. Cada transgressão que fazemos cria um anjo, que se torna um acusador no Tribunal Celestial. E quanto maior o nível da pessoa, mais ele é cobrado por qualquer erro cometido. É como uma pessoa dentro de uma empresa, quanto maior o cargo, maior a responsabilidade e maiores as consequências no caso de um erro cometido. Quando o faxineiro erra, a sala pode ficar um pouco mais suja, mas se o presidente erra, ele pode quebrar toda a empresa. Itzchak, com seu grande nível espiritual, entendeu que sem sofrimentos nenhum ser humano conseguiria passar pela Justiça Celestial quando saísse deste mundo. Por isso ele pediu para que D'us descontasse parte dos nossos erros através de sofrimentos ainda neste mundo.
Sentir dor é bom? A maioria das pessoas diria que não. Mas existe uma doença chamada CIPA (insensibilidade congênita à dor) que causa com que a pessoa não sinta nenhuma dor. Mas bem longe de viver uma vida paradisíaca, em geral estas pessoas morrem muito jovens, quase sempre por motivos banais como queimaduras ou pequenos ferimentos. Qualquer criança normal que coloca a mão no fogo, ao primeiro sinal de dor, retira rapidamente o braço, num ato reflexo de proteção. Mas estas crianças com a doença, por não sentirem nenhuma dor, não entendem o perigo que estão correndo e acabam morrendo. A dor é, portanto, algo amargo mas que salva nossas vidas. E da mesma forma que isso ocorre no mundo material, assim também ocorre nos mundos espirituais, isto é, os sofrimentos são amargos e difíceis, mas salvam nossa vida eterna, funcionando tanto como um alarme de que algo vai mal quanto como uma maneira de limpar nossos erros e permitir que possamos sair limpos deste mundo.
Este ensinamento nos ajuda muito em nossas vidas, pois não existe ninguém que não passa por sofrimentos e dificuldades. Saber que os sofrimentos têm um propósito nos ajuda a aceitá-los. Não temos que pedir mais sofrimentos para D'us, pois mal e mal suportamos os que já temos, mas temos a obrigação de receber os sofrimentos que Ele nos manda com alegria, pois apesar de serem amargos e difíceis, os sofrimentos, que são limitados, nos ajudarão a ter uma eternidade de prazeres ilimitados.
Shabat Shalom
Rav Efraim Birbojm
Curioso, ele apertou o passo para saber onde terminava a estrada. Finalmente chegou em uma praça, onde ele viu as carruagens estacionadas. No centro da praça havia uma balança gigantesca, e os anjos desciam das carruagens e se dirigiam à balança. O homem viu que em cada anjo havia uma pequena placa. Nos anjos brancos estavam escritas várias Mitzvót, como por exemplo estudo da Torá, Tefilá (reza) e honrar os pais. Já nos anjos escuros estavam escritas várias transgressões, tais como Lashon Hará (falar mal dos outros), roubo e inveja. O homem entendeu que ali era o Tribunal Celestial, e alguém estava sendo julgado. Cada Mitzvá que a pessoa tinha feito na vida havia criado um anjo branco e cada transgressão havia criado um anjo escuro. Quando o homem se aproximou da balança, viu que era o seu próprio julgamento.
O homem observou que todos os anjos brancos se encaminharam para um lado da balança enquanto os anjos escuros se encaminharam para o outro lado. Notou, para seu desespero, que a balança pendia para o lado dos anjos escuros e começou a tremer de medo. Procurou outros anjos brancos, mas não havia mais nenhum. Ele estava perdido...
De repente, chegou uma terceira carruagem, com anjos gigantescos, que haviam sido criados com os sofrimentos que o homem havia passado na vida. Para cada anjo de sofrimento que se apresentava, eram retirados alguns anjos escuros. Mas para a infelicidade do homem a balança ainda pendia para o lado das transgressões. No desespero, ele deu um grito amargo: "Me mandem mais alguns sofrimentos, me mandem mais alguns sofrimentos!!"
O homem acordou gritando e aos poucos entendeu que tudo havia sido um sonho. Levantou-se e preparou-se para sair, mas a esposa do rabino perguntou:
- Ei, você não tinha que perguntar algo para o rabino?
- Tinha - disse o homem sorrindo - mas agora não preciso mais. D'us já me respondeu... (História Real)
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A Parashá desta semana, Toldot, continua nos contando um pouco mais sobre Itzchak, uma pessoa reta em todos os seus atos e com uma impressionante claridade do seu propósito no mundo. Onde podemos enxergar a grandeza dele? No episódio da Akeidá, no qual D'us testou Avraham pedindo para que ele sacrificasse seu filho. Aparentemente Itzchak não sabia que seria sacrificado e somente por isso aceitou ir junto com seu pai. Mas a Torá nos ensina diferente, pois está escrito "E Avraham pegou a lenha para a oferenda e colocou sobre as costas de Itzchak, seu filho. Ele pegou em suas mãos o fogo e a faca, e os dois subiram juntos... E então Itzchak falou para Avraham seu pai... 'Aqui está o fogo e a madeira, mas onde está a ovelha para o sacrifício?'. E Avraham respondeu: 'D'us escolherá para Ele a ovelha para o sacrifício, meu filho'. E os dois subiram juntos" (Bereshit 22:6-8). Por que a Torá precisou repetir "E os dois subiram juntos"? Para nos ensinar que mesmo após Itzchak entender que ele seria o sacrifício, ele continuou subindo com Avraham, e com o mesmo entusiasmo de antes. Apesar do sacrifício não ter efetivamente ocorrido, D'us considerou como se Itzchak realmente tivesse dado a vida por Ele.
Mas a Parashá ensina algo difícil de ser entendido. Itzchak, este grande Tzadik (Justo) que estava disposto a dar sua vida por D'us, ficou cego, como está escrito "E foi, quando Itzchak envelheceu, seus olhos se escureceram..." (Bereshit 27:1). Isso ocorreu quando Itzchak tinha 123 anos, e como ele viveu até os 180 anos, vemos que ele passou mais de 50 anos imerso em total escuridão. Por que D'us causou tanto sofrimento para Itzchak? E mais do que isso, se D'us é bondoso, por que pessoas boas sofrem?
Temos uma visão completamente equivocada dos sofrimentos. Quando sofremos, sentimos que D'us nos abandonou e nos deixou de lado. Mas é justamente o contrário, os sofrimentos são um grande presente de D'us, que recebemos somente pelos méritos de Itzchak. Segundo o Midrash (parte da Torá Oral), as pessoas não recebiam sofrimentos, e foi justamente Itzchak quem pediu para que D'us nos mandasse sofrimentos. D'us concordou e começou por Itzchak mesmo, deixando-o cego. Mas por que Itzchak queria sofrimentos no mundo?
Explica o Chafetz Chaim que existe uma grande diferença entre os castigos aplicado pelos seres humanos e os castigos aplicado por D'us. Os castigos aplicados pelos seres humanos são apenas um meio de colocar medo na pessoa. Aquele que castiga espera que o transgressor aprenda a lição e não volte a errar novamente no futuro. Já os castigos Divinos, além de ajudarem as pessoas a não voltar a transgredir mais, também limpam, através dos sofrimentos, os erros cometidos.
Não existe Tzadik no mundo que faz o bem e não peca. Cada transgressão que fazemos cria um anjo, que se torna um acusador no Tribunal Celestial. E quanto maior o nível da pessoa, mais ele é cobrado por qualquer erro cometido. É como uma pessoa dentro de uma empresa, quanto maior o cargo, maior a responsabilidade e maiores as consequências no caso de um erro cometido. Quando o faxineiro erra, a sala pode ficar um pouco mais suja, mas se o presidente erra, ele pode quebrar toda a empresa. Itzchak, com seu grande nível espiritual, entendeu que sem sofrimentos nenhum ser humano conseguiria passar pela Justiça Celestial quando saísse deste mundo. Por isso ele pediu para que D'us descontasse parte dos nossos erros através de sofrimentos ainda neste mundo.
Sentir dor é bom? A maioria das pessoas diria que não. Mas existe uma doença chamada CIPA (insensibilidade congênita à dor) que causa com que a pessoa não sinta nenhuma dor. Mas bem longe de viver uma vida paradisíaca, em geral estas pessoas morrem muito jovens, quase sempre por motivos banais como queimaduras ou pequenos ferimentos. Qualquer criança normal que coloca a mão no fogo, ao primeiro sinal de dor, retira rapidamente o braço, num ato reflexo de proteção. Mas estas crianças com a doença, por não sentirem nenhuma dor, não entendem o perigo que estão correndo e acabam morrendo. A dor é, portanto, algo amargo mas que salva nossas vidas. E da mesma forma que isso ocorre no mundo material, assim também ocorre nos mundos espirituais, isto é, os sofrimentos são amargos e difíceis, mas salvam nossa vida eterna, funcionando tanto como um alarme de que algo vai mal quanto como uma maneira de limpar nossos erros e permitir que possamos sair limpos deste mundo.
Este ensinamento nos ajuda muito em nossas vidas, pois não existe ninguém que não passa por sofrimentos e dificuldades. Saber que os sofrimentos têm um propósito nos ajuda a aceitá-los. Não temos que pedir mais sofrimentos para D'us, pois mal e mal suportamos os que já temos, mas temos a obrigação de receber os sofrimentos que Ele nos manda com alegria, pois apesar de serem amargos e difíceis, os sofrimentos, que são limitados, nos ajudarão a ter uma eternidade de prazeres ilimitados.
Shabat Shalom
Rav Efraim Birbojm