Nesta semana lemos a Parashá Tazria (literalmente "Conceber"), que trata de assuntos espirituais, algo marcante no terceiro livro da Torá, Vayikrá. Após ter falado sobre pureza e impureza espiritual dos animais, no final da Parashá da semana passada, a Torá começa a descrever sobre a pureza e a impureza espiritual dos seres humanos. Da mesma forma que na criação os animais precederam o ser humano, também em relação às leis de pureza e impureza eles foram mencionados antes. Isso carrega uma importante lição de humildade ao ser humano. Sempre que o orgulho nos dominar e nos afastar dos caminhos de D'us, devemos nos lembrar que até mesmo as baratas foram criadas antes de nós. Um dos assuntos trazidos na nossa Parashá é a Tzaráat, uma doença espiritual que atingia os judeus que cometiam certas transgressões, entre elas o Lashon Hará (maledicência), o Tsarut Ain (mesquinhez) e o orgulho. A pessoa contaminada com Tsaráat ficava impura e precisava passar por um doloroso processo de purificação, que envolvia o isolamento por um certo período de tempo e levava a pessoa à reflexão e ao arrependimento pelo erro cometido. A cura também envolvia que a pessoa contaminada oferecesse um sacrifício no Templo Sagrado e mergulhasse em uma Mikve, demonstrando que a Tzaráat era realmente uma doença espiritual, não física. O início da Parashá ensina sobre a impureza espiritual de uma mulher no momento em que ela dá à luz uma criança, como está escrito: "Uma mulher que conceber e der à luz um filho, ficará impura por sete dias... E por (outros) trinta e três dias, ela deve permanecer no sangue da pureza; ela não deve tocar em nada sagrado, nem pode entrar no Santuário, até que os dias de sua purificação tenham sido concluídos" (Vayikrá 12:2,4). Este ensinamento já nos chama muito a atenção. O nascimento de um bebê é um dos maiores momentos na vida. Após um longo período de gestação, que vêm com muito desconforto e dificuldades, a mãe finalmente traz ao mundo uma nova e gloriosa vida. É um momento mágico e milagroso. No instante em que um bebê nasce, várias partes do seu corpo que estavam fechadas se abrem, enquanto várias partes que estavam abertas se fecham. O nascimento de um bebê é certamente uma das maiores provas da existência de um Criador, que nos criou com sabedoria e bondade infinitas. Poderíamos pensar que, em um momento assim tão especial, a mãe deveria ser elevada e exaltada pela Torá. Porém, o que acontece de fato? Ela se torna ritualmente impura. Normalmente associamos a impureza espiritual com a morte, a Tsaráat e outras experiências negativas. Como é que o nascimento se encaixa nesta lista? Além disso, há algo que nos chama ainda mais a atenção. Encontramos nesta Parashá uma diferença, em relação à impureza causada na mãe, entre o nascimento de um filho e de uma filha. Uma mulher que dá à luz um menino fica impura por sete dias, enquanto que uma mulher que dá à luz uma menina fica impura por quatorze dias, o dobro! O mesmo ocorre em relação a um nível mais baixo de impureza que permanece na mulher que deu à luz, sendo 33 dias se o bebê for um menino e 66 dias se o bebê for uma menina, novamente o dobro! Por que é assim? Isso não é machismo? O que há de errado quando nasce uma menina? Por que seu nascimento causa mais impureza do que o nascimento de um menino? Explica o Rav Issocher Frand que, para responder esta pergunta, precisamos voltar ao início da história da humanidade, para o nascimento dos primeiros seres humano. O primeiro bebê que nasceu no mundo foi Cain, o filho de Adam e Chavá. Por que seu nome era Cain? Pois Chavá disse: "Adquiri um homem com D'us" (Bereshit 4:1). A linguagem "Cain" vem da mesma raiz de "Kaniti", que significa "Adquiri". O que isto significa? Chavá percebeu que quando D'us criou ela e seu marido, Adam, Ele os criou sozinho. Porém, com aquele filho eles haviam se tornado sócios Dele. Chavá sentiu que, ao conceber e dar à luz um filho, ela literalmente havia se tornado uma sócia de D'us na criação. O Talmud (Nidá 31a) identifica que há três sócios na criação de um ser humano: o pai, a mãe e D'us. Chavá percebeu isso com claridade. Até então ela havia sido apenas uma criatura, mas agora ela havia se tornado uma criadora. Ela trouxe uma vida ao mundo e eternizou esse sentimento no nome que deu ao seu filho. Ela criou uma nova vida e, com isso, se tornou santificada. Porém, esse estado elevado de santidade, de ser uma "criadora", sócia de D'us, não dura muito tempo. Ele se constrói e cresce durante os meses de gravidez, atingindo seu clímax no momento do nascimento. E, então, ele acaba. A mulher, a exaltada criadora da vida humana, retorna à sua existência normal, voltando a ser uma criatura humana como outra qualquer. Ela não é mais uma criadora, seu estado de santidade virou coisa do passado. O que é impureza espiritual? Como a podemos definir? O Sefer HaKuzari define impureza espiritual como sendo o vazio deixado pela ausência de santidade. Sempre que a santidade é retirada do mundo, o vazio deixado é preenchido com impureza. É por isso que a maior fonte de impureza espiritual é um corpo morto, pois onde antes havia uma alma, uma parte de D'us, agora aquele potencial gigantesco se preencheu de impureza. Também a impureza espiritual associada à época menstrual da mulher está relacionada com a perda de um potencial. Aquele óvulo, que poderia ter sido fecundado e gerado uma vida, agora está sendo descartado do corpo. Quando sai a santidade, entra a impureza. Seguindo essa linha de raciocínio, podemos dizer que quanto maior a santidade, maior o vazio que é deixado pela sua ausência, e maior a impureza que a preencherá. Quanto maior o nível de santidade da mãe durante a gravidez e o parto, maior a impureza espiritual que ela experimentará depois, quando a santidade partir. Desta maneira, talvez seja possível entender que, quando a mulher está grávida de uma menina, ela chega a um nível muito maior de santidade, pois neste caso não somente a mãe se tornou uma criadora, mas a criança que ela está carregando também é uma criadora em potencial. Portanto, quando ela dá à luz uma menina que ela estava carregando, ela perde mais santidade do que perderia após o nascimento de um menino e, consequentemente, sua impureza é proporcionalmente maior. Percebemos o quanto é tolo querer enxergar "machismo" nas leis da Torá. A nossa Parashá nos ensina justamente o contrário, o incrível nível espiritual das mulheres. Elas foram escolhidas por D'us para carregar dentro de si o potencial de gerar uma nova vida, tornando-se "sócias" Dele. Este é, certamente, um papel de enorme destaque e importância. No judaísmo não há uma luta interna pelo poder e pela dominação. Os papéis de cada um são muito claros e, dessa forma, a vida no lar é mais harmônica. Quando o marido e a esposa se respeitam, um lar equilibrado é criado. O respeito mútuo é uma das receitas para o sucesso no casamento e na educação dos nossos filhos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |