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CORAGEM PARA ASSUMIR NOSSOS ERROS
- YOM KIPUR 5774 (13 de setembro de 2013)
“Yom Kipur estava chegando e Fernando, com um enorme
remorso por seus terríveis erros cometidos durante o ano, entrou na sala do seu
rabino para perguntar o que poderia fazer para se arrepender por suas
transgressões de maneira sincera e verdadeira. Mas como tinha muita vergonha de
assumir que ele mesmo era o transgressor daqueles erros terríveis, ele mentiu
para o rabino e disse:
- Rabino, eu tenho um amigo que cometeu transgressões
terríveis e quer consertar seus atos. Mas ele está tão constrangido e
envergonhado que não teve coragem de vir pessoalmente falar com você. Por isso ele
me pediu para que eu viesse em seu lugar e pedisse seus conselhos.
Então ele começou a descrever todas as terríveis
transgressões que havia feito, com uma satisfação silenciosa de poder consertar
seus erros sem precisar assumi-los. Mas o rabino, que era muito sábio e
experiente, logo percebeu as intenções de Fernando e quis ensinar-lhe uma
lição. Com um sorriso no rosto, ele disse:
- Fernando, antes de tudo, diga para o seu amigo que ele
é um grande tolo. Ele não precisava ter mandado você no lugar dele. Ele poderia
ter vindo pessoalmente e, para não se sentir envergonhado, bastaria ter dito
que um amigo o havia enviado para falar comigo...”
“Podemos fugir das nossas responsabilidades. Mas não
podemos fugir das consequências por termos fugido das nossas responsabilidades”
(Lord Stamp)
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Neste ano o dia mais
sagrado do calendário judaico, Yom Kipur, o “Dia do Perdão”, coincide com o
Shabat. No dia de Yom Kipur nos desconectamos do nosso lado físico para podermos
nos conectar com força total ao nosso lado espiritual. A partir do por do sol
de sexta-feira até a saída das estrelas do sábado de noite não podemos comer
nem beber, não nos banhamos nem passamos óleos ou cremes no corpo, não usamos
sapatos de couro e estamos proibidos de ter relações maritais.
Porém, não apenas Yom
Kipur é um dia especial de conexão espiritual. Os dias entre Rosh Hashaná e Yom
Kipur são chamados de “Asseret Yemei Teshuvá” (os 10 dias de Teshuvá). A
Teshuvá é o retorno aos caminhos corretos, a volta à nossa espiritualidade.
Todo aquele que errou pode se arrepender e decidir não voltar mais a errar. Explica
o Rambam (Maimônides), nas “Leis de Teshuvá” do seu livro “Mishnê Torá”, que apesar
de podermos nos arrepender durante todo o ano por nossas transgressões, nestes
dias a nossa Teshuvá é mais efetiva e recebe uma ajuda especial dos Céus.
Mas observando com
cuidado estas “Leis de Teshuvá” do Rambam, há algo que nos chama a atenção. No quinto
capítulo ele começa a descrever o livre arbítrio que foi dado ao ser humano,
como está escrito: “A possibilidade foi dada nas mãos de cada ser humano. Se
ele quiser se inclinar para o lado bom e ser um Tzadik (Justo), a possibilidade
está em suas mãos. E se ele quiser se inclinar para o lado mal e ser um Rashá
(malvado), a possibilidade está em suas mãos”. Isto desperta duas perguntas. Em
primeiro lugar, qual a conexão entre o livre arbítrio e a Teshuvá? E em segundo
lugar, o livre arbítrio é a base do nosso relacionamento com o Criador do
mundo. Sem o livre arbítrio, isto é, a possibilidade de escolher o bem ao invés
do mal, não poderia haver um sistema de castigo e recompensa. Então, se é um
conceito tão importante e fundamental, por que o Rambam esperou até as “Leis de
Teshuvá” para falar sobre o livre arbítrio, e não mencionou nada na primeira parte,
chamada “Yesodei HaTorá” (Os Fundamentos da Torá)?
Há também algo nas “Leis
de Teshuvá” que se choca com um dos conceitos mais aceitos pela psicologia
moderna. Existe hoje uma forte crença de que a maioria dos nossos
comportamentos negativos são apenas sintomas de problemas maiores que estão
embutidos na nossa psique. Portanto, muitos psicólogos buscam nas experiências
passadas dos pacientes as causas que geraram um mau comportamento ou atitudes
inadequadas. Por exemplo, uma pessoa que está sempre caluniando e desprezando
os outros pode ser um indicativo de baixa autoestima, enquanto uma
personalidade abusiva pode se manifestar em uma pessoa que foi abusada no
passado.
Porém, ao observarmos as
“Leis de Teshuvá” do Rambam, parece que ele ignora completamente este conceito.
O Rambam se alonga em 10 capítulos para descrever como deve ser a Teshuvá
completa. Por exemplo, ele descreve que a pessoa que cometeu erros deve
abandonar seus maus atos, sentir remorso e arrependimento, expressar
verbalmente suas transgressões (Vidui) e se comprometer a não voltar a cometer
os mesmos erros. Porém, as motivações e experiências passadas do transgressor,
que podem ser os verdadeiros motivadores dos seus erros, não são mencionadas.
Será que o Rambam discorda da psicologia moderna? Por que a raiz dos nossos
erros não é levada em consideração nas “Leis de Teshuvá”?
Explica o Rav Yochanan
Zweig que a resposta está em uma interessante passagem do Talmud (Torá Oral). O
Talmud (Yoma 22b) questiona por que Shaul Hamelech (Rei Shaul), que cometeu
apenas uma transgressão, foi punido com um decreto de Morte Celestial, além de
a monarquia ter sido retirada para sempre de sua família, enquanto David
HaMelech (Rei David), que cometeu duas transgressões, apesar de ter sido
castigado por seus erros, permaneceu com a monarquia em sua família e não recebeu
um decreto de Morte Celestial? A pergunta fica ainda mais difícil quando
observamos quais foram os erros que cada um deles cometeu. David errou no caso
de Bat Sheva e também errou ao ter contado o povo judeu de forma direta, algo
que é explicitamente proibido e que causou a morte de 70 mil judeus. Estes dois
erros parecem ser muito mais pesados do que o erro de Shaul HaMelech, que
recebeu o comando de D’us de exterminar o povo de Amalek e destruir todos os
seus pertences, mas teve misericórdia do rei Agag e poupou sua vida, além de
deixar vivo o gado de Amalek, um ato aparentemente bem mais leve, uma simples
omissão. Então por que David foi tratado de maneira preferencial, se seus erros
parecem ter sido muito mais graves?
A resposta esta na
diferença de comportamento entre Shaul HaMelech e David HaMelech depois dos
erros cometidos. Quando o profeta Natan repreendeu David após o seu erro com
Bat Sheva, ele respondeu: “Eu pequei contra D’us” (Shmuel II 12:13). Shaul
também, quando repreendido pelo profeta Shmuel, confessou: “Eu pequei, pois
transgredi as palavras de D’us” (Shmuel I 15:24). Aparentemente não há nenhuma
diferença entre o arrependimento dos dois. O problema está na continuação das
palavras de Shaul HaMelech: “Pois eu temi o povo e cedi às suas
reivindicações”. Enquanto David simplesmente assumiu que pecou, Shaul tentou
encontrar desculpas que justificassem seu erro, atribuindo-o à pressão feita
pelo povo. Ao tentar buscar uma desculpa, Shaul estava tirando de si a
responsabilidade pelo seu erro. Pelo fato do elemento mais importante da
Teshuvá ser a aceitação da responsabilidade completa pelos nossos erros, ao
invés de ficar buscando em quem colocar a culpa, o arrependimento de David
HaMelech foi aceito como uma Teshuvá completa, enquanto o arrependimento de
Shaul foi incompleto.
Este é o grande problema
de tentar conectar nossos maus comportamentos atuais com experiências passadas,
pois normalmente nos leva a tirar de nós a responsabilidade pelos nossos erros.
Quando estamos fazendo Teshuvá pelas transgressões cometidas, a Torá quer que
mantenhamos o nosso foco apenas nos nossos atos atuais, pois devemos aceitar a
responsabilidade completa por nossas transgressões. Qualquer tentativa de
identificar os nossos erros como meras manifestações de experiências passadas
é, na realidade, uma tentativa de diminuir a nossa culpa.
É por isso que o Rambam
deixou o assunto de livre arbítrio para ser tratado apenas nas “Leis de
Teshuvá”, pois é a habilidade de escolher o certo ao invés do errado que nos
torna completamente responsáveis pelos nossos atos. Traços de caráter e
experiências passadas podem aumentar o nosso desafio, mas não afeta nossa
habilidade de fazer as escolhas corretas. Podemos ter certas propensões e
inclinações naturais, mas isto não tira nosso livre arbítrio. Por isso ninguém
pode atribuir seus erros às suas dificuldades passadas e traumas, pois, em
última instância, a pessoa tem a força e o discernimento de fazer a escolha
correta.
Portanto, o judaísmo não
discorda do conceito utilizado na psicologia. A análise psicológica da pessoa
com problemas e dificuldades pode ajudar a definir os desafios enfrentados por
ela e a melhor forma de encaminhá-la. Mas se for usada para tirar da pessoa a
responsabilidade por seus atos, então se torna algo muito negativo e fará com
que esta característica ruim se enraíze cada vez mais, pois ao invés de se
esforçar para mudar, a pessoa buscará sempre desculpas para justificar seus
maus atos.
Toda cura vem de D’us,
tanto física quanto espiritual. Nos Asseret Iemei Teshuvá, e em especial no dia
de Yom Kipur, D’us nos ajuda a retirarmos todos os obstáculos e barreiras que
nos dificultam fazer o que é correto. Mas antes temos que fazer a nossa parte.
Certamente o principal caminho para que Hashem retire todas as dificuldades é
assumirmos, sem buscar desculpas, as nossas próprias culpas.
GMAR CHATIMÁ TOVÁ
SHABAT SHALOM e
TSOM KAL
Rav Efraim Birbojm
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São Paulo: 17h39 Rio de Janeiro:
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querido e saudoso avô, Ben Tzion (Benjamin) ben Shie Z"L, que lutou toda
sua vida para manter acesa a luz do judaísmo, principalmente na comunidade
judaica de Santos. Que possa ter um merecido descanso eterno.
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus
queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh
Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas
como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam
ter um merecido descanso eterno.
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha
querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L. Que possa ter um merecido
descanso eterno.
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