quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O SEGREDO ESTÁ NA PERSISTÊNCIA - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT LECH LECHÁ 5779

BS"D
Para dedicar uma edição do Shabat Shalom M@il, em comemoração de uma data festiva, no aniversário de falecimento de um parente, pela cura de um doente ou apenas por Chessed, favor entrar em contato através do e-mail efraimbirbojm@gmail.com.
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O SEGREDO ESTÁ NA PERSISTÊNCIA - PARASHAT LECH LECHÁ 5779 (19 de outubro de 2018)

Jacques, um garoto de apenas 10 anos, era muito inteligente e tinha uma boa índole. Apesar disso, ele tinha um grande defeito: desanimava com demasiada facilidade quando uma tarefa qualquer parecia difícil. Ele podia ser tudo, menos um menino persistente. Isto preocupava muito seu pai, pois ele tinha medo que Jacques não conseguiria enfrentar as dificuldades da vida quando crescesse.
 
O pai de Jacques então teve uma ideia genial. Certa noite, entregou a ele uma tábua de grande espessura e um canivete. Jacques não entendeu o que o pai queria. O pai então pediu ao filho que fizesse com o canivete um risco em toda a largura da tábua. O garoto obedeceu às instruções do pai, mas sem entender o propósito daquilo. Em seguida, a tábua e o canivete foram trancados em uma gaveta.
 
A mesma coisa foi repetida em todas as noites seguintes. Ao fim de um mês, Jacques já não aguentava mais de curiosidade. O que seu pai queria com aquela "cerimônia" que se repetia diariamente? Todas as noites, sem exceção, o pai trazia o canivete e a tábua para que o filho passasse o canivete mais uma vez sobre aquele risco, que se aprofundava, de forma quase imperceptível, a cada dia.
 
Finalmente chegou o dia em que Jacques, ao passar o canivete sobre a tábua, sem fazer muito esforço, fez com que ela se separasse em duas metades. O pai de Jacques olhou por algum tempo para ele e depois disse:
 
- Meu querido, você nunca acreditaria que isto era possível, não é verdade? Você teria começado o trabalho se eu tivesse te pedido, desde o início, para cortar esta tábua grossa com um simples canivete? Certamente que não. Pelo que eu te conheço, você teria desistido após algumas poucas tentativas. Este é um ensinamento que eu quero deixar para a sua vida. O êxito ou o fracasso na vida não dependem tanto de quanta força colocamos em nossas tentativas, mas sim da persistência no que fazemos. Nunca desista de seus objetivos, não importa as dificuldades que apareçam no seu caminho.
 
Foi uma lição impossível de esquecer, mesmo para um garoto de dez anos. A persistência é o segredo do sucesso, em todas as áreas da vida.

Nesta semana lemos a Parashat Lech Lechá (literalmente "Vá para você"), que descreve os primeiros desafios através dos quais D'us testou a integridade e a Emuná (fé) de Avraham Avinu. Um dos primeiros testes foi "Lech Lechá", quando D'us mandou Avraham sair de sua casa, abandonar sua família e todo o seu conforto para ir a uma terra estranha. Foi um teste difícil, pois Avraham teve que confiar plenamente em D'us e partir para um destino desconhecido. Porém, Avraham era um vencedor. Ele conseguiu juntar forças e passou no teste. Acompanhado de sua esposa Sara e seu sobrinho Lot, ele cumpriu com sucesso a sua missão, como está escrito: "E saíram para ir à Terra de Knaan e chegaram à Terra de Knaan" (Bereshit 12:5).
 
Porém, a linguagem deste versículo desperta um grande questionamento. Sabemos que a Torá, que foi escrita por D'us, é um "documento" perfeito e, portanto, é extremamente precisa em cada informação que transmite. Entretanto, neste versículo há uma informação aparentemente desnecessária. Se a Torá já havia nos informado que Avraham saiu para ir à Terra de Knaan, por que é necessário também dizer que ele chegou à Terra de Knaan? Isto não é óbvio?
 
Explica o Rav Yehuda Leib Chassman zt"l (Lituânia,1869 - Israel, 1935) que uma regra importante no nosso Serviço espiritual é nunca esquecer, nem por um único instante, do nosso propósito de vida, e garantir que o nosso objetivo esteja sempre diante dos nossos olhos. Se distrair destas coisas fundamentais é o que causa muitas quedas e enfraquecimento no nosso Serviço a D'us. A falta de claridade nesta área é o motivo da preguiça e tudo o que se deriva dela. Portanto, é uma obrigação do ser humano prestar atenção no caminho no qual ele está indo na vida e ter sempre a consciência de seu propósito.
 
Muitas vezes decidimos nos comprometer com certas melhorias em nosso comportamento e desenvolvemos ambições de crescimento em áreas importantes da vida. No início, por algum tempo, nos inspiramos e conseguimos caminhar na direção do objetivo que estabelecemos para nós. Porém, com o passar do tempo, os esforços vão se enfraquecendo, até o ponto de nos esquecermos completamente dos nossos compromissos. É o que sentimos neste momento do ano. Passamos pelo mês de Elul, que nos inspirou e nos motivou. Logo depois veio Rosh Hashaná e Yom Kipur, que nos energizou e nos ajudou a recebermos sobre nós o compromisso de crescimento em certas áreas. Porém, quando chega o mês de Cheshvan, muitos dos nossos compromissos assumidos já fazem parte de um passado distante. Aquelas convicções de que "neste ano vai ser diferente" ficam guardados para o próximo Rosh Hashaná e, com isso, nosso crescimento fica estagnado por mais um ano.
 
Mas por que isto acontece? Deveria ocorrer justamente o contrário! Quanto mais nos acostumamos com algo, mais domínio deveríamos ter sobre isto. O tempo deveria nos levar a um despertar, a um fortalecimento e um crescimento no nosso Serviço Divino. Então por que o passar do tempo acaba nos prejudicando, ao invés de nos ajudar? Pois, com o passar do tempo, acabamos nos acostumando e nos distraímos dos nossos objetivos. Este é um dos maiores desafios do ser humano: conseguir manter o foco em seus objetivos de vida.
 
A solução é um esforço especial em fortalecer e colocar no coração constantemente os mesmos pensamentos e motivações que haviam no momento em que demos o primeiro passo rumo ao nosso objetivo. É justamente isto que a Torá nos ensina no versículo "E estas são as palavras que Eu te ordeno hoje" (Devarim 6:6). Por que não está escrito "Estes foram as palavras que eu te ordenei"? Para nos ensinar que não devemos permitir que a Torá se transforme, aos nossos olhos, em decretos velhos e antiquados, com os quais não nos importamos mais. O esforço deve ser para manter a Torá sempre como algo novo, que todos correm ao seu encontro. Precisamos renovar os nossos pensamentos sempre, para constantemente sentir a alegria de como se fosse o primeiro dia que cumprimos as Mitzvót.
 
É isto o que a Parashat está nos ensinando com as palavras "E saíram para ir à Terra de Knaan e chegaram à Terra de Knaan". A cada passo que Avraham dava em seu caminho para a Terra de Knaan, que era o seu objetivo, se renovava dentro dele o comando de D'us. O versículo está nos afirmando que, mesmo quando Avraham já estava no seu último passo, na fronteira da Terra de Knaan, seu objetivo estava tão claro quanto no momento em que ele partiu para realizar sua empreitada, como se o comando de D'us tivesse sido feito naquele momento. Isto quer dizer que a chegada à Terra de Knaan foi com a mesma renovação, vitalidade e frescor que Avraham sentiu quando partiu em direção ao seu objetivo.
 
Viver com este sentimento de renovação e vitalidade o tempo inteiro é difícil. Porém, temos muitos modelos de grandes sábios que viveram desta maneira. Por exemplo, os alunos do Rav Yechezkel Levenstein zt"l (Polônia, 1895 - Israel, 1974) descrevem que ele vivia com uma incrível vitalidade e se renovava continuamente, mesmo em sua velhice, cumprindo as palavras do versículo "O Tzadik floresce como a tamareira e cresce como o cedro do Líbano... ainda crescerão em sua velhice e estarão saudáveis e com frescor" (Tehilim 92:13,15). Cada Tefilá que ele fazia era especial, como se fosse a sua primeira Tefilá. Cada aula que ele dava era como se fosse um evento único. Cada dia de sua vida era para ele como um mundo novo. Ele não permitia que nenhum detalhe do seu Serviço Divino caísse na rotina. Ele costumava ensinar que o versículo da Torá "Escolha a vida" (Devarim 30:19) é um comando constante de D'us. Temos que "escolher a vida", isto é, viver intensamente cada instante da vida, com vitalidade e alegria, pois a falta de crescimento espiritual é a maior desgraça que pode atingir o ser humano.
 
O Rav Yechezkel Levenstein também ensinava aos seus alunos que aquele que não cresce constantemente se assemelha àquele que atrasou para pegar o trem e ficou na estação com suas malas na mão. Esta pessoa certamente nunca chegará ao seu objetivo. O crescimento constante em espiritualidade é o trem que movimenta o ser humano para levá-lo ao seu objetivo. É por isso que, até o dia do seu falecimento, ele se esforçou para crescer e melhorar em seu Serviço Divino.
 
O elemento mais difícil do Yetser Hará (má inclinação) da rotina é que aquele que já está imerso nele não consegue perceber o quanto está se afastando do seu objetivo de vida. Por isto, é necessária uma luta constante, todos os dias. Cada passo de nossa vida deve ser visto como uma nova oportunidade, e a persistência é o que vai nos levar ao sucesso. É verdade, nos comprometemos em Rosh Hashaná e já sentimos o quanto está difícil manter nossas convicções. Mas não podemos desistir. Quanto mais claros estiverem os nossos objetivos, mais força encontraremos para lutar. Podemos perder algumas batalhas na vida, mas a persistência nos fará vencer a guerra no final.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
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