sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NOACH 5770

BS"D
MILAGRES – PARASHÁ NOACH 5770 (23 de outubro de 2009)
"Havia um alpinista que sempre buscava superar seus limites e vencer novos desafios. Depois de muitos anos de preparação, ele decidiu que havia chegado o momento de escalar o monte mais alto do mundo. Como não encontrou pessoas dispostas a encarar tamanho perigo, ele resolveu escalar sozinho, apesar de isso aumentar ainda mais a dificuldade da escalada.
Ele começou a subida, e estava tão obstinado que não sentiu o tempo passar. Foi ficando cada vez mais escuro, mas ele decidiu não parar para acampar. Queria seguir escalando, pois estava decidido a atingir o topo o mais rápido possível.
Como o céu estava completamente encoberto, quando escureceu de vez, a noite caiu como um breu nas alturas da montanha, e não era possível enxergar nem mais um centímetro diante dos olhos, não se via absolutamente nada. Tudo era uma grande escuridão. Mas o alpinista decidiu que continuaria mesmo assim. Quando chegou a um trecho que era uma verdadeira "parede", sua mão escorregou e ele caiu. Caía a uma velocidade vertiginosa, e somente sentia a terrível sensação de ser sugado pela força da gravidade. Ele continuava caindo e, nesses angustiantes momentos, passaram por sua mente todos os momentos que ele já havia vivido em sua vida.
De repente, ele sentiu um puxão forte, que quase o partiu pela metade. Como todo alpinista experimentado, ele havia cravado estacas de segurança com grampos a uma corda comprida, e a corda estava fixa em sua cintura. Nesses momentos de silêncio, com seu corpo ferido suspenso pela corda, em uma completa escuridão, não restou para ele nada além de gritar para D'us e pedir Sua ajuda. De repente uma voz vinda do céu falou:
- Você realmente acredita que Eu posso te salvar?
- Eu tenho certeza, D'us – respondeu o alpinista.
- Então corte a corda que te mantém pendurado.
Houve um momento de silêncio e reflexão. O homem se agarrou mais ainda à corda e refletiu que, se a largasse, morreria. A queda seria fatal, não havia chance de sobreviver. Ele acreditava em D'us, mas não podia largar aquela corda.
Dois dias depois uma equipe de resgate encontrou um alpinista morto, congelado, agarrado com as duas mãos a uma corda, a dois metros do chão!!!"
Vivemos em um mundo onde parece que estamos sujeitos às forças da natureza, que elas têm o controle. Mesmos cientistas conceituados preferem acreditar em acasos, em probabilidades ínfimas. Este bloqueio são como cordas, que nos deixam amarrados, a poucos metros da verdade. Cortem as suas cordas.
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Nesta semana lemos a Parashá Noach, que conta sobre o quanto os homens haviam se corrompido e se desviado dos caminhos corretos, e o consequente dilúvio que apagou a humanidade da face da Terra. Noach (Noé) e sua família foram escolhidos por D'us para recriar a humanidade, justamente pelo fato de Noach, apesar de toda a influência negativa de sua geração, ter se mantido uma pessoa íntegra, como diz o versículo "Noach andava com D'us" (Bereshit 6:9). Explica o Rav Yechezkel Levinshtein que "andar com D'us" significa que Noach era uma pessoa que tinha uma grande Emuná (fé). Como ele expressava isso na prática?
Quando D'us decidiu destruir a humanidade, Ele se revelou para Noach e deu-lhe a tarefa de construir uma gigantesca Arca sobre uma montanha. Ele avisou para Noach que traria ao mundo um grande dilúvio, que destruiria os seres humanos e todos os animais. A Torá descreve as dimensões da arca: "300 amót de comprimento (aproximadamente 150 metros), 50 amót de largura (aproximadamente 25 metros) e 30 amót de altura (aproximadamente 15 metros)" (Bereshit 6:15). A arca tinha 3 níveis, sendo que o superior seria para Noach e sua família, o do meio para os animais e aves e o inferior para o lixo. Porém, se levarmos em consideração que de cada animal foram levados para a Arca um par, e dos animais puros foram levados 7 pares, é impossível que todos tenham cabido dentro desta Arca. E fora os animais, também foi necessário levar comida para todos eles, para um período de um ano. Quando Noach fez as contas, concluiu que mesmo que a Arca fosse dez vezes maior também não comportaria todos os animais e a comida. Apesar disso, por muitos anos Noach trabalhou na construção da Arca sem nunca questionar D'us. As pessoas em sua volta o ridicularizavam, chamando-o de louco, mas ele não desistiu, pois ele manteve sua Emuná. E no final, D'us realmente fez um grande milagre e tudo coube na Arca. Mas fica uma pergunta: se D'us já teria que fazer um milagre, por que a Arca tinha que ser tão grande? Por que Ele não pediu para que Noach construísse apenas um pequeno bote?
D'us justamente criou o mundo material para poder se ocultar, nos dando a oportunidade de exercer o nosso livre-arbítrio e assim meritar por cada escolha correta que fazemos. Por isso, mesmo quando D'us precisa fazer um milagre aberto, Ele tenta fazer de maneira que fique sempre uma brecha para os que não querem enxergar. Se D'us pedisse para Noach fazer uma Arca pequena, o milagre seria aberto demais. Já com uma Arca grande, apesar de tecnicamente ser impossível que todos os animais entrassem nela, mesmo assim ficou a brecha para os que querem errar e se desviar.
Mas afinal, qual é o objetivo de D'us ao fazer milagres abertos? A resposta é que os milagres abertos, nos quais a mão de D'us fica mais evidente, como os que ocorreram no dilúvio ou na saída do Egito , nos despertam para a realidade de que tudo é um grande milagre, e mesmo o que parece ser apenas forças da natureza é, em última instância, o cumprimento da vontade de D'us. Na realidade, a palavra "Milagre", em Lashon Hakodesh (língua com a qual D'us criou o mundo e escreveu a Torá) é "Ness", que vem da mesma raiz da palavra "Nissaion", que significa "Teste", pois no fundo todo milagre que acontece é um teste se vamos conseguir enxergar a mão de D'us.
Este teste está presente em nossas vidas todos os dias. Durante os 40 anos em que o povo judeu passou no deserto, o alimento literalmente caiu do céu. O "Man" (Maná) caía diariamente e alimentava todo o povo, e ninguém tinha dúvidas de que era um grande milagre de D'us. Mas quando nós comemos um pão que veio da terra, enxergamos o milagre de D'us ou pensamos que é apenas natureza? A verdade é que não existe nenhuma diferença no tamanho do milagre entre cair Man do céu e comer um pão que foi tirado da terra, mas como comer o pão é algo comum, algo que já estamos acostumados, perdemos a percepção do grande milagre que ocorre. Provavelmente se caísse Man até hoje em dia, também não enxergaríamos mais o quanto é milagroso.
Ensina o livro "Chovót Halevavót" que é fácil perceber a mão Divina ao refletir sobre a Sua Criação. Uma pequena semente é uma grande prova de D'us. Uma semente de laranja atirada no solo produz uma gigantesca árvore com centenas de laranjas, e cada laranja com dezenas de novas sementes. É algo natural que esta pequena semente, pequena e frágil, possa ter força para produzir tanto? Somente há lugar para equívocos quando não paramos para refletir.
Um dos principais trabalhos que o ser humano tem neste mundo é refletir e enxergar que tudo é um milagre, não existe natureza. A natureza é apenas um instrumento de D'us para nos testar. Por um lado temos que nos esforçar neste mundo, temos a obrigação de fazer a nossa parte para diminuir os milagres, mas precisamos pensar e refletir até que tenhamos conseguido colocar no coração que tudo, sem nenhuma exceção, vem de D'us, e é apenas Nele que nós devemos confiar.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm