Nesta semana lemos a Parashá Vayigash (literalmente "E se aproximou"), que descreve o auge da história de Yossef. Após ter sido vendido como escravo pelos irmãos, ter passados por altos e baixos e ter se tornado vice-rei do Egito, responsável por salvar o mundo de uma severa fome, finalmente Yossef se revelou aos seus irmãos. Após um momento de perplexidade, os irmãos o abraçaram e voltaram para casa para buscar Yaacov e suas famílias e trazê-los para o Egito, já que a fome ainda continuaria por mais alguns anos. Do auge da história de Yossef podemos aprender um conceito espiritual importante. Se pudéssemos agendar uma conversa pessoal com D'us, faríamos isso? Apesar de parecer uma ideia interessante, há uma condição especial: D'us seria completamente honesto conosco. Ele nos diria exatamente o que fizemos de certo e o que fizemos de errado. Todos nós fazemos coisas na vida das quais nos orgulhamos, mas também cometemos erros pelos quais nos envergonhamos e que preferiríamos esquecer. E o pior são aqueles erros que nem mesmo percebemos, dos quais é difícil se arrepender e consertar. Será que estamos avançando em direção ao nosso potencial ou estamos desperdiçando nossas vidas? D'us pode nos responder esta pergunta, mas será que teríamos a coragem de escutar? Uma parte de nós quer saber a verdade, mesmo que a verdade doa, mas outra parte de nós tem medo da dor. Os irmãos de Yossef eram seres humanos, com qualidades de grandeza espiritual. Eles eram a base de formação das 12 Tribos de Israel. Porém, eles não eram anjos, eles eram seres humanos e cometiam falhas. Por vinte e dois anos eles acreditavam terem feito o que era correto ao vender Yossef como escravo. Mas, no fundo, algo os incomodava. Coisas ruins começaram a acontecer, e eles imediatamente associaram à falta de misericórdia que demonstraram com Yossef. Eles queriam descobrir a verdade e enfrentar o erro que cometeram, mas não queriam encarar a realização mais dolorosa de todas: que eles estavam completamente errados. Não queriam descobrir que, nos últimos vinte e dois anos, viveram uma mentira. A venda parecia ser a decisão correta, mas havia sido influenciada pelo ódio e pela inveja. Eles não julgaram corretamente, pois tinham interesses envolvidos. Por que Yossef não se revelou aos irmãos imediatamente quando os reencontrou? Pois ele estava determinado a fazê-los enxergar o erro que cometeram. Mas Yossef queria que eles percebessem isso por si mesmos, pois aquilo que uma pessoa entende por conta própria é internalizado em um nível mais profundo do que aquilo que é dito pelos outros. Para trazer as coisas ao seu auge, Yossef mandou esconder seu cálice de prata na sacola de Biniamin e os acusou de roubo. Quando o cálice foi encontrado, os irmãos primeiro suspeitaram que Biniamin realmente o havia pegado, mas logo percebem que tudo era uma armação. Quando voltaram diante do poderoso vice-rei do Egito, Yehudá, como porta-voz dos irmãos, disse: "D'us revelou o pecado dos seus servos" (Bereshit 44:16). Rashi (França, 1040 - 1105) explica que Yehudá estava dizendo: "Sabemos que não somos culpados disso, mas D'us está nos punindo pelo pecado que cometemos contra nosso irmão". É por isso que ele concluiu: "Estamos prontos para ser escravos, tanto nós quanto aquele em cuja mão o cálice foi encontrado". Então Yehuda se aproximou de Yossef e faz um discurso comovente. Ele suplicou e, segundo algumas opiniões, ameaçou destruir todo o Egito. Mas se ele acreditava que o vice-rei era um egípcio, que não entendia Lashon Hakodesh, qual era o propósito do seu discurso? Ensinam os nossos sábios que palavras que saem do coração entram no coração do outro. Yehudá, sem outra escolha, precisava fazer algo para que suas palavras alcançassem o coração daquele homem duro de alguma forma. Através do seu discurso, Yehudá atingiu o nível de Teshuvá. Colocado na mesma situação em que estava antes de vender Yossef, Yehudá decidiu desta vez arriscar a vida para defender seu irmão, mesmo que Biniamin também era um irmão especialmente favorecido, por ser filho da esposa amada de Yaakov, Rachel. Para proteger seu pai de sentir ainda mais dor, Yehudá estava disposto a lutar contra todo o poder do Egito. Mas há um detalhe interessante. Apesar de todo o arrependimento, Yehudá ainda não havia conseguido reconhecer que a pessoa que estava diante dele era seu irmão Yossef. Enquanto ele fazia Teshuvá por ter vendido Yossef, percebendo que era necessário defender seu irmão Biniamin e seu pai, ele ainda se recusava a admitir que julgou mal seu irmão. Reconhecer que aquele que estava diante dele era Yossef seria admitir que os sonhos eram verdadeiros, e não produto de um indivíduo sedento por poder. Os seres humanos são complexos. Podemos ser totalmente honestos e abertos para encontrar a verdade em um aspecto e, ao mesmo tempo, bloqueá-la completamente em outro. Yossef então não conseguiu mais se conter. Embora quisesse que seus irmãos percebessem a verdade sozinhos, ele foi forçado a se revelar, como está escrito: "E Yossef disse aos seus irmãos: 'Eu sou Yossef. Meu pai ainda está vivo?'. Mas seus irmãos não puderam responder, porque ficaram desconcertados diante dele" (Bereshit 45:3). Os irmãos imediatamente entenderam a mensagem. Perceberam que nos últimos vinte e dois anos haviam vivido uma ilusão, pensando que estavam certos ao ver seu irmão como uma pessoa perigosa e sedenta por poder, quando ele apenas lhes dizia o que D'us realmente havia mostrado através de sonhos proféticos. Eles estavam tão envergonhados que não conseguiram responder nada para Yossef. Nossos sábios ensinam que podemos aprender deste acontecimento como será nossa "entrevista particular" com D'us após nossa partida deste mundo. Yossef era apenas um ser humano, o irmão mais novo, e ainda assim, quando ele disse "Eu sou Yossef", os irmãos não puderam responder nada de tanta vergonha que sentiram. Então, o que poderemos dizer quando nos encontrarmos com D'us e Ele disser: "Eu sou D'us", e tudo ficar claro? Quanto tempo vivemos em ilusões, nos enganando sobre o que é verdadeiro e importante? O judaísmo também tem o conceito de "inferno", chamado de Gehinom. Mas, diferente do que é ensinado em outras religiões, não se trata de um fogo eterno. Gehinom é a intensa vergonha que a alma sente ao perceber quanto o corpo a fez ignorar o verdadeiro significado da vida. Os irmãos de Yossef sentiram essa vergonha, e a dor disso os purificou dos efeitos de vinte e dois anos encobrindo seu erro. Da mesma forma, o Gehinom é um processo de purificação, um passo para a experiência da conexão final com D'us no Mundo Vindouro. Ainda assim, pelo fato de precisarem que a verdade fosse mostrada, eles não fizeram uma Teshuvá completa. O Rav Noach Weinberg zt"l (EUA, 1930 - Israel, 2009) explica que a expressão "não puderam responder" significa que eles não tinham o que dizer, mas gostariam de poder ter dito algo. Tiveram a vontade de dizer a Yossef: "Foi você que trouxe isso sobre si mesmo. Nós o julgamos mal, mas não somos totalmente culpados". É fácil enxergar esta cegueira nos outros, mas devemos ter a claridade de que ela também nos atinge. Quando se trata de algo no qual temos interesses, também nos tornamos cegos e buscamos justificativas para encobrir nossas falhas. Não enxergamos mesmo o que é mais óbvio. Somente com reflexões e aconselhamentos com os sábios de Torá poderemos superar esta cegueira. É a única forma de consertarmos nossos erros e caminharmos no nosso objetivo de aprimoramento. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |