A Parashat desta semana, Pinchás, dá continuidade a uma história que começou no final da Parashat passada, Balak. Muitos homens judeus haviam sido atraídos para uma armadilha espiritual e, seduzidos por mulheres do povo de Midian, agiram promiscuamente com elas. Estas mulheres também influenciaram muitos judeus a fazerem idolatria. Um homem importante do povo judeu, Zimri, líder da tribo de Shimon, quis declarar publicamente seu apoio ao envolvimento com as mulheres de Midian. Ele descaradamente cometeu atos indecentes à vista de Moshé e do povo judeu. D'us enviou uma praga e 24.000 judeus morreram. Pinchás era um "Kanai", isto é, alguém com um zelo incrível pela honra de D'us. Por este traço de caráter, Pinchás não podia suportar atos de "Chilul Hashem" (quando o nome de D'us é publicamente manchado). Inconformado com a audácia de Zimri, prontamente matou-o, juntamente com a mulher com a qual ele havia cometido a transgressão, Kozbi, uma princesa de Midian. Depois do ato de zelo pela honra de D'us feito por Pinchás, a praga cessou. D'us então disse a Moshé: "Pinchás, o filho de Elazar, o filho de Aharon, o Cohen, interrompeu a Minha fúria que queimava sobre a nação judaica, quando ele zelosamente vingou Minha vingança entre eles. É por isso que eu não destruí o povo judeu em Minha vingança. Portanto, diga a ele (Pinchás): Eis que Eu lhe dou o Meu pacto de paz" (Bamidbar 25:10-12). O que significa este "pacto de paz"? Quando D'us escolheu Aharon e seus quatro filhos para serem os Cohanim (sacerdotes), responsáveis pelos serviços espirituais do povo judeu, isto se estendeu aos seus futuros descendentes. Porém, no momento da nomeação de Aharon e seus filhos, todos os descendentes que já haviam nascido não tiveram o mérito de serem Cohanim. Este era o caso de Pinchás. Porém, por seu ato de "Kanaut", D'us o recompensou com o "pacto de paz", isto é, ele e seus descendentes foram incluídos entre os Cohanim. Porém, isto desperta uma grande pergunta: o ato de Pinchás foi algo violento, muito diferente da característica principal do seu avô, Aharon HaCohen, conhecido por ser alguém que "amava a paz e perseguia a paz". Os Cohanim herdaram de Aharon esta característica e, por isso, são os representantes da paz no mundo. Fazia sentido Pinchás receber o mérito de se tornar um Cohen, um representante da paz, justamente por causa de um ato de violência? Isto também é contraditório com um importante conceito espiritual. D'us administra Suas recompensas e punições através de um sistema chamado "Midá Kenegued Midá" (medida por medida). As punições ou recompensas normalmente são semelhantes às transgressões ou boas ações cometidas. Porém, aparentemente a regra não se cumpriu neste caso, pois o zelo de Pinchás, colocado em prática através de um ato de violência, foi recompensado com um pacto de paz. Onde está a "medida por medida" neste caso? Atualmente estamos na época dos pacifistas. Em seus discursos, eles costumam mencionar lemas como "A guerra é um crime contra a humanidade" e "Não existe guerra justificada". No dicionário, a definição de pacifismo é "oposição ao uso da força sob quaisquer circunstâncias; recusa, por razões de consciência, em participar de guerra ou ação militar". Portanto, a visão dos pacifistas é que não há nenhuma justificativa válida para se envolver em uma guerra. Será que esta é a visão judaica? O que a paz realmente significa? Aprendemos da nossa Parashat que as guerras são, às vezes, necessárias para alcançar a paz. Ao contrário do que prega o pacifismo atual, a Torá afirma que existem guerras que são justificadas, conforme nos ensina Shlomo HaMelech: "Há um tempo para amar e um tempo para odiar. Há um tempo para a guerra e um tempo para a paz" (Kohelet 3:8). Quando D'us anunciou a Pinchás a recompensa pelo seu ato de bravura, Ele estava comunicando que seu ato de violência havia sido, na realidade, um ato de paz. Mas como um ato de violência pode ser considerado um ato de paz? Paz não significa uma situação passiva, uma falta de guerra. A paz é um estado no qual existe uma proximidade, um relacionamento, uma maneira de lidar uns com os outros. "Eu não te incomodo se você não me incomodar" não representa uma paz verdadeira. Paz é quando conseguimos conviver e trabalhar juntos, quando há união e companheirismo, quando fazemos parte de um todo. Em hebraico, paz é "Shalom", a mesma raiz de "Shalem", que significa "completo". A paz é uma relação de cooperação, em que ambas as partes se preocupam umas com as outras, ajudam-se mutuamente e, por fim, aperfeiçoam-se através deste relacionamento. Duas pessoas que se odeiam e nunca se falam, mas nunca brigam, não podem ser consideradas em paz uma com a outra. O "Shalom Bait" (harmonia conjugal) não significa a simples ausência de gritos e berros na casa. É um estado no qual os cônjuges genuinamente compartilham suas conquistas, fortalecem-se mutuamente, se amam e cuidam um do outro. Por isso, o que nós normalmente chamamos de "paz" muitas vezes é apenas uma enganação. Por exemplo, é um equívoco referir-se ao acordo de Camp David, assinado em 1979 entre Israel e o Egito, como um "Tratado de paz". No máximo, foi um cessar-fogo. A retórica de ódio e desprezo do Egito por Israel e o antissemitismo na imprensa egípcia nunca cessou. O presidente egípcio, Hosni Mubarak, nunca visitou Israel, exceto para comparecer ao funeral de Yitzchak Rabin. Isto não se chama paz. Como a paz é uma força ativa, e não uma ausência passiva de guerras, qualquer coisa que perturbe e destrua esse estado de paz verdadeira deve ser removida para que a paz volte. É por isso que Pinchás, através de seu ato de zelo, apesar de ter sido violento, realmente trouxe de volta a paz. Pinchás interrompeu a praga que atingia o povo judeu e, através de um ato de guerra, trouxe de volta a paz entre D'us e o povo judeu. Devemos tentar sempre alcançar a paz. Porém, muitas vezes é necessário criar a paz através do que parece ser um ato de violência. É preciso remover as coisas que perturbam a harmonia e que criam tensões entre os povos para que a paz exista. E nem sempre é possível remover as coisas que bloqueiam a paz por meios não violentos. Alguém pensa seriamente que os nazistas poderiam ter sido tratados de forma não violenta? Osama bin Laden poderia ter sido tratado sem violência? Terroristas podem ser convencidos a não matar inocentes através de conversas amigáveis? Certamente que não. Somente quando a violência, como opção, for completamente erradicada, a paz poderá ser alcançada. Se todas as pessoas no mundo estivessem comprometidas em alcançar uma paz real, que envolvesse uma relação de cooperação mútua, talvez o pacifismo pudesse ser um movimento viável. Como este não é o caso, muitas vezes devemos destruir, se necessário com violência, as coisas que criam tensões entre os povos para que a paz exista. Precisamos apenas tomar cuidado com as nossas guerras. Muitas vezes somos levados à guerra por causa dos nossos próprios desejos, e não pela busca verdadeira da paz. Por exemplo, Korach iniciou uma guerra contra Moshé. Em sua cabeça certamente haviam muitas razões para justificar seu comportamento. Porém, sabemos que a história terminou de maneira trágica. O que faltou para Korach foi o aconselhamento, saber que suas atitudes eram uma busca de honra, não uma busca sincera pela paz. Devemos sempre buscar a paz através do entendimento. Mas também devemos estar prontos para a guerra quando isto for necessário. Estar sentado tranquilamente enquanto injustiças acontecem não é paz, é comodismo. Nestes casos, são as guerras que geralmente trazem a paz definitiva, não os discursos pacifistas. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |