sexta-feira, 14 de junho de 2013

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ CHUKAT 5773


BS"D

 

FAZENDO CÁLCULOS ERRADOS - PARASHÁ CHUKAT 5773 (14 de junho de 2013)

 

"O Rav Chaim Shmulevitz era uma pessoa extremamente humilde, e fugia de qualquer tipo de honrarias e títulos. Quando ele enviava cartas às pessoas, assinava sempre como "Chaim Shmulevitz", nunca colocando a palavra "rabino" como título, apesar de toda a sua fama e a sua grandeza em conhecimentos de Torá.

 

Certa vez, o Rav Chaim Shmulevitz pediu para que uma pessoa de sua família o ajudasse a escrever uma carta para um amigo que estava em um asilo. Mas desta vez, por algum motivo, o Rav Chaim Shmulevitz pediu ao seu parente que escrevesse, no remetente, o título de "Rabino". O parente não entendeu o pedido. Ele sempre fugia de qualquer reconhecimento e honra, por que desta vez havia até mesmo insistido para que seu nome viesse acompanhado de um título? Sorrindo, o Rav Chaim Shmulevitz explicou:

 

- Não se preocupe, eu não deixei o orgulho subir à minha cabeça. Este senhor para quem eu estou mandando a carta é um brilhante "Talmid Chacham" (estudante de Torá). Mas atualmente ele está muito velhinho e vive sozinho em um asilo. É muito provável que não estão tratando-o com o devido respeito. Por isto, desta vez eu pedi para que você escrevesse um título junto ao meu nome, pois talvez se alguém perceber que é um rabino conhecido que está mandando cartas para ele, vão tratá-lo de maneira mais honrosa".

 

Para si mesmo, o Rav Chaim Shmulevitz nunca buscava nenhuma honra. Ele não deixava seus conhecimentos o transformarem em uma pessoa orgulhosa, que não consegue mais enxergar os outros. Esta é a verdadeira humildade.

 

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A Parashá desta semana, Chukat, descreve uma das Mitzvót mais enigmáticas da Torá: as cinzas da vaca vermelha. Esta Mitzvá guarda grandes segredos, pois nosso intelecto não consegue entender como as cinzas de uma vaca completamente vermelha, misturadas com as cinzas da casca do cedro e as cinzas do hissopo, podem purificar alguém que está espiritualmente impuro. Ensinam os nossos sábios que apenas Moshé chegou ao entendimento completo desta Mitzvá.

 

Mas explica Rashi, comentarista da Torá, que há certo entendimento intelectual para esta misteriosa Mitzvá. Ele compara esta Mitzvá ao filho de uma criada do rei que sujou o chão do palácio, e sua mãe foi chamada pelo rei para limpar a sujeira que seu filho fez. Assim também D'us ordenou a Mitzvá da vaca vermelha para limpar a sujeira deixada pela terrível transgressão do bezerro de ouro.

 

Porém, esta comparação feita por Rashi para explicar a Mitzvá da vaca vermelha é muito estranha. Entendemos que o bezerro é o filho da vaca, mas por que considerar que o bezerro de ouro é o filho da vaca vermelha? Qual a relação entre os dois assuntos? E qual sujeira do bezerro de ouro que a vaca vermelha veio purificar? E finalmente, por que apenas Moshé entendeu a Mitzvá da vaca vermelha, um grande mistério até mesmo para Shlomo Hamelech (Rei Salomão), o mais sábio de todos os homens?

 

Também há outra questão que surge ao observarmos um ensinamento do Talmud (Chulin 88b) sobre este assunto. O Talmud afirma que o mérito da Mitzvá das cinzas da vaca vermelha veio de Avraham Avinu, quando ele, em sua enorme humildade, declarou: "E eis que eu quis falar com D'us, mas eu sou apenas pó e cinzas" (Bereshit 18:27). Qual a relação entre a humildade de Avraham Avinu e a Mitzvá das cinzas da vaca vermelha?

 

A resposta está em outro ensinamento interessante do Talmud (Shabat 145b), que afirma que quando Adam e Chava pecaram no Gan Éden, a cobra injetou no mundo uma imundície espiritual. Quando o povo judeu recebeu a Torá no Monte Sinai, esta imundície foi completamente limpa, mas quando o povo judeu construiu o bezerro de ouro, logo depois, parte da imundície espiritual voltou. As cinzas da vaca vermelha vieram justamente para limpar esta imundície espiritual que voltou ao mundo após o bezerro de ouro. Mas de que imundície espiritual o Talmud está falando?

 

Precisamos entender qual foi a fonte do erro de Adam Harishon. Apesar de D'us ter explicitamente ordenado para que ele não comesse do fruto do conhecimento do bem e do mal, ele descumpriu a vontade de D'us. Ele deu ouvidos à cobra, que quis desviá-lo do caminho correto com argumentos intelectuais. Nossos sábios explicam que a imundície não veio ao mundo após o ato de comer o fruto proibido. A imundície que a cobra injetou no mundo foi convencer Adam a fazer cálculos intelectuais ao invés de escutar o que D'us havia ordenado explicitamente. Este erro foi completamente consertado pelo povo judeu no Monte Sinai, quando todos declararam "Naassê VeNishmá" (faremos e entenderemos), demonstrando que estavam dispostos a cumprir a vontade de D'us sem fazer cálculos, sem buscar desculpas intelectuais para se desviar da verdade. O Sfat Emet, comentarista da Torá, explica que quando eles estavam no Monte Sinai, entenderam a grandeza da Torá e o quanto estavam longe do seu entendimento, em uma imensa demonstração de humildade. Mas o povo judeu logo escorregou de novo. Ao errarem a conta da volta de Moshé Rabeinu, eles novamente começaram a fazer cálculos, indo contra a vontade de D'us. Quando a mente humana não conseguiu entender a vontade de D'us, eles tentaram "consertar" a situação da sua própria maneira, trazendo de volta a sujeira espiritual, a sujeira da arrogância, de acharmos que podemos entender intelectualmente tudo e criar as nossas próprias regras espirituais.

 

Qual é o ponto em comum entre o erro de Adam Harishon e o bezerro de ouro? A falta de humildade, a arrogância de se considerar no mesmo nível de D'us, de querer tomar as decisões do que é correto ou incorreto sozinhos, mesmo indo contra a vontade Dele e Sua sabedoria ilimitada. É por isto que Rashi explica que a vaca vermelha é a mãe que veio limpar a sujeira do bezerro de ouro. O erro do bezerro de ouro surgiu do desconforto do ser humano perceber que não pode entender tudo. Nós queremos entender, nós buscamos, de forma incessante, dominar o desconhecido. Então veio a Mitzvá das cinzas da vaca vermelha consertar nosso erro, nos trazendo de volta à humildade. O orgulhoso sente-se como um cedro, a maior das árvores, mas precisa entender que seu conhecimento não passa de um hissopo, uma planta muito baixa. Mesmo que temos conhecimento em várias áreas, se pararmos para refletir, perceberemos que, na realidade, nós não sabemos nem entendemos quase nada.

 

Por isso a Mitzvá da vaca vermelha, que vem nos ensinar humildade, foi mérito de Avraham, alguém que mudou a humanidade mas, ao mesmo tempo, se sentia pó e cinzas diante de D'us. Apesar de ser um gigante espiritual, Avraham não fazia cálculos, ele cumpria exatamente o que D'us ensinava para ele, mesmo quando  a vontade de D'us ia contra a lógica humana. E por isso Moshé, o mais humilde de todos os homens, meritou entender a Mitzvá da vaca vermelha, algo que nem Shlomo HaMelech conseguiu. A Mitzvá da vaca vermelha está acima de qualquer entendimento lógico. Enquanto a pessoa não é completamente humilde, enquanto ela tenta entender as coisas com seu intelecto limitado, ela não consegue entender a Mitzvá da vaca vermelha. Moshé aceitou o fato de que a Mitzvá não podia ser entendida da maneira que a lógica humana está acostumada a pensar. Ele chegou a um nível de humildade tão grande, se sentia tão insignificante perante a grandeza de D'us, que meritou entender a Mitzvá.

 

Este é o segredo da vaca vermelha: o profundo entendimento de que não entendemos nada. A lição de humildade, que coloca o ser humano de volta ao seu lugar. Achamos que, por causa de nossas evoluções tecnológicas, podemos ditar as regras, podemos enfrentar D'us. Esta é a fonte da imundície espiritual que veio ao mundo com Adam Harishon e com o bezerro de ouro. E este deve ser o nosso trabalho de limpeza do mundo, começando com cada um de nós. O trabalho de sabermos o quanto somos limitados. O trabalho de aceitar a vontade de D'us, mesmo quando não conseguimos entender, por causa das nossas limitações intelectuais. Somente assim conseguiremos chegar ao nosso objetivo, da total consciência de que a única coisa correta, fazendo ou não sentido para o nosso intelecto limitado, é cumprir a vontade de D'us.

 

SHABAT SHALOM

 

Rav Efraim Birbojm

 

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