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PEREGRINO OU MORADOR? - PARASHÁ CHAIEI SARA 5773 (09 de novembro de 2012)
"Os habitantes de certo reinado tinham um costume muito estranho: uma vez por ano eles saíam pela estrada principal que levava ao reinado e coroavam como rei o primeiro que aparecia no caminho. Esta pessoa recebia o poder de decidir todos os assuntos do reinado por um ano. No fim deste ano, eles tiravam a pessoa do trono e a expulsavam da cidade. Sem a sua realeza, a pessoa ia embora sem nada, exatamente como tinha chegado. Então os habitantes iam para a estrada escolher um novo rei.
Certa vez, um mendigo estava passando naquela estrada. Apesar de não ter dinheiro, ele tinha muita sabedoria. De repente, viu uma enorme multidão vindo em sua direção, cantando alegremente. Antes mesmo de entender qual era o motivo de tanta alegria, ela já estava vestindo um manto e a coroa real, e estava sendo carregado nos ombros da multidão em direção ao palácio. Lá, uma grande festa o aguardava para que oficialmente assumisse o trono daquele reinado.
Pensando nos estranhos acontecimentos daquele dia, o novo rei reuniu seus ministros e pediu explicações. Eles descreveram o costume local de, uma vez por ano, escolher uma pessoa qualquer na estrada para ser o rei. Como ele estava no local certo e no momento certo, havia sido o escolhido da vez.
Quando foi deitar-se, o novo rei parou para refletir um pouco. Se uma vez por ano um novo rei era escolhido, isto significava que dentro de um ano ele seria destituído do trono e voltaria à sua miséria. Então o que ele poderia fazer para não perder tudo no final daquele ano? Após pensar bastante, encontrou a solução: durante todo o tempo em que foi rei, enviou para sua própria casa o máximo de dinheiro, joias e mercadorias valiosas que conseguiu.
Quando o ano estava para terminar, uma multidão entrou em sua casa trazendo suas velhas roupas de mendigo. Após se trocar, ele foi oficialmente expulso daquele reinado e escoltado até os portões, onde os guardas receberam a ordem de nunca mais deixá-lo entrar. Mas ao contrário do que as pessoas esperavam, o mendigo estava feliz, até cantava de alegria. Ele se lembrou do imenso tesouro que o esperava em casa. E aquele tesouro foi suficiente para sustentar sua esposa e filhos, com conforto, pelo resto de suas vidas"
Explica o Rav David HaNaggid que viemos para este mundo apenas por um tempo limitado. Muitas vezes estamos tão imersos na busca de prazeres materiais que esquecemos que o tempo está passando rapidamente. E somente quando chega o momento de partir, a pessoa percebe que está indo embora de mãos completamente vazias. Já a pessoa sábia prevê o futuro e, enquanto está neste mundo, se esforça para mandar um tesouro para depois de sua partida daqui. Este tesouro é composto por Mitzvót e bons atos, que servem como méritos para nossa vida eterna no Mundo Vindouro.
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A Parashá desta semana, Chaiei Sara, começa nos contando sobre a morte de Sara, a nossa primeira matriarca, aos 127 anos. Além do sofrimento pela perda de sua querida esposa, Avraham passou por mais uma grande dificuldade. Apesar de D'us já ter prometido que daria a ele e a seus descendentes a Terra de Israel, ele precisou comprar, por um preço muito alto, um lugar para enterrar sua esposa.
Na conversa que Avraham teve com o povo de Chet, os habitantes do local naquela época, ele pediu que lhe vendessem a "Mearat Hamachpelá" como local de sepultura para Sara. E há algo que nos chama a atenção na frase dita por Avraham: "Eu sou um peregrino e um residente permanente com vocês" (Bereshit 23:4). Este versículo é completamente contraditório, pois como alguém pode ser, ao mesmo tempo, um peregrino e um residente permanente? O que Avraham quis dizer para o povo de Chet?
A mesma pergunta surge quando observamos um dos versículos da Parashá Emor, que trata sobre as leis de venda de um terreno na Terra de Israel. Assim está escrito: "E a terra não será vendida de maneira permanente, pois a terra é Minha, pois vocês são peregrinos e habitantes permanentes Comigo" (Vayikrá 25:23). Este versículo nos ensina que as terras em Israel somente podiam ser vendidas até o ano do Yovel (Jubileu), que ocorre a cada 50 anos. No Yovel, cada terra que havia sido vendida voltava automaticamente aos seus verdadeiros donos. O que nos chama a atenção é que novamente um versículo junta os conceitos de peregrinos e residentes permanentes. Isto não é contraditório?
O Maguid Mi Duvno explica qual foi a intenção de Avraham quando ele disse esta frase contraditória ao povo de Chet. Segundo o judaísmo, a mentira é uma transgressão muito grave, a ponto de D'us nos advertir de maneira mais enfática do que em outras transgressões, como está escrito: "Se afaste da mentira" (Shemot 23:7). Não é suficiente apenas não mentir, devemos fazer todo o possível para nos afastar de uma mentira. Porém, existem algumas poucas situações nas quais há permissão de distorcermos a verdade, como em casos onde dizer a verdade completa causaria uma briga ou colocaria uma pessoa em perigo de vida. Esta situação aconteceu com Avraham, pois D'us havia prometido para ele a Terra de Israel, Avraham sabia que aquela terra era toda sua, mas se ele falasse a verdade para os Chitim, colocaria sua vida em risco. Por outro lado, Avraham era uma pessoa tão íntegra e correta que não concebia a possibilidade de que mentiras saíssem de sua boca, mesmo que o momento assim exigia. Por isso, quando ele falou com os Chitim, ele foi extremamente cuidadoso e sábio, utilizando uma linguagem com duplo sentido e falando a verdade, mas deixando que os Chitim entendessem o que quisessem entender.
Como Avraham conseguiu este efeito de duplo sentido? Ele disse "eu sou um peregrino e um residente permanente com vocês". Quando ele incluiu o "com vocês", Avraham quis dizer que, entre ele e os Chitim, um era peregrino e o outro era residente permanente. O entendimento mais simples, e assim os Chitim entenderam, é que Avraham era o peregrino e eles eram os residentes permanentes. Porém, a intenção de Avraham era dizer justamente o contrário, que ele era o residente permanente enquanto os Chitim eram os peregrinos.
Mas ao entendermos a intenção de Avraham, surge outra grande pergunta. Se a estrutura da frase dita por Avraham era para dar um duplo sentido às suas palavras, então o mesmo conceito deve se aplicar ao versículo que fala sobre a venda de terras em Israel. Por que D'us falou algo com duplo sentido? Qual o entendimento verdadeiro das palavras do versículo da Parashá Emor?
A resposta começa com as palavras dos nossos sábios: "Este Mundo se assemelha a um corredor diante do Mundo Vindouro. Se prepare no corredor para que você possa entrar no palácio" (Pirkei Avót 4:16). Da mesma forma que o corredor de um palácio é apenas uma passagem, assim também é a nossa vida neste mundo material, devemos viver como se fossemos peregrinos em uma terra estranha, como pessoas convidadas para passar a noite em uma casa estranha, pois é somente algo passageiro. Então o que viemos fazer aqui? Nos preparar para poder entrar no "palácio", o Mundo Vindouro. E como fazemos a preparação? Diz David Hamelech (Rei David): "Eu sou um peregrino na terra, não oculte de mim as Suas Mitzvót" (Tehilim 119:19). David Hamelech está nos ensinando que a estadia do ser humano neste mundo é apenas temporária e, portanto, ele não deve desperdiçar esta oportunidade, que apesar de ser breve, é muito valiosa. O ser humano deve se esforçar para dar sentido à sua existência através da conexão com as Mitzvót de D'us. Devemos viver como peregrinos, isto é, nossa dedicação principal deve ser as aquisições espirituais, enquanto nossas ocupações com o mundo material devem ser secundárias, pois do mundo material não levaremos nada para nossa eternidade. De que adianta trabalhar 24 horas por dia e acumular milhões se de nada servirão para adquirir nosso Mundo Vindouro?
Portanto, quando D'us disse "Vocês são peregrinos e habitantes permanentes Comigo", o versículo está juntando D'us e os seres humanos na mesma frase. O sentido da frase, como no caso de Avraham, é que entre D'us e nós há um que é peregrino e um que é habitante permanente. O que isto significa? Que o comportamento de D'us conosco depende das escolhas que fazemos na vida, está em nossas mãos. Se nós escolhemos ser peregrinos neste mundo, isto é, se vivemos de maneira em que a busca pelos prazeres materiais é secundária e nos dedicamos com prioridade aos valores espirituais, então D'us se comporta conosco como um residente permanente, está constantemente ao nosso lado. Mas se nos comportamos neste mundo como residentes permanentes, investindo nossos esforços apenas em adquirir mais bens, prestígio e prazeres, então Ele se comporta conosco como se fosse apenas um peregrino de passagem.
É por isso que o versículo diz: "E a terra não será vendida de maneira permanente", pois devemos viver aqui como vive uma pessoa que está em uma casa alugada. Alguém que vive de aluguel não passa o tempo todo investindo em melhorias no apartamento, pois sabe que é uma estadia provisória, sabe que a qualquer momento terá que deixá-lo. Assim também em nossas vidas, devemos investir no que levaremos para sempre, ao invés de investir nas coisas que ficarão aqui neste mundo. Somente assim nossa existência fará sentido e sairemos deste mundo para receber, no Mundo Vindouro, um verdadeiro tesouro.
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm
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