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INFLUÊNCIAS EXTERNAS – PARASHIOT NITZAVIM E VAYELECH 5769 (11 de setembro de 2009)
"Yaacov (nome fictício) era um jovem Talmid Chacham (erudito no estudo da Torá) que prezava muito a educação dos filhos. Morava em um bairro tranqüilo, quase deserto, longe do centro. Mas com o tempo o bairro começou a ficar cheio de pessoas que não se preocupavam muito com valores morais. Via crianças fazendo brincadeiras violentas nas ruas, e constantemente escutava palavrões e gritos dos novos moradores.
Com medo que seus filhos pudessem receber uma má influência destes vizinhos, Yaacov se fechou completamente. Construiu um grande muro para isolar sua casa da vizinhança, e não deixava que seus filhos saíssem de casa sozinhos. Não por medo da violência, mas pelo medo que seus filhos poderiam aprender algo de errado com as outras crianças na rua. Até para ir e voltar da escola ele os acompanhava.
Porém, após algum tempo vivendo desta maneira, Yaacov percebeu que logo a situação se tornaria insustentável. Ele chegava todos os dias atrasado nos seus estudos, estava sempre estressado e causava nas crianças uma sensação de aprisionamento. Decidiu que era hora de mudar.
Quando os vizinhos e amigos souberam dos planos de Yaacov de se mudar do bairro, muitos tentaram convencê-lo a não sair de lá, argumentando que ele tinha uma influência positiva sobre os outros moradores. Como Yaacov não sabia o que fazer, resolveu conversar com o Rav de Brisk, um dos grandes rabinos daquela geração. Contou para o rabino sobre a má influência do bairro onde morava, enumerou os argumentos dos vizinhos e amigos para que ele ficasse, e finalmente desabafou sobre o seu medo por causa da educação das crianças. O Rav de Brisk ouviu atentamente e falou:
- Acho que você precisa mudar de bairro, procurar um lugar onde morem pessoas que vivem a vida com mais valores. Mas você está errado na forma de ver as coisas. A pergunta se você deve mudar não leva em consideração apenas a educação dos seus filhos, mas também a sua espiritualidade. Não apenas as crianças são influenciadas pelo ambiente onde vivem, mas você também está sendo influenciado por tudo o que vê e por tudo o que escuta nas ruas"
Achamos que somos fortes, que não é fácil nos convencer a mudar de opinião. Mas se fizermos uma análise honesta, perceberemos que somos tão influenciados que costumamos mudar de opinião como se muda de roupa.
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Nesta semana lemos duas Parashiot juntas, Nitzavim e Vayelech, nas quais Moshé segue com seu discurso final para o povo judeu. E no começo da Parashá Nitzavim, Moshé renova o pacto de D'us com o povo judeu e relembra a gravidade da idolatria, como está escrito: "Porque vocês sabem como habitamos na terra do Egito, e como passamos pelo meio das nações pelas quais vocês passaram. E vocês viram as suas abominações, e os seus ídolos detestáveis... Talvez haja entre vocês um homem... cujo coração hoje se desviou de D'us, para ir e servir aos deuses destas nações" (Devarim 29:16-18). Mas qual era dúvida de Moshé se havia pessoas no meio do povo judeu que faziam idolatria? Como ele mesmo havia mencionado, a idolatria era, aos olhos de todo o povo, uma grande abominação que causava repulsa e nojo!
Explica o livro "Lekach Tov" que o versículo nos ensina que existe sempre o perigo de cairmos espiritualmente e chegarmos a cometer atos que anteriormente achávamos abomináveis. Quando abrimos um pequeno buraco na nossa espiritualidade e não o fechamos logo, de pouco em pouco podemos chegar a perder tudo. Mas o versículo não ensina apenas o problema, ele ensina também o motivo pelo qual isso pode acontecer: "E vocês viram as suas abominações...". A Torá está ressaltando a grande influência exercida sobre nós pelas coisas que vemos no nosso cotidiano. Mas será que não é um exagero? Será que somos assim tão influenciados a ponto de irmos contra o que acreditamos?
Nos ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Se afaste de um mau vizinho e não se torne próximo de um malvado". Por que está escrito em relação ao mau vizinho "se afaste", e não "não se torne próximo" como está escrito em relação ao malvado? Pois o vizinho é alguém que encontramos sempre, e certamente receberemos dele influências. Por isso, se é um mau vizinho, alguém que não tem uma conduta adequada, a única solução é se afastar. Pois se ficarmos, certamente algo ruim também receberemos para nós.
O ser humano é um ser social, e por isso recebemos uma influência muito forte da sociedade onde vivemos. Assistimos televisão, lemos livros e revistas e achamos que nada disso nos influencia, mas é justamente o contrário. Somos bombardeados por idéias o tempo todo, e mesmo se não concordamos com algo em um primeiro momento, com o tempo começamos a aceitar e a mudar, sem perceber. Portanto, o mal vizinho não é apenas uma pessoa de carne e osso. Pode ser a mídia que permitimos que entre em nossas casas sem nenhum controle. Filmes e jogos violentos, cenas de intimidades nos horários em que crianças ainda estão diante da televisão, palavrões e internet com acesso a qualquer tipo de conteúdo 24 horas por dia. Este é o "mau vizinho" que trazemos para dentro de casa, com quem ficamos e deixamos nossos filhos durante o dia inteiro.
Muitas vezes a influência vem de maneira tão sutil que praticamente não percebemos. Existe algo mais inocente do que o Gibi da "Turma da Mônica"? É aparentemente uma literatura infantil que não causa nenhum estrago na educação. Mas será que já paramos para pensar quais são as mensagens ensinadas nestes gibis para as crianças? Por exemplo, sempre que você quiser ofender alguém, chame por apelidos que humilhem a pessoa, principalmente atributos físicos como "baixinha, gorducha e dentuça". Quando alguém te ofender, parta para a violência e deixe muitos olhos roxos. Não escute seus pais e fuja do banho. Seja guloso, coma sem restrições e seja egoísta com seus amigos. São estas as características que queremos para os nossos filhos? Certamente que não, mas essa é a educação que eles acabam recebendo.
O judaísmo ensina que o nosso único manual de boa conduta é a Torá, escrita por D'us, e é obrigação dos pais transmitir estes valores para seus filhos. Não podemos nos isentar desta obrigação e deixar a educação dos nossos filhos a cargo dos professores da escola, e muito menos da televisão, que pouco têm a acrescentar em termos de valores éticos e morais. Qualquer veículo de comunicação deve ser verificado pelos pais, para que tenhamos certeza de que nossos filhos, e nós mesmos, não estamos sendo educados para achar que o errado é correto. Pois sem nenhuma dúvida a televisão é o grande educador dos nossos dias. O problema é o que ela educa.
"A principal função da indústria cinematográfica é entreter e não educar. Ocasionalmente uma mensagem possa ser incluída, desde que não diminua o valor do filme como diversão" (Samuel Goldwyn, um dos fundadores dos estúdios MGM)
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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