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DOENÇAS FÍSICAS E ESPIRITUAIS – PARASHÁ KI TAVÔ 5769 (04 de setembro de 2009)
"O rabino Eliezer Gordon, fundador da famosa Yeshivá de Telz, já era desde jovem um aluno que se destacava muito no estudo e no cumprimento da Torá. Foi justamente por estas características que o Rav Yitzchak Neviezer o escolheu como genro. E acreditando no potencial do rapaz, o Rav Yitzchak sustentou-os após o casamento, para que ele pudesse se dedicar inteiramente ao estudo da Torá e se tornar um grande erudito.
Com o passar do tempo a família do Rav Eliezer começou a crescer e começaram a surgir várias oportunidades para ele se tornar rabino em pequenas comunidades, o que lhe daria melhores condições de sustentar sua família, podendo assim aliviar seu sogro dos grandes encargos financeiros. Ele então foi pedir permissão ao sogro para aceitar uma posição rabínica e assim começar a se sustentar sozinho. Mas apesar da situação financeira do Rav Avraham Yitzchak estar muito difícil, ele recusou o pedido do genro. Ele queria continuar sustentando a família de sua filha para que seu genro se dedicasse só ao estudo de Torá. Quando a esposa do Rav Avraham Yitzchak perguntou-lhe por quanto tempo ele ainda tinha a intenção de sustentar a família da filha, ele respondeu:
- Minha querida esposa, gostaria de sustentá-los ainda por um bom tempo, pois não sabemos quem está sustentando quem...
A esposa não entendeu o que o marido quis dizer com aquela frase, mas não perguntou o significado. Mais alguns anos se passaram e o nome do Rav Eliezer começou a se destacar. Ele recebeu um convite irrecusável para se tornar rabíno na cidade de Eisheshok. Desta vez nem seu sogro conseguiu impedi-lo de aceitar o cargo.
Um dia depois da família do Rav Elizer Gordon ter viajado para Eisheshok, o Rav Avraham Yitzchak faleceu. Tornou-se então evidente quem tinha mantido quem por todos aqueles anos..."
Vivemos como se tudo o que ocorre neste mundo têm causas naturais, esquecendo que, em última instância, tudo o que ocorre aqui está conectado com os mundos espirituais.
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A Parashá desta semana, Ki Tavô, nos ensina que quando seguimos o que D'us nos ensinou, recebemos muitas Brachót (bênçãos), mas nos adverte que no momento em que nos desviamos e começamos a fazer coisas erradas, muitas dificuldades recaem sobre nós. E prestando atenção às profecias de catástrofes que estão contidas nesta Parashá, percebemos que muitas realmente se cumpriram, por exemplo, durante a destruição dos dois Templos e até mesmo em acontecimentos mais recentes como o Holocausto. E há palavras de advertência que se cumprem até os nossos dias, como está escrito: "E golpeará D'us com sarna maligna nos joelhos e nas pernas, que vocês não poderão curar" (Devarim 28:35). Presenciamos muitas pessoas, entre elas jovens e até crianças, que morrem de doenças até hoje incuráveis, contra as quais os conhecimentos da medicina não podem fazer quase nada. Mas não é contraditório imaginar que, por um lado, D'us nos criou apenas por bondade, e ao mesmo tempo Ele nos manda doenças e sofrimentos tão terríveis? Qual o sentido disso?
Explica o Rav Yona Yossef Arntroi que para começar a responder esta pergunta é preciso antes de tudo mudar a forma como olhamos as doenças e os sofrimentos. Não são poucos os que erram pensando que as doenças são coisas naturais, e que tanto a causa quanto a cura estão fundamentadas no mundo material e não no mundo espiritual. Mas é justamente o contrário, por trás de todas as doenças há um motivo espiritual. Segundo o judaísmo, quando pedimos pela cura de alguém, rezamos "Cura para a alma e cura para o corpo", pois toda doença tem um fundo espiritual. O Talmud (Torá Oral) ilustra este conceito trazendo uma história que aconteceu em uma pequena cidade, onde muitas pessoas estavam morrendo mordidas por uma cobra venenosa que se escondia em um buraco na entrada da cidade. Um Tzadik (pessoa justa) muito grande, ao saber da cobra, foi até o local e colocou a perna dentro do buraco. A cobra mordeu o Tzadik e imediatamente caiu morta no chão. O Tzadik então voltou para a cidade trazendo a cobra morta na mão e anunciando em voz alta: "O que mata não é a cobra, são as transgressões". O que o Talmud nos ensina com esta história? Que as doenças não são uma situação normal, o natural é o ser humano estar sempre saudável, as transgressões é que causam as doenças e os sofrimentos.
Explica o Ramban (Nachmânides) que o mesmo conceito se aplica aos animais. Vemos no mundo animal muito predadores que atacam e devoram outros animais. Cenas de leões ou lobos atacando e devorando outros animais nos parecem normais, pois assim é a lei da natureza. Mas o Ramban explica que esta não é a natureza dos animais, eles são pacíficos, e somente se tornaram agressivos por causa das transgressões dos seres humanos. Explica o livro Messilat Yesharim (Caminho do Justos) que quando o ser humano cai espiritualmente, todo o mundo cai junto com ele. Está profetizado que na vinda do Mashiach o lobo e o cordeiro sentarão juntos. Pensamos que os milagres da vindo do Mashiach trarão mudanças na natureza, mas é justamente o contrário, depois da vinda do Mashiach a natureza voltará ao normal, ao que sempre deveria ter sido se não fossem os nossos erros.
Se as causas das doenças são as nossas transgressões, que afetam os mundos espirituais, então temos que saber que a verdadeira cura está na Tefilá (reza) e na Teshuvá (retorno aos caminhos corretos). Apesar da lei judaica nos obrigar a procurar os médicos e não nos apoiar em milagres, precisamos olhar cada doença, por mais simples que seja, como sendo uma advertência de que espiritualmente algo não vai bem, de que temos que refletir, verificar nossos atos e procurar onde podemos estar errando. Mas nós fazemos justamente o contrário, procuramos apenas os médicos e os remédios para curar nossas doenças, sem nenhuma Tefilá ou Teshuvá. D'us então precisa mandar uma advertência um pouco mais forte, como está escrito na Torá "E se vocês não Me escutarem e se comportarem Comigo com se tudo fosse um acaso, Eu me comportarei com vocês com a fúria do acaso" (Vayikrá 26:27,28).
A medicina avança cada vez mais, e mesmo doenças graves já podem ser tratadas e até curadas sem nenhuma Tefilá ou Teshuvá. O que acontece? Os doentes novamente se apóiam apenas nos médicos, nos remédios e nos tratamentos, esquecendo de investir na cura verdadeira. Então D'us precisa mandar uma doença contra a qual a medicina não conhece nenhuma cura, como diz o versículo "que vocês não poderão curar". Pois no momento em que o paciente vê que os médicos estão desistindo, na falta de qualquer outra esperança, o doente volta seu coração para D'us e se arrepende.
Tudo o que D'us faz é por bondade, mesmo que muitas coisas não podemos enxergar ainda neste mundo. O propósito não é esta vida, é a nossa vida eterna no Mundo Vindouro. Quando nos desviamos, corremos o risco de destruir nossa eternidade. Então D'us, por amor, nos desperta, nos ajuda a voltar ao caminho. Mais do que nós queremos ter uma vida eterna, Ele quer nos dar esta vida, e faz de tudo para que possamos consegui-la. Também dói muito para D'us quando um de Seus filhos está doente, mas o remédio amargo pode salvar nossa eternidade.
Portanto, quando jogamos a culpa em D'us pelas doenças e sofrimentos, na verdade temos que saber que nós somos os culpados. Se entendêssemos que toda doença é causada pelas nossas transgressões, não precisaríamos chegar nas doenças graves e sem cura. Por isso, não precisamos esperar uma doença grave chegar até nós para despertarmos. Quando vemos alguém doente, já é motivo suficiente para refletir e repensar nossos atos. Mesmo em pequenas doenças, temos que lembrar Quem é que nos cura de verdade e trazer de volta nossa coração para Ele.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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