quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

ENXERGANDO O POTENCIAL - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT BÔ 5780

Para dedicar uma edição do Shabat Shalom M@il, em comemoração de uma data festiva, no aniversário de falecimento de um parente, pela cura de um doente ou apenas por Chessed, favor entrar em contato através do e-mail efraimbirbojm@gmail.com.
   
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PARASHAT BÔ 5780:

São Paulo: 18h34                   Rio de Janeiro: 18h20 
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ASSUNTOS DA PARASHAT BÔ

- Gafanhotos: A 8ª Praga.
- Escuridão: A 9ª Praga.
- Preparativos para a Praga Final.
- Rosh Chodesh.
- Preparação do Cordeiro.
- A Festa de Pessach.
- Korban Pessach.
- Morte dos Primogênitos: A Praga Final.
- O Êxodo.
- As Leis do Korban Pessach.
- Deixando o Egito.
- Relembrando o Êxodo.
- A Consagração do Primogênito.

ENXERGANDO O POTENCIAL - PARASHAT BÔ 5780 (31 de janeiro de 2020)

 
"Rivka acordou cedinho e, ao olhar pela janela, viu que seu vizinho, o rabino da comunidade, estava atravessando a rua carregando um saco de lixo cheio. Ela percebeu que o rabino parou por alguns instantes, olhou para os lados e, ao constatar que não ninguém estava olhando, abriu a lata de lixo do vizinho da casa em frente e rapidamente jogou lá o seu lixo. Rivka achou estranha aquela atitude, mas não fez muito caso.
 
Porém, na manhã seguinte, a mesma cena se repetiu. Desta vez Rivka começou a ficar incomodada. Não era um absurdo o rabino, que estava sempre pregando na sinagoga a importância de sermos honestos em todos os nossos atos, enfatizando que não devemos roubar e nem nos aproveitarmos dos outros, estar jogando o seu próprio lixo na lata do vizinho da frente? Parecia uma enorme hipocrisia!

Quando Rivka viu pelo terceiro dia consecutivo a mesma cena, ela não aguentou. Saiu de casa e resolveu abordar o rabino, dando um flagrante nele. O rabino, ao ver a vizinha se aproximando justamente no momento em que colocava o seu lixo na lata do vizinho, se mostrou bastante desconcertado. Rivka então falou:

- Rabino, me desculpe, mas eu queria entender como pode o senhor sempre falar nos seus discursos na sinagoga sobre a importância da honestidade e, no final das contas, o senhor estar vindo toda manhã, enquanto todos ainda estão dormindo, para jogar o seu lixo na lata do vizinho? Isto não é ser hipócrita?

O rabino então deu um sorriso e começou a explicar sua atitude:
 
- Não se preocupe, não estou fazendo nada de errado. Nesta região há muitos ladrões que se aproveitam do momento em que as pessoas viajam para entrar em suas casas e furtar dinheiro, joias e equipamentos eletrônicos. O vizinho da frente viajou há duas semanas e eu estava muito preocupado que pessoas mal intencionadas pudessem perceber a ausência dele. Tive então uma incrível ideia. Todas as manhãs eu saio bem cedinho com duas sacolas de lixo. Uma delas eu jogo na minha lata de lixo, enquanto a outra eu jogo na lata de lixo dele. Sempre faço isso bem cedinho e me certifico que ninguém está vendo que sou eu que estou jogando. Desta maneira, quando as pessoas passam e veem a lata de lixo cheia, acham que nosso vizinho está em casa. Assim, eles vão procurar outra casa vazia para assaltar".

Na vida acabamos sendo precipitados ao julgarmos as pessoas apenas através de atos isolados. Precisamos nos esforçar para enxergar o potencial que existe dentro de cada um.

Nesta semana lemos a Parashat Bô (literalmente "Venha"), que descreve as últimas três pragas que atingiram o Egito e destruíram toda a infraestrutura do maior império da época, preparando o momento da saída do povo judeu rumo ao recebimento da Torá no Monte Sinai, após 210 anos de uma escravidão muito sofrida. Em resposta ao comportamento perverso dos egípcios, D'us os golpeou duramente com as pragas, fazendo-os sentir na pele a dor e o sofrimento que eles haviam causado aos judeus por tanto tempo.
 
Porém, não apenas os egípcios foram atingidos pelas pragas. Assim a Torá descreve a nona praga, a Praga da Escuridão: "Então Moshé estendeu a mão para o céu e houve uma escuridão densa sobre toda a terra do Egito por três dias" (Shemot 10:22). Rashi (França, 1040 - 1105) explica que a escuridão, além de castigar os egípcios, também foi necessária para ocultar a morte de alguns judeus daquela geração, que eram pessoas más e não queriam sair do Egito. Estes judeus morreram durante os três dias de escuridão para que os egípcios não vissem sua morte e dissessem: "Os judeus também estão sendo golpeados com as pragas, como nós".
 
Entretanto, esta explicação de Rashi desperta um questionamento. Na verdade, toda aquela geração havia se desviado do caminho. A prova disto é que, de acordo com o Midrash, quando os judeus se aproximaram do Mar Vermelho, o Anjo do Mar não quis permitir que eles atravessassem, argumentando que os judeus não tinham méritos para serem salvos, já que eram adoradores de ídolos como os egípcios. Então, se todos eles haviam feito idolatria e se desviado dos caminhos corretos, por que apenas uma parte do povo judeu morreu na praga da escuridão, e não todo o povo? E se era para matá-los, por que D'us esperou até a nona praga?
 
Explica o Rav Yaacov Kamenetzky zt"l (Lituânia, 1891 - EUA, 1986) que, influenciados pelas duras condições da escravidão e pela confusão mental a qual eles estavam submetidos, realmente o povo judeu inteiro havia caído espiritualmente, a ponto de se envolverem até com idolatria. Porém, não foi este o motivo pelo qual D'us matou alguns judeus na Praga da Escuridão. Na abertura do Mar Vermelho, foi D'us que pessoalmente argumentou com o Anjo do Mar e afirmou que os judeus haviam transgredido de forma involuntária, e não por querer rebelar-se contra a vontade de Dele.
 
De acordo com o Rav Yaacov Kamenetzky, os judeus que morreram foram aqueles que não apenas não queriam mais ir embora do Egito, mas que também queriam impedir que o resto do povo saísse. Mas por que eles não queriam permitir que os outros judeus saíssem? Alguns comentaristas explicam que eles achavam que a escravidão deveria durar 400 anos, conforme havia sido profetizado para Avraham. Por isso, acreditavam que o momento de partir ainda não havia chegado. Eles não confiaram em D'us e temiam que, se fossem embora antes do momento certo, seriam mortos. A verdade é que o temor deles era embasado em um fundamento verdadeiro. Muitos membros da Tribo de Efraim, cerca de 300 mil pessoas, haviam tentado sair do Egito antes do momento certo, "forçando" a salvação, por terem feito um erro nos cálculos de quando seria o momento correto da redenção, e haviam morrido. Baseados na tragédia que se abateu sobre a Tribo de Efraim, estes judeus não acreditaram nas palavras de Moshé, de que D'us havia determinado que a hora da redenção havia chegado pelo mérito dos patriarcas. Eles começaram a influenciar outras pessoas, tentando dissuadi-las da ideia de sair. Foi por isso que D'us matou estas pessoas na Praga da Escuridão, para que eles não "contaminassem" o resto do povo com seu negativismo e não convencessem as outras pessoas a não saírem.
 
Porém, a morte de tantos judeus também teve um impacto sobre o resto do povo. A escuridão ocultou dos egípcios a morte dos judeus, mas não escondeu a tragédia do resto do povo, que certamente ficou chocado ao ver a morte de seus irmãos. Eles testemunharam os judeus sendo atingidos pela Praga da Escuridão com mais força do que os egípcios foram atingidos. Foi por isto que D'us "adiou" a morte destas pessoas, para que esta tragédia ocorresse apenas perto do momento da redenção e não houvesse tempo para desestimular os judeus.
 
Daqui aprendemos o cuidado que devemos ter com as influências que recebemos das pessoas em volta. Precisamos ser muito seletivos em relação a quem serão os nossos amigos e até mesmo os nossos vizinhos, pois recebemos influências o tempo inteiro, positivas ou negativas. Mesmo quando temos muita convicção de algo, influências externas podem fazer recair sobre nós dúvidas e questionamentos. Ao enxergarmos constantemente maus comportamentos, podemos acabar nos acostumando e considerando-os como sendo normais e aceitáveis.
 
Porém, há outro ensinamento incrível que aprendemos deste episódio da acusação do Anjo do Mar contra o povo judeu. Se realmente os judeus haviam se tornado idólatras, por que D'us os salvou? Pois embora o anjo só tenha conseguido enxergar a realidade atual do povo judeu, isto é, o quanto eles haviam despencado em seu nível espiritual, D'us conseguiu enxergar o enorme potencial deles. D'us sabia que aquela nação, mesmo estando em um nível espiritual tão baixo, no nível 49 de impureza, em sete semanas seria capaz de dizer "Naassê Ve Nishmá" (Nós faremos e entenderemos) durante a entrega da Torá.
 
Este potencial do povo judeu era algo interno, que o anjo não foi capaz de discernir. Rashi explica que o Mar Vermelho somente se abriu quando Moshé aproximou-se trazendo o caixão de Yossef. Qual é a conexão entre o caixão de Yossef e a abertura do mar? Ao mostrar ao anjo o caixão de Yossef, D'us queria provar que aquela nação merecia ser salva, pois a origem deles não estava enraizada em adoradores de ídolos, ao contrário, estava enraizada em grandes Tzadikim, que haviam superado imensas dificuldades para se manterem fieis às palavras de D'us. Yossef era rico, bonito e poderoso, e estava imerso dentro de uma sociedade completamente corrompida, porém ele não se corrompeu. D'us quis mostrar ao Anjo do Mar que assim seriam os seus descendentes, pessoas que conseguiriam vencer seus desafios e que estariam dispostos a dar a própria vida para cumprir a vontade de D'us.
 
Precisamos nos espelhar em D'us para que nosso comportamento em relação aos outros possa mudar. Infelizmente somos muito rápidos em julgar e rotular as pessoas, baseados apenas em falhas pontuais delas. Precisamos nos esforçar para julgarmos as pessoas de forma positiva, dando a elas o benefício da dúvida. Além disso, mesmo quando é certeza que uma pessoa cometeu um erro, ao invés de enxergá-la como um transgressor, devemos olhar para ela como alguém que tem um enorme potencial a ser desenvolvido. Desta maneira, não apenas estaremos sendo justos com a outra pessoa, mas estaremos chegando ao nível de nos comportarmos como D'us.
 

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

 
Este E-mail é dedicado à Refua Shlema (pronta recuperação) de: Chana bat Rachel, Pessach ben Sima, Rachel bat Luna, Eliahu ben Esther, Moshe ben Feigue, Laila bat Sara, Eliezer ben Shoshana, Mache bat Beile Guice, Feiga Bassi Bat Ania, Mara bat Chana Mirel, Dina bat Celde, Celde bat Lea, Rivka Lea bat Nechuma.
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
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