quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

COLETIVO VERSUS INDIVIDUAL - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT BESHALACH 5780

Para dedicar uma edição do Shabat Shalom M@il, em comemoração de uma data festiva, no aniversário de falecimento de um parente, pela cura de um doente ou apenas por Chessed, favor entrar em contato através do e-mail efraimbirbojm@gmail.com.
   
HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE SHABAT

PARASHAT BESHALACH 5780:

São Paulo: 18h31                   Rio de Janeiro: 18h15 
Belo Horizonte: 18h17                  Jerusalém: 16h42
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ASSUNTOS DA PARASHAT BESHALACH

- Desvio da terra dos Plishtim.
- O Faraó se arrepende e persegue os judeus.
- A abertura do Mar.
- A morte dos egípcios.
- O Cântico do mar.
- O Cântico das mulheres.
- As águas amargas.
- Reclamação por comida.
- Man.
- Shabat.
- Água da Rocha.
- Amalek e a batalha eterna.

COLETIVO VERSUS INDIVIDUAL - PARASHAT BESHALACH 5780 (07 de fevereiro de 2020)

 
"Yossef, um jovem executivo que trabalhava em um banco, estava com esgotamento nervoso e sinais de depressão. Não sabendo como lidar com a situação, ele foi ao médico. Na busca por um diagnóstico, o médico começou a fazer algumas perguntas a Yossef. Em um primeiro momento, as perguntas eram sobre o estado de saúde dele. Porém, de repente, o médico começou a fazer perguntas estranhas:
 
- Como se chama o rapaz que trabalha ao seu lado no banco?
 
- Marcos - respondeu Yossef, sem entender o motivo daquela pergunta.
 
- E qual é o sobrenome dele? - continuou o médico.
 
- Eu não sei - respondeu Yossef, um pouco envergonhado.
 
- Sabe onde ele mora? - insistiu o médico.
 
- Não tenho ideia - respondeu Yossef, ainda mais confuso.
 
- O que ele faz quando não está na empresa? Ele estuda? Tem outros empregos?
 
- Também não sei - respondeu Yossef, já um pouco incomodado com aquelas perguntas.
 
- Yossef, acho que eu posso tentar ajudá-lo a superar este momento difícil, mas você tem que fazer o que eu lhe pedir, mesmo que não entenda. Em primeiro lugar, faça amizade com Marcos. Descubra quem ele é, o que gosta e o que almeja na vida, e faça alguma coisa para ajudá-lo. Além disso, faça amizade com o zelador do seu prédio. Descubra qual é o sonho da vida dele e tente ajudá-lo a realizar. Quero que você volte para novos exames dentro de dois meses.
 
Yossef saiu do consultório confuso. Realmente não havia entendido o que o médico queria dele. Achou que sairia dali com uma receita médica, mas saiu com tarefas que não pareciam ter nada a ver com os seus problemas. Porém, mesmo cético, resolveu seguir as orientações do médico. Afinal, não tinha nada a perder.
 
Ao final de dois meses, Yossef não voltou ao consultório médico. Porém, enviou ao médico um e-mail, transbordando de alegria e sem nenhum sinal de melancolia ou tristeza. Descrevia, em sua mensagem, a alegria de ter ajudado Marcos a passar no vestibular e de ter ensinado o zelador do seu prédio a ler e escrever, após mais de 50 anos sendo um completo analfabeto. No final da mensagem, Yossef escreveu: "Percebi que a verdadeira cura para os nossos problemas é pararmos de pensar somente em nós mesmos e nos transformarmos em remédios na vida dos outros".
 

"A alegria que levamos aos outros volta, em uma felicidade silenciosa, aos nossos próprios corações"

Nesta semana lemos a Parashat Beshalach (literalmente "E enviou"), que descreve a saída triunfal do povo judeu do Egito. Aquele Faraó, que havia questionado "Quem é D'us" quando Moshé veio pedir a libertação do povo judeu, estava completamente arrasado. Ele havia perdido seus escravos, havia sido duramente castigado com as 10 pragas e havia ficado sem suas riquezas, que foram levadas pelos judeus quando eles partiram.
 
Durante a descrição da saída do Egito, quando o povo judeu experimentava uma sensação única de êxtase, há um versículo que nos chama a atenção: "Moshé levou os ossos de Yossef com ele" (Shemot 13:19). Sabemos que a Torá não é apenas um livro de histórias, é um manual de como devemos nos comportar. O que esta atitude de Moshé nos ensina?
 
Ao pegar os ossos de Yossef, Moshé, o grande líder do povo judeu, estava cumprindo o juramento que os irmãos de Yossef havia feito para ele no seu leito de morte, de que levariam seu corpo para ser enterrado em Israel. Yossef sabia que seus irmãos não teriam força para enterrá-lo em Israel logo após o seu falecimento, como ele havia feito com seu pai, Yaacov, então ele os fez jurar que levariam seu corpo quando o momento da redenção chegasse. Mesmo que já haviam se passado mais de 200 anos da morte de Yossef, Moshé fez questão de cumprir o juramento. Os Midrashim explicam que não foi uma tarefa fácil encontrar o local onde os egípcios haviam ocultado o caixão de Yossef, mas mesmo isto não impediu Moshé de se esforçar no limite, mostrando o quanto ele estava determinado.
 
O Midrash acrescenta um detalhe ainda mais impressionante à atitude de Moshé. A preocupação dele em buscar o caixão de Yossef ocorreu no mesmo momento em que o resto do povo judeu estava preocupado em pedir riquezas aos egípcios, no momento da saída do Egito. O Midrash nos ensina que D'us, ao ver esta atitude de Moshé, de ter ido atrás do caixão de Yossef ao invés de ter ido atrás da riqueza dos egípcios, proclamou "O Chacham (sábio) toma para si as Mitzvót".
 
Se pararmos para refletir, perceberemos que este Midrash traz uma aparente contradição. A implicação destas palavras é que Moshé era um grande Tzadik, pois estava preocupado com o cumprimento das Mitzvót, enquanto o resto do povo estava apenas satisfazendo seus desejos materiais, movidos pela ganância. Parece que D'us estava dando um grande louvor a Moshé, mas, ao mesmo tempo, estava fazendo uma dura crítica à atitude do povo, de se conectar ao materialismo e desprezar a espiritualidade.
 
Porém, na Parashat da semana passada, D'us pediu a Moshé que falasse com os judeus e os instruíssem a pedir aos vizinhos egípcios objetos de valor antes de partirem do Egito. Por que era necessário pedir os objetos de valor? Explica o Talmud (Brachót 9a) que D'us havia profetizado para Avraham Avinu que seus descendentes sofreriam de forma muito dura durante uma época de escravidão, mas que sairiam de lá com uma grande riqueza. D'us não queria que Avraham reclamasse com Ele por ter cumprido a parte da profecia da escravidão, mas não ter cumprido a parte da profecia da grande riqueza. Portanto, o povo judeu não foi pedir os objetos de valor dos egípcios por causa de sua ganância, e sim para cumprir um comando explícito de D'us, isto é, uma Mitzvá. Então por que parece, através das palavras do Midrash, que o povo fez algo de errado enquanto Moshé fez algo louvável, se ambos estavam cumprindo a vontade de D'us? Além disso, por que o Midrash diz que Moshé foi considerado por D'us um "Chacham" por ter realizado a Mitzvá de cuidar dos ossos de Yossef, e não um "Tzadik" (Justo)?
 
Responde o Rav Yochanan Zweig que o povo judeu, ao recolher o dinheiro dos egípcios, realmente estava cumprindo uma Mitzvá. Porém, a diferença entre a Mitzvá feita pelo povo judeu e a Mitzvá feita por Moshé é que, enquanto Moshé estava preocupado com a sua responsabilidade comunitária, uma Mitzvá que envolvia todo o povo judeu e que não trazia nenhum benefício pessoal a ele, o resto do povo estava preocupado apenas com suas responsabilidades individuais, em fazer um ato que, no final de contas, traria um enorme benefício pessoal a cada um deles.
 
Isto quer dizer que a Torá está nos ensinando a importância de investirmos mais no coletivo e menos no individual. Obviamente que temos as nossas obrigações e responsabilidades individuais, mas nunca podemos nos esquecer também das nossas responsabilidades coletivas. Não fomos criados sozinhos em mundos individuais e, portanto, temos responsabilidades com as outras pessoas. D'us não entregou a Torá a um indivíduo que tinha méritos, mas para um povo inteiro, demonstrando que somos parte de um grupo e devemos também nos sentir responsáveis uns pelos outros.
 
Nem sempre esta escolha é fácil. É necessária uma grande objetividade para que uma pessoa consiga realizar uma Mitzvá que não a beneficia diretamente. Foi esta a grandeza que D'us percebeu em Moshé. Nos ensinam os nossos sábios: "Quem é o Chacham? Aquele que aprende de todas as pessoas" (Pirkei Avót 4:1). Portanto, Chacham é aquele que tem a objetividade de deixar de lado sua própria perspectiva e a predisposição para enxergar a situação na perspectiva dos outros. Por isto Moshé é descrito como sendo "Chacham" por seu comportamento, pois ele demonstrou conseguir pensar em prol dos outros, mesmo às custas de seu benefício pessoal.
 
Ao longo de nossas vidas, somos confrontados com escolhas que muitas vezes envolvem um difícil dilema:  devemos fazer atos que nos trazem benefícios pessoais ou atos que trazem benefícios aos outros? Algumas vezes as duas situações podem até mesmo envolver Mitzvót, tornando a decisão ainda mais difícil. A Parashat nos ensina que, se queremos um dia alcançar a grandeza de Moshé, precisamos aprender a pensar mais nos outros e menos em nós mesmos. A escolha somente será correta se for feita de maneira objetiva, isto é, não baseada apenas em nossos próprios interesses e agendas pessoais, mas levando em consideração o povo judeu como um todo.
 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

Este E-mail é dedicado à Refua Shlema (pronta recuperação) de: Chana bat Rachel, Pessach ben Sima, Rachel bat Luna, Eliahu ben Esther, Moshe ben Feigue, Laila bat Sara, Eliezer ben Shoshana, Mache bat Beile Guice, Feiga Bassi Bat Ania, Mara bat Chana Mirel, Dina bat Celde, Celde bat Lea, Rivka Lea bat Nechuma, Mordechai Ben Sara.
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L. Que possa ter um merecido descanso eterno.
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